Amizade Colorida escrita por Juh Nasch


Capítulo 3
Leonard 1.1




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Eu e Jenn conversamos bastante naquela tarde. Ela ficou com medo de nossa amizade ficar abalada pelos beijos e carícias que tinham acontecido na casa dela. Ah, qual é?

Eu simplesmente não aguentei ver ela com aquele short curto. E ao entrar no quarto e vê-la de biquíni, me xinguei mentalmente por não ter chegado minutos antes.

Eu não era um tarado como Jennifer falava. Juro! Bom, nunca fui com ela.

Antes de ela começar a namorar o tal do Nicolas, eu nunca havia pensado nela dessa forma. Ela sempre pareceu uma irmã mais nova que eu tinha que proteger. Eu ainda pensava dessa forma. Sou praticante de incesto então? Ei, Leo!

Tínhamos nos afastado por meses e senti mais falta dela do que gostaria de admitir. Ela sempre entendia minhas mancadas, me tranquilizava, era a pessoa que estava sempre ali e que sabia mais de mim do que eu mesmo. Então do nada, ela está nos braços de outro idiota.

Eu tinha que admitir que tinha morrido de ciúmes no inicio e me esforcei muito pra não quebrar a cara dele quando Jennifer disse que não poderíamos mais nos ver com frequência. Ele era dono dela?

Tinha que admitir que Jennifer era muito bonita, com aqueles cabelos loiros cacheados e aqueles olhos cinza. Ela tinha personalidade de menina, infantil às vezes, parecia até desconhecer aquele corpo de mulher. E que corpo...! Tudo bem, parei.

Não éramos mais crianças e bom, minha mente impulsionada pelos meus hormônios adolescentes (desculpa típica aos dezessete anos) me fizeram enxergá-la de uma maneira nova. Não era nada demais querer agarrá-la a cada oportunidade, não é?

Combinamos que antes de tudo seríamos amigos. Não ficaríamos como um casalzinho pelos cantos. Seria como antes. Quando estivéssemos carentes ou sozinhos que as coisas mudariam. Resolvemos manter essa amizade colorida apenas entre nós. Escondido é sempre melhor.

—E namoros? —diz Jenn me indagando quando estávamos sentados no sofá da casa dela.

—Teremos liberdade pra ficar com outras pessoas. —falo com indiferença. —Não é como se estivéssemos de fato juntos. —ela me olha atenta.

Eu também era novo nessa coisa de amizade colorida. Normalmente, eu ficava com uma garota e desaparecia da vida dela na mesma velocidade em que surgi. Mas sabia que com Jennifer teria que ser diferente. Ela não era qualquer garota. Era minha melhor amiga.

—Se você passar mais tempo comigo é capaz de se apaixonar num piscar de olhos. —eu continuo, e sorrio enquanto ela rola os olhos. —Mas eu terei que aprovar todos os seus pretendentes, antes mesmo do primeiro encontro. Sem discussões.

—Isso é injusto. —ela resmunga fazendo beicinho. Rio e me inclino sobre ela, dando-lhe uma mordida de leve em seus lábios. Ela ainda parecia tímida com isso, nada que eu não fosse se resolver rapidamente.

—Você não faz boas escolhas. Lucas, Arthur, Nicolas... —começo a contar nos dedos, mas logo paro. Jennifer não era do tipo que ficava com muitos garotos. —Quer fazer cafuné na Samara novamente? —pergunto com ironia.

Ela me olha confusa.

—Samara. Poço. Fazer cafuné na Samara. Ir para o fundo do poço. —ela continua com a mesma expressão. —Ah, esquece. —suspiro.

—Você e suas piadinhas internas. —ela cruza os braços.

—Você que é lerda e não entende meus trocadilhos. —digo pra provocá-la. Ela me olha com raiva e dou um beijo rápido em sua bochecha.

—Temos que ir. —ela verifica o celular. —Nanda já mandou dezenas de mensagens. —ela se levanta e ajeita a camiseta. —Deve estar pensando que um caminhão nos atropelou ou sei lá.

—Você vai mesmo com esse short?

—Qual é seu problema? —ela ri.

—Na verdade, nenhum. Eu gosto dele. Virou minha peça favorita em seu guarda-roupa. —mordo o lábio inferior enquanto ela estende a mão para mim.

Eu tinha estacionado a moto na frente da casa da Jenn. Ainda era estranho o fato de sermos vizinhos. Era pressão demais. Pais amigos desde a adolescência, vizinhos, melhores amigos. Meu Deus!

Depois que ela coloca o capacete, subimos na moto e acelero. Jenn se segura a minha cintura com força. Ela ainda tinha pesadelos com a primeira vez que andamos. Eu era inexperiente, fazer o quê. Diminuo a velocidade e ela parece relaxar um pouco.

Estaciono no jardim da casa e logo tiro o capacete. Já imaginava os gritos da mãe de Annie "Não pise na grama!".

—Ah, meu Deus! Eles estão vivos. —escuto a voz de Nanda ao longe e rio baixo. Olho pra Jennifer e deixo ela passar a minha frente, colocando uma das mãos sobre suas costas.

A empregada da família, dona Lúcia, abre a porta para nós e vamos diretamente para os fundos, onde ficava a piscina.

Isaac e Annie já estavam dentro d'água, enquanto Ethan e Nanda se serviam de sanduíches à beira da piscina.

—Por que diabos vocês demoraram tanto? —perguntou Isaac desconfiado.

—Jenn demorou pra escolher a porcaria do biquíni. —digo me jogando sobre uma das cadeiras de praia.

—Até parece. —ela revira os olhos enquanto tira a camiseta. Não consigo desviar o olhar. Puta que pariu! O que tinha acontecido com a garota gordinha que era minha melhor amiga?

Quando ela abaixa o short, lentamente, como se quisesse me torturar, já estou ao ponto de puxá-la em direção ao banheiro. Sei que os outros garotos também estão atentos aos movimentos dela, pois tem a expressão tão boba quanto a minha. Annie dá um tapa no braço de Isaac quando ele não desvia o olhar.

Após aquela pequena tortura, Jennifer simplesmente pula na água, como se não tivesse acontecido nada.

—Fecha a boca pra não entrar mosca aí, campeão! —diz Ethan rindo.

Com toda a delicadeza que Deus me deu, simplesmente levanto meu dedo do meio em sua direção.

O dia então passa rapidamente. Jogamos vôlei dentro da piscina e eu nunca havia comido tantos sanduíches em tão pouco tempo. Santa Dona Lúcia!

Quando começou a chover, decidimos entrar para assistir um filme.

As garotas haviam subido para o quarto de Annie, para tomarem banho e colocarem roupas secas. Ethan então escolheu um filme clássico de terror. Eu e Isaac concordamos apenas para as garotas ficarem com medo, sem segundas intenções nem nada, sabe?

Éramos amigos desde o fundamental e sempre estávamos junto, desde as zoeiras até os momentos mais críticos, como a separação dos meus pais.

Isaac e Annie namoravam há quase um ano, tempo record para mim. Eu nunca tinha namorado nenhuma garota sério, e o tempo mais longo de "relacionamento" que tive foi de um mês e três dias. Um bom tempo até.

Ethan e Nanda estavam ficando há algumas semanas. Nenhum de nós se envolveu nesse assunto, mas sabíamos muito bem que Ethan era um galinha, enquanto Nanda parecia completamente apaixonada por ele. Só torcíamos para que desse certo.

Depois que elas desceram, fomos nos espalhando pela sala. Havia dois sofás, e antes que eu pudesse me levantar, eles já estavam ocupados. Optei então por me esparramar pelo tapete. Confortável aliás.

Jenn estava sentada entre os casais e parecia irritada por estar "segurando vela". Com um gesto, a chamei pra sentar perto de mim. Eu a puxei para sentar entre minhas pernas e a abracei por trás.

—Ui, olha o casal de volta. —diz Annie baixinho, sorrindo.

Annie sempre tinha comentários desse tipo, antes de Jenn começar a namorar. Como era mesmo que ela falava? Ah, é. "Eu shippo vocês."

—Não começa, Anabel. —diz Jenn a fuzilando com o olhar.

Pouco tempos depois de acabar o filme, a mãe de Jenn liga, perguntando que horas ela vai embora. Nos despedimos de todos. Ethan e Nanda dizem que também vão embora e Isaac iria dormir lá, como sempre.

Voltamos em silêncio para casa, mas nada desconfortável. Deixo Jennifer na porta de casa.

Assim que ela desce, não resisto e pergunto:

—Não ganho nem um beijinho? —faço uma expressão suplicante.

—E a história de que não era pra nos comportamos como um casal? —ela me encara com uma expressão triunfante, como se dissesse: "não falei que isso não daria certo?".

—Eu disse que quando estivéssemos sozinhos ou carentes, isso, não teria importância. E no momento estamos sozinhos e eu estou quase entrando em depressão de tanta carência. —digo sorrindo.

Ela ri e olha em volta, depois se aproxima, colocando as mãos em minha nuca. Coloco uma das mãos sobre o quadril dela, puxando-a mais para perto e prolongando o beijo mais do que deveria.

—Boa noite, Leo. —ela diz se afastando com um sorrisinho discreto nos lábios.

—Boa noite, Jenn. —digo ligando novamente a moto e pendurando o capacete extra no braço.

Assim que chego em casa dou de cara com minha irmã, Letícia, e seu namorado, David, no maior amasso no sofá. Eu teria que desinfectar aquilo antes de me sentar ali.

Reviro os olhos, mas não atrapalho. Simplesmente vou pra cozinha em busca da minha mãe.

—E aí, coroa? —digo me aproximando e dando um beijo na testa dela.

Ela está ocupada, sempre está. Várias contas estão em cima da mesa. Luz, água, cartão de crédito...

—Seu pai ligou. —ela diz anotando alguma coisa em sua agenda.

—O que você disse pra ele? —me volto para ela.

—A verdade. —ela dá de ombros me encarando pela primeira vez até aquele momento. —Que você tinha saído com um grupo de amigos e voltaria mais tarde.

—Diga isso sempre então. —falo enquanto vou me encaminhando para porta.

—Leonard, você tem que parar com isso e falar com seu pai. —ela parece impaciente e eu também estou. Não era a primeira vez que discutíamos sobre isso. —Você já é um homem! Tem que encarar isso de uma vez.

—Nem meu pai é homem o suficiente, mãe! —digo num tom alterado. —Se fosse ele não teria nos abandonado pra ficar com aquelazinha que ele chama de esposa hoje. Ou você se esqueceu disso?

—Mas isso não tem nada haver com você. —ela suspira cobrindo o rosto com as mãos. —Ele continua sendo seu pai.

—Ele merece o prêmio agora por "melhor pai do ano"? —digo com desdém.

—Para com isso. —ela pede e me desarma. Não gostava de discutir com minha mãe.

—Me desculpe. —passo a mão pelo cabelo. —Eu vou subir.

—Espere! —ela se levanta, vindo até a mim. —Como foi seu dia?

—Muito bom. Escola, piscina, filme... —vou dizendo aleatoriamente quando ela me corta.

—Jennifer...

Olho pra ela sem entender.

—Você sabe que eu adoraria ter a Jenn como nora, não é? —ela diz num tom inocente. —Fico feliz que vocês tenham voltado a se falar.

—Ah, mãe! —digo exasperado. —Não comece com esse assunto de novo. Jenn e eu somos apenas amigos. —digo dando ênfase na palavra.

—Eu nunca dei um beijo num amigo assim, como você fez quando deixou Jennifer em casa. —ela diz abrindo um sorriso malicioso.

Ela realmente havia me pego de surpresa com aquele comentário. Era complô?

—Tá me espionando agora, dona Julia? —ergo as sobrancelhas.

—Jamais. —ela ri e volta a se sentar, olhando novamente para seus cálculos.

Balanço a cabeça desconcertado e subo pro meu quarto. Tomo um banho rápido e rapidamente ligo o computador. Vou abrindo várias abas aleatórias, e coloco Nickelback para tocar em volume baixo.

Logo as janelas do Facebook começam a piscar. Suspiro e clico na primeira em que vejo.

Isaac – Cara, eu acabei de lembrar. A apresentação do trabalho de eletroeletrônica é amanhã. AMANHÃ CARA. VOCÊ TEM NOÇÃO?

Leo – Ei, pode abaixando esse Caps Lock aí. E eu sei. Já até te mandei a pesquisa por email.

Isaac –E você só me avisa agora, seu vacilão? Por que não disse isso há algumas horas atrás?

Leo –Sinceramente? É porque eu meio que tinha esquecido também.

Isaac –Você é um otário mesmo. Agora eu vou estudar aqui. Até amanhã.

Leo –Valeu cara!

Isaac ficou offline.

Então abro a outra próxima conversa.

Priscila –oi meu gatinho ♥

Leo –E aí Pri

Priscila –nossa amor, que seco! Como é que você tá?

Leo –quer que eu jogue um pouco de água? Parei! Tô suave e você?

Priscila –tô com saudades de você): Me abandonou. A última vez que a gente ficou já deve ter umas três semanas.

Leo –é, tô meio ocupado ultimamente. Vou ter que sair agora porque tem trabalho na escola amanhã. Depois a gente se fala, ok? Tchau.

Priscila –ah, tá bom né. Beijos meu príncipe. Sonha comigo!

Leo –Pode deixar...

Leo ficou offline.

Então me deito na cama e pego os relatórios do trabalho. Começo a lê-los, mas sem prestar devida atenção. Sem querer meus pensamentos se voltam pra aquele beijo que dei em Jennifer mais cedo. Balanço a cabeça. Foco, Leo! Foco!


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