Amizade Colorida escrita por Juh Nasch


Capítulo 12
Jennifer 3.1


Notas iniciais do capítulo

Jenn's POV



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/517208/chapter/12

Havia quase dois meses que Leo estava me ignorando, e eu ainda não tinha entendido o motivo.

Ele me deixou, naquele dia, sozinha na festa. Não bastasse a raiva que eu havia passado com Diego.

O idiota tinha bebido todas e me encurralou assim que saí do banheiro. Me arrastou pelos cabelos para um corredor onde vários casais estavam se agarrando. Eu tinha tentado lutar. Tinha cravado minhas unhas com força em seu braço. Ele estava tão bêbado que nem pareceu perceber. Então ele me jogou contra a parede e bati com minha cabeça. Quando ainda estava desnorteada, devido a pancada, ele começou a me beijar. Aquele hálito de bebida era horrível, e me fazia passar mal. Coloquei as duas mãos, uma sobre cada ombro e tentei empurra-lo, mas em vão, ele era mais forte. Alguns segundos, que pareceram uma vida para mim, eu consegui me desvencilhar e dar um belo chute em seu meio precioso. Ele gritou e sai correndo dali o mais rápido possível.

Procurei Leo por toda parte aquela noite. Annie se ofereceu carona e eu aceitei.

Liguei para Leo e ele não atendia. Fui a sua casa, mas sua irmã sempre dizia que ele não estava.

Na única vez que consegui falar com ele na escola, ele simplesmente disse:

—Por favor. Não fale comigo. Vai ser melhor assim. —ele virou as costas e me deixou ali, sem qualquer reação.

Ele tinha arranjado novos amigos. Ele ainda falava com Annie, Isaac e Nanda, mas havia abandonado completamente a Ethan e a mim.

Eu o procurava todos os dias. Chorava. Implorava e me humilhava na frente de quem fosse exigindo uma explicação pra seu comportamento frio e desprezível. Não estava tudo bem? Eu até pensei que... Bem, não importa mais! Eu tinha cansado de ser destratada daquela maneira, e simplesmente, tentei esquecer que Leo um dia existiu na minha vida. Ele até tinha uma nova namorada. Uma garota chamada Patrícia. Ótimo pra ele. Ótimo pros dois!

Antes do fim do intervalo, vou até o armário pegar meus livros para a próxima aula.

—Posso falar com você?

Estava tão distraída que não percebi ninguém se aproximando, então acabo levando um susto e meus livros caem no chão. Quando olho pro lado, vejo que é Leo que está encostado no armário ao lado do meu. Ele se abaixa e apanha meus livros, os entregando a mim logo em seguida. Olho demoradamente para o seu rosto. O cabelo está um pouco mais comprido do que eu me lembrava e abaixo dos seus olhos tem marcas escuras, como se ele estivesse dormindo pouco ultimamente.

—Obrigada. —digo em voz baixa.

—Fiquei sabendo sobre seus pais. Sinto muito.

—É, eu também sinto. —digo olhando para o chão.

Meus pais haviam se separado a cerca de três semanas. Minha mãe descobriu que as supostas viagens que ele fazia não tinha nada haver com negócios, e que ele tinha uma amante. Eu mal conseguia olha-lo depois de descobrir isso. Ela tinha feito tudo por ele. Os dois construíram tanta coisa juntos. Eram amigos e namorados desde a época do colegial, e ele a magoar desse jeito? Era completamente imperdoável.

—Então era só isso que você queria? —digo de forma seca e objetiva.

—Queria te falar sobre o trabalho de literatura também. Já que as duplas foram escolhidas no inicio do ano, ainda somos parceiros nesse projeto. —ele diz. Parece meio desconfortável e nem por um segundo olha diretamente para mim.

—Se quiser, eu pesquiso algo. Você também. Juntamos tudo e depois dividimos as partes. —digo trancando o armário.

—Hum, é. Pode ser.

—Então traga a pesquisa amanhã, se puder.

—Pode deixar.

Então ele enfim levanta o olhar e me fita. Nessa hora todos os pensamentos que queria evitar me vem a mente. Eu só tinha vontade de puxa-lo para mim e sentir aquele calor, aquele cheiro, me sentir segura como sempre me sentia quando estava em seus braços. Cada célula de meu corpo desejava isso. Eu sentia vontade chorar e falar o quanto estava sentindo falta dele. Da nossa amizade. De nós.

Antes que eu posso pensar no que dizer, ele fala:

—Então, a gente se esbarra por aí. —então simplesmente vira as costas e vai embora. Eu engulo as dúzias de palavras que pairavam sobre minha mente e respiro fundo, evitando as lágrimas que sem muito esforço viriam à tona.

***

No término das aulas, vou praticamente voando para casa. Desde então venho sozinha. Annie, no inicio, sempre me oferecia carona, mas depois de tanto eu recusar ela desistiu. Não havia cabimento ela me trazer em casa todos os dias, sendo que morava no bairro do lado oposto, se eu poderia muito bem vir andando.

Minha mãe conseguiu uma semana de “férias” de seu emprego, já que ela estava tão deprimida que ao menos conseguia realizar suas tarefas diárias. Já estava cansada de chegar em casa e vê-la ainda de pijama, com a expressão mórbida em seu rosto. Eu queria fazer algo para que ela se sentisse melhor, mas não sabia o quê.

—Mãe? —digo assim que chego em casa.

—Aqui. —escuto sua voz cansada vinda da cozinha.

Ela está sentada a mesa, lendo um livro. Me aproximo e dou-lhe um beijo na testa.

—Está melhor? —pergunto me sentando na cadeira ao lado dela.

Ela me olha e balança a cabeça em afirmativa lentamente, mas sei que ela só faz isso pra fazer com que eu me sinta melhor.

Depois de almoçarmos, assim que termino de lavar e guardar a louça, escuto a campainha tocar.

Assim que abro a porta, vejo que é Letícia.

—Oi Lê. —digo enxugando as mãos ainda molhadas em minha bermuda jeans e abrindo um sorriso.

—Jennifer. —ela diz me abraçando. —Há quanto tempo.

—É verdade. Como você está? Quer entrar um pouco?

—Não. Na verdade, eu vim lhe pedir um grande favor, se não for te incomodar.

—Pode falar.

—Eu vim pedir para que você volte a falar com o Leo.

Na mesma hora, sinto o sorriso em meu rosto se desmanchar.

—Primeiramente, não fui que parei de falar com ele. E acho que ele não está nem um pouco interessado em voltar a falar comigo.

—Jennifer, você não sabe o que está acontecendo. Leo todos os dias chega de madrugada em casa, muitas vezes bêbado. Eu não sei com que tipo de gente ele está andando ultimamente, mas posso garantir que não são boas pessoas. Minha mãe já está desesperada. E eu também. Leo era alegre, brincalhão. Implicava comigo a cada segundo. Hoje ele mal fala um oi. E tudo isso foi depois que vocês pararam de se falar.

—E o que você quer que eu faça? Obrigue ele a voltar a falar comigo?

—Pelo menos tente.

—Mais do que eu já tentei?

—Por favor, Jenn. —ela me olhava suplicante.

—Ele está em casa? —pergunto. Ela abre um pequeno sorriso.

—Não, mas deve chegar daqui a pouco. Vamos lá para casa. Minha mãe vai gostar de vê-la.

—Mãe, eu vou ali na casa da Lê rapidinho. Qualquer coisa me chame. —grito.

Atravessamos a rua e entramos na casa.

—Letícia? —escuto a voz da tia Júlia vinda da sala.

—E ela trouxe companhia. —digo sorrindo.

—Jenn, minha querida. —ela sorri e me dá um abraço apertado. —Ah, já estava sentindo falta da sua voz. Veio ver o Leo?

—Na verdade, foi a Letícia que me convidou. Ela quer que eu converse um pouco com o Leo.

—Acho isso muito bom. Leo sempre foi de escutar você, e ultimamente ele está precisando de conselhos de pessoas que querem o bem dele, mas ele não me ouve.

—Vamos lá para cozinha. —diz Letícia.

Nós três vamos para a cozinha e sentamos a mesa. Tia Júlia me oferece um pedaço de bolo e eu tento recusar, mas ela é tão insistente que aceito comer um pedaço. Quando estamos jogando conversa fora e dando boas gargalhadas, escutamos a porta da sala ser fechada.

—Mãe, eu queria saber se... —Leo para no meio da frase ao perceber que estava ali.

—Oi. —digo numa voz diminuta.

—Vamos deixa-los sozinhos. —diz tia Júlia para Letícia e as duas saem da cozinha.

—O que você está fazendo aqui? —ele pergunta me olhando.

—Letícia foi até lá em casa, e acha que temos que nos acertar de vez. Que devíamos conversar.

—Letícia não tem nada que se meter na minha vida. —ele diz de forma ríspida.

—Mas não se trata só de SUA vida, Leonard. Eu também quero saber... Quero saber o porquê de você ter me ignorado esse tempo todo. O motivo de você ter me deixado naquela festa sozinha. Por que você não respondeu a nenhuma de minhas mensagens? Ou atendeu pelo menos uma das minhas ligações?

Leo dá uma risadinha debochada e me olha.

—Por favor, Jennifer. Não venha querer se fazer de vítima. Isso é a última coisa que você é. Tem certeza de que você não sabe? Certeza mesmo?

—Se eu soubesse, acha que eu estaria aqui te questionando tudo?

—Você é muito falsa mesmo. Meu Deus! Nunca podia imaginar que você seria assim.

—Falsa? Qual o seu problema garoto?

—O que aconteceu de anormal naquela festa Jennifer?

—Eu não sei. Estava tudo tão bem. Tão perfeito. Até que... —então me lembro. A hora em que fui encurralada por Diego. Leo está me olhando com uma expressão quase satisfeita, como se eu enfim tivesse entendido.

—Mas Leo, aquilo foi um mal entendido. —chego mais próxima a ele e encosto no seu braço. Ele recua, como se toque o queimasse.

—Um mal entendido. É claro. Por que não? —ele ri de forma cínica. —Eu já deveria ter imaginado.

—Eu estou falando sério. Eu alguma vez já menti pra você?

—Eu não sei Jennifer. Se tivessem me perguntado isso há três meses, eu responderia com veemência que não, mas agora? Eu sinceramente já não sei de mais nada. —ele me vira às costas e vai saindo da cozinha.

—Ei, ainda não terminamos! —digo o puxando pelo braço.

—Realmente não terminamos. Não se pode terminar nada que não tenha ao menos começado. —ele diz me olhando nos olhos. Depois se desvencilha de meu aperto e sai pela porta da frente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Deem a opinião de vocês pessoal !! O que acham que deve acontecer para Jenn e Leo voltarem? Acha que os dois realmente devem ficar juntos?
É isso. Beijos da tia