Amizade Colorida escrita por Juh Nasch


Capítulo 1
Jennifer 1.1/2


Notas iniciais do capítulo

(Ao decorrer dos capítulos vocês vão entendendo algumas coisas).
Boa leitura :)



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Eu não sabia como cessar aquelas lágrimas infinitas. Parecia que meu coração ia sair do meu peito. Era uma dor nova e cruel.

—Jenn. Não se desespere! —diz Leo enquanto me abraça e acaricia meus cabelos.

Estou com o rosto enterrado em seu peito, soluçando mais do que eu acharia possível.

—Não acredito que ele fez isso comigo. Não acredito. —falo. Minha voz falha entre meus soluços.

Não sabia se estava sendo dramática demais, mas eu não conseguia me controlar.

Estávamos no meu quarto. Sentados na beirada de minha cama. E ali estava Leo. Ao meu lado, me consolando, como há tempos não fazia.

Amanhã eu seria alvo de piada por toda a escola. Já até imaginava.

O dia havia começado normalmente. Avistei Nick ao longe e logo fui em sua direção, depositando um beijo rápido em seus lábios. Namorávamos há quase cinco meses e ele foi meu primeiro namorado sério. A pessoa em que eu mais confiava.

Ele era dois anos mais velho que eu e nossa história começou com um esbarrão, como muitas outras, afinal.

Eu estava no vestiário feminino, me trocando após uma exaustiva aula de Ed. Física. Até que ouvi um barulho, como se algo tivesse sido derrubado no chão. Fui até os armários, em silêncio e devagar, para ver o que era.

Então tive a pior visão do mundo. Aquela que você nunca imaginaria que aconteceria com você. Que parecia irreal demais, fictícia demais até mesmo para você aceitar que era verdade.

Meu namorado estava agarrado à cintura de outra garota, e a beijava intensamente. Fiquei parada, não conseguia me mover. Apenas consegui cruzar os braços e fiquei ali, aguardando, até ele me notar. As lágrimas já escorriam sem eu ao menos perceber.

Ele então abriu os olhos e me viu. Sua expressão de choque foi o que me deu motivação pra sair correndo dali.

Passei por Leo que tinha chegado atrasado à escola e ainda estava no estacionamento. Contei tudo à ele, de forma resumida, e em meio as lágrimas. Ele simplesmente me abraçou e me trouxe pra casa. Não disse aquelas frases que todos diriam naquela situação. "Foi melhor assim. Ele não te merecia." ou "Vai ficar tudo bem!". Apenas permaneceu em silêncio, em respeito a minha dor e eu nunca havia ficado mais agradecida.

Leo era meu melhor amigo desde sempre. Nossos pais foram amigos de colegial e morávamos em frente à casa um do outro. Eu havia começado a namorar Nicolas há cerca de quatro meses. Ele era extremamente ciumento, e ainda mais quando o assunto se tratava de Leo. Fiquei magoada, mas eu realmente estava apaixonada, e aos poucos, fui me afastando de Leo. Então era difícil associar que agora, ele estava ali, matando aula por mim. Eu não tinha o abandonado?

—Ele era um babaca, Jennifer. —ele diz e colocando a mão no meu queixo o erguendo pra que eu o olhasse. —Ele não merecia nenhuma das suas lágrimas. —ele passa o polegar pela minha bochecha, secando as que restavam.

—Eu sei. —digo em tom baixo, fungando.

Então, o cansaço causado pelas minhas lágrimas e o calor reconfortante de Leo, me fazem pegar no sono.

***

Quando acordo Leo não está mais ali. Olho pela janela e vejo que já está escurecendo. Ele deve ter ido pra casa.

Então escuto a voz dele no corredor:

—Eu a trouxe pra cá o mais rápido possível. Nunca tinha a visto daquele jeito. Ela chorou a tarde toda. E... —ele parecia desesperado. Me culpei internamente.

—Tudo bem Leo. Você fez o que pode. –agora era a voz da minha mãe. —Obrigada!

Então eu levanto da cama e calço meus chinelos e vou em direção à porta.

—Meu Deus, Jenn! Que susto! —disse Leo levando a mão ao peito, de forma teatral demais para meu gosto. —Você tá parecendo um zumbi. —ele faz uma careta engraçada. —Não sabia que estava querendo fazer parte de The Walking Dead.

Reviro os olhos e dou um sorriso fraco.

—Consegui pelo menos ganhar um sorriso. —ele diz sorrindo satisfeito consigo mesmo.

—Você já está indo embora? —minha voz está péssima. Rouca. Parece até que estou doente. E eu me sinto assim.

—Está me expulsando? —ele ergue uma das sobrancelhas.

—É claro que não. —digo impaciente. Sabia que aquele jeito irritante dele era só pra afastar os pensamentos de minha cabeça.

—Antes ele vai fazer um lanche. Tenho certeza que os senhores não comeram nada até agora. —minha mãe disse.

Ela não havia dito nada antes disso, mas com certeza devia estranhar a presença de Leo ali. Ela me olhava preocupada. Será que minha aparência estava tão ruim assim?

—Prefiro comer aqui no meu quarto. —digo olhando pra ela.

—Tudo bem então. —então ela desce pra cozinha.

Leo me olha atentamente e se aproxima. Passa os braços em volta da minha cintura, me puxando para perto e me olha.

Me sinto desconfortável. Tinha esquecido como éramos próximos. Isso deveria estar estampado em minha expressão, porque logo Leo afrouxa as mãos e em seguida as recolhe, colocando-as dentro dos bolsos.

—Tá melhor? —ele pergunta. Seu rosto está sério e sei que ele está preocupado.

Balanço a cabeça em confirmação.

—Minha vontade é quebrar a cara daquele babaca. —diz Leo suspirando com raiva.

Eu rio, mesmo sem vontade. Não que eu seja a favor da violência, mas era minha maior vontade também.

—É sério Jenn. Sua aparência tá me assustando. Se olhou no espelho? —ele pergunta franzindo a testa

—Eu vou tomar um banho. Tô precisando. —digo enquanto passo as mãos pelos cabelos. Estavam completamente desembaraçados e faço uma careta ao afastá-los de meus dedos.

—Posso usar seu computador por enquanto? —ele vai adentrando meu quarto sem permissão.

Foram poucos meses, mas eu teria que me acostumar com aquilo novamente.

—Uhum. —concordo com um aceno de cabeça.

Pego meu pijama e uma toalha e vou para o banheiro. Decido colocar uma playlist em meu celular. A música me acalmava de um jeito que ninguém conseguia. Tomo um banho consideravelmente longo. Saio do banheiro ainda secando os cabelos.

Leo olha rapidamente e volta à atenção para o computador. Depois ele franze a testa e me olha de novo. De cima a baixo e dá um sorriso malicioso.

Meu pijama não é dos mais indecentes, mas, ainda sim, chama atenção. Um shortinho azul que vai até o meio da minha coxa e uma blusinha de alcinha.

—O que foi Leo? Até parece que nunca me viu com roupa de dormir. —falo.

—Bom, éramos mais novos e você não tinha esse corpão ainda. —ele diz mordendo o lábio inferior.

—Para com isso! —sinto meu rosto arder e tento me cobrir com a toalha enquanto ele solta uma sonora gargalhada. Essa volta de amizade não estava me parecendo uma boa coisa.

Leo sempre fora respeitoso em relação à mim e era por isso que nossa relação dava certo. Amizade, baseada em confiança. Sem apego demais ou agarração demais. Sabia muito bem o que acontecia numa amizade entre homem e mulher liberal demais. Um dos lados saia mal, senão os dois.

Sempre tivemos que aturar comentários maldosos das outras pessoas, inclusive de nossos parentes, mas eu e Leo éramos amigos, e só. Reviro os olhos e saio pra estender minha toalha na corda. Quando volto, Leo já está com a atenção voltada para o computador.

—Não tá vendo nenhuma pornografia aí, não né? Minha mãe sempre olha meu histórico depois. —digo num tom de brincadeira.

—Se estivesse eu com certeza te chamaria pra assistir. —ele diz piscando pra mim. Franzo a testa e resolvo me sentar na cama.

Minha mãe então aparece à porta e eu a ajudo com a bandeja. Ela fez sanduíches e suco de maracujá. Alguém ali precisava se acalmar, e eu não estava falando de mim.

—Huuum! —meu estômago ronca nesse exato momento e nós três rimos.

O celular de minha mãe toca e ela corre pra atender. Eu e Leo comemos os sanduíches enquanto ele faz várias piadas e eu deixo escapar alguns sorrisos. Quando terminamos ele se levanta.

—Eu tenho que ir. Minha mãe sabe que estou aqui, mas deve estar preocupada.

—Tudo bem. Te vejo amanhã, né? —meu tom saiu dependente demais, não era a intenção.

—Claro que sim. —ele abre um sorriso de canto.

—Não queria ir pra aula amanhã. —suspiro baixo.

—Mas você vai. —seu tom é claro. Não haverá conversas ou justificativas. —Não vai matar outra aula por causa desse babaca. Esquece que ele existe, Jenn.

—Vou tentar. Mas é bem difícil. —desvio o olhar para minhas mãos e seguro fortemente o lençol.

—Estou falando sério. É melhor.

—Obrigada, Leo. Por tudo! —eu o abraço. —Te amo. —sussurro.

—Não tem por quê agradecer. E eu te amo mais. –ele sussurra no meu ouvido.

Depois me dá um beijo na testa e sai, levando a bandeja consigo.

Escovo meus dentes rapidamente e volto pra cama. Revejo a cena no vestiário mais uma vez e abraço meu travesseiro com força, deixando mais algumas lágrimas escaparem. Até que por fim, consigo dormir.


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Notas finais do capítulo

E aí? Está bom pra um inicio? Mereço reviews?
Até o próximo!