A Garota Dos Defeitos escrita por Tamires Rodrigues


Capítulo 39
Ben parte 2


Notas iniciais do capítulo

Oi gente :) Boa leitura ♥



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As vozes estavam em cima de mim. Altas, ansiosas e agitadas. Levei um par de segundos para perceber que elas não estavam dentro da minha cabeça. Minha cabeça que estava recostada em algo macio, enquanto mãos suaves afastavam meu cabelo da testa. Alguém estava chamando meu nome, mas eu ainda não conseguia abrir os olhos. A mão mexendo com meu cabelo tocou um ponto sensível da minha testa, e minhas pálpebras tremeram abrindo-se.

Três rostos me fitaram esperando uma reação.

Pisquei, e toquei minha testa, sentindo um pequeno galo se formando. Gemi baixinho quando meus dedos encostaram-se àquela parte sensível e dolorida.

Limpei minha garganta me sentando. Era no colo da minha mãe que eu estava. Ela que estava mexendo com meu cabelo, embora antes de eu cair ainda estivesse com a toalha enrolada em volta da cabeça.

Limpei minha garganta. A expressão de todos era engraçada.

Realmente engraçada.

Encarei um rosto em particular, perguntando-me o porquê de ele estar aqui em primeiro lugar.

_ Por que diabos você me derrubou no chão?- eu quis saber quase gritando.

Katherina cruzou os braços sobre o peito, balançando a cabeça para o batedor de portas.

_ Yeah, Ben eu estou ansiosa para saber.

Batedor de portas, vulgo Ben.

Ben estava aqui por que brigou com Kat ontem à noite? Perguntei-me, só que era meio obvio que sim.

Ao meu lado minha mãe suspirou, e balançou a cabeça.

_ Quando você faz uma pergunta, precisar esperar pela resposta. Toda vez que você fez uma pergunta a mim, você não espera que eu a responda e faz isso por conta própria- Ben murmurou, e apesar da frase parecer ser um pouco como censura, havia muita diversão em sua voz.

Kat estalou a língua do céu da boca, e ergueu uma sobrancelha.

_ Eu estou dividida entre chamar a policia, mandar prenderem você por invasão, e quebrar alguma coisa na sua cabeça. Acha mesmo que o momento certo para dizer coisas espertinhas para mim é agora?

Ben balançou a cabeça, dando uma pequena tossida para encobrir seu riso.

– Eu diria que não, mas nunca se sabe com você, não é?

Minha mãe cobriu a boca para conter um sorriso, eu nem me preocupei em ocultar o meu.

Os dois combatiam fogo com fogo.

Deus tenha piedade de quem estiver por perto.

O olhar de kat mudou para nós, eu desejei que não tivesse.

– Talvez uma pipoca, quem sabe?

Minha mãe olhou para mim, e sussurrou: Eu adoraria uma pipoca, e você?

Kat escutou, pois redirecionou seus olhos para Ben.

– Vamos conversar lá fora – decidiu com um suspiro. Além de irritada, ela parecia cansada.

Sem esperar qualquer resposta ela saiu para a varanda batendo a porta. Ben nos lançou um olhar apologético e envergonhado e seguiu Katherina. Ele não bateu a porta quando a fechou atrás de si.

Minha mãe cutucou minhas costelas com o cotovelo.

– Tão confusa quanto eu estou?

Assenti.

– Eu não sei muito mais do que aconteceu aqui.

Estranhamente admitir isso doeu. Kat era minha melhor amiga. Acima disso éramos irmãs. Eu queria poder ajuda-la como ela sempre me ajuda mesmo estando longe.

Pelo canto do olho vi minha mãe ficando de joelhos no sofá.

– Ah meu Deus mãe! O que é isso? Sai daí!

Sem tirar os olhos da janela, ela informou:

– Ele acabou de invadir minha casa. Que tipo de mãe eu seria se não ficasse de olhos nos dois?

Um ponto valido, mas certamente não o único motivo.

– Se Kat ver você vai ficar muito brava- falei, mas eu já estava ficando de joelhos e empurrando um pouco as cortinas para o lado.

Ben estava de costas, mas eu podia ver kat claramente. Sua sobrancelha estava erguida assim como seu queixo, numa expressão de desafio que eu conhecia bem. Ela tinha acabado de dizer algo, e seja o que for fez Ben querer toca-la, mas ela se afastou dando um passo para trás.

Kat falou novamente. Ela não estava gritando, mas eu sabia que queria pelo brilho selvagem em seus olhos.

Agucei meus ouvidos tentando ouvir a resposta de Ben. Não consegui.

– O fato de você estar aqui hoje não me deixa menos chateada Ben. Pelo contrario eu quero bater em você por desrespeitar meu pedido de ficar sozinha.

Kat esperou por uma resposta, mas a única que teve foi os ombros retesados de Ben cedendo para baixo.

– Que tipo de noção de espaço é essa? – continuou.

Novamente sem resposta, e isso a fez rir. Não seu riso normal, bom e gentil e sim um riso irritado e maníaco.

– Você vem aqui e apenas fica me olhando sem explicar o que quer que seja o que tem que me explicar. Que diabos Ben!

Para ser justa não acho que ela queria que Ben respondesse. Ela só queria que ele a ouvisse a cima de tudo. Ela estava chateada, e a visita inesperada apenas fez com que ela fosse empurrada um pouco mais para a borda. Se ele a conhecesse de verdade, seria fácil de ver através das palavras acidas. Kat podia ser uma incógnita às vezes, mas hoje ela estava fácil de entender.

Sim, eu sabia que era errado invadir a privacidade da minha irmã dessa forma. Tentei convencer a mim mesma que ela faria o mesmo, e honestamente eu acho que ela faria. Se fosse ao contrario ela que estaria ao lado da minha mãe agora. Isso não me fez sentir melhor. Era errado e ponto.

– Eu não dormi com ela – Ben disse alto o bastante para a vizinhança entender. Eu congelei, kat encheu os olhos de lágrimas. Não sei se de raiva, ou alivio.

Ben era um idiota.

– Você acha que eu sou idiota? – kat gritou tão alto quanto ele. As lagrimas eram de raiva, eu supus. Tudo nela mostrava tensão.

Empurrei as cortinas no lugar, e desci do sofá.

Eu estava tentada a ir para fora, e bater em Ben, mas kat não gostaria disso. Ela o levou para fora com a intenção de resolver as coisas com ele sozinha.

Virei para minha mãe, mas ela já estava arrumando a cortina no lugar. Seus olhos refletiam os meus pensamentos.

– Vamos para a cozinha. Ele não é um serial kellier, é só um babaca – um amargo sorriso surgiu em seu rosto. – Há muitas facas na cozinha, caso ele volte para dentro.

****

Um infinito de minutos se passou, e kat ainda estava lá fora. Depois dos gritos tudo ficou calmo. Perguntei-me silenciosamente se ambos ainda continuavam na varanda.

Quando ficou claro que kat demoraria, eu tirei a mesa. Se eu não me mantivesse ocupada, eu provavelmente iria dar uma checada na varanda. Eu lavei e minha mãe guardou.

Os movimentos mecânicos me lembraram do Adam’s. Eu esperava que ainda tivesse um emprego quando chegasse amanhã.

– Papai vai viajar na quarta? – falei preenchendo o silencio. Minha mãe e eu ainda estávamos na cozinha. Em dois dias.

– Sim, um dos motivos para ele ter ido à casa de Phil foi precisar checar algumas coisas sobre esta viagem.

A viagem que ele mencionou no almoço na casa dos Wolfs. Almoço este que parecia ter ocorrido há meses atrás. O que me lembrou da sua viagem a trabalho. O seminário para a promoção.

– E você? – Eu não queria pensar no motivo para nenhum dos dois ter ido viajar, mas o pensamento se alojou no fundo da minha mente se recusando a ser ignorado. Levantei e servi um copo de suco de laranja, guardando a jarra de volta na geladeira. Não adiantou porque eu pensei em tudo, nas cartas, no barulho do aparelho do hospital apitando estridentemente sem parar.

– O seminário tinha sido cancelado, por algumas falhas. Vai começar oficialmente no fim de semana que vem, mas não sei se vou.

Tomei um gole de suco, franzindo a testa. – Por quê? Foi quase sorte isso ter acontecido.

– Se eu conseguir a promoção significa mais dinheiro para pagar as contas, e ao mesmo tempo, menos tempo em casa.

Eu não consegui entender. Meus pais vinham trabalhando como loucos para manter as contas em dia, e fazer uma boa poupança para eu entrar em uma boa universidade, e agora a promoção em que minha mãe estava tão empolgada que pudesse acontecer não era nem meramente boa.

Brinquei com os meus cabelos largando o copo em cima da mesa.

– Não é só isso, né?

– A promoção não tem o mesmo brilho. Era algo que eu queria, mas também me ajudava a manter a mente em outro lugar. - Assim que as palavras saíram, ela me olhou como se não pudesse acreditar no que tinha falado.

– A doença da vovó? – perguntei com o estomago revirado. Fazia sentido. Fazia todo sentido do mundo.

Ela balançou a cabeça.

– Em parte – concordou quietamente.

A porta da frente repente se abriu, e tanto minha mãe e eu olhamos para a origem do som.

Eu lamentei por termos sido interrompidas, porque não sabia se falaríamos tão francamente uma com a outra em breve. Tinha sido um longo tempo desde que tínhamos uma conversa normal. Mas isso se foi quando vi kat adentrando a cozinha.

Ben logo atrás ao seu lado.

Segurei meu copo de suco com força. Ele ainda estava cheio, com exceção de poucos goles.

Katherina parecia serena e tranquila, o que não fez sentido para mim.

Lembrei-me de Ben gritando que não tinha dormido com alguém, e dos olhos cheio de lágrimas da minha irmã.

Em um instante eu estava de pé, olhando para Ben, e no outro o suco estava derramando para fora do copo indo direto para seu rosto.

Foi um movimento de extremo alivio.

Seus olhos brilharam com surpresa e eu sorri docemente.

– Idiota!

Kat riu tão alto que podia ter estourado os meus tímpanos, Ben olhou de mim para o liquido escorrendo de seu rosto para sua roupa, e eu não tinha certeza do olhar da minha mãe.

Um guardanapo foi jogado para ele. Minha mãe eu imaginei, uma vez que kat ainda estava dobrada em seu estomago de tanto rir. Levou um minuto ou dois para que ela recuperasse o fôlego.

Com o rosto limpo, ele olhou para kat. Seus olhos ficaram moles. Franzi a testa, sentindo que eu tinha perdido algo.

Atrás de mim, mamãe limpou a garganta.

– Talvez uma explicação? – sua voz soou severa querendo saber o porquê de ainda estar olhando para Ben, depois do que ouvimos.

Katherina limpou as lagrimas que tinham se formado em seus olhos. Uma sobrancelha se ergueu.

– Vocês duas estavam ouvindo não é?

Kat cruzou os braços balançando a cabeça. Depois de alguns olhares de critica ela explicou o que aconteceu. Ben a interrompia a cada instante para se defender.

Na noite passada enquanto falava com Ben, ela ouviu uma voz feminina. Lara.

–Minha vizinha e amiga – Ben nos atualizou.

Kat zombou. – Sim, como se fosse normal ouvir uma voz feminina na casa do meu namorado no meio da noite.

Mamãe e eu nos entreolhamos. Um ponto para Kat, nossos olhares disseram uma para o outra.

– Minha filha tem razão.

– Com todo respeito senhora – Ben murmurou risonho. – Mas eu acho que estaria defendendo e dando razão para a sua filha mesmo se ela não tivesse.

Um ponto para Ben.

– Como eu estava dizendo – kat continuou com um rápido sorriso agradecido. – Eu ouvi uma voz feminina, e posso ter tirado conclusões precipitadas.

Ben bufou, kat ignorou.

– Lara é casada!

– Havia uma voz feminina no apartamento do meu namorado a três da manhã, o mesmo namorado que tem ciúmes se eu converso com alguém do sexo oposto, sinceramente eu estou tão errada eu supor que você pensaria o mesmo?

Meus olhos foram de um para outro como em um torneio de ping pong.

– Lara tem uma filha chamada Vivian e é lésbica! Eu estava cuidando de sua filha e tudo que você ouviu na outra noite foi ela dizendo que iria me agradecer mais tarde.

– Errado – eu me intrometi. – Tudo que ela ouviu foi uma mulher dizendo que iria agradecer você mais tarde.

Mordi a língua diante do olhar que ele me deu desejando nem ter falado nada.

Katherina acariciou seu braço, o que fez com que seus olhos desviassem.

– Eu já pedi desculpas.

– Você botou o inferno para fora de mim na noite passada, e nem me deu chance de explicar.

– Eu já disse que sentia muito- kat empurrou seu lábio inferior para cima fazendo biquinho, o olhar de Ben desanuviou aos poucos e Katherina o tinha em suas mãos.

Ponto duplo para ela.

Ben foi embora antes que o papai chegasse, não por vontade própria. Kat usou um pouco de sua persuasão dizendo que não era o momento para os dois se conhecerem infelizmente para ela Ben era tão bom no jogo que só foi embora com a condição de conhecê-lo oficialmente. Mamãe sugeriu que fizéssemos um jantar, e eu aplaudi a ideia me divertindo. Era interessante ver dois quase advogados usando suas cartas.

– Vocês duas são terríveis – kat atirou quando Ben foi embora.

– Estávamos oferecendo alternativas – mamãe defendeu-se.

– Sim, com certeza. O jantar vai ser dentro de algumas horas e eu nem sei o que dizer para o papai. Ele nem sabe da existência de Ben.

– Ele dirigiu a madrugada toda para encontrar com você, kat, ele merece um jantar – falei.

Kat suspirou batendo de leve a cabeça na mesa.

– Você conhece nosso pai, ele vai antagonizar Ben esperando que ele corra para longe.

– Ele não fugiu quando eu joguei suco nele.

Minha irmã ergueu a cabeça sorrindo.

– Não, ele não fugiu. Obrigada por isso a propósito, não sabia que você tinha esses genes loucos em você.

Eu ri, esfregando seu ombro.

– Ele gosta de você. Não vai correr.

– Eu espero que não.

– Não vai ser tão ruim – mamãe afirmou seguramente.

Kat deu de ombros e então disse:

– Nada de fotos de bebê.

Minha mãe ficou em silencio.

– Mãe? Prometa.

– Nada de fotos de bebê – concordou com um muxoxo.


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