A Garota Dos Defeitos escrita por Tamires Rodrigues


Capítulo 37
Obrigada por estar aqui


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores, como vão anjos? Espero que bem!
As coisas aqui pro meu lado tem estado meio a meio hahahha
senti falta dos comentários de vocês :( então comenteeeeeeem muito ! ♥
beijos e boas vibrações
p.s: aguardem surpresas.
p.s: amem o Gabriel agora porque daqui a pouco irão odiar '-'



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— Ei, - uma voz familiar disse baixinho. _ Abra os olhos, Formiguinha.

Eu não queria. Mas eu fiz, porque ser fitada por lindas esmeraldas e ser engolida pelo brilho delas, soou melhor do que qualquer coisa que eu estava pensando nas últimas horas.

Eu olhei diretamente para ele.

Gabriel.

Gabriel.

Gabriel.

Enchi minha mente com seu nome, com seu cheiro. Enchi minha mente com tudo a que eu podia me agarrar para não ser levada pelo furacão de pensamentos arrancando tudo do chão.  Mas de repente eu não conseguia me mexer. Senti vergonha por surtar, por congelar bem ali diante da minha família.

Um sorriso triste torceu os lábios de Gabriel para cima.

— Vamos lá, Formiguinha- pediu segurando minha mão, e praticamente me arrastando para longe do púlpito. 

Os olhos da minha mãe estavam transbordando de lágrimas, mas ela os enxugou, assim como Kat enquanto elas espremiam meu pai abrindo mais espaço no banco. Estavam bancando as duronas por mim, como sempre fizeram, e isso me fez ficar mais envergonhada por desabar, e não fazer o mesmo por ela.

— Eu amo você- mamãe sussurrou. - Amo você, querida.

Sentei no banco, e balancei a cabeça.

— Eu também- respondi com a voz apenas um pouco acima de um sussurro. - Eu também amo você, mãe.

Não larguei a mão de Gabriel por isso mesmo se ele não quisesse teria que sentar ao meu lado. Não pareceu que ele iria embora, ou queria sentar em outro lugar de qualquer forma.

Phil falou a seguir. Contou que vovó foi uma espécie de conselheira amorosa para meu pai, e para ele.  Sempre dizendo o que fazer quando cometiam erros com Anna e mamãe. Era fácil de imaginar isso, porque mesmo quando kat e eu não queríamos recebíamos conselhos amorosos dela.

Acho que a pior parte depois dos nossos próprios discursos para todos nós foi ouvir um dos enfermeiros que cuidou da vovó. Ouvir tudo pelo qual ela passou.

Depois disso o pastor pediu que levantássemos e déssemos as mãos para rezar uma última vez. Dei minhas mãos suadas para kat e Gabriel enrolou seus dedos mais apertados ao redor da minha outra mão. Eu repeti as palavras assim como todos, mas honestamente elas não significavam muito para mim, além disso, palavras. A cerimônia foi encerrada e algumas pessoas vieram até nós. Muitas delas apenas abraçaram-nos, já outras elogiaram nosso discurso.

***

O enterro foi apenas uma prolongação da tortura. Mais lágrimas, mais dor, mais tudo.

Eu tinha achado que a pior parte tinha sido ouvir os discursos.  Eu estava tão enganada.

Ver as pessoas levando o caixão para longe, foi horrível, porém vê-los baixando-o foi como um choque elétrico, e fez meu corpo tremer inteiro.  Papai pegou um punhado de terra do chão e jogou sobre a sepultura, percebi seus lábios mexendo, mas não entendi, ou ouvi as palavras. A cada pessoa que fazia a mesma coisa, trazia mais lágrimas aos meus olhos, e mais lembranças a minha mente.

Como se um milhão de lembranças estivesse chovendo dentro de mim. Uma chuva de gargalhadas perdidas, de conselhos, de momentos que nunca mais serão vividos.

Peguei um punhado de terra e joguei sobre seu caixão.

Eu amo você vovó - sussurrei. – Me desculpe.

Phil abraçou cada um de nós, e fez questão de deixar claro que se pudesse ajudar em qualquer coisa bastava chamar, e ele faria. Não duvidei claro. Ele tinha feito muito por todos nós nos últimos dias.

Gabriel se despediu de todos me deixando por último.

— Vamos indo até o carro- mamãe informou me dando um beijo na bochecha.

Phil nos encarou por um momento, e então com o rosto de repente ficando vermelho gaguejou que ia falar com meus pais.

— Oi- Gabriel sussurrou.

— Oi- sussurrei de volta porque foi tudo que eu conseguia pensar em dizer.

Dei um passo e fiquei mais perto dele. Seus olhos estavam inchados e com grandes olheiras debaixo deles. Ele afastou algumas mexas de cabelo da testa e elas instantaneamente voltaram a cair novamente no mesmo lugar. Nós encaramos por uma longa batida, enquanto eu procurava por algo mais para dizer. Gabriel parecia se sentir em conflito com as palavras do mesmo jeito que eu.

— Obrigada- limpei a garganta e esfreguei meus olhos, eles ardiam um pouco de tanto chorar.

Gabriel me deu um olhar estranho e eu me senti estúpida agradecendo á ele. Eu queria dizer muita coisa, e ao mesmo tempo enterrar meu rosto em seu pescoço para aspirar seu perfume amadeirado calmante, a e ao invés disso eu soei como se estivesse agradecendo alguém por ter me dado um pedaço de pizza qualquer.

—Hum, certo- gaguejou afastando outra vez as mesmas mexas de cabelo. Seu cabelo precisava de um corte. Um olhar duro sombreou seus olhos cor de grama, antes dele desvia-los para o chão. Franziu a testa e enfiou as mãos nos bolsos da jaqueta de couro. _ De nada, eu acho.

Mordi o interior da minha bochecha, por algum motivo querendo chorar. Senti as lágrimas no fundo da minha garganta e me balancei sem sair do lugar.

— Eu... Minha família. Acho que já vou indo.

Soltei um suspiro e forcei um sorriso. Superficial e falso mesmo a um quilômetro de distância. Não esperei por uma resposta e comecei a me afastar, apenas para parar em seguida chamando-o. Para minha surpresa ele continuava ali, parado, sem se mexer, vendo eu me afastar.

Franzi as sobrancelhas, juntando as palavras na ponta da língua. As palavras certas dessa vez.

— Obrigada por estar aqui- hesitei por um segundo e continuei:- Por mim.

Dessa vez eu não parei de andar para dizer coisa alguma, não parei nem mesmo quando ele chamou por mim.

Phil estava falando com meu pai quando eu cheguei até o carro. Ambos encostados no para-choque. Por trás do vidro eu enxerguei as sombras delicadas da mamãe e de Kat esperando para voltar para casa.

Quando Phil me viu acenou para mim com a cabeça, e se despediu do papai com um daqueles abraços estranho que só os homens se dão. Um abraço de um braço só e alguns tapas nas costas.

— Fique bem, menina - murmurou apertando meu ombro ao passar por mim.

Não soube o que falar então eu apenas sorri e disse obrigada, mal contendo as lágrimas como estava acontecendo toda vez que falavam comigo.

À volta para casa foi silenciosa. Estávamos mergulhados em uma tristeza tão densa que nem uma serra poderia partir ao meio.

Ao meu lado Katherina fitava fixamente a janela. Cutuquei seu braço desviando sua atenção para mim.

— Tudo bem?

Ela deu de ombros. - Não sei- respondeu cansada. - Realmente não sei Sukes.

 Eu novamente não tinha o que dizer, na verdade não havia o que dizer. Todos os clichês encheram a minha mente, mas nenhum deles oferecia o consolo que ela precisava. O consolo que eu queria dar tanto a ela, quanto para mim, e para os meus pais.

Nós duas vimos meu pai colocando a mão na perna da mamãe em um gesto carinhoso e tranquilizador antes de voltar à atenção para o transito.

— Tudo vai ficar bem Kat- falei não por acreditar, mas por que era a coisa certa a fazer.

Deitando a cabeça no meu ombro escutei ela fungar, mas logo depois disfarçou com um suspiro. Kat mal dormiu desde o instante que chegou, e isso foi há semanas. Quando não estava no hospital, estava trabalhando pelo computador ou tentando por em dia as aulas que perdia na faculdade. Senti a umidade das suas lagrimas contra o meu ombro, e pouco depois sua respiração ficando lenta com o sono. Mal tive coragem de me mover. Minha irmã estava exausta e mesmo que não admitisse precisava dormir.

Vez ou outra meus pais falavam em voz baixa comigo sobre algum assunto aleatório, o que me distraia por tempo bastante antes de um pensamento grudento surgir na minha mente e encher meus olhos com novas lágrimas. Quando meu pai estacionou em frente a nossa varanda, eu sacudi Kat gentilmente até acorda-la.

— Estamos em casa- desafivelando meu cinto, eu esperei por ela para abrir a minha porta. Antes eu só queria chegar em casa, mas agora, eu não sei andar por ai soava melhor. Em movimento eu podia focar em alguma coisa mais além dos meus pensamentos.

Kat esfregou os olhos e então pulou para fora do carro. A segui para fora e então uma arregalei os olhos surpresa.

Beca e caíque estavam sentados nos degraus da varanda. Eles estavam se levantando na verdade.

Papai olhou interrogatoriamente para eles, ao contrario da Kat e da mamãe. As duas os conheciam por uma foto do meu celular.

Katherina foi a primeira a falar.

—Ei - ela esboçou um quase meio sorriso. - Becky e Caique, certo? Eu os conhecia apenas por foto, é bom vê-los pessoalmente.

— Beca, na verdade- Rebeca corrigiu um pouco vermelha.

Caique deu uma risadinha, e eu o acompanhei vendo kat morder o lábio com vergonha.

— Becky e Beca são bem parecidos - eu finalmente entrei na situação.

— Gente esses são Beca e Caique- ofereci debilmente uma vez que kat já tinha dito seus nomes._Os dois trabalham comigo no Adam’s. Somos amigos - acrescentei na esperança de soar menos impessoal, mas minha voz estava tão monótona que mais parecia que você pensaria que eu estava anunciando o preço de meias.

— É sempre um prazer conhecer os amigos de, Suzanne- minha mãe deixou claro dando nos dois um breve abraço.

 Perguntei-me de que amigos ela estava se referindo já que eu não tinha muitos. A única amiga que eu tinha há anos além de kat que não contava por ser minha irmã era Giovana e bem, a amizade era só por minha parte. Mamãe sorriu, e foi quase verdadeiro, quase alcançou seus olhos. Quase. Eu fiquei feliz por ela e Katherina tentarem jogar conversa fora com meus amigos, quando obviamente só queria ir para dentro e dormir.

— Olá – papai cumprimentou quietamente. Não rude, apenas distante._ Como vão? Eu o vi observar Caique por um segundo a mais, e quase ri vendo-o calcular que tipo de reação nós temos. O que Breno diria?

Fechei meus olhos. Droga. Breno, jantar, droga, droga. O jantar de aniversário tinha sido ontem.

Mamãe cutucou o ombro largo dele e balançou a cabeça com a sobrancelha erguida. Acho que ela tinha percebido o mesmo que eu.

— Vamos deixar vocês conversarem- deu um rápido abraço em mim e nos meus amigos e entrou juntamente com papai e Kat.

Coloquei atrás da orelha alguns fios que tinham escapado da minha trança.

— Sinto muito por ter perdido o seu jantar de aniversário de namoro, Cai. Sinto muito mesmo.

Eu tinha esquecido totalmente, mas para ser sincera eu não teria ido se tivesse lembrado. Eu nem seria uma boa companhia para ninguém se tivesse ido, era minha chance de conhecer Breno, Thomas e a família de Caique, e eu realmente sentia por ter perdido isso. Ele era meu amigo, e eu havia prometido para Beca que ajudaria Breno com o que precisasse semanas atrás, e não cumpri minha promessa.

Caique  sorriu e mesmo com o brilho em seus olhos, ele parecia triste.

— Eu estou ok com isso, entendo o porquê de não ter ido.

— Mas sentimos sua falta - Beca falou com a mesma tristeza de Caique.

Eu não sabia o que dizer.

— Tudo bem se ficarmos aqui fora?- eu perguntei não querendo entrar e envolve-los no véu de tristeza que eu encontraria quando entrasse em casa.

— Ok.

— Sem problemas.

— Então...?- comecei, mas não soube concluir a pergunta.

— Eu... Nós queríamos saber como você estava- Caique gaguejando.

— É que não parecia certo ficar trabalhando- Beca continuou após ele parar de falar. _ Você disse que estava bem, mas é obvio que não é verdade. Foi apenas algo dito para não nos preocupar.

Eles estavam certos. Eu me conheço bem o bastante para saber que estaria um bagunça, e não queria puxa-los para isso.

Balancei minha cabeça mordendo meu lábio daqui alguns dias talvez eu conseguisse parar de chorar a cada palavra doce que me dissessem, mas não agora. Agora eu não poderia, eu não era capaz disso.

 Os dois estavam provando mais e mais que se importavam comigo. Desde o meu primeiro dia de trabalho quando diferentemente de todo mundo não se irritaram quando troquei vários pedidos, e me ajudaram, quando me defenderam de Giovana entre tantas outras pequenas coisas que são tão pequenas para eles e tão imensas para mim. Eles se importavam e queriam saber se eu estava bem como bons amigos. Eu quis chorar. Deus do céu eu não sabia nem o que dizer a eles. Eu estava contente por os dois terem vindo me ver, mas tão cansada que não queria conversar. Eu não queria ficar sozinha também, mas ao mesmo tempo queria dormir por mil anos. As coisas pareciam tão turvas.

Olhei para o céu mudando de cores bem acima das nossas cabeças. Um tom de rosa, um pouco de laranja e um pouco de azul. Todas as três cores misturadas como se um pintor estivesse misturando-as, testando-as para uma nova obra. Quando eu era pequena eu achava que se crescesse o bastante poderia tocá-lo com a ponta dos dedos e sentir as nuvens. Eu achava que eu poderia pegar uma estrela e deixa-la brilhar no escuro do meu quarto. Tudo parecia ser tão mais fácil naquela época.

Olhei para o céu longamente porque se eu olhasse nos olhos dos meus amigos, eu desabaria, e eu precisava me manter inteira.

O vento acariciou nossos rostos com sua mão gelada. Estava começando a esfriar, mas eu não os convidei para entrar. Acho que eles entenderam isso da forma errado, pois me falaram quase a mesma coisa.

— Você quer que a gente vá embora?- Caíque quis saber. Sua voz gentil, e compreendedora.

Parecia que eles entenderiam qualquer passo que desse, qualquer coisa que eu fizesse. Eu poderia chorar copiosamente, ou poderia gritar e me descabelar até perder o fôlego, eles estariam comigo e apenas me acompanhariam no que fosse. Eles eram bons amigos, e eu os amava por isso.

— Você quer ficar sozinha Sukes?- beca perguntou tão suavemente quanto.

Ela usou meu apelido. Meu apelido. O apelido que vovó me deu.

Lembrei-me da primeira vez que Gabriel a conheceu, quando ela contou a ele o porquê de eu ser chamada assim, e doeu, doeu tanto porque isso me fez pensar mais uma vez nos momentos que eu tive e nunca mais teria de tudo que eu passei com ela e ao mesmo tempo da Angeline que eu mal quis ver no hospital. Tudo venho devagar, mas de repente estava sobre mim de uma só vez.

O primeiro soluço saiu fazendo meus ombros tremerem, e eu não pude fazer nada além de chorar... Chorar copiosamente e me descabelar.


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