A Garota Dos Defeitos escrita por Tamires Rodrigues


Capítulo 29
Elena


Notas iniciais do capítulo

Gente , cadê vocês? Comentem !
Eu escutei de um leitor que os meus capítulos são muito grandes , eu estou um pouco confusa , porque vocês sempre me pedem capítulos maiores , me iluminem sobre o que vocês querem e gostam por favor , okay? Beijos e até o próximo capítulo.



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— Tem certeza que não pediu suco de laranja? – eu perguntei.

Elena rolou os olhos.

— Tem certeza que não deixou seu cérebro em algum lugar esquisita?- disse com um sorriso hipócrita.

Cerrei os dentes.

Eu troquei muitos pedidos sem perceber nos últimos dois dias, mas não o dela, no entanto. Eu tinha certeza disso.

Pesquei meu bloquinho de anotações do meu avental, e conferi mais uma vez.

Suco de laranja, e uma fatia de torta de limão.

Elena tinha chegado há quase 10 minutos atrás com dois amigos- um garoto e uma garota. A garota era Giovana. Quando um dos garçons foi anotar seus pedidos, Elena pediu para ser atendida exclusivamente por mim.

— Deve haver algum engano – aleguei apontando o pedido com o dedo para ela ler. -Tenho certeza que foi isso que você pediu.

Giovana ergueu uma sobrancelha.

—Você está contrariando um cliente, garçonete?

Se essas palavras tivessem sido vindas de Elena, não teriam me ferido tanto.

—O que eu quis dizer é...

— Você quis dizer que Elena está mentindo – o único garoto do grupo me interrompeu.

Meu rosto se aqueceu em um misto de raiva, e vergonha.

Por que eles precisavam ir até o Adam’s me atormentar? O único lugar além da minha casa eu que eu precisava me sentir inferior á nenhum deles.

— Eu anotei cada um dos pedidos corretamente – resmunguei.

— Qual é o problema? – Ao som da voz do meu chefe, eu estremeci. Renato estava avaliando todos os funcionários de longe desde ontem, e seus olhares me fizeram crer que ele não estava satisfeito com o meu jeito de trabalhar. Eu não podia culpá-lo, minha cabeça parecia estar sempre em outro lugar.

— Sua garçonete insiste em me insultar – Elena disse no seu melhor tom de magoa.

— Tenho certeza que deve haver uma explicação – Renato disse calmamente me fitando. – Não é mesmo? – Quando seus olhos se direcionaram para mim, a calma foi substituída por impaciência.

Abri minha boca, pensando freneticamente em algo para dizer.

— Eu sinto muito se a ofendi – retorqui baixinho querendo socá-la a cada palavra. - Isso não era minha intenção.

Renato olhou de Elena para mim e expectativa.

Tranquei minha respiração. Eles não tinham motivos de estragar meu emprego. Eles...

Fechei os olhos e as imagens estão de volta como se tivessem acontecido ontem. Elena em quase todas elas. Fazendo-me chorar até soluçar aos 10 anos, me humilhando aos 12 na frente de um auditório inteiro, me trancando em uma sala abandonada na viagem ao museu de ciências – eu tinha 14 anos e tanto medo de altura, eu gritei durante 3 horas até o zelador me encontrar, eu fiquei sem voz por uma semana inteira. O ônibus foi embora sem mim, Elena disse que meus pais vieram me buscar mais cedo. O zelador me levou para a casa no carro dele. Até hoje eu não entendo como ele conseguiu dirigir enquanto tentava me acalmar eu estava tendo um ataque de asma, mas eu sequer tinha o controle das minhas emoções como eu poderia me lembrar dos procedimentos de emergência?

— Certa - ela concordou, e para qualquer outra pessoa ela parecia uma alma bondosa dando a garçonete atrapalhada uma chance de acertar o pedido - mas eu quero meu pedido trocado.

Renato concordou com a cabeça, e se virou para mim.

— A troca será descontada do seu salário- me informou sua voz irritada e desdenhosa - Mais um deslize, e está demitida.

Isso era tudo que ela planejou me humilhar, e de bônus ganhou uma pequena plateia para aplaudi-la.

— Eu sempre soube que isso aconteceria, sabe? – murmurou quando ficamos sozinhos novamente.

Franzi a testa.  - Sempre soube do que?

Com um sorriso frio, e maldoso, respondeu:

— Sempre soube que você passaria a vida servindo pessoas como eu.

Olhei para Giovana que desviou os olhos dos meus.

Não chore. Não chore. Não chore.

Peguei meu bloquinho de anotações e minha caneta.

— Seu pedido, por favor - falei. Meu tom soou tremulo, e eu me detestei por isso.

Sem surpresas ela escolheu as coisas mais caras do cardápio, o pior é que ela provavelmente nem comeria tudo.  - Só isso?

Elena olhou para unhas bem cuidadas por um instante e sorriu.

— Na verdade eu acho que você trocou o pedido de Peter também.

Apertei a caneta entre meus dedos com força.

Todos sabiam que eu não podia argumentar, tinham ouvido Renato tão bem quanto eu.

Peter pediu o mesmo que Elena, eu tive quase 150 reais descontados do meu salário.

Entreguei o pedido para o cozinheiro, pulando ao ouvir a voz de Beca atrás de mim.

— Eu ouvi o que aconteceu. Sinto muito.

A cozinha estava a todo vapor, cozinheiros preparando os pedidos dos clientes, garçons entrando e saindo pelas portas de vai-e-vem. Todo mundo trabalhando em dobro com a possibilidade de ser demitida.

— Eu juro que anotei o pedido dela certo!

— Eu sei disso, mas a vaca de meio de fazenda estava com ela, então estou supondo que ela também não presta.

Bufei em um sorriso, vendo-a começar a lavar uma das pilhas de louça suja, e depois suspirei.

— Está supondo certo.

Ela riu baixinho. - Se quiser eu levo os pedidos da mesa dela, para você.

Minha raiva se desvaneceu aos poucos. - Sim, isso seria ótimo. Obrigada.

—Quando quiser, não é grande coisa- piscou os cílios me oferecendo um sorriso doce. -Você sabe que Caíque e Breno vão completar dois anos de namoro juntos, certo?- perguntou Beca.

Assenti sorrindo. Ele tem divagado sobre isso há semanas.

— Bem, lembra-se do irmão do Caíque? Eu o mencionei quando Breno fez a surpresa com os chocolates e rosas aqui no Adam’s.

— Você apenas o mencionou? – Dei um olhar cético a ela.

Ela fez uma pausa no que estava fazendo, por tempo o bastante para me mostrar a língua.

— Que seja, enfim o que eu estava falando é que Thomas e eu...

Cruzei os braços sobre o peito, erguendo as sobrancelhas. _ Hum, Thomas, e você?- interrompi com um sorriso malicioso.

— Vai me deixar falar? – perguntou com irritação rolando os olhos, mas eu notei que ela estava corando um pouco.

Há algo mais ai.

— Vá em frente – falei com diversão, dando alguns passos para o lado para um dos garçons passarem com uma bandeja repleta de refrigerantes, e outros tipos de bebidas.

— Certo em primeiro lugar não existe nada como Thomas e eu – bufou esguichando detergente na esponja com um pouco mais de força do que o necessário. Ergui a sobrancelha, mas não disse nada. – Em segundo - continuou me dando um olhar de advertência – Caíque não pode saber, mas Breno quer fazer uma surpresa, e pediu nossa ajuda.

 Eu gostava de Breno, mesmo sem o conhecer, e em analise de tudo que ouvi dele, eu julgava que ele era bom, e romântico para Caíque.

— Que tipo de ajuda?

— Um jantar, ou alguma coisa desse gênero. Ele pediu para perguntarmos o que ele gostaria de ganhar, tipo esse tipo de ajuda.

Esbugalhei um olho.

Nós duas tendíamos a ser muito desastrosas com as nossas línguas. Se Caique me fizesse à pergunta certa, por exemplo, eu poderia até mentir, mas eu provavelmente diria algo esfarrapado e sem sentido deixando a verdade obvia. Beca não ficava muito atrás.

— Tudo bem, - eu fiz uma pausa mediando à situação, pensando em como conseguiríamos arrancar isso de Caique sem sermos obvias demais. - Eu só acho que nós não devíamos ser aquelas que vão perguntar. Porque não acho que vamos ser capazes de esconder o porquê da pergunta, entende?

Beca selou os lábios juntos, quando Caíque entrou pelas portas de vai-e-vem , com uma substancia desconhecida grudada na camisa.

— Que diabos, é isso?- nós duas perguntamos em uníssono para mancha em sua roupa.

Ele fez uma careta, ao responder:

— Vomito. – Beca abriu a boca para falar, mas ele a parou erguendo a mão. – Não pergunte você não vai querer parar. Eu mordi a língua não querendo rir da sua careta.

Meu celular vibrou no bolso da minha calça, e meu sangue gelou ao ver Mãe no identificador.

— Alô? – minha voz soou tremula, e tinha certeza que isso era por causa do medo que eu comecei a sentir se infiltrar entre meus ossos. - Está tudo bem?

— Está – ela respondeu. - Lamento querida, se eu preocupei você.

Esfreguei meus olhos, e empurrei as mechas do meu coque solto para trás da orelha. Sempre que eu podia eu corria para e checar minhas ligações, e mensagens. Eu estava odiando ir trabalhar com vovó doente, mas não podia faltar ao trabalho como eu estava fazendo com as aulas. E ás vezes como agora pouco, quando eu estava conversando era um bom me distrair, mesmo que por um instante apenas de tudo que estava acontecendo.

Limpei minha garganta, antes de falar novamente.

— O que aconteceu?

— Você esqueceu sua bombinha aqui no hospital, ou então nem percebeu que a perdeu.

Meus olhos encheram de lágrimas de alivio.  Caíque, e Beca ficaram em silêncio, me olhando em expectativa. Eu olhei para eles e algo em meus olhos disse que não eram más noticias no telefone, porque os dois soltaram o ar como se aliviados. Desviei os olhos para os meus pés.

 Eu nem percebi que a perdi. Eu mal estava prestando atenção em nada nos últimos tempos, um exemplo disso era que eu tinha colocado meias de pares diferentes hoje depois de tomar banho.

Limpei a garganta porque de repente uma bola de emoção tinha se formado me impedindo de falar.

 - Obrigada por ligar mãe, mas eu não estou precisando dela.

— Foi o que eu achei... Volte ao trabalho, Sukes. Vejo você daqui a pouco.

Assenti mesmo sabendo que ela não podia me ver.

—Precisa que eu pegue alguma coisa antes de ir para o hospital?

Ela riu um pouco. - Talvez alguns cupcakes do seu amigo.

Eu ri nervosa brincando com meu avental. - Ok mãe até logo, amo você.

— Eu amo você também, querida. Bom trabalho.

Yeah pensei espero que não fique pior.

— Bem, - eu disse a Caique depois de desligar o celular, ignorando o olhar estranho que Beca e ele estavam me dando – parece que seus cupcakes arranjaram mais fãs.

As horas que se passaram foram mais do mesmo. Atendi clientes, entreguei pedidos, contei minhas gorjetas e me despedi de Beca, e Caíque quando o nosso expediente acabou, e então voltei para o hospital novamente. A mesma rotina dos dias seguintes.

 


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