Notre-Dame de Paris escrita por Cler Night


Capítulo 1
One - Notre-Dame de Paris


Notas iniciais do capítulo

- Está one pode ser facilmente compreendida mesmo se você não viu o filme (é até melhor que não tenha visto).

— Li o livro para escrever está one, então a vários (vários MESMO) personagens que estão no livro, mas não no filme. Caso queira aproveitar ao máximo a experiencia aconselho você a ler o livro agora ou depois de ler a one.

Boa leitura!



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Século XVIII – Revolução Francesa

Paris

No século XVIII a Europa estava dividia em castas, e os dominadores eram os homens da igreja. Mas logicamente que nem todos que estavam no poder eram bons, e o castigo sempre vem no final para os que não são bons.

Era uma bela tarde nas ruas de Paris. As pessoas andavam de lado a outro sem prestar atenção a sua volta, e muito menos a um pequeno garoto escondido em uma rua estreita e escura.

O pequeno jovem em questão usava uma capa escura, tornando ainda mais imperceptível sua presença na rua.

Esta pequena sombra saiu do beco, se misturou a um grupo razoavelmente grande de pessoas e começou a observar a sua volta. De longe observou um grupo de três homens, guardas. Para sua sorte o grupo seguiu a direção do grupo. Quando já estava bem perto as mãos ágeis do garoto começaram a agir e rapidamente arrancaram do cinto de um soldado uma pequena bolsa de moedas com grande facilidade.

A sombra continuou com o grupo até passar perto de uma rua estreita e escura, pela qual ele adentrou. Respirou aliviado ao notar que não havia sido seguido nem notado.

Ele continuou andando por um labirinto de ruas estreitas até chegar a uma rua sem saída. No fundo desta só existiam apenas pilhas de caixotes e tabuas de madeira cobrindo toda a parede.

A pequena criatura afastou as tabuas da parede até encontrar uma fenda de tamanho médio, por onde ele entrou, puxando as tábuas de volta para seus lugares. O lugar por dentro era pequeno, um tipo de abrigo improvisado, escondido de todos.

O jovem garoto retirou o capuz que usava como disfarce e o colocou sobre um colchão desgastado e velho, o qual estava em seus últimos dias a muito tempo.

Logo se abaixou perto de um caixote velho e fez um carinho na filhote que ali dormia, Djali era a pequena cabra que o garoto possuía.

Esmeraldo era um órfão que havia sido trazido de sua terra natal ainda jovem, com poucas lembranças, como seu nome, idade, sua historia antiga e que não estava ali por querer. A pequena cabra era sua única companheira, fora isso ele vivia só, vivendo de roubo e sempre correndo riscos nas ruas.

Esmeraldo notou que a garrafa de leite, com a qual alimentava Djali, já estava vazia, e logo a filhote iria acorda e estaria com fome com certeza, então voltou a sair de seu esconderijo e começou a andar novamente entre as ruas.

Logo já havia chegou ao mercado. Esmeraldo preferia comprar em uma parte da cidade onde as lojas eram mais vazias, odiava os olhos dos outros sobre si, alguns o olhavam com cara de nojo, o que era o menos incomodo, e tinham os que o olhavam com desejo. Ele odiava quando isso acontecia, ele era apenas uma criança, mas tinha noção que era bonito, seus cabelos negros e pele escura eram contrastada pelos seus olhos esmeralda lhe dando uma aparência exótica. Ele sempre tentou ignorar isso o máximo possível.

O garoto andou até uma loja bem simples, em uma rua quase vazia, e escolheu uma pequena garrafa de leite. Ele pagou e começou a andar até o fim da rua quando notou que estava sendo seguido. Esmeraldo colocou a garrafa em seu bolso, por sorte seu bolso era realmente fundo e a garrafa não era muito grande, e então começou a correr. Por trás dele três pessoas, usando um capuz para se esconder também, o seguiam.

Esmeraldo virou rapidamente em um beco. Ele não tinha idéia de quem eram aquelas pessoas, mas qualquer um que o estivesse seguindo escondidos não era boa coisa.

Olhou para cima e começou a analisar a parede a sua frente, aquelas pessoas eram rápidas e logo o alcançariam, sua única chance era subir e escapar pelos telhados. Respirou fundo e logo começou a escalar a parede, haviam pequenas falhas pelo caminho onde ele encaixava seu pé e mãos para subir. Esmeraldo não gostava nem um pouco de altura, mas em momentos de desespero se tem medidas desesperadas.

Quando chegou ao topo do telhado já estava ofegante pelo cansaço. Quando se recuperou olhou para baixo e viu as três pessoas juntas, e quando ele achou que elas o haviam perdido de vista os três olharam para cima ao mesmo tempo e o viram. Em seguida já estavam começando a escalar a parede. O jovem logo tomou um choque de adrenalina e voltou a correr por entre os telhados, tentando sempre desviar de obstáculos que pudessem derrubá-lo daquela altura, mas em um momento de descuido o rapaz tropeçou e caiu de um telhado para o outro, que era um pouco mais baixo. Sentiu a garrafa em seu bolso se estilhaçar e os cacos penetrarem em sua pele frágil.

Quando tentou se levantar pode ver entre os telhados os três encapuzados vindo em sua direção, ele não deixaria ser preso, ele não voltaria para uma cela.

Levantou-se, sentindo sua perna pulsar de dor, reprimiu um grito e segurou as lagrimas. Começou a correr o mais rápido o possível, mas a ferida só ia piorando, até que em outro momento de descuido e dor ele tropeçou para o lado até cair do telhado. O rapaz fechou os olhos e esperou a dor da queda lhe bater, mas o que sentiu foi uma mão forte lhe segundo pelo pulso e o puxando para cima.

Ele não consiga entender, e nem tentou pois logo a dor em sua perna o fez desmaiar.

As três figuras encapuzadas se entreolharam. Dois eram homens grandes e o terceiro uma mulher de estatura media.

– Vamos – ela disse simplesmente, enquanto saltava por entre os telhados, sendo logo seguida pelos homens.

Quando Esmeraldo acordou já estava em seu esconderijo. Suas costas doíam, e quando tentou se mexer sentiu sua perna novamente pulsar de dor.

– Aaah! – soltou um gemido de dor agonizante e mordeu os próprios lábios tentando reprimi-lo.

– Não se mexa – uma voz feminina falou – Só vai piorar.

Esmeraldo tomou um susto e impulsivamente tentou se levantar, novamente sentindo a dor e gemendo.

– Garoto, você é burro ou surdo? Já mandei ficar sentado – a mulher ordenou, com um pouco de raiva na voz.

O moreno resolveu não contestar, ele estava ferido e impossibilitado de demonstrar resistência. Ele era um garoto esperto e sabia que era só uma questão de tempo para agir, ele apenas precisava esperar e quando tivesse a chance ele poderia agarrar a adaga que costumava guardar em uma caixa velha, que alias ele se xingou internamente por não estar a carregando consigo durante a perseguição, e então atacar.

Esmeraldo virou o rosto e encarou a mulher em questão, ficou surpreso ao reconhecer as características de uma cigana. A moça em questão era aparentemente adulta, mas jovem, usava roupas coloridas e jóias, e seu cabelo escuro estava solto e chegava até a metade de suas costas, enfeitada apenas por um véu violeta quase transparente.

A mulher estava jogando algumas plantas dentro de uma tigela de madeira média. Em seguida usou um pedaço de madeira para amassar as plantas, fez isso até que um líquido verde começasse a ser extraído das folhas. Depois a loira pegou uma garrafa, que estava posta ao lado da tigela, e derramou a água que havia nela no recipiente.

A cigana pegou um pedaço de pano e o mergulho no liquido, em seguida se levantou e voltou a se sentar ao lado de Esmeraldo.

– Vai doer – ela avisou, puxando a barra da calça do rapaz, deixando sua cocha ferida amostra.

– O que vai fazer? – ele perguntou, sem realmente desconfiar de algo.

Sem se importar com a pergunta do garoto, a cigana pressionou o pano sobre a ferida.

Esmeraldo ia gritar pela dor, mas a cigana lhe impediu, tapando sua boca rapidamente e continuou a pressionar o pano.

– O remédio tem que penetrar fundo – ela disse, mergulhando o pano mais uma vez no remédio, e logo depois o pressionando novamente sobre a ferida.

Ela repetiu isso pelo menos seis vezes até ficar satisfeita com seu trabalho e parar.

Enquanto a cigana começava a arrumar as coisas, Esmeraldo se recuperava. O garoto estava em choque, sentia que agora podia mexer a perna, mas esta ardia muito.

– O que. . . – ele tentou falar com a voz rouca – ...Você fez?

– É um remédio para a sua ferida não infeccionar.

– Ferida?

– A garrafa que quebrou na sua perna. Sorte sua que as roupas ajudaram a segurar os cacos, os pedaços que entraram eram grandes, foi fácil de tirar. Acho que não ficará cicatriz.

– E quem é você? Por que uma cigana está me ajudando? E quem eram as pessoas que estavam me perseguindo?

– Uma pergunta de cada vez garoto, temos todo o tempo do mundo.

Esmeraldo então tentou se acalmar. Respirou fundo e recomeçou.

– Quem é você?

– Meu nome é Cassandra, e sou uma cigana.

– E por que me ajudou?

– Pule para a próxima, vai entender.

– Ok – ele respondeu, desconfiado. – Quem estava me perseguindo?

– Eu e dois amigos.

– OQUE?!

O garoto deu um salto, ignorando sua perna machucada. Só notou seu erro quando sua perna doeu tão forte que o obrigou a se sentar.

– Se ficar se mexendo vai demorar ainda mais para melhorar – a cigana disse, calmamente, sem demonstrar reação pelo choque do garoto.

– Cale a boca, cigana perseguidora – ele respondeu trincando os dentes.

Ao usar aquele tom insolente para falar de Cassandra, Esmeraldo cometeu um erro. O semblante calmo da cigana se contorceu em uma face furiosa.

– Cale a boca você ladrão insolente – ela ordenou, rispidamente. – Estou aqui para te ajudar, e eu não estava lhe perseguindo.

– Era óbvio que estava – Esmeraldo não se permitiu estremecer sobre a cigana, ele também era uma pessoa forte e não tinha medo de ninguém, ou quase ninguém.

– Nós queríamos falar com você, eu quero te ajudar, mas você como o desconfiado que é acabou por se assustar e fugir.

– Não me assustei, só não seria preso novamente.

– Novamente?

– Nada que seja da sua conta.

Cassandra ficou incomodada com o leve desvio que aconteceu no assunto, mas resolveu ignorar por hora.

– Bom, eu quero te ajudar, essa é a verdade.

– Antes me responda, por que estavam encapuzados?

– Por que não queríamos ser notados, simples assim, sabíamos que você inicialmente se desviaria de nós se soubéssemos que éramos ciganos, por que você também é preconceituoso.

– Hunf – o garoto não admitiria, mas realmente era meio preconceituoso quando o assunto eram os ciganos. – Você disse que queria me ajudar, como pretende fazer isso?

– Quero que se junte a nós.

– Os ciganos? Nem pensar, vocês são todos ladrões.

– Não,vocêé um ladrão – Cassandra não tinha piedade em falar a verdade. – Estou aqui para salvá-lo, para ajudá-lo.

Esmeraldo realmente não queria escutar nada daquilo, ele não confiava em ninguém, já tinha sofrido muito, queria ficar sozinho e não ser perturbado, ainda mais por alguém que mal conhecia e que há pouco tempo estava o perseguindo.

– Esmeraldo – Cassandra tocou levemente no ombro do garoto, de uma forma muito mais carinhosa.

– Como sabe meu nome?

– Te observo há muito tempo, e quero realmente te ajudar, te salvar.

– Por quê?

– Por que você é jovem e tem muito que aproveitar, posso te ajudar. Diga-me, quantos anos você tem?

– Quatorze.

– Realmente muito novo, eu já sabia. Nós, ciganos, não somos como todos dizem, somos uma família, e podemos ser sua família – o tom de Cassandra era realmente piedoso, mostrava claramente suas intenções, sem nenhum tom de mentira. – Não sei qual é o seu passado, mas quero ajudar com seu futuro.

O moreno não era facilmente persuadido, mas Cassandra falava de uma maneira em que ele não poderia negar, ela não mentia para ele.

– Eu. . .eu fico agradecido, mas eu. . .

Cassandra o encarava, e em seu olhar Esmeraldo encontrava alento, ele encontrava um olhar tão familiar e aconchegante que as palavras praticamente saltaram de sua boca.

– Tudo bem, eu aceitarei sua ajuda.

A cigana lhe sorriu com real alegria. Está se levantou, andou até onde Djali dormia calmamente e a segurou nos braços.

– Bela companheira a sua. Agora, melhor irmos.

– Ham, acho que estou meio impossibilitado – Esmeraldo disse, olhando para sua cocha que agora criava um tom roxo assustador.

– Ah desculpe, é verdade. Rapazes.

Ao chamado de Cassandra, dois homens de grande porte, também com roupas ciganas, foram até onde Esmeraldo estava e lhe pagaram nos braços.

– Opa, cuidado aí – o moreno falou, mais com bom humor do que repreensão.

– Rapazes, digam olá ao nosso novo irmão. E agora, para o Pátio dos Milagres.

Em um ano Cassandra acolheu e ensinou Esmeraldo tudo o que ele precisava saber.

Esta descobriu que o garoto possuía um grande talento para a dança cigana, sendo ágil e habilidoso, e lhe ensinou como ganhar dinheiro com isso, fazendo com que o ato de roubar não fosse mais necessário. A beleza do moreno ajudava bastante, por que chamava a atenção de todos que o viam dançar. Ele também foi instruído na arte de ler o futuro, em mãos, cartas, etc.

Mas principalmente, no Pátio dos Milagres o jovem encontrou uma família, um lugar para se apoiar. E em Cassandra ele encontrou uma mãe, que tanto lhe fazia falta. O garoto acabou por confiar à cigana seu passado, contando-lhe tudo que já lhe havia acontecido, causando surpresa na mulher.

Em seus plenos quinze anos o garoto já havia se tornado famoso na cidade, sendo conhecido como o belo jovem cigano que era, e Djali também não ficava para trás, entre as crianças ela era uma estrela.

Era cedo na cidade de Paris. Cassandra havia deixado que Esmeraldo ficasse livre no dia em questão para fazer o que quiser, e logo o garoto saiu, juntamente com Djali, para ir à catedral de Notre-Dame.

O jovem cigano atraia alguns olhares para si, alguns de suspeita e outros de admiração e até desejo, mas era algo que ele havia aprendido a conviver com paciência.

Esmeraldo adentrou a catedral e observou o lugar lentamente. O espaço era gigantesco e solene, ele logo viu as pessoas em um dos altares, todos prostrados, orando. Os ciganos não eram descrentes, como a maioria achava, Esmeraldo tinha esperança e achava que se Deus existia ele amava a todos, até mesmo ele e seu povo.

Logo que adentrou o lugar avistou um padre, muito amigo seu, conversando com um grupo de mulheres, ele lhe lançou um olhar rápido e um sorriso que foi retribuído pelo rapaz. Esmeraldo então se desvencilhou até uma escada lateral, bem escondida do resto da vista. Ele ainda se lembrava de quando, um ano atrás, havia encontrado esta passagem e por ela uma grande surpresa.

Ele logo subiu, era uma escada longa e inicialmente era muito difícil de subi-la, sempre acabava cansado, mas com o tempo ele se acostumou. Logo estava no topo da catedral, a casa dos sinos.

Adentrou o lugar e foi até onde estava uma mesa, e nela continha uma replica de Paris, algo encantador para os olhos, um belo trabalho de mão, com replicas de pessoas, tudo feito pelo amigo do moreno.

– Quasi? – o moreno chamou.

Esmeraldo esperou pela resposta que não veio, talvez ele estivesse do lado de fora, no telhado. Quando ia se virar para seguir este caminho, foi surpreendido com a presença de seu amigo logo atrás de si.

– Ai, Quasimodo, você quase me mata de susto – Esmeraldo reclamou. – Deis de quando você anda na espreita desse jeito?

O corcunda apenas riu da cara de seu amigo cigano. Djali, nervosa como era, tentou acertar uma cabeçada no corcunda, mas foi impedido pela mão forte do sineiro.

– Você não aceita brincadeiras mesmo não é pequena?

Esmeraldo riu da maneira como Quasimodo conversava naturalmente com Djali, que sempre demonstrou uma aversão a outras pessoas além de Esmeraldo e os ciganos.

Logo os dois, Esmeraldo e Quasimodo, já estavam conversando sobre banalidades.

Entre trocas de palavras, Quasimodo começou a trabalhar em sua maquete de madeira, e ao observá-lo, a época em que o conheceu voltou à mente do jovem cigano.

Esmeraldo estava junto com Djali logo em frente à catedral. Não estavam fazendo nada de particular, chamando a atenção das pessoas que passavam apenas por serem eles. Estavam calmos, o moreno apenas fazia caricias no animal em seu colo, quando escutou duas mulheres cochichando perto de si.

– Viu quem vem vindo? – uma delas perguntou, sem realmente esperar uma resposta. – É o arcebispo Frollo, em mais um de seus passeios por Paris.

Automaticamente Esmeraldo se levantou abruptamente, derrubando o pobre cabrito. Esmeraldo não queria de jeito nenhum dar de cara com aquele homem. Começou a olhar para os lados desesperado, tentando descobrir por onde Frollo vinha, mas não conseguiu descobrir. Foi então que teve a idéia de entrar na catedral, pois sabia que Frollo não entraria lá, já que estava em um de seus passeios pela cidade. E mesmo que entrasse, o jovem moreno poderia se esconder facilmente.

Esmeraldo então adentrou a catedral, juntamente com sua cabra.

O garoto nunca havia entrado naquele solo sagrado, e a visão que agora tinha era estupenda. Uma construção enorme, com vários detalhes lindos. O cigano começou a caminhar pelo local, se esquecendo totalmente do seu problema e dando lugar ao estupor daquela bela visão. Em sua caminhada ele podia sentir a solenidade no ar. Ele ouvia o canto baixo do caro em uma parte da catedral. Já em outra ele observou pessoas ajoelhadas, orando ao arauto.

Mas todos seus pensamentos foram interrompidos quando escutou alguém gritar atrás de si.

– Imundo, ladrão – Esmeraldo se virou e encarou uma mulher, gorda e com uma aparência cansada, lhe gritando. – Como ousa colocar seus pés no solo sagrado? Saia daqui pecador.

O tumulto que a mulher causou foi grande, e acabou por atrair mais pessoas, muitas delas começaram a gritar junto com a mulher.

Esmeraldo não era alguém medroso e não se deixava humilhar, mas ele estava em choque, e se sentiu diminuído por ser chamado assim, quando na verdade, apenas procurava abrigo. Ele conhecia o preconceito contra os ciganos, mas não tinha noção que pudesse ser tão ruim.

O garoto ia sair correndo, mas então uma voz foi ouvida, uma voz mais forte que todas as outras juntas.

– Parem – ela gritou. – Como ousam humilhar e difamar seu irmão, filho do senhor?

Esmeraldo observou as pessoas abrirem caminho para que um dos padres da catedral pudesse passar, aparentemente ele tinha um cargo alto, ou era muito respeitado, pois todos pararam para ouvi-lo.

– Mais pecador é aquele que nega alento a seu irmão – ele dizia com a mesma voz poderosa. – Este rapaz não fez nada a nenhum de vocês. Algum de vocês realmente tem motivo para atacá-lo assim?

O silencio então reinou por alguns segundos, até alguém gritar no meio das pessoas.

– Mas ele é um cigano, um ladrão, e ainda por cima um dançarino, com certeza já vendeu o corpo por meros trocados.

– É MENTIRA! – Esmeraldo não se conteve e teve que se defender. Ele não aceitaria alguém falar tão mal de si, sem nem mesmo conhecê-lo de verdade.

O padre então passou o braço em volta dos ombros de Esmeraldo, lhe dando apoio. Então se virou novamente para as pessoas e voltou a falar.

– Se algum de vocês aqui, que apontam o dedo para este jovem cigano, não cometeram nenhum pecado, então em nome de Jesus, que atire a primeira pedra.

A clássica frase da bíblia fez com que todos recuassem um pouco, involuntariamente. Aos poucos todos foram se afastando, até não sobrar mais ninguém para ameaçar o garoto.

Foi então que o padre soltou Esmeraldo. Ele iria se afastar, mas foi impedido pela mão do garoto.

– O-Obrigado padre, obrigado por me defender – o cigano agradeceu, ainda envergonhado pela humilhação que havia passado.

O padre lhe sorriu carinhosamente e falou.

– Todos merecem a casa de Deus meu jovem, o senhor abre seus braços para todos, incluindo você e seus irmãos ciganos. Todos têm um lugar na casa de Deus.

Então o padre se virou e se afastou do moreno, o deixando com seus pensamentos.

Esmeraldo e Djali então continuaram a andar pela catedral, ainda refletindo sobre as palavras e acontecimentos de pouco tempo atrás.

Foi então que o cigano se pegou em uma área desconhecida e até mesmo escondida do resto do lugar. Uma passagem pela parede de pedra era disfarçada nas sombras do lugar.

A curiosidade do garoto era grande, se perguntava o porquê daquela entrada tão bem escondida. E já que não pensava em nada que pudesse acabar dando errado, o garoto adentrou a passagem. Era uma escada, e uma escada muito longa. Djali sempre corria á sua frente, parecendo ainda mais animada que o cigano.

Quando finalmente chegou ao topo o garoto estava exausto e ofegante.

Quando recuperou o fôlego se levantou e então observou o lugar que havia parado. Era, aparentemente, o topo de Notre-Dame, onde estavam todos os sinos, e onde eram tocados para serem ouvidos por todos.

O garoto continuou sua exploração até subir uma escada e dar de cara com uma visão delicadamente linda. Alguém havia prendido pedaços de vidros coloridos a cortas e os deixado pendurados, e a luz do dia passava por uma entrada e batia no vidro, fazendo luzes lindas, e foi o que chamou a atenção do cigano inicialmente.

Esmeraldo andou até onde estava o vidro e reparou que a mesa abaixo dele estava coberta por um lençol, e claramente havia algo por baixo. Novamente sua curiosidade o venceu e então puxou o lençol delicadamente.

A visão revelada foi de uma maquete de Paris feita toda em madeira, em um tamanho deveras grande. Para o cigano aquilo era uma grande novidade, havia até mesmo bonequinhos.

Foi então que ele escutou passos atrás de si, e em seguida uma voz.

– Quem é você? O que faz aqui? Não pode entrar aqui – uma voz amedrontada disse.

– Me desculpe, eu encontrei a entrada e resolvi ver o que havia aqui – o cigano respondeu, olhando para a silhueta escondida nas sombras. – Eu estava apenas olhando. Isso é seu?

A silhueta não respondeu nada, apenas continuou a encarar Esmeraldo.

– Olha, eu não queria realmente incomodar – o cigano tentava se aproximar, mas a sombra sempre se afastava. – Só queria saber se foi você quem fez essas réplicas. Elas são incríveis.

A sombra pareceu ficar um pouco mais confortável, e até mesmo andar um pouco mais para fora da escuridão.

– Mesmo? Você gostou? – ela perguntou.

– Sim, adorei.

Em um momento de distração da pessoa misteriosa, Djali arrancou o capuz que lhe cobria a cabeça, o puxando ainda mais para frente, revelando o rosto deformado de um corcunda.

Inicialmente Esmeraldo ficou em choque, o que deu chance para o corcunda fugir, escalando as vigas de madeira.

– Espera! – o moreno gritou, tentando segui-lo. – Eu não me importo com a sua aparência, se é o que está pensando – ele continuava a correr. – Adorei seu trabalho, você tem talento. Não podemos conversar? Por favor.

Levou tempo, mas Esmeraldo conseguiu fazer com que Quasimodo viesse até si e conversasse sem medo e com conforto.

Logo se tornaram amigos, o jeito gentil de Quasimodo era encantador, ele era uma pessoa de muito bom coração. O que colaborou para Esmeraldo ficar chocado ao saber que Cláudio Frollo, por quem o cigano tinha um ódio particular, havia adotado e cuidado de Quasimodo. Ele não conseguia conceber que um rapaz de tão bom coração como Quasimodo havia sido criado por alguém tão mal e amargo.

Mas Quasimodo não permitia que ninguém falasse mal de Frollo, isso sempre lhe deixava irritado, por que o rapaz sempre viu o lado bom das pessoas, e com Frollo não era diferente.

Esmeraldo observava as mãos do corcunda trabalhando em mais uma de suas replicas de madeira, para o moreno a visão das mãos de seu amigo trabalhando era encantadora e fascinante. Para todos, Quasimodo parecia uma criatura grande e grotesca que só servia para o trabalho duro de um sineiro. Mas Esmeraldo via o outro lado daquele ser. Ele era bondoso e gentil. Suas mãos rústicas também sabiam trabalhar de maneira delicada, as replicas sobre a mesa provavam o talento do corcunda para trabalhos frágeis e belos.

Mais tarde, ao observar o sol do telhado da catedral, o cigano notou que já devia estar na hora do almoço, o que queria dizer que ele tinha de partir, pois logo Frollo iria chegar para almoçar com Quasimodo, e ele não queria estar lá quando ele chegasse.

– Bom, logo Frollo estará aqui – Esmeraldo falou.

– Sim, mas hoje é o dia de ele dar aulas ao irmão dele, não precisa ter pressa, isso costuma demorar – o corcunda respondeu.

– Hum, eu nunca ouvi muito sobre o irmão dele, apenas o bafafá do povo.

– Sorte sua. Mestre Frollo diz que ele é um baderneiro bêbado, é um homem que não tem amor pelo conhecimento que o mestre Frollo tenta lhe oferecer. Não é um homem de bom caminho.

– É de família – o cigano resmungou mais para si mesmo, sabendo que Quasimodo ficaria nervoso consigo se lhe falasse mal do arcebispo.

Logo Esmeraldo e Djali se despediram do amigo e desceram até a base da catedral. Quando estavam prestes a ir para a porta, de longe avistaram Frollo se aproximando. Com rapidez o rapaz se escondeu juntamente com a cabra em uma das colunas de pedra.

Frollo passou por eles e seguiu pela escada. Esmeraldo esperou alguns segundos, para ter certeza que ele já teria subido as escadas o suficiente, e que não voltaria para baixo por algum motivo. Aquele homem lhe dava nojo, só de olhar para ele as más lembranças lhe corroíam por dentro, era como reviver um pesadelo.

Depois da espera, o moreno correu para fora da catedral sem esperar mais nada.

Mais alguns meses se passaram e logo o Festival dos Tolos chegou a Paris, e todos estavam se preparando para o que era considerada a festa do ano.

Esmeraldo hoje iria fazer sua primeira grande apresentação e estava nervoso. Os ciganos haviam lhe armado uma barraca para poder se arrumar para a apresentação sem ser incomodado. O moreno mexia as mãos nervosamente, sem conseguir colocar seus pensamentos no lugar e muito menos pensar na apresentação.

Cassandra logo adentrou a barraca e sorriu ao ver seu garoto, que costumava ser tão confiante, nervoso com algo daquela magnitude.

– Mantenha a calma Esmeraldo – ela disse, tentando relaxar o jovem rapaz. – Sei que é sua primeira vez para um publico tão grande, mas será a mesma coisa de sempre.

– Sim – Esmeraldo lhe respondeu, com a cabeça baixa. – Mas ele vai estar lá.

A cigana conhecia o passado do rapaz, e sabia de quem ele estava falando, mas nem por isso ficou incomodada, pois sabia que Esmeraldo era mais que capaz.

– Olhe, você consegue, e o ignore, ele é apenas um imundo depravado – Cassandra o encorajou. – Vou buscar algo para você beber, apenas relaxe.

Esmeraldo então foi deixado sozinho.

Quando a hora do show se aproximou, outros ciganos vieram lhe avisar, sempre lhe dirigindo palavras de encorajamento.

O rapaz se trocou, colocando uma roupa ainda mais bonita e que lhe valorizava totalmente. Mas Cassandra ainda não havia voltado e isso só deixava o rapaz mais nervoso.

E então finalmente a hora da tão esperada apresentação chegou. Para sua entrada ele usaria um truque de fumaça, que era outra coisa que havia aprendido com os ciganos, era muito útil, pois poderia aparecer e desaparecer facilmente em condições favoráveis a isso.

Esmeraldo observou sua platéia, eram muitas pessoas observando o cigano Clopis animar a todos. Em seu trono estava sentado o arcebispo Cláudio Frollo, que observava tudo com evidente tédio. O jovem cigano tentou avistar o alto da catedral, seu amigo corcunda havia dito que lhe assistiria dançar, mas não conseguia vê-lo daquela de tão longe.

Então chegou a hora, o rapaz respirou fundo e se preparou. Quando Clopis usou de uma bomba de fumaça colorida ele e o cigano rapidamente trocaram de lugar.

Esmeraldo agiu por impulso, tentando não ficar nervoso com a situação. E isso foi muito bom, pois sua apresentação foi fantástica, o cigano esbanjou beleza, habilidade e sensualidade, e ao final da apresentação foi aplaudido por todos, recebendo também os clássicos assobios dos mais engraçadinhos.

O rapaz sorriu feliz, ainda um pouco ofegante, e ficou se perguntando onde estava Cassandra entre todos ali. E, infelizmente, sua dúvida logo foi tirada quando a moça foi vista sendo arrastada, completamente machucada, por dois guardas.

Todos observavam enquanto os guardas a arrastavam até o palco, para perto do arcebispo Frollo, o jovem cigano apenas observava aquilo, chocado, sem entender nada.

– Senhor – um dos guardas começou. – Esta cigana foi pega tentando roubar bebidas de um bar.

– Isso é mentira – Cassandra rosnou para o arcebispo.

Finalmente Esmeraldo saiu de seu choque e correu até onde eles estavam, mas foi impedido por um terceiro guarda de se aproximar.

– Cassandra! – o moreno chamou impulsivamente, com grande preocupação na voz.

Frollo, que antes não parecia ter interesse nenhum no possível roubo da cigana, ao ver a preocupação do moreno o arcebispo teve um novo lampejo de interesse pela situação.

– Então, você estava roubando cigana? – Frollo perguntou com seu tom calmo habitual.

– Não, estes dois estão apenas querendo me acusar de algo que não fiz, eu comprei uma bebida, não roubei.

– Bom, eu não sei se poderia acreditar em você, talvez eu possa. . .

Esmeraldo sabia que aquela indireta lhe era direcionada, conhecia aquele homem bem e sabia que ele tinha o poder de se livrar de Cassandra ou de libertá-la, mas isso dependia de Esmeraldo. O garoto amava Cassandra, era como uma mãe para si, mas ele temia muito mais a Frollo e acabou por involuntariamente se afastar alguns passos para trás, o que para o arcebispo era uma resposta negativa a sua indireta.

– Prenda-a, roubo é crime, e conheço você cigana, tenho certeza que não é a primeira vez – Frollo sentenciou com desprezo.

Cassandra não demonstrou resistência, estava machucada demais para isso.

– CASSANDRA! – o jovem cigano tentou lhe alcançar, mas foi impedido por guardas que o seguraram. – ME SOLTEM!

– Saia daqui cigano, ou lhe prenderemos também – um deles ameaçou.

Outros ciganos vieram buscar Esmeraldo e levá-lo para o Pátio, lá tentaram lhe acalmar, sem nenhum progresso. Todos lhe diziam que ia ficar tudo bem, que iriam provar a inocência da cigana.

Dois meses depois a noticia de que Cassandra havia se suicidado em sua cela correu pelo povo cigano.

Mas Esmeraldo sabia que não havia sido isso, Cassandra nunca se mataria, ele sabia que na verdade aquilo tinha sido uma vingança, pois um homem de poder teve seus desejos mórbidos e depravados negados.

Então mais um ano se passou.

Inicialmente foi difícil para Esmeraldo aceitar a morte de Cassandra. Mas graças a isso o moreno finalmente se tocou que eles viviam em uma tirania completa, e que Frollo estava no topo dela, comandando a vida de todos ao seu gosto.

Com isso o jovem cigano se tornou esperto. Com apenas dezesseis anos ele estava disposto a mudar aquilo, iria derrubar a tirania.

Esmeraldo havia conseguido juntar a maioria dos ciganos a si, e em Paris eles eram conhecidos comoos rebeldes. Eles não tinham suas identidades reveladas, mas propagavam por toda a Paris as suas idéias revolucionarias, estavam ensinando as pessoas a pensarem e questionarem aquele governo. Os rebeldes também costumavam salvar as pessoas que eram presas injustamente, o que acontecia muito.

Alguns rebeldes também eram capturados, e na maioria das vezes sentenciados a morte, o que causavam grande comoção entre os ciganos, mas não os derrubava.

Frollo sabia, mesmo que sem provas, que o jovem cigano Esmeraldo estava por trás daquilo, e sabia que só derrubaria os outros se derrubasse o líder, que no caso era o moreno.

Quando Esmeraldo contou a seu amigo Quasimodo sobre seu plano de revolução o corcunda ficou muito surpreso e receoso.

– Não pode fazer isso Esmeraldo – ele dizia. – É perigoso, irá se machucar e outros também se machucarão.

– Mas se eu permitir que isso continue é aí que pessoas se machucarão de verdade, é aí que a maioria de nós continuará a ser reprimido, estou cansado disso.

– Mas. . .

– Olhe meu amigo, você tem que ver a verdade – Esmeraldo tentava abrir os olhos de seu amigo, lhe falando em um tom calmo, mas mesmo assim estressado por seu amigo ser tão ingênuo. – Frollo é um tirano no poder, eu o conheço muito bem para saber que de santo ele não tem nada, então por que o defende tanto?

Quasimodo não lhe respondeu, e Esmeraldo não ficou magoado com isso. Ele sempre se colocava no lugar de Quasimodo nestes momentos, ele tentava imaginar como ele agiria se alguém dissesse que Cassandra era uma má pessoa, ele negaria para sempre. Mas Frollo era muito diferente da cigana, ele escondia Quasimodo dos outros e o mantinha preso, enquanto Cassandra acolheu Esmeraldo exatamente para lhe dar a liberdade.

Esmeraldo era um jovem líder, no Pátio dos Milagres cuidava para ensinar as crianças o porquê de querer mudar tudo, queria que eles tivessem uma noção de que aquilo estava muito errado, não queria crianças crescendo achando que ser oprimido era normal. O rapaz comandava grupos de ciganos pela cidade, era um líder nato, mas ainda tinha medo, pois era com Frollo que estava mexendo, a pessoa que mais odiava na face da terra.

Enquanto o jovem cigano comandava a todos com força e determinação, Frollo observava a cidade com um ar superior, ele a olhava de cima, apenas pensando que ela lhe pertencia, e que deveria derrubar a pequena peça que estava tentando arranhar seu governo perfeito. E ele sabia exatamente o que fazer.

Mais um Festival dos Tolos chegou, e novamente Esmeraldo ia se apresentar. Todos o adoravam, e recentemente, com os ensinos que haviam espalhado pela cidade, o preconceito contra os ciganos havia diminuído parcialmente.

Ele estava se arrumando em sua barraca novamente quando um dos ciganos que fazia parte da rebelião adentrou a barraca.

– Com licença, Esmeraldo.

– Pode falar Rafaj, o que foi?

– Temos escutado coisas, achamos que Frollo planeja algo.

– Algo como o que? – o moreno, que antes olhava para o espelho, se virou e encarou o outro.

– Não sabemos ainda.

Esmeraldo tamborilou os dedos pensativamente em sua penteadeira.

– Bom, sem informações não podemos fazer nada – ele finalmente respondeu.

– Também há outra coisa – Rafaj continuou. – há um novo capitão na cidade, parece que Frollo o acha mais competente que o ultimo.

– Droga, o antigo era nosso informante.

– Sabemos disso, e por isso achamos que Frollo se livrou dele.

–. . .Certo, apenas continuem agindo normalmente – Esmeraldo falou com confiança. - Não se preocupe Rafaj, não acho que ele possa fazer algo contra nós.

Logo Esmeraldo foi chamado para o show.

Este ano sua apresentação foi ainda mais provocante, roubando olhares de todos, incluindo o olhar do novo capitão da guarda, um loiro grande e forte, que observava todos os seus movimentos com um olhar de desejo ardente.

Ao fim de sua apresentação todos aplaudiram, até mesmo o capitão. Para o incomodo do cigano, Frollo parecia um pouco mais interessado este ano do que o habitual.

Quando iam começar a coroação para o Rei dos Tolos, Frollo se levantou de seu trono, fazendo todos se calarem.

– Este ano – ele começou. – Eu escolhi o Rei dos Tolos pessoalmente, ele é sem dúvida o mais feio de toda a Paris, e ele será o maior rei que já tivemos.

Antes que qualquer um pudesse entender, quatro guardas apareceram puxando Quasimodo por cordas. O rapaz não demonstrava resistência, estava completamente submisso por culpa de Frollo.

Eles o arrastaram até um palco circular e o amarraram nele, avista de todos.

– Agora – Frollo retomou a palavra. – Que comecem a coroação.

O tom sinistro usado por Frollo revelava sua verdadeira intenção. Os guardas já haviam sido avisados sobre o que deveriam fazer. Todos eles começaram a jogar frutas e legumes no pobre corcunda e tirar sarro dele. Foi então que todos começaram a imitar os guardas, rindo e zombando da cara do pobre rapaz.

Esmeraldo, que havia se retirado para se trocar, escutou a zombaria, e logo saiu, já trocado, de sua barraca e ficou horrorizado com a visão de seu amigo sendo humilhado por todos.

O cigano não conseguia observar aquilo calado, e logo correu para o palco, sendo seguido por Djali. À medida que se aproximava dele as pessoas começavam a parar. Finalmente subiu ao palco e se abaixou na altura de Quasimodo.

– Meu amigo – Esmeraldo sussurrou piedoso, enquanto Djali lambia o rosto do mesmo, tentando limpa-lo.

– Cigano – Frollo chamou de seu palco. – Desça já daí.

– Claro senhor, assim que libertar este pobre rapaz.

– Você não ousaria. Agora desça já daí.

Ignorando completamente as ordens do arcebispo, Esmeraldo pegou a adaga, que aprendeu a sempre carregar consigo, e cortou as amarras de Quasimodo.

– Insolência! – Frollo gritou. – Pagará por desacatar as minhas ordens cigano.

– Eu não tenho medo de você – Esmeraldo gritou em resposta. – Acho que ninguém aqui devia ter, você não passa de um tirano maldito, que acha que pode mandar em todos. Prega sobre bondade, amor e justiça, mas despreza e vira as costas para os que mais precisam de você. Eu não seguirei você para o inferno – o cigano praticamente cuspia as palavras na cara do arcebispo, que não aceitaria aquilo facilmente.

– Prenda-o agora mesmo – Frollo ordenou.

O novo capitão fez um sinal e todos os guardas avançaram no cigano.

Esmeraldo não mediu as conseqüências direito, estava com tanto raiva que havia perdido o juízo, e agora sabia que estava com sérios problemas.

Usou de uma bomba de fumaça para escapar dos olhos dos guardas. Mas logo foi avistado em um ponto mais alto.

A multidão o ajudava a se esconder, mas eram muitos guardas, tornando a fuga mais difícil. Até mesmo a ajuda dos outros ciganos, que lutavam contra alguns guardas, pareciam não fazer efeito.

O moreno correu pelas ruas, mas havia guardas em todas as partes. Djali acabou por ficar para atrás, atrasando alguns guardas, e Esmeraldo confiava que a cabra iria reencontrá-lo.

Mas em seu momento de pânico acabou por não prestar atenção no caminho, e logo estava encurralado em uma rua sem saída. A parede era alta demais para escalar, e logo os guardas haviam colocados suas mãos no jovem cigano. E nenhum dos ciganos sabia como salvá-lo, pois por algum motivo Frollo agia como se um jovem cigano fosse à maior de todas as ameaças, colocando mais de vinte homens bem armados para escoltá-lo.

Ao pegá-lo, o levaram até Frollo, que em nenhum momento deixou sua pose impassível durante a situação toda.

Os guardas o obrigaram a se ajoelhar perante o arcebispo, o que só o deixava pior.

– Então, não irá pedir clemência? – Frollo perguntou com calma.

– Nunca – o moreno rosnou em resposta.

– Que assim seja – sentenciou – Prendam-no

Esmeraldo foi arrastado até a prisão do Palácio da Justiça. E todos, principalmente os ciganos, observavam aquela cena com tristeza e angustia sem poder fazer nada.

O moreno foi levado até a prisão, e foi preso em uma cela solitária. Uma das mais protegidas, algo novamente incomum, já que este era apenas um cigano comum. Mas ninguém ousava questionar as decisões e ordens de Frollo, eles apenas as acatavam.

Para Esmeraldo a sensação de estar de volta a uma cela era sufocante, e ainda mais agora que era um cigano, ciganos não sobreviviam entre quatro paredes, mas isso não era o ponto principal, o principal era que ser preso por Frollo era mais uma má lembrança guardada.

Estava novamente preso e sozinho, ou era o que achava.

Das sombras uma silhueta podia ser notada na escuridão. Uma pessoa encostada na parede, olhando diretamente para Esmeraldo.

– Quem é você? – Esmeraldo perguntou, estava estressado, e mesmo não gostando de ficar sozinho, ficar na companhia de uma sombra era ainda pior. – Quem é você? Frollo?

A sombra apenas deu uma risada debochada e voltou a se calar.

– O que é? – Esmeraldo já estava perdendo a calma. – Está zombando de mim?

– Nunca zombaria de você – falou a sombra com a voz bem mais jovem do que a de Frollo poderia ser.

Então finalmente a sombra se revelou. Com alguns passos o feixe de luz iluminou um rapaz jovem, mas claramente mais velho, leves músculos podiam ser notados, mesmo sobre as roupas elegantes, já o cabelo era loiro e bem arrumado, o rapaz sorria com ironia para o moreno.

– Engraçado, sempre nos encontramos com alguma barreira entre nós – ele disse, sorrindo.

– Jean! – Esmeraldo saiu do canto em que estava e correu até as grades. Ele sorria muito ao ter uma visão tão nostálgica na sua frente.

– Que bom que me recebeu com um sorriso e não com um tapa.

Esmeraldo apenas riu, seu amigo continuava o mesmo.

– Estou muito feliz em ver você novamente.

– Eu também – Jean fez uma pausa, e então seu semblante feliz deu espaço para uma face sombria e triste. – Só não queria que tivesse essa grade nos separando.

– É, eu me meto em muito encrenca. – ele sorriu, mas era um sorriso forçado, e ao invés de fazer este parecer feliz ele lhe deu um ar melancólico.

Jean segurou uma das mãos de Esmeraldo por entre as grades e a acariciou lentamente.

– Você ainda trabalha para o Frollo? E o que faz aqui? – o cigano perguntou confuso.

– Não se preocupe com nada disso, o importante é que vou dar um jeito de te tirar daqui.

– O que? Como acha que vai fazer isso?

– Relaxe, eu tenho um plano.

Jean soltou a mão do moreno e se afastou para a porta de saída.

– Não se preocupe, a ajuda virá – então Jean deu as costas ao amigo e saiu.

O jovem desceu as escadas em direção ao seu destino. O loiro sentia o coração palpitar forte. Há tanto tempo que não via seu velho amigo, e agora os dois estavam tão grandes, e Esmeraldo estava maravilhoso, um verdadeiro sonho. Desde pequeno já o achava bonito, mas de uma maneira inocente, agora, mais velho, Jean o achava bonito de uma maneira perfeita e desejável, e parecia o mesmo de antes, não havia sido uma mudança absurda, mas agora estavam quase do mesmo tamanho, ele não era mais tão maior que o outro, sem contar que os traços antes inocentes do garoto agora só acentuavam uma beleza exótica e sensual.

O loiro suspirou, ainda mentia para o garoto, isso lhe doía. Com esse pensamento memórias começaram a voltar em sua mente.

Tinha quinze anos na época. Vivia em sua mansão, já que estudava em casa, e havia sido proibido de sair de casa. Seu irmão queria que ele tivesse a educação perfeita, então era muito rigoroso.

Jean não tinha amigos, então sua vida era bem solitária. Uma noite, em que havia ficado acordado até tarde, uma das restrições de seu irmão, Jean começou a sentir fome, e sabia que se chamasse uma das empregadas seria pego por seu irmão. Foi então que o loiro se levantou da cama e saiu de seu quarto. Andou sorrateiramente até a cozinha, sem ser notado por ninguém.

O garoto andou até a mesa de centro da cozinha e pegou uma bandeja cheia de biscoitos aparentemente recém-assados. Quando ia se retirar da cozinha, o garoto escutou alguém falar atrás de si.

– Aonde vai com isso? – uma voz delicada lhe perguntou.

Jean então se virou e encarou a criatura que estava logo atrás de si.

O menino em questão era consideravelmente menor que Jean, tinha pele e cabelos morenos, mas seus olhos eram incrivelmente verdes, como uma das jóias que seu irmão costumava usar.

– Em? – o garotinho perguntou de novo.

Jean demorou a perceber que o garoto esperava sua resposta.

– Ham, eu estava com fome. . .- Jean respondeu receoso.

– Você não pode pegar isso, o mestre vai brigar com você – o tom usado pelo garoto era mais de preocupação que de real advertência.

– Ah, desculpe – o loiro então colocou a bandeja de volta na mesa e voltou a encarar o garotinho. – Quem é você? Nunca te vi por aqui.

– Trabalho na cozinha, e ás vezes levo coisas para o mestre. Eu também nunca te vi por aqui.

– Eu. . .trabalho no jardim, não costumo ficar aqui na casa – o garoto não sabia exatamente por que mentirá, mas aquele garoto era a primeira criança que via em muito tempo, e não queria deixar a primeira impressão de ser um garoto riquinho e mimado.

– Entendo. Meu nome é Esmeraldo, tenho onze anos, e você?

– Jean, tenho quinze.

Esmeraldo pareceu animado por ter encontrado alguém mais próximo de sua idade, e logo estavam conversando e se conhecendo melhor.

A partir daí Jean se acostumou a sair a noite para conversar e brincar com seu novo amigo, pelo qual estava se afeiçoando muito.

Mas em uma noite que foi atrás dele, não o encontrou na cozinha, seu ponto de encontro habitual. O rapaz estranhou e saiu para procurá-lo pela casa, sem sucesso. Então se lembrou que outro trabalho de Esmeraldo era levar coisas para seu irmão, então ele poderia estar em algum lugar na área dos quartos.

Foi então que tudo aconteceu.

Jean seguiu para o quarto de seu irmão, e escutou sons estranhos saindo por entre a fresta da porta. Quando olhou por ela, viu seu irmão tentando, com uma mão, arrancar as roupas do pequeno Esmeraldo. O pequeno chorava e tentava gritar, mas tinha seus gritos reprimidos pela mão do outro em sua boca. Hematomas e sangue podiam ser notados facilmente na pele frágil da criança, isso era reforçado pelas manchas escarlate espalhadas pelo lençol.

Foi então que tudo pareceu ficar em câmera lenta. Uma ira dominou Jean. O loiro invadiu o quarto e pulou sobre o irmão o derrubando no chão, antes que este pudesse se recuperar, Jean acertou sua cabeça com um vaso.

Jean logo se levantou, deixando seu irmão inconsciente, e foi até a cama para socorrer seu amigo.

– J-Jean - o pequeno tentou dizer com dificuldade, ainda com lagrimas lhe escapando dos olhos. - V-Você me salvou.

– Tenho que te tirar daqui, rápido.

Sem dizer mais nada, Jean pegou o pequeno em seus braços e correu o mais rápido que podia para fora da casa. Depois de esconder Esmeraldo em alguns arbustos, Jean andou calmamente até os guardas e disse ter ouvido sons estranhos do quarto de seu irmão. Logo os guardas saíram correndo para dentro, e Jean ajudou seu amigo a fugir.

Mas antes da partida do pequeno, Jean lhe depositou um delicado selinho em seus lábios, um ato inocente, mas cheio de amor e ternura.

E então o jovem rapaz observou seu único amigo e paixão desaparecer nas ruas escuras de Paris.

Depois disso seu irmão virou as costas para si, mas não antes de ameaçar matar Esmeraldo caso Jean falasse daquilo para alguém.

Ao perder seu amigo, Jean acabou por se tornar irresponsável, sair escondido de casa, beber, gastar todo o seu dinheiro com futilidades e mulheres.

Até mesmo agora, com seus vinte anos, relembrar tudo aquilo fazia o sangue de Jean ferver de raiva.

Mas agora ele não podia pensar nisso, tinha que por seu plano em prática.

Passou pelos guardas sem atrair atenção de verdade. O único problema que encontraria era se desse de cara com Cláudio Frollo, seu irmão mais velho.

Jean seguiu até uma sala e adentrou sem bater na porta ou fazer qualquer cerimônia.

Lá estava o capitão da guarda, Febo. Este observava a cidade por uma janela, e ficou surpreso com a invasão da sala.

– Ah, Jean, que susto – o capitão falou sorrindo. – Seu irmão não está aqui senhor.

– Preciso falar com você capitão, não com meu irmão, e é sério.

Jean fechou a porta atrás si, depois se sentou em uma cadeira ao lado da janela e encarou Febo.

– Preciso que me ajude a soltar o cigano.

– Como é?! Por quê?! Ele é um criminoso.

– Não, não, Frollo é o criminoso. Olha, eu posso explicar, e preciso que me escute até o final.

Em resposta, Febo apenas encarou Jean, esperando que ele continuasse. Jean então respirou fundo e começou seu relato.

– Conheço Esmeraldo há muito tempo. O coitado foi trazido à força do Egito, e acabou sendo comprado como escravo pelo meu irmão, Esmeraldo tinha onze anos na época, e eu quinze. Eu acabei por me tornar amigo dele, sempre conversávamos e eu o ajudava, mas o que eu não sabia era que meu irmão iria fazer algo horrível, ele tentou abusar de Esmeraldo.

– O QUE?! – Febo praticamente gritou, mas por sorte os guardas estavam a uma distancia considerável, e não poderiam escutar. – Espere, está mentindo não é?

– Não, isso aconteceu mesmo, e quando descobri eu ajudei Esmeraldo a fugir. Mas desde então Frollo tem uma obsessão por ele, e se não conseguir o que quer vai matá-lo.

Febo continuava a olhá-lo com espanto, mas conhecia Jean, ele podia ser um baderneiro bêbado, mas não mentiria para defender um cigano se não o conhecesse de verdade.

–. . . Tudo bem – o cavaleiro respondeu suspirando, ainda achando aquilo absurdo - O que você quer que eu faça? Não posso tirá-lo do Palácio da Justiça sem que todos notem.

– No horário certo você vai tirá-lo da cela e levá-lo para o telhado, irei convencer o corcunda de Notre-Dame a tirar vocês, sei que ele é um bom escalador e ele é amigo de Esmeraldo, ira ajudá-lo.

– Mas eu vou me ferrar com isso.

– Eu conheço você Febo, diferente dos outros, você não obedece Frollo cegamente, você é justo, e é novo por aqui, não conhece Frollo tão bem quanto acha. E agora precisa decidir se vai salvar um inocente ou se vai se vender.

Febo o encarou, suspirou e fez um sinal positivo com a cabeça.

– Ok, vamos fazer assim: Frollo irá vir aqui para um interrogatório com o cigano, se ele o sentenciar a morte eu o ajudarei, mas se não, então concluirei que estava mentindo.

– Que assim seja, mas fique sabendo, pedirei que Quasímodo fique no telhado já preparado nesse horário, se algo der errado quero que salve Esmeraldo.

Jean se levantou e saiu da sala, deixando um Febo pensativo e confuso.

Ao anoitecer, Frollo chegou ao Palácio da Justiça e foi escoltado por alguns guardas, incluindo o capitão Febo, até a cela de Esmeraldo.

– Me deixem a sós com ele, irei arrancar as informações que preciso sobre os rebeldes – logo depois Frollo adentrou a cela, sem saber que Febo já estava desconfiado de suas ações.

Esmeraldo estava sentado no chão da cela, se sentia cansado, ficar preso em um espaço tão pequeno era sufocante.

– Que visão decadente – Frollo disse, chamando a atenção do cigano, que logo se afastou para o fundo da cela. – É assim que você paga por suas ações cigano, por não me dar o que eu quero.

– Você não passa de um depravado – o cigano rosnou.

Frollo abriu a porta da cela e se aproximou de Esmeraldo, o segurando pelo queixo.

– Você sabe o que eu quero, e se não me der vou destruir a você e o seu povo – Frollo colocou a mão em seu bolso e retirou um medalhão cor de Esmeralda, como os olhos do garoto. – Vê isso? Era seu não era?

– M-Me devolva isso, isso é meu, meu e da minha mãe, não pertence a você!

– Há, você não tem mãe. É por isso que deve se desprender destas lembranças inúteis. Crie novas.

Frollo colocou a mão sobre o ombro nu do cigano e começou a acariciá-lo lentamente, seguia com as caricias enquanto sua mão descia para o peitoral do moreno. Esmeraldo odiava aquele toque, instintivamente o moreno agarrou a adaga que escondia em sua roupa e atacou Frollo. Para o seu azar ele acabou por acertar apenas a bochecha do arcebispo.

– GUARDAS! – Frollo gritou, e três guardas adentraram a sala. Estes ajudaram Frollo a se levantar – Forca, essa é a minha sentença, esse cigano imundo será enforcado ao amanhecer.

Febo agora tinha certeza do que Jean havia falado, ou quase, Frollo é quem tinha sido atacado, mas como havia prometido a Jean que salvaria o cigano caso ele fosse sentenciado a morte agora teria que fazê-lo.

Mais algumas horas e Frollo já havia ido embora, e todos estavam fazendo guarda pelo Palácio da Justiça.

Febo se preparou e então subiu para a cela de Esmeraldo.

O garoto estava deitado no chão, de costas para a porta. Febo o observou por alguns minutos antes de bater levemente nas grandes, para chamar a atenção do moreno.

Esmeraldo estava tão desolado que nem se importava mais, ao invés de se levantar, apenas se virou, ainda deitado, para o outro lado, encarando o capitão.

Febo tinha que confessar, aquele garoto era realmente bonito, e isso se destacava sobre a luz da lua que entrava pela única abertura da parede.

– Vim solta-lo – Febo foi curto e grosso.

–. . .Como assim?

– Jean me mandou.

Isso sim chamou a atenção de Esmeraldo, que logo se levantou e correu até as grades.

– Mesmo? Mas você é o capitão da guarda.

– Sim, mas ele me contou o que o irmão dele fez, e eu quero ficar do lado certo.

–. . .irmão dele?

– É, Cláudio Frollo.

– Mas ele me disse que trabalhava para Frollo, não que era irmão dele.

– Bom, parece que ele mentiu para você.

O moreno sentiu a decepção bater fundo em si, seu amigo era irmão da pior pessoa do mundo. Aquilo não podia ser verdade.

– Olha, eu sei que você deve estar chateado e tudo mais, mas nós temos que ir – Febo falou, impaciente.

– T-Tudo bem – Esmeraldo respondeu se sentia tonto e desorientado, mas sabia que tinha que sair dali.

Febo o segurou pela mão e o puxou para fora a força. O puxou pelas escadas acima até chegarem ao telhado, onde para a surpresa dos dois, ali estava uma criatura encapuzada.

– Ah, você veio mesmo.

– Quasímodo? – Esmeraldo perguntou, ao ouvir uma voz tão familiar.

– Sim, um tal de Jean me pediu para ajudá-lo a escapar, se não o matariam.

– Como pretende nos tirar daqui? – Febo perguntou.

–. . .Você vai vir conosco?

– Vou.

– Você não precisa, já nos ajudou, você pode voltar para lá e fingir que nada aconteceu – Esmeraldo disse.

– Não é tão fácil. Todos estão em grupos, só eu estava sozinho e Frollo sabe da minha fraqueza por justiça, eu serei o primeiro suspeito, além disso, quero ajudar.

Esmeraldo continuou a encarar o loiro a sua frente até Quasímodo voltar a falar.

– Bom, posso levar Esmeraldo até lá embaixo, mas você deve ser pesado demais.

Febo parou por um instante para pensar e então falou.

– Vou sair pela porta da frente mesmo. Direi que estou indo pegar um ar ou descansar, alguma desculpa desse tipo. Me esperem naquele beco – apontou para um beco próximo ao Palácio da Justiça. – Encontrarei vocês lá.

– Esperem – Esmeraldo falou de repente. – Djali, não sei onde ela está.

– Quem é Djali? – Febo perguntou confuso.

– Minha cabra.

–. . .Está falando sério? Olha, eu vou descer e ver se a encontro, se não estiver aqui é por que está livre em algum lugar. Agora vão, não podemos mais enrolar.

Quasímodo pegou Esmeraldo nos braços e começou a descer com ele. Febo deu meia-volta e voltou para dentro.

Olhou por todas as celas possíveis e não encontrou a tal cabra de Esmeraldo, então desceu até o térreo e passou pelos guardas da porta.

– Para onde o senhor está indo capitão? - um dos guardas perguntou calmamente.

– Estou indo descansar, preciso de uma noite de sono.

– O senhor tem sorte capitão – outro guarda disse, logo depois bocejou.

Febo apenas fingiu rir e seguiu até onde seu cavalo, Aquiles, estava amarrado. O montou e seguiu em direção ao beco, o ponto de encontro.

Quando adentrou nas sombras pode ver a silhueta de Esmeraldo e Quasimodo no escuro. Febo desceu do cavalo e foi até os dois.

– Vou levá-lo para minha casa.

– O que? Não, quero ir para o Pátio dos Milagres – Esmeraldo falou exasperado.

– Olhe, você precisa descansar, e rápido, e se ficar passeando pela cidade só será mais fácil de te acharem e colocarem na prisão de novo.

Esmeraldo não o contestou, apenas fez uma cara de descontente e cruzou os braços.

– Obrigado pela ajuda Quasimodo – Febo se dirigiu ao corcunda.

– Tudo bem, Esmeraldo é meu amigo e eu faria qualquer coisa por ele – ele respondeu. – Irei voltar para a catedral, mas se tiver noticias irei procurá-lo.

– Está bem.

Febo explicou para Quasimodo como chegar a sua casa. Depois ajudou Esmeraldo a se esconder com sua capa e o montou no cavalo, juntamente consigo e foram para a casa do loiro. Uma casa simples, dois andares, nada grandioso.

Ao adentrar o lugar Esmeraldo sentiu um alivio completo, era aconchegante.

– Aqui é bem melhor que uma cela – o moreno disse.

– Vou esquentar água para você tomar um banho, fique a vontade – Febo respondeu, enquanto ia em direção á cozinha.

Esmeraldo, com sua natural curiosidade, começou a mexer em alguns objetos que estavam espalhados pela sala.

Febo aqueceu uma quantidade considerável de água para um banho. Foi para a sala e chamou Esmeraldo para subir para o segundo andar.

Foram até o banheiro e Febo encheu a banheira de madeira para ele.

– Pronto, fique a vontade, vou preparar o que comer.

O loiro voltou a descer para a cozinha, mas ao chegar lá se tocou que não sabia o que preparar para o cigano. Será que os ciganos tinham alguma preferência?

Então ele voltou a subir para o banheiro e cometeu o erro de não bater na porta. Quando entrou a visão que teve foi do cigano tirando as ultimas peças de roupa.

– AAAAH, ME DESCULPE. – Febo gritou, logo tampando os olhos.

–Tudo bem – o moreno respondeu calmamente.

A curiosidade foi maior que a decência e Febo afastou o braço alguns centímetros para olhar. Esmeraldo estava sem nenhuma peça de roupa, e aparentemente calmo por ter outro homem junto de si daquela maneira. Seu corpo era bem definido, mas pequeno e consideravelmente delicado, mesmo assim ele era aparentemente forte.

–. . .então, o que quer? – o cigano perguntou, tirando Febo de seu transe.

– Ah, eu queria saber se você tem alguma restrição alimentar? Sabe, se você não come alguma coisa especifica.

– Não, pode me servir o que quiser.

Ah, com certeza Febo queria servir algo para ele, em vários sentidos. Esse pensamento lhe fez sentir uma sensação estranha entre suas pernas, e ele sabia bem o que era.

– O-Ok.

Então o cavaleiro saiu correndo para seu quarto. Sentou-se na cama e tentou se acalmar, não queria ficar com uma ereção logo naquele momento, muito menos por ver um garoto nu. O moreno acharia que ele era um pervertido, e essa era a ultima impressão que queria deixar. Aproveitou que já estava no quarto e trocou de roupa, colocando algo mais leve do que sua armadura e a deixou organizada em um tipo de manequim, como um antigo combatente da guerra, ele sabia como cuidar de seu equipamento.

Quando se acalmou, voltou a descer para a cozinha e começou a preparar um ensopado simples, mas que achou que seria o suficiente.

Serviu em duas tigelas, depois serviu dois copos com água e os arrumou na mesa.

Lembrou-se que o cigano precisaria de roupas novas, por que as antigas estavam sujas. Então subiu para seu quarto e procurou uma roupa que fosse a menor possível, já que o moreno era consideravelmente menor que si. Febo tinha vinte e um anos, e era musculoso, com o porte de um cavaleiro, então era grande, bem maior que o moreno, que de seu ponto de vista tinha a altura de uma mulher.

Foi até o banheiro e dessa vez teve a decência para bater na porta.

– Pode entrar – escutou a resposta.

Febo adentrou o banheiro e viu Esmeraldo ainda dentro da banheira, mas felizmente, ou infelizmente, não podia se ver quase nada de seu corpo esbelto.

– Trouxe roupas limpas para você.

– Não preciso – o cigano respondeu. – Eu quero ficar com minhas roupas.

– Mas estão imundas.

– Não me importo.

– Olha, eu vou guardar elas e depois você pega, mas acho mais fácil você usar essas. Além disso, amanhã de madrugada, quando você for embora, vai ser mais fácil de passar despercebido.

Esmeraldo pareceu pensar por alguns segundos até concordar.

– Tudo bem, tem razão.

– Ok, aqui estão elas – Febo colocou a roupa sobre um banco e saiu.

Depois de alguns minutos Febo ouviu o moreno gritar por ele do banheiro.

Como um bom cavaleiro o loiro agarrou sua espada e correu para o banheiro. Abriu a porta bruscamente. Esperava encontrar guardas de Frollo tentando levar o garoto, mesmo que aquilo parecesse impossível de acontecer sem que ele tivesse percebido, mas a visão que teve foi. . .inusitada. Esmeraldo estava vestindo o conjunto de suas roupas, só que eram bem maiores que ele. Em outro garoto aquela cena poderia ter sido até fofa, mas em Esmeraldo, um garoto com uma personalidade forte e líder de uma revolução, aquilo era muito engraçado.

Febo largou a espada e começou a rir tanto, a ponto de sentir a barriga doer e os olhos lacrimejarem.

– Pare de rir de mim – Esmeraldo disse, com uma voz nervosa. – Isso é culpa sua.

O loiro não conseguia se conter, era hilariante. Só parou quando o moreno lhe meteu um tapa na cara, e ainda demorou um pouco para que conseguisse parar totalmente.

– D-Desculpe – Febo disse, limpando lagrimas que escapavam de seus olhos. – Vamos ver se conseguimos dar um jeito nisso.

Os dois desceram para a cozinha. Febo pegou uma faca e cortou a barra da camisa. Para arrumar a calça Febo cortou a barra e usando linha e agulha, a costurou, para ficar mais apertado. Ficou horrível, mas o cigano parecia não se importar, ele apenas não queria parecer uma lona de circo.

Os dois então finalmente foram para a mesa, se sentaram e começaram a comer.

– Então, amanhã de madrugada vou te levar até o tal Pátio dos Milagres.

– Eu vou sozinho.

– O que?!

– Não posso te levar até o Pátio dos Milagres, é o esconderijo do meu povo.

– Você ainda não confia em mim?

O cigano não respondeu, apenas se concentrou na comida, que aliás, para ele parecia a melhor comida do mundo. Ele não estava acostumado a comer muito bem, só comidas muito simples.

Enquanto comia, Febo aproveitou para observar o garoto mais atentamente.

Finalmente pôde admirar a beleza exótica que estava a sua frente. Aqueles olhos brilhantes faziam jus ao nome de seu dono. Os cabelos ondulados aparentavam uma maciez, a qual o cavaleiro não se negaria acariciar.

–. . .Está me encarando por que? – Esmeraldo perguntou, levantando seu olhar para encarar o capitão.

– Apenas pensando – o loiro não se abalou ao ser pego, continuando impassível.

O moreno ficou ainda mais confuso com a resposta do loiro, mas resolveu ignorar e voltar sua atenção para a comida que saboreava com prazer.

– Então – o capitão tentou começar um dialogo, para diminuir a tensão que o silencio criava. – Você é amigo do Jean?

– Ele me salvou, como deve saber. Devo tudo a ele.

Por algum motivo essa aparente devoção do garoto o incomodava.

– E Quasimodo?

– Amigo de longa data, uma pessoa maravilhosa, mas sua devoção a Frollo é um defeito.

– Bom, se ele for seu amigo de verdade então irá se tocar, já que Frollo quer você morto ou vivo.

A conversa teve seu fim aí. Logo terminaram o jantar.

Na cozinha, enquanto Febo limpava e guardava os pratos, Esmeraldo olhava por entre as cortinas das janelas, com medo de que já tivessem notado sua fuga e estivessem vindo.

– Relaxe – Febo disse, tentando acalmá-lo.

– Não tem como relaxar quando se tem uma corda envolta de seu pescoço.

– A não ser que tenha uma espada para cortá-la – o cavaleiro respondeu habilmente.

Esmeraldo deixou o cavaleiro cuidar da limpeza da cozinha e se dirigiu para a sala.

Os olhos curiosos do garoto se dirigiram aos vários tipos de objetos que decoravam o ambiente.

– Interessante a sua coleção – falou alto o suficiente para o cavaleiro lhe ouvir da cozinha.

– Já trabalhei fora de Paris, então tenho várias coisas de fora. Na verdade, estava na guerra até me convocarem para esse cargo de capitão.

Esmeraldo continuou a olhar as coisas até notar uma carta com uma rosa em cima de uma mesa. Sua curiosidade novamente o venceu, então a pegou e leu.

“Querido Febo, estou viajando pela França, mas fico feliz que finalmente conseguiu voltar para Paris. Logo estarei de voltar e irei encontrá-lo para então desfrutarmos de um tempo realmente juntos. Espero que esta rosa te lembre a mim até que volte.

Com amor, da sua Fleur-de-Lys”

Quando terminou de ler a carta Febo saiu da cozinha.

– Quem é Fleur-de-Lys? – o moreno perguntou.

Febo foi pego de surpresa pela pergunta, se tinha algo que naquele momento queria esconder com certeza seria Fleur-de-Lys.

– Ham. . .é minha noiva – ele finalmente respondeu.

Esmeraldo não entendia por que, mas se sentiu mal com a resposta do outro. Colocou a carta de volta em seu lugar e tentou parecer o mais calmo possível.

– Eu e ela ficamos noivos ano passado, mas ainda não nos casamos – Febo tentava diminuir a tensão que ia se formando no ambiente.

– Não precisa me explicar nada – Esmeraldo respondeu rispidamente – Vamos dormir, quero ir embora logo.

Os dois então subiram para o único quarto da casa, o de Febo.

– Ham, eu só tenho uma cama – Febo avisou.

– Por mim tanto faz, já dormi na sarjeta, dormir com outra pessoa é fácil – Esmeraldo respondeu.

Esmeraldo foi o primeiro a se deitar, parecendo ficar muito satisfeito com aquele conforto.

Febo retirou sua camisa e a colocou em uma cadeira.

– Espero que não se importe, eu costumo dormir assim – ele disse.

– Não me importo – Febo nem tinha ideia de que Esmeraldo realmente não se importava, até mesmo chegava a apreciar a visão do corpo forte e definido de seu companheiro.

O loiro apagou a vela que iluminava o quarto, e a única luz agora era a da lua, que entrava pela janela. Então finalmente se deitou.

Os dois tentavam dormir, mas com toda a tensão pairando no ar era praticamente impossível.

– Então – Esmeraldo tentou começar uma conversa. – Você não achou Djali?

– Não, ela deve ter escapado.

– Sei.

– Mas então, você vai me deixar ir com você não vai? - o outro mudou de assunto bruscamente.

– Não posso, você pode ser um espião de Frollo.

– Seu amigo Jean confiou em mim.

– Mas ele também mentiu para mim, disse que trabalhava para Frollo, mas ele é irmão dele.

– Bom, você foi meio ingênuo, ele se veste e age como alguém do alto escalão, só não vê quem não quer.

O cigano se calou, e Febo ficou preocupado de tê-lo magoado, mas Esmeraldo não era tão frágil quanto o loiro pensava, e logo ele disse.

– Bom, talvez eu não quisesse ver.

–. . .Que tipo de relacionamento vocês tem? – Febo perguntou, com um pouco de ciúmes em seu tom.

– Ele é meu amigo, me salvou quando era pequeno.

– Acho que ele quer ser bem mais que um amigo.

– E o que faz você pensar isso?

– Jean é conhecido por ser um bêbado baderneiro sem caminho, mas quando falou comigo ele estava sério, coisa que não é comum para ele, ele está sempre rindo e tirando sarro de todos.

O moreno se sentou na cama e Febo começou a observá-lo novamente. Como estava do lado da janela, a luz da lua batia exatamente onde era o rosto de Esmeraldo, e Febo ficou encantado com a beleza do cigano.

– Eu não sei mais no que acreditar – o moreno disse baixo – Mas não quero saber se ele quer algo mais comigo ou não.

– E por quê?

–. . .Por que não me importo com essas coisas, pelo menos agora, sou muito novo e estou liderando uma rebelião, não tenho tempo para romances.

Aquilo foi um pouco decepcionante para o cavaleiro.

– E, além disso – o moreno continuou. – Ciganos não aceitam bem relacionamentos entre homens.

– Bom, você é o líder deles, acho que pode mudar isso também.

–. . .Talvez.

Febo se sentou na cama, e resolveu tomar coragem e fazer alguma coisa. O loiro pegou a mão de Esmeraldo, e depois segurou o queixo dele, aproximando seus rostos.

– Febo? – o moreno o chamou confuso, sem entender aonde aquilo ia chegar.

– Você ia ser um noivo lindo.

Febo o puxou pela cintura, colando seus corpos.

– Aonde quer chegar com isso? – Esmeraldo perguntou, realmente sem entender.

– Para o líder de uma rebelião você é muito inocente.

– Eu não sou inocente – ele respondeu, fazendo uma cara emburrada.

– É o que vamos ver.

O cavaleiro então o puxou para o um beijo intenso. Inicialmente não foi retribuído, mas logo sentiu a língua de Esmeraldo se entrelaçar a sua, dando permissão ao loiro para aumentar a intensidade do beijo.

O ar do moreno então acabou e se afastou rápido, tossindo um pouco e tentando recuperar o fôlego.

– Esmeraldo. . .

O loiro iria dizer algo, mas então escutou alguém bater forte na porta da frente.

Febo levantou rápido e vestiu sua camisa.

– Rápido, se esconda, podem ser guardas.

Esmeraldo ainda estava confuso, mas se levantou rápido da cama. O loiro segurou seu braço e o arrastou para baixo. Foram até a cozinha e Febo colocou Esmeraldo dentro de um armário e o escondeu com algumas coisas.

– Faça silencio – ele disse, antes de fechar a porta do armário.

Febo respirou fundo e tentou parecer o mais natural possível. Foi até a porta e abriu, mas ao invés de dar de cara com um monte de guardas, quem este encontrou foi Quasimodo, o sineiro.

– Rápido, me deixe entrar – Quasimodo falou, enquanto empurrava Febo para o lado e adentrava a casa deste.

O loiro fechou a porta e olhou para o sineiro.

– Onde está Esmeraldo? Temos que ser rápidos.

Febo não estava entendo, mas resolveu não contestar. Voltou para a cozinha e tirou Esmeraldo de seu esconderijo.

– Eles já foram? – o cigano perguntou.

– Não são guardas, é seu amigo, Quasimodo.

– Quasi?

Os dois então voltaram para a sala e encararam Quasimodo.

– O que faz aqui Quasi? – Esmeraldo perguntou.

– Temos que ir. Frollo descobriu sobre sua fuga. Eu o escutei dizer que sabe onde é o Pátio dos Milagres é que ira atacar ao amanhecer, temos que correr.

Esmeraldo então entrou em desespero.

– Temos mesmo que correr.

Os três saíram da casa, mas não antes de Febo subir e pegar sua espada. Febo e Esmeraldo subiram no cavalo e Quasimodo os seguiu a pé. Graças aos anos trabalhando como sineiro e escalando grandes alturas Quasimodo havia criado um bom porte físico.

Esmeraldo então guiou os dois até onde era o esconderijo de seu povo, um cemitério depois do rio.

Febo desceu do cavalo e ajudou Esmeraldo a descer em seguida. Quasimodo logo os alcançou e estava ao lado dos dois.

– Ham, sua casa é linda – Febo disse, com sua ironia cômica.

Quasimodo acendeu uma tocha para se guiarem no caminho escuro a sua frente.

– Venham.

O cigano indicou uma grande sepultura. Esmeraldo ia retirar a tampa de pedra dela, mas Febo tomou a frente e fez isso por ele.

– Não quero que suje as mãos – o loiro disse, com um sorriso galanteador.

Mas o ato do loiro não agradou tanto quanto ele esperava, e o cigano apenas o ignorou e adentrou a lápide, logo sendo seguido pelo cavaleiro e pelo corcunda.

A sepultura na verdade era uma escada escura. Eles desceram até chegar a um esgoto nojento.

– É isso que é o Pátio dos Milagres? – Quasimodo perguntou.

– Será um milagre se eu não sair fedendo daqui – Febo respondeu.

Esmeraldo então parou bruscamente e olhou para cima.

– Não se preocupem, são amigos, estão aqui para nos ajudar.

Então de todos os cantos saíram vários ciganos, todos correram para abraçar Esmeraldo, era uma grande felicidade tê-lo de volta.

Todos eles levantaram o cigano e seus convidados em seus braços e os levaram para o verdadeiro Pátio dos Milagres, no final do esgoto.

Todos festejavam pela volta de seu querido amigo, mas Esmeraldo logo se desvencilhou de todos e subiu em um pequeno palco do pátio.

– Escutem todos – Esmeraldo gritou bem alto, para que todos do pátio o ouvissem. – Frollo sabe onde é nosso esconderijo.

Aquilo fez com que todos que antes festejavam agora se calassem e que ouvissem várias exclamações de surpresa.

– Ele irá nos atacar ao amanhecer. Precisamos sair daqui – o moreno continuou.

– Pois eu acho que é tarde demais – uma nova voz disse.

Todos se viraram para a entrada do pátio e tiveram o choque de ver Frollo nela, e logo atrás dele vieram grandes tropas de guardas que adentraram o pátio rapidamente.

Começaram a cercar grupos e prender ciganos aos montes, e logo todos já haviam sido cercados. Vários guardas foram para cima de Esmeraldo, mas Febo tomou a frente e derrubou alguns deles. Mas eram muitos e logo conseguiram pegar o cigano e o cavaleiro. O único ainda livre era Quasimodo, que observava aquilo estupefato.

Quando todos já haviam sido pegos, Frollo andou até o centro do pátio e encarou a todos. Foi então que Quasimodo então ficou aos pés de Frollo e lhe agarrou as vestes.

– Por favor, mestre, deixe-os em paz.

Frollo olhou para Quasimodo e sorriu diabolicamente para este.

– Obrigado pela ajuda meu amigo.

– C-Como assim?

– Sem você nunca teria chegado até aqui.

Todos estavam confusos, mas estavam mais preocupados com suas vidas do que saber qual era o motivo real de Frollo ter conseguido chegar ali.

– Amanhã de manhã – Frollo disse alto. – Teremos uma fogueira na praça, e todos estão convidados.

Todos sabiam o que aquilo significava, e ninguém estava feliz com isso.

Quasimodo ainda implorou muito a Frollo, mas este apenas o ignorou e ordenou que todos fossem levados.

Em algumas horas todos já estavam na praça, presos. Febo e os ciganos estavam presos em gaiolas, todos protestavam por sua liberdade, mas não adiantava de nada. Já Esmeraldo era um caso a parte, em um palco, ele havia sido preso a um grande tronco em cima de um monte de feno, uma fogueira. Suas roupas haviam sido trocados por trajes esfarrapados e, finalmente, encontrou sua amiga Djali, mas esta também havia sido presa a uma gaiola. Frollo não poupou ninguém.

No alto de Notre-Dame Quasimodo observava tudo impotente, os guardas de Frollo haviam o prendido com várias correntes, para evitar que ele tentasse ajudar a alguns dos ciganos e prisioneiros.

Frollo subiu calmamente ao palco e começou a ler a acusação para todos.

– O cigano Esmeraldo é acusado de rebeldia, bruxaria e roubo. E a sentença é a morte pela fogueira.

O planejado de Frollo era a morte pela guilhotina para todos, mas Esmeraldo era um show a parte, ele queria que fosse simbólico.

Todos começaram a gritar e pedir que o libertassem, mas os guardas continham toda a multidão, formada não só por ciganos prisioneiros, mas praticamente toda a Paris acompanhava aquele show.

Frollo então subiu no palco e se aproximou o suficiente de Esmeraldo, para que só ele pudesse escutá-lo.

– Chegou sua hora cigano, queimará no inferno, como sempre disse – um sorriso diabólico surgiu nos lábios de Frollo. – Mas eu posso te salvar das chamas deste mundo e do outro. Escolha-me ou ao fogo.

Em resposta Esmeraldo cuspiu no rosto de Frollo, o maior sinal de recusa e desprezo que alguém poderia demonstrar.

Frollo então se virou para todos. Tomou em sua mão uma tocha e disse.

– O cigano Esmeraldo recusou se retratar, este bruxo colocou cada alma de Paris em risco, e queimará nas chamas do inferno por isso. A justiça mandará essa alma pagã para o lugar de onde veio.

Então Frollo desceu a tocha na palha, que logo se incendiou com velocidade.

Quasimodo estava desolado, ele lamentava que tudo aquilo era culpa de si. Foi então que escutou suas correntes se mexendo por trás.

– Rápido, rápido – uma voz dizia aflita.

– Quem. . .?

As correntes de Quasimodo então caíram e quando olhou para trás viu Jean, irmão de Frollo e amigo de Esmeraldo.

– Temos que salva-lo rapaz – Jean disse.

– Mas é tudo minha culpa.

– Então se redima, de que adianta ficar lamentando se você pode salva-lo?

Quasimodo estava confuso, mas então finalmente se tocou, não importava se aquilo era culpa sua ou não, o que importava é que ele poderia se redimir de tudo aquilo.

–. . .Certo, vamos fazer assim – Quasimodo explicou seu plano rapidamente para Jean e eles entraram em ação.

Jean e o corcunda prenderam as correntes em duas gárgulas da catedral e saltaram.

Era uma altura surpreendente, mas nenhum dos dois estava se preocupando com isso.

Quasimodo era bom em se balançar pelos lugares e foi direto para o palco da fogueira, e retirou Esmeraldo dela.

Os guardas tentaram o impedir, mas Jean saltou sobre todos eles os derrubando.

Quasimodo voltou a agarrar a corrente e voltou a se balançar até chegar à parede da catedral. Esmeraldo estava inconsciente graças à fumaça, então teria que tomar cuidado com o corpo. Começou a escalar as paredes até chegar ao alto da catedral.

De frente para o vitral principal, o corcunda ergueu o corpo do cigano para todos verem.

– SANTUÁRIO – chamava o sineiro. – SANTUÁRIO, SANTUÁRIO, SANTUÁRIO.

Clamar santuário era algo que demonstrava segurança. Quando alguém clamava santuário ele não poderia ser preso dentro de solo sagrado, e nesse caso era a catedral.

No chão, Frollo havia arrancado uma espada da mão de um de seus soldados e lhes lançava ordens para invadir a catedral. Seus guardas haviam arrumado uma viga e a estavam usando para arrombar a porta, claramente Frollo estava quebrando a regra de santuário. Seu orgulho e desejo o haviam enlouquecido.

Jean cuidava de alguns guardas, e com rapidez arrancou a espada da mão de um dos guardas e tomou-lhe as chaves da gaiola.

O moreno abriu todas as gaiolas, libertando os ciganos e Febo.

Febo agarrou uma lança do guarda desacordado e subiu em uma das gaiolas.

– Cidadãos de Paris, Frollo oprimiu nosso povo, saqueou nossa cidade e agora declarou guerra a própria Notre-Dame – ele gritava com determinação para todos. – Nós vamos permitir?

Todos o povo gritou um não feroz e então atacaram, empurrando e derrubando todos os guardas que os continham.

Febo e Jean tomaram a frente ao ataque. Jean era rápido e logo começou a enfrentar vários deles. Febo atacava com sua lança, derrubando e nocauteando vários dos guardas.

No topo de Notre-Dame, Quasimodo impedia a subida de todos os guardas com escadas, e então, para deter todos de uma vez, ele montou rapidamente uma armadilha, e puxando uma corda, causou a destruição de várias gárgulas, de diversos tamanhos, que desabaram na cabeça de todos de lá de baixo.

Todos os guardas fugiram, mas Frollo conseguiu uma brecha pela porta da catedral e então a invadiu.

Jean foi o único que notou a entrada do homem na catedral, e não tinha tempo para avisar ao outro, então correu atrás deste.

Ao entrar, viu seu irmão já subindo a escada para o topo de Notre-Dame, mas o seguiu rapidamente.

– Irmão! – o chamou.

Os dois estavam cara a cara nas escadas, e Frollo era a própria visão da loucura.

– Traidor – este disse, entre os dentes.

– Você está louco, deixe-o em paz, está invadindo a catedral, violando seus portais sagrados – Jean tentava convencê-lo.

– Nunca, eu devo acabar com o cigano.

– Esmeraldo é importante para mim, e eu vou protegê-lo, mesmo contra você.

– Não será você, criança idiota, que vai me impedir.

– É o que vamos ver.

Jean não pensou duas vezes e atacou seu irmão. Jean era mais forte e jovem que Frollo, então deveria ter a vantagem, mas graças à fúria e loucura do arcebispo, ele estava em um grande frenesi, e poderia enfrentar vários inimigos mais fortes e ainda continuar de pé. Jean também tinha seu grande objetivo, defender Esmeraldo, mas nada se comparava a fúria de um homem rejeitado.

Suas espadas se cruzavam violentamente, e o pouco espaço só tornava o combate mais complicado.

Jean agüentava o máximo que podia, mas ele não tinha uma vantagem, estava mais baixo que seu irmão, e em um erro fatal, Frollo conseguiu desequilibrar Jean e este caiu escada abaixo.

Frollo apenas esperou alguns segundos para ver se seu irmão voltava, e como não aconteceu, este voltou a subir as escadas em direção ao seu objetivo.

Enquanto isso, Quasimodo festejava pela vitória, sem saber sobre a invasão de Frollo. Saiu do posto de onde atacava todos do chão e voltou para onde havia deixado Esmeraldo, em um quarto da catedral.

– Conseguimos Esmeraldo, venha ver – ele festejava.

Mas então ele notou que o garoto permanecia imóvel na cama que o havia posto.

– Esmeraldo, acorde, está a salvo agora – o corcunda disse, se aproximando do cigano.

Ele acariciou o rosto do moreno, sua pele estava fria e a respiração fraca.

– Não – ele murmurou.

Quasimodo então foi até um barriu que havia lá e encheu suas mãos de água. Então voltou para o cigano e fez com que ele bebesse a água. Mas não recebeu nenhuma reação em resposta.

– Não, não, não.

O sineiro então abraçou o corpo frio de seu amigo e começou a chorar e lamentar tristemente.

Foi então que Frollo adentrou o quarto silenciosamente, sem ser notado. Caminhou até Quasimodo e tocou-lhe as costas levemente. O corcunda virou seu rosto para ele, claramente surpreso, mas mais ainda magoado.

– Você o matou.

– Foi preciso – ele disse sem nenhum remorso. – Quasimodo, eu sei que dói, e agora é hora de eu acabar com seu sofrimento.

Frollo então levantou uma adaga, que havia trazido escondida, e ia descer nas costas de Quasimodo quando o corcunda se virou e agarrou seu pulso com força.

Quasimodo empurrou Frollo e lhe arrancou a adaga da mão.

– A minha vida toda você mentiu para mim, disse que o mundo era cruel, mas a única coisa de cruel que há nele são pessoas como você.

– Quasimodo – Esmeraldo chamou fracamente.

– Esmeraldo.

Quasimodo correu até seu amigo, que havia recuperado a consciência e o pegou nos braços com grande alivio. Já o cigano, ainda tentava entender o que estava havendo, apenas olhava para o rosto de seu amigo corcunda com um olhar perdido.

– Está vivo – Frollo disse com uma voz raivosa.

Este sacou sua espada da bainha, mas Quasimodo foi mais rápido e fugiu com Esmeraldo para fora, na sacada do andar.

Frollo saiu atrás dele, mas não os encontrou em parte alguma. Foi então que olhou pela sacada e encontrou Quasimodo com o garoto em seus braços, pendurado.

O arcebispo tentou acertá-los com sua espada, mas Quasimodo pulou e se pendurou em outra gárgula, agradecendo a Deus por ter tanta agilidade e força. Isso se repetiu três vezes, até Quasimodo tentar subir novamente para a sacada, ele não podia ficar se pendurando para sempre, em algum momento as gárgulas acabariam. Pendurou-se na gárgula em que estava e jogou Esmeraldo para dentro.

– Eu deveria saber que arriscaria a vida por esse cigano, assim como a sua mãe fez quando você ainda era um bebê – Frollo dizia com ódio.

– O que? - Quasimodo estava confuso e com medo, e aquilo tinha sido o maior choque de todos para si.

– Mas agora – Frollo continuou. – Vou começar o que já devia ter terminado há vinte anos.

Então Frollo tentou atacar Quasimodo com sua espada, mas este desviou, então o arcebispo usou seu manto para cegar o corcunda.

Por trás Esmeraldo se recuperou, respirando e tentando entender exatamente o que estava acontecendo, quando viu que Frollo estava lutando contra seu amigo, o cigano empurrou o arcebispo, que perdeu o equilíbrio e caiu da varanda. Mas antes tentou se segurar pelo manto, e Quasimodo segurou o manto, impedindo que Frollo caísse.

Esmeraldo segurou a mão de Quasimodo e tentou puxá-lo. Mas o corcunda era pesado, e estava fraco e em choque para tentar subir sozinho. A visão do solo, a Paris em guerra, só tornava a resistência mais difícil.

Frollo então se balançou até agarrar uma gárgula e subir. Subiu até outra gárgula e ficou de pé sobre ela.

Esmeraldo encarava horrorizado o arcebispo erguer a espada em suas mãos para si enquanto lhe sorria diabolicamente.

– E ele vai castigar os maus – ele ditava. – E nas chamas do inferno eles irão arder.

Esmeraldo viu sua vida passando por seus olhos, sentiu a dor de perder tudo. Frollo começou a descer a espada em sua direção, mas então escutaram um som de rachadura, e a gárgula na qual Frollo estava quebrou, e o arcebispo desabou para as chamas da revolução, e o verdadeiro mal queimou nas chamas do inferno.

O alívio do cigano não durou muito, pois seu amigo corcunda era pesado demais e acabou por escorregar de suas mãos.

Seu coração provavelmente parou por alguns segundos ao ver seu amigo cair.

Mas então, alguns andares abaixo, Febo e Jean agarraram o corcunda e o puxaram para dentro.

Esmeraldo finalmente pôde respirar aliviado e agradeceu aos céus por lhe ter dado aqueles homens.

O cigano então correu até o andar certo. Sorriu aliviado ao ver os três juntos. Correu até Quasimodo e o abraçou forte.

– Que bom que está bem, amigo – o cigano sussurrou para o corcunda.

– Você também – ele respondeu.

Todos então se abraçaram. Jean tinha leves ferimentos por causa da queda da escada, o que preocupou Esmeraldo até que o outro explicasse tudo que aconteceu. Ele havia ficado aturdido depois da queda, e Febo acabou por entrar na catedral e encontrá-lo. Ia subir, mas Febo escutou a batalha que ocorria no andar de cima, e foram até outra sacada para olhar, e como temiam que algum deles caíssem, resolveram ficar esperando nesta.

O cigano subiu no parapeito do andar e gritou para todos no chão.

– VENCEMOS! VITORIA!

O cigano não entendeu como foi possível, mas todos de Paris escutaram e gritaram junto ao cigano, comemorando a sua vitoria.

Esmeraldo sorria muito, ele finalmente estava livre, todos estavam.

Os quatro desceram e no chão todos já festejavam a libertação de Paris da tirania.

Quasimodo, que antes era considerado um monstro, agora era aclamado como o grande herói de todos. O corcunda foi erguido por todos e carregado por toda a Paris.

Esmeraldo sorria com aquela visão. Então de longe viu uma pequena figura branca correndo em sua direção.

– Djali! – Esmeraldo gritou, se abaixando e pegando a cabra em seus braços. – Bom ver você amiga.

Jean e Febo apenas o observavam sorrindo.

Nos dias que se seguiram toda a concentração se voltava no conserto e auxílio de todos os feridos da batalha.

Esmeraldo cuidou de seu povo, e ficou feliz em ver como todos os parisienses estavam aceitando bem a convivência junto com todos eles.

Ao fim da primeira semana quase tudo já havia sido resolvido, então os felizes parisienses resolveram que tudo aquilo merecia uma festa.

Quasimodo então fora realmente nomeado o rei da festa, tendo um trono e roupas elegantes para si.

A festa já havia começado, e claramente Esmeraldo faria mais uma de suas apresentações.

O moreno estava mais lindo do que nunca, por que em seu rosto havia um sorriso real de felicidade, muito raro desde a morte de Cassandra.

Enquanto terminava de se arrumar, Febo adentrou sua tenda, sorrindo ao ver o cigano tão feliz.

– Gosto de ver este sorriso no seu rosto – o loiro disse, atraindo a atenção do cigano.

– Também gosto.

Febo andou até o cigano, que estava de costas para si, e lhe abraçou pela cintura.

– Na verdade, gosto de você de todas as maneiras – sussurrou no ouvido do cigano.

Esmeraldo, que antes sorria, mudou seu semblante para sério e afastou os braços de Febo de si.

– O que foi? – o cavaleiro perguntou confuso.

– Não quero que me trate assim.

– Assim como? O que fiz de errado?

– Apenas não quero que me trate como se tivéssemos algo.

– Mas não temos? Nos beijamos, e não foi um beijo qualquer.

– Foi só um beijo, ele não vale nada perto de um noivado.

Então Febo se tocou do que estava acontecendo.

– Então é isso?

– Isso o que?

– Você não aceita minhas investidas por que estou noivo.

Esmeraldo queria era mais ignorar aquele assunto, mas resolveu colocar um ponto final naquilo.

– Quer saber, sim, não quero me envolver com alguém comprometido, não há nada de errado nisso.

– Eu posso acabar com esse noivado rapidamente.

– Nem pense nisso.

– E por que não?

– Não quero ser culpado pelo fim do noivado de alguém.

Febo podia entender o motivo pelo qual Esmeraldo não queria ter algo com ele, mas estava apaixonado pelo garoto, e aquilo parecia bem mais importante do que seu noivado.

Mas antes que a discussão pudesse continuar uma pessoa entrou na tenda de Esmeraldo, novamente sem pedir.

– Com licença, estou procurando o capitão Febo.

A moça em questão tinha cabelos loiros e estava muito bem vestida, uma bela visão, com certeza uma dama de classe.

– Ah, Febo, meu querido, finalmente o encontrei – a moça andou até Febo e o beijou – Te procurei em toda a parte, disseram que poderia estar aqui.

Esmeraldo apenas encarava a cena, tentando não demonstrar reação nenhuma. Djali, que estava deitada em uma almofada e havia permanecido quieta até aquele momento, soltou um leve rosnado para a garota.

– Ah, me desculpe, não me apresentei, meu nome é Fleur-de-Lys, sou a noiva de Febo – a garota se dirigiu a Esmeraldo.

– Eu sei. Sou Esmeraldo.

– Também sei, me falaram muito de você, e de como lutou contra Frollo.

– Tive ajuda.

– Com certeza, principalmente do meu cavaleiro, tão forte.

Aquela moça dava náuseas ao cigano.

Antes que alguém dissesse mais alguma coisa, Jean adentrou a tenda, este carregava um buquê de begônias.

–. . .Isso está meio cheio não é?

– Olá Jean – Esmeraldo tentou diminuir a estranheza da situação – O que foi?

– Te trouxe esse buquê, achei que ia gostar.

– Obrigado, é muito atencioso da sua parte.

Esmeraldo pegou as flores e as cheirou, um perfume delicado e relaxante. Já Febo assistia a cena com irritação, e ela só piorava por que sua noiva não o deixava quieto, sempre tentando abraçá-lo ou algo parecido.

Foi então que outra pessoa adentrou a tenda, e novamente era alguém que eles não conheciam.

–. . .Nossa, achei que fosse uma tenda particular, mas isso aqui está cheio – o novo visitante falou.

– Quem é você? – Febo falou, enquanto tentava afastar Fleur-de-Lys de si mesmo.

– Meu nome é Pierre Gringoire, estou atrás de Esmeraldo.

– Sou eu – o cigano se apresentou.

– Que bom que eu o encontrei.

– O que quer com ele? – Jean perguntou desconfiado.

– Eu sou um poeta, e escrevo peças. Queria entrevista-lo para, quem sabe, escrever uma peça sobre a revolução de Paris.

Djali aparentou gostar da visita, já que logo havia se levantado e se esfregava aos pés de Pierre.

– Ela gostou de você – Esmeraldo disse.

– É um belo animal – Pierre respondeu, pegando a cabra nos braços. – Então, posso entrevista-lo?

– Claro – o cigano se virou para os outros três e disse – Podem sair, por favor? Isso é uma tenda particular.

Os rapazes saíram a muito contra gosto, principalmente o cavaleiro, que era puxado por Fleur-de-Lys.

No tempo em que Esmeraldo ficou sendo entrevistado, Jean e Febo apenas trocaram olhares desafiadores um para o outro, e Jean se divertia ao ver Febo sendo arrastado de um lado para o outro pela sua noiva.

Quando o cavaleiro finalmente conseguiu se livrar da jovem moça por alguns minutos, andou até onde Jean bebia e o encarou.

– O que quer? – Jean perguntou, sorrindo ironicamente.

– Sua cabeça em uma bandeja – Febo respondeu – Que historia é essa de você ficar dando flores a Esmeraldo?

– O que tem? Você deve dar flores para sua noiva também.

Febo queria era avançar contra o pescoço de Jean, e o outro se divertia com isso. Jean e Febo não se odiavam ou algo assim, poderiam até ser amigos, companheiros de batalha, mas quando dois homens querem a mesma coisa é quando a amizade é posta de lado.

– Fique sabendo que esse noivado não vai durar.

– Cara, você vai acabar com seu noivado de sei lá quanto tempo por alguém que acabou de conhecer? Eu conheço Esmeraldo há anos. Eu o mereço.

– Quero ver você tentar.

Os dois não saíriam no braço naquele momento, mas com certeza o clima não ficou dos mais leves.

Depois de uma hora Esmeraldo terminou de relatar tudo a Pierre, que estava fascinado pela historia do cigano.

Os dois saíram juntos para festa, e o poeta teve a chance de ver uma das encantadoras apresentações do cigano. Jean e Febo apenas o observavam incomodados, já tinham que se preocupar um com o outro, não queriam mais um para o clube.

Djali acabou por se afeiçoar muito ao poeta, com certeza a cabra já tinha seu favorito.

Depois da apresentação Esmeraldo nem se deu ao trabalho de se trocar, aproveitou para ir até o amigo, Quasimodo, que brincava com várias crianças perto de seu trono de rei da festa.

– Parabéns majestade – Esmeraldo brincou. – Deve estar muito feliz.

– Estou, muito. E você, como está?

– Bem, por que pergunta?

– Aqueles dois, Jean e Febo, não tiraram os olhos de você em nenhum momento.

O cigano apenas suspirou, passando as mãos lentamente pelos cabelos negros.

– Eles estão me estressando muito.

– Eles gostam de você. O que vai fazer sobre isso?

–. . .Nada, ainda sou muito novo para prestar atenção nessa coisas, não quero ficar pensando em relacionamentos, e muito menos com Febo, que é comprometido.

– A noiva dele é meio chatinha.

– A conheceu?

– Sim, ela me olhou com uma cara como se tivesse chupado limão.

– Como ela se atreve? – o moreno se irritou, ninguém mais poderia julgar Quasimodo.

– Vai deixar Febo casar com uma mulher assim?

Quasimodo sabia como falar com Esmeraldo. A verdade é que o cigano também estava gostando dos dois rapazes, e exatamente por isso não queria escolher. Jean era seu amigo de longa data, o havia protegido quando criança, e Febo havia provado ser muito protetor e um bom cavaleiro.

Esmeraldo pensou por mais alguns minutos até finalmente olhar para seu amigo e dizer.

– Eu não preciso escolher, não preciso deles.

– Mas você gosta deles.

– Gosto, e por isso irei escolher naturalmente, mas agora, preciso cuidar do meu povo, tenho muito que aproveitar agora que somos livres. Algum dia escolherei, quem sabe eles até não encontram outro alguém nesse tempo.

– Você ficará mal com isso.

– Mas aceitarei. Eu posso viver assim, sempre vivi.

– Você é realmente muito independente e forte, mas acho que precisa de alguém.

– Se preciso, não é para agora. Agora, com licença, irei me divertir com eles.

Esmeraldo deu um beijo carinhoso no rosto de seu amigo e desceu do palco onde ficava o trono de Quasimodo.

O moreno foi até onde os dois bebiam juntos.

– Sentiram minha falta? – Esmeraldo perguntou brincando.

– Sempre – os dois responderam juntos.

– Onde está sua noiva? – o moreno olhou para Febo.

– Consegui distraí-la, disse que queria ficar com meus amigos para ficar conversando sobre coisas de homens.

Isso fez com que Esmeraldo e Jean rissem.

No final das contas ninguém precisava se preocupar com escolha naquele momento, apenas. . .curtir o momento.

No festival, todos festejavam e gritavam em comemoração por tudo de bom que lhes havia acontecido. A libertação continuou a ser clamada ao soar de Notre-Dame.


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Notas finais do capítulo

Finalmente, o fim.

Confesso, tentei meu máximo nessa one (aí vem alguém dizer que ficou uma bosta, oh vida). Só mais alguns avisos para finalizar.

Quero agradecer a minha prima, Gabrielle, por ter feito a revisão da one (por que sou preguiçosa para isso) e me avaliado. Sem a ajuda dela vocês teriam sérios problemas com erros que eu acabo deixando passar.

E para finalizar, se você gostou (ou não, por que não sou a única escrevendo) não deixe de ler as outras ones do projeto. Todos os links disponíveis diretamente aqui.

http://disneyinreverse.tumblr.com/fics

Beijos e até a próxima!



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