Observo Ino e Gaara se beijando na piscina. Os movimentos deles parecem ter sido ensaiados muitas e muitas vezes antes de hoje. Quando um mexe uma mão, o outro sabe exatamente o que fazer. Seus corpos parecem se encaixar como se fossem feitos sob medida um para o outro.

Em cada momento que passam separados para recuperar o folego, um não tira os olhos do outro, como se estivessem com medo de perder-se de vista. Como se não pudessem suportar a distancia entre eles.

– Eles são muito bonitos, não é? – me assusto ao encontrar Hinata parada ao meu lado, debruçada na varanda do meu quarto.

– Como você entrou aqui? – pergunto, chegando alguns centímetros para longe dela.

– Ah, o amor... – ela suspira e dá um risinho. – É uma coisa linda, o modo como um termina a fala do outro, como um sabe exatamente o que o outro está pensando, não acha, Sakura?

– Hm, o que isso tem a ver com o fato de você ter invadido o meu quarto?

– Sabe Sakura, eu sempre imaginei a minha vida exatamente como é a vida da Ino. – ela continuou, olhando para a minha amiga com um olhar sonhador. – Ser desejada por muitos homens, ficar com quantos quiser... Mas você sabe o que me fez mudar de opinião? – ela se virou para mim. – Sabe o que me fez mudar de opinião sobre isso?

– Hm... – comecei a tamborilar os dedos no apoio da varanda, mas logo paro e me seguro a ele com firmeza, um pouco assustada com o olhar da garota à minha frente. – Não, não sei Hinata. Acho que essa é a hora que você vai me dizer, certo?

– Eu mudei de opinião por causa do... – ela fica vermelha e abaixa um pouco a cabeça, escondendo o rosto atrás da mão durante alguns segundos. – Por causa do Naruto.

Fico em silencio, sem saber o que eu deveria dizer. O que se diz quando alguém te confessa que gosta da pessoa que você gosta?

– Me desculpe por ter entrado no seu quarto sem bater, é porque eu sempre quis te conhecer, sempre quis conversar com você... Desde quando eu lia artigos em revistas sobre você, sempre imaginava como seria se fôssemos amigas, e agora... Bem, você está aqui! – ela ri. – Me sinto próxima de você de alguma forma. Sinto que posso confiar em você.

Tento dar meu melhor sorriso, mas acho que tudo que consegui foi fazer uma careta.

Hinata me pega de surpresa com um abraço apertado, me balançando de um lado para o outro. Ela tem um cheiro forte e artificial de canela que me deixa enjoada.

– Ah, eu sabia que você iria me entender! Obrigada, muito obrigada! – ela diz, ainda me balançando para a direita e para a esquerda. Coloco a mão em seu ombro e me afasto, sentindo minha cabeça girar pelo enjoo.

– Obrigada pelo que exatamente?

– Por não me trair.

Ela diz e se vira, indo embora. E eu continuo ali, observando Ino e Gaara se beijando como se não houvesse amanhã. O enjoo me deixa com dor de cabeça, as palavras de Hinata me deixam com vergonha, mas a vida continua do lado de fora, como se nada demais tivesse acontecido.

Vou até o banheiro e lavo o rosto, tentando colocar as ideias em ordem. Quando me olho no espelho, tudo que vejo é alguém que precisa urgentemente decidir algumas coisas em sua vida.

Desço as escadas e saio pela porta dos fundos, tentando não interromper o casal na piscina. Meu estomago ronca enquanto caminho, me condenando por ter acordado tarde e não ter tomado café da manhã.

– Ei, calma – Naruto me obriga a parar de andar, me prendendo quando me segura pelos ombros. – Está indo para onde?

– Da onde você veio? – pergunto, dando dois passos para trás, tentando manter o máximo de distancia possível, mas sem parecer mal-educada. A ultima pessoa que eu queria encontrar no mundo era Naruto.

– Hm, eu estava indo encontrar uns amigos para almoçar fora – ele responde, com um olhar curioso. – Aconteceu alguma coisa?

– O quê? Claro que não. Eu só achei estranho você brotar do chão do nada.

– Não se preocupe – ele coloca o braço ao redor do meu ombro e começa a caminhar em direção a um carro branco estacionado perto da calçada -, sempre vou estar por perto quando você menos quiser.

– Você não faz ideia... – comento, rindo de nervoso comigo mesma.

– O que acha de vir conosco?

– Não estou com fome – respondo, tentando tirar seu braço dos meus ombros. Meu estomago ronca, me denunciando. Naruto ri e me aperta mais para perto de si.

– Não, claro que não está.

Ele abre a porta de trás e me dá passagem. Olho para Naruto. Seus olhos azuis tem um brilho diferente do que nos outros dias, como se me desafiassem a descobrir o que havia de diferente.

Entro no carro, me odiando por isso.

Naruto entra depois de mim, fechando a porta e logo o carro começa a andar. Uma mulher dirigia, enquanto um homem com um palito preso entre os dentes e o cabelo preso em um rabo de cavalo estava no carona.

– Não vai nos apresentar a sua nova namorada, Naruto? – o homem perguntou, virando para trás para me olhar. Tenho a sensação de que já o vi em algum lugar.

– Ah, quem me dera – Naruto responde, coçando a cabeça com um sorriso no rosto. – Mas somos só amigos. Essa é Sakura. Sakura, esse é Shikamaru.

Me seguro para não demonstrar que já sabia que ele era. Não, que já sabia quem ele era não, que sabia coisas sobre ele. Olho para o homem à minha frente, sem entender muito bem. Ele não satisfazia o “tipo” de Ino.

Ele tinha a pele cor de areia e cabelos pretos compridos, presos em um rabo de cavalo pontudo. Os olhos eram finos, quase fechados, mas ainda assim aparentavam estar observando tudo. Pareciam estar vendo até demais. Seu sorriso era enigmático e ele não era muito bonito. Não o tipo de bonito que vai pra cama com Ino.

Sorrio para ele, que me responde com um aceno de cabeça, e eu sinto como se tivesse perdido alguma coisa. Não, eu não perdi nada, foi ele quem viu coisa demais.

– Seja bem vinda ao nosso grande circulo de amizades, Sakura – ele ironiza. – Essa é minha esposa, Temari.

A moça acena para mim e vira para me dar um sorriso durante um segundo, logo voltando sua atenção para o transito outra vez. Ela tem cabelos loiros cor de palha e olhos claros. Parecia ser focada e firme nas próprias decisões, mas essas não passam de suposições.

Tive pena dela. A irmã de Gaara.

– Sakura, responda-me uma pergunta – Shikamaru me chama a atenção outra vez, mexendo o palito entre seus lábios. – Se você e Naruto são só amigos, por que você está aqui?

– Hm, desculpe, o quê?

– Ah, eu estava observando vocês do lado de fora – ele responde, como se fosse a coisa mais normal do mundo. – Vocês conversaram como se fossem bastante próximos. E não diga que não são, porque você não sairia de casa sem saber para onde vai com uma pessoa que não é próxima de você.

Abro a boca para responder, mas não sei o que dizer. Fecho a boca e sinto minhas bochechas esquentarem.

– Isso é mais que uma resposta, obrigado – ele diz, e se vira outra vez para frente, rindo. Temari dá um tapa no braço do marido.

– Pare com isso! Você está constrangendo a garota... – ela diz, em tom autoritário, mas sua voz vai ficando mais baixa até se perder em um suspiro. Ela estaciona o carro e sai sem dizer uma palavra. Shikamaru sai o mais rápido que pode e vai atrás da esposa.

Olho para Naruto, sem reação.

– O que houve? – pergunto, sem saber o que fazer. Eu devo continuar no carro? Vou atrás dela? Finjo que nada aconteceu e vou almoçar?

– Ah, ela deve ter tido outro enjoo ou coisa assim, nada para se preocupar. – ele pousa os braços na nuca, olhando preguiçosamente para o teto. – Ela está grávida de dois ou três meses, acho. Mas acho que ela não é a questão aqui.

Ino escolheu logo o marido da irmã mais velha grávida de Gaara para ir para a cama? Sério isso?

Olho para as minhas mãos, observando a diferença no tamanho das minhas unhas. Eu não deveria tê-las roído. Se elas já estavam mal depois de uma semana sem manicure, depois disso então...

– Sakura – Naruto chamou, se sentando ereto no banco, seus olhos fixos em mim. Detesto quando ele olha diretamente para mim. – O que aconteceu?

– Nada, Naruto – respondo, sorrindo.

– Já percebeu que cada vez que conversamos sozinhos, tem alguma coisa nos impedindo? – ele pergunta, o sorriso um pouco apagado.

Não respondo, lembrando de Hinata. Obrigada por não me trair. Me sinto mal por estar aqui. Me sinto mal por estar tão próxima de Naruto. Isso não parece certo.

– Sakura, se você não me disser o que está acontecendo, eu não vou poder te ajudar.

Lembro de Hinata, sentada na própria varanda fingindo ler um livro enquanto observa Naruto sentado perto da piscina, seus olhos claros percorrendo cada mínimo detalhe do corpo dele, guardando cada parte para poder se lembrar depois. Eu mudei por causa do Naruto.

– Qual sua relação com Hinata? – pergunto, não conseguindo me conter. Ele revira os olhos.

– Corrija-me se eu estiver errado, mas acho que já conversamos sobre isso.

– Não, ainda não – me ajeito no banco, me sentindo desconfortável de repente. – Eu quero saber o que vocês têm de verdade, o que vocês já tiveram.

– Eu já disse, somos só amigos. – fico em silencio, esperando o resto e ele revira os olhos outra vez. – Eu nunca tive nada com ela, nunca namoramos, nunca ficamos, nunca nos beijamos e eu não me lembro de tê-la abraçado sem que ela tenha desmaiado. Eu e Hinata sempre fomos e sempre seremos amigos.

– Como você pode falar uma coisa assim sabendo que ela gosta de você?

– Do mesmo jeito que você consegue me perguntar isso sabendo que eu gosto de você.

Sou pega de surpresa e coro.

– E-eu nunca disse nada como isso – respondo, desviando os olhos dos dele.

– Então admite que gosta de mim?

– Admito que está na hora de pararmos de conversar sobre isso – digo, cruzando os braços e tentando fingir que nada aconteceu enquanto Shikamaru e Temari entram no carro outra vez.

– Me desculpem por isso, tem acontecido mais do que eu gostaria – Temari diz, passando as costas da mão sobre o próprio queixo, secando-o.

– Aconteceu alguma coisa enquanto estávamos fora? – Shikamaru pergunta, olhando de mim para Naruto, e outra vez para mim.

– Não – respondo -, está tudo na maior e mais perfeita ordem.

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– Você é idiota ou o quê? – Ino pergunta, me apontando uma colher de metal cheia de sorvete.

– Cale a boca, você não pode dizer nada – respondo, enchendo a boca para não precisar dizer mais nada pelos próximos vinte anos.

– Ele está de quatro, apaixonado, no chão de amores por você e você vem falando sobre a Hinata? Você não percebeu o quanto isso é broxante?

– Você acabou de falar que ele está no chão de amores por mim?

– Ah, não mude de assunto! – ela me ameaça com a colher outra vez. – Você sabe o que eu quis dizer, ele já deu mais do que provas que gosta de você, mas o que você deu em troca? Nem mesmo um beijo!

– Você percebe o que está dizendo? Está dizendo para eu trair duas pessoas: a Hinata e o Sasuke!

– Ah, grande coisa! Uma dessas pessoas é uma garota tímida que não tem coragem de chegar perto de Naruto e foi fazer uma chantagem emocional com você para não ter concorrência. E outra dessas pessoas é o Sasuke, por favor, Sakura, seja racional pela primeira vez na sua vida.

– O que você quer que eu faça então?

– Pare de se preocupar com os outros e preste atenção em si. Você está feliz com isso? Está feliz dando um fora em Naruto por causa de um marido idiota e uma garota que você mal conhece? – mordo o lábio, sabendo que ela tem razão. – O que eu quero que você faça? Faça um favor para si mesma: seja feliz.