O tempo é uma coisa estranha. A distância… Bom, a distância pode fazer o tempo passar mais rápida ou lentamente, dependendo da forma como você lida com o que te rodeia.

Nos meses que se seguiram após o início do namoro de Rose e Corin, os momentos em que ficava sem ela eram quase uma tortura. Uma dor física que só não o enlouquecia porque a rotina o entorpecia, como morfina.

Scorpius achava que, com o tempo, com a distância, quem sabe as situação melhoraria. Albus também sempre estava por perto, tentando levantar seu ânimo com aquele jeito típico dele.

Mas o tempo e a distância só pareciam tornar tudo cada vez mais pior.

Depois das férias de verão mais miseráveis de sua vida - nas quais quase não viu Rose e seu contato com Albus fora limitado, já que ele ficara de castigo por não ter ido bem nos N.O.M’s -, o sexto ano letivo começava. Assim, mais confuso do que nunca - e aquilo era difícil, considerando tudo pelo que já passara em sua vida -, Scorpius não sabia como se sentiria ao ver Rose e Corin andando novamente pelos corredores de Hogwarts, exalando toda aquela paixão que o enojava.

Entretanto, depois de uma semana de aula, Scorpius percebeu um padrão: Rose relutava em ficar próxima de Corin e, apesar de, vez ou outra, ainda os flagrar aos beijos, ela parecia querer manter distância do namorado.

E, é claro, Scorpius não poderia evitar ficar mais feliz com isso. Se Rose ficasse menos tempo com o apanhador da Grifinória, mais ela ficaria com ele.

Aos poucos, parecia que a amizade deles voltava a crescer. Scorpius sabia que ela era forte o bastante para não fraquejar por causa de um simples namorado ou de um ciúme idiota. Rose começara a esperá-lo no fim de suas aulas, sempre animada para conversar a respeito da escola ou trocar uma ideia sobre os livros que lera durante as férias. Porém, sempre que Albus mencionava Corin, ela ficava imediatamente inquieta e desconversava. Scorpius poderia até perceber uma certa tristeza que não pertencia àqueles olhos.

Ele tinha vontade de matar Albus naqueles momentos.

Um dia, os três estavam estudando quando Albus teve que sair para procurar Lily e James depois de receber uma carta de seus pais. Quando Scorpius levantou o olhar para Rose, depois de cinco intermináveis minutos de silêncio, ele a viu observando o nada.

Aquilo estava ficando cada vez mais recorrente. Aquilo, os suspiros, os silêncios, e os olhares vazios.

Scorpius estava oficialmente preocupado.

“Está tudo bem com você, Rose?” Ele perguntou.

Ela pareceu se assustar com o barulho repentino, mas pelo menos voltou a prestar atenção nele. Rose balançou a cabeça por alguns instantes e então sorriu - um sorriso que não chegava aos seus olhos.

“É claro que estou bem, Scorpius! Por que a pergunta, seu bobo?”

“Bom,” ele estalou a língua, levantando as sobrancelhas de forma óbvia. “Porque não parece. Desde quando você começou a mentir para mim, Rose Weasley?”

Ou para si mesma, completou em pensamentos.

Rose suspirou e soltou uma risadinha nervosa.

“Eu deveria saber que você seria o primeiro - talvez, o único - a perceber.” Ela olhou para ele com seus orbes azuis, feridos. “Você sempre percebe.”

Scorpius se levantou imediatamente, sentando-se ao lado da amiga. Puxou a cadeira para mais perto dela e então acolheu-a em seus braços, aceitando toda e cada lágrima com o carinho e paciência que mereciam. Ver Rose chorando, ainda que não soubesse o motivo, despedaçava-o por dentro. Se pudesse, se houvesse algum feitiço para fazer a dor passar, mesmo que isso o matasse… Ele não hesitaria em lançá-lo.

Alguns minutos se passaram até Rose finalmente se acalmar um pouco. Ela limpou o rosto dos vestígios das lágrimas, embora seus cílios ainda permanecessem úmidos e seus olhos estivessem mais azuis contra o vermelho.

Scorpius estava se contendo fortemente até o momento para não perguntar a ela o que diabos a deixara tão descontrolada ao ponto de chorar daquela forma. Nem ele jamais a vira tão instável assim. Geralmente, Rose era um poço de confiança, controle e auto-estima. Vê-la naquele estado, além de preocupá-lo imensamente, também o fazia sentir como se estivesse pisando em um campo minado. Rose era conhecida por sua imprevisibilidade, assim como por seu ânimo sempre alto. Tê-la se desmanchando em seus braços não era algo que Scorpius esperaria dela em momento algum, mas não por ser imprevisível e sim por ser impossível.

“Rose,” ele tomou coragem. Ela o olhou. “Por acaso, isso tem algo a ver com Cori…?”

Mas ela não o deixou terminar.

Antes que Scorpius pudesse perceber, os braços dela já estavam ao redor de seu pescoço, seus olhos fechados e sua boca colada à dele. Há mais de um ano ele não sentia o sabor daqueles lábios, mas não se lembrava de alguma vez tê-los sentido tão salgados assim.

Seu coração espremeu em seu peito e Scorpius fez a única coisa que esteve se martirizando por querer tanto desde que Rose havia terminado o namoro deles.

Ele abriu os lábios e correspondeu ao beijo.

Ficaram ali, apenas sentindo um ao outro, por um bom tempo. Acariciaram cabelos, bochechas e pescoços, sorriram como se estivessem voltando ao lar depois de uma longa viagem, e teriam continuado assim se não tivessem ouvido o som da porta se abrindo e os passos sonoros de Albus indo naquela direção. Soltaram-se, os rostos ruborizados, e Scorpius rapidamente se levantou para retornar ao seu lugar.

“E aí, evoluíram em algo?”

Scorpius e Rose sorriram, cúmplices.

O tempo e a distância são coisas estranhas.

Bem como os segredos.