Megurine Luka observou fatigada os miúdos fragmentos que se dissipavam na água, provindos da pílula alaranjada repousando ao fundo de um copo de vidro. Um suspiro escapou intencionalmente de seus lábios, antes que a comandante virasse o conteúdo do copo em sua boca. Sentiu o gosto amargo do analgésico, já parcialmente dissolvido, rasgando a garganta quando engoliu a mistura. Ela estava realmente descontente.

— Tudo bem. - Megurine Luka disse massageando as têmporas - Vamos começar.

Os membros do departamento de elite estavam todos ao redor de uma grande mesa na sala de reuniões. O clima que pairava em tal recinto era tenso. Ninguém se pronunciou nem uma vez sequer, os presentes preferiram deixar a comandante tomar as rédeas da situação.

— Rin, Yukari... - Luka pronunciou olhando para as duas policiais. - Vocês podem me dizer, como o assassino mais procurado atualmente, infiltra-se na festa de uma policial, mata alguém e vocês duas sequer percebem alguma coisa?!

Luka estava irada. Yukari e Rin apenas baixaram a cabeça, como duas crianças sendo repreendidas pela mãe.

— Não foi uma pergunta retórica. - A comandante avisou esperando sua resposta.

— E o que quer que nós façamos, comandante? - Yukari rebateu sob o olhar surpreso de Rin. Ali estava, a criança mais velha ousando desafiar o adulto. - Era nossa folga, quem iria imaginar que isso ia acontecer? Quer dizer, é muita coincidência! Sim, eu admito que perdi o controle sobre a festa, eu não imaginaria que tantas pessoas estariam presentes, pessoas que eu nem mesmo eu conhecia. Mas qual é o ponto dessa discussão? Não temos pista alguma do assassino, nem de um possível suspeito, que sentido há em manter-se preso a uma coisa que não nos levará a lugar algum nesse caso?

Luka observou-a indignada por alguns segundos, Yukari parecia ter perdido todo aquele ar inocente que sempre esbanjava, mas no fim, ela era apenas como uma criança. Detestava ser repreendida. E a comandante sabia disso.

— O ponto, detetive Yukari, é que uma pessoa foi morta. Não previu isso, certo? Mesmo sem uma provável pista, esse incidente, mesmo que contra sua vontade, está ligado ao caso e nós não podemos apenas ignorá-lo.

Yukari mordeu o lábio inferior aceitando que não tinha razão alguma, baixou novamente a cabeça. Ela provavelmente rotulava Megurine Luka com piores nomes possíveis nesse momento.

— Comandante... - Chamou Rin ousando pronunciar-se pela primeira vez - Não querendo desafiar sua autoridade, mas eu acredito que ambas estão erradas...

Luka lançou-lhe um olhar interrogativo, como se pedisse à Rin para se explicar.

— Já concluímos que deduzir um suspeito por agora é algo improvável, não creio que descobriremos sobre o serial killer, isso é certo. Mas esse caso possui uma peça chave para prosseguirmos com as investigações. Veja bem, eu pedi a cópia das fotos do cadáver para Neru e há uma coisa que me incomoda.

— E o que seria? - Luka indagou-lhe

— Bem primeiramente a forma que a garota foi morta. Nosso assassino tem costume de matar suas vítimas sufocadas, mas devido à última garota, Flower, eu descartei essa informação... O problema vem com a maneira que os cortes foram feitos.

Rin colocou diversas fotos sobre a mesa para que todos os presentes vissem.

— Essas são fotos dos cortes feitos na primeira, terceira, quarta, quinta e sexta vítimas. Comparem com os cortes das fotos da segunda e dessa última vítima. Conseguem perceber? - A loira indagou para checar se alguém estava seguindo seu raciocínio.

— Os cortes nos pulsos da primeira, terceira, quarta, quinta e sexta vítimas parecem mais profundos... - Gumi observou.

— Exatamente! Os cortes delas parecem mais profundos porque foram feitos com o objetivo de acertar a veia radial, isso significa que foi nosso assassino quem os fez. Opostamente estão a segunda e a sétima vítima, os cortes apenas foram feitos, de qualquer maneira, só para se assemelharem com as vítimas do assassino original.

— Está querendo dizer que Miki, a última vítima, foi morta não pelo nosso serial killer, mas pelo segundo assassino? - Aoki Lapis indagou. - Mas como pode ter tanta certeza por conta de um motivo tão simples e quase irrelevante?

— Meu pai era um militar, antes de entrar para o exército ele era um detetive como eu. Ele me ensinou muito sobre assassinos em série. O ponto é, eles não são considerados assassinos em série por razão nenhuma, há todo um princípio envolvido, cada morte é meticulosamente planejada... Cada um tem sua própria forma de matar. Se nosso assassino escolheu o fato das vítimas aparentarem terem se suicidado como forma de "identidade", ele terá um trabalho cuidadoso ao fazer os cortes. Algo que o segundo assassino não teve, porque não haveria motivos para ligar para tais detalhes... Eu sei que é algo simples mas--

— Desculpe interromper. - Uma voz feminina advertiu. Era Neru, estava parada na porta da sala de reuniões. - Comandante Luka, tem algo que quero mostrar-lhe.

— Deixe para mais tarde Neru. Estamos chegando a um ponto crucial aqui. - Luka respondeu sem muito interesse.

— Eu acho que vai querer ver isso comandante. - Neru respondeu adentrando-se ousadamente na sala. - É sobre a segunda vítima. Eu a identifiquei.

[...]

— Estamos mesmo aptas a fazer tal coisa? - Tone Rion indagou fazendo bico enquanto analisava as várias plantas da prisão South River.

— Está duvidando de suas habilidades Rion? - Mayu perguntou com um ar brincalhão. - Quer que eu lhe encoraje? Tudo bem. Oh pequena Rion, precisamos de você! É o ponto crucial dessa operação. - A loira dramatizou com as costas da mão direita sobre a testa.

— Não é isso. - Rion emburrou. - Aquele garoto é realmente tão necessário assim? South River é uma fortaleza, eu não quero fazer mais desvios que o programado...

— Yuma entra com o pessoal, IA é experiente, Yukari vai comandar toda a operação e eu entro com as armas. Quanto a você... Você nos fornece o conhecimento do território. Plantas de todos os andares, patrulha dos drones, patrulha dos guardas, código das portas e celas... Resumindo, você é nossa pequena espiã.

— Eu não sou espiã. - Rion fez um muxoxo. - E nem pequena. Sou uma especialista em tecnologias e explosivos. Mas Mayu, eu devo dizer que você está com um bom humor hoje... Posso perguntar o porquê disso?

— Não é nada... Digamos que recentemente eu apenas me livrei de um peso que andava me incomodando...

— Um peso? De que tipo?

— Não é da sua conta. - Mayu respondeu sorrindo.

Rion emburrou novamente.

— Onde está Yukari? Eu gosto mais dela, ela não é má comigo.

— Yukari está em uma reunião no trabalho. Ela não pode brincar conosco agora. - Mayu respondeu acariciando o pequeno coelho de pelúcia que repousava em seu colo.

[...]

— Tem certeza disso comandante? - Yukari indagou à Megurine Luka.

— Absoluta. - A rosada respondeu. - Essa garota, Cul... A segunda vítima... Já ouvi falar dela. No inicio eu não dei muita atenção, mas os boatos correm...

— Quem exatamente são eles? Isso é, os dragões vermelhos? - Rin indagou.

— São uma espécie de gangue. - Aoki Lapiz respondeu. - Eles deram muito trabalho a comandante e Kamui Gakupo há algum tempo atrás. Extremamente influentes e poderosos, são como uma máfia... Mas eu pensei que o departamento tivesse acabado com todos os membros.

— Nem todos. - Luka respondeu levantando-se de sua cadeira na ponta da mesa de reuniões e caminhando até a grande janela de vidro que tomava conta de toda a parede do lado esquerdo da sala para admirar a cidade. - A operação aconteceu há certo tempo atrás... Um pouco antes da primeira vítima e do assassino aparecerem... Gakupo, Meiko e eu liderávamos cada um seu próprio esquadrão. Após a última eleição, o prefeito decidiu acabar com a influência que os dragões vermelhos tinham e tirar a polícia do mar de corrupção. Nossas ordens eram de prender todo o grupo e nós as cumprimos... Parcialmente. Os dragões vermelhos não eram só conhecidos como a máfia chinesa, eles eram a própria máfia chinesa. Em uma troca de tiros, acabamos matando o que eles chamavam de "Shan Chu", o "Mestre da montanha" ou "Dragon Head"... Era o líder.

— Mas se o líder foi morto, porque o grupo ainda continuou existindo? - Rin indagou.

— Porque outro líder surgiu. - Megurine Luka suspirou. - Havia uma garota junto ao líder, ela era tratada com mais respeito que o restante dos membros. Deduzi que possuía relações com o líder, mas só tive certeza quando nós o matamos. Um pequeno grupo conseguira fugir junto à garota. Nós não conseguimos pegá-los, mesmo com investigações, eles acabaram se isolando e sumindo do mapa. Pensamos que sem o líder, o fim dos dragões vermelhos já era certo, mesmo com uma porcentagem dos membros foragida... Eu estava certa disso até ver o rosto dessa garota. - Luka disse balançando a foto da segunda vítima entre o dedo indicador e o médio. - Mas não tenho como ter certeza totalmente. Por isso proponho essa operação.

— Está certa de que outra operação envolvendo disfarce é o melhor nessa situação? - Gumi perguntou arqueando a sobrancelha.

— Esse caso é muito mais complexo do que o evento no leilão. Eu sei que exigir isso de vocês agora pode soar um pouco egoísta, temos um longo caminho pela frente. Por isso essa operação será dividida em duas partes. - Luka explicou. - A última vítima, Miki. O irmão dela é Kaito Shion, ex-criminoso. Já foi um dos criminosos mais procurados, nos deu muita dor de cabeça até decidir largar essa vida, mas esse não é o ponto. Considerando o passado de Kaito, é possível que Miki tenha se envolvido com esse mundo em algum momento.

— Isso poderia ser uma das razões para a morte dela, não? - Rin adverteu.

— Exato. Se pensarmos dessa forma, há uma ligação entre a segunda e a sétima vítima. Cul e Miki. O problema é que não podemos concluir nada sobre isso, mas é a única pista que temos desde a morte da testemunha. - Luka fez uma pausa dramática antes de prosseguir - Dividi-los-ei em dois grupos; Haku, Aoki, Yukari e Piko. Vocês se infiltrarão nos dragões vermelhos, quero que descubram tudo que puderem sobre Cul. Essa é a parte mais perigosa dessa operação, terão o apoio de Iroha com vocês. Rin e Gumi, vocês juntamente com Seeu, ficarão responsáveis por descobrir sobre Miki. O restante está dispensado.

— Seeu? - Rin cochichou para Gumi na esperança de esclarecer quem era tal membro que ela desconhecia.

— É melhor que você nem saiba... - A esverdeada alertou com uma careta.