Virgin Suicides escrita por Sachie


Capítulo 21
Capítulo XXI


Notas iniciais do capítulo

Dessa vez eu não demorei >w< Fiquem aqui com mais um capítulo!



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O céu da madrugada ainda permanecia escuro e sombrio. Somente algumas estrelas pontuavam aquela grandiosa tela negra, ofuscadas pela luz da imensa lua cheia. Esta, que era refletida belamente nas placas translucidas de vidro que recobriam os grandes prédios da cidade. Apenas uma área da capital não era atingida por tal luz, tão pura e bela. Uma área mais sombria e escura que aquele céu. E certo clube um tanto vulgar, localizava-se bem ao centro desta.

Kaito Shion admirava com certo orgulho seu clube, que neste momento encontrava-se vazio. Um evento raro, ainda mais em uma madrugada. Mas fora decisão de Kaito que as coisas ficaram assim, com Miki fora, ele sabia que não conseguiria pensar em mais nada se não sua pequena irmãzinha. Sim, ele sabia que Miki era um tanto independente, quem trabalha cortando cadáveres não precisa de muita proteção, mas seu instinto de irmão mais velho insistia em lhe incomodar. Então foi assim, que mesmo com clientes revoltados, o Shion decidira dar uma folga ao clube e a si mesmo. E ficou ali, sentado próximo ao bar, observando o estabelecimento e revivendo velhas memórias.

Kaito lembrou-se de quando comprara o lugar, na época era um bordel imundo com uma assustadora infestação de ratos. Mas mesmo com péssimas condições, a causa da venda foi a morte do dono anterior. O azulado recordou-se do grande sorriso que o corretor de imóveis esboçara quando Kaito decidira fica com o lugar. Compreensível. O lugar era terrível, mas o Shion vira potencial nele, não que alguém acreditasse que algo de bom fosse sair daquele ninho de sujeira, sua irmã Miki principalmente.

Muitos sempre o perguntaram sobre o porquê de ter largado a vida de crimes, mesmo com tamanha reputação. Kaito sempre dera a mesma resposta, mas a verdade é que fora tudo por Miki. Já fazia algum tempo desde que ambos viraram irmãos. Se sua memória não falhasse, fora na segunda ou terceira vez que saíra da cadeia. Pegou de volta suas coisas na saída, mas viera algo a mais. Duas notícias que na hora Kaito não achou de todo positivo. Seu pai havia falecido. Não ficou surpreso, o velho sempre se metia com gente perigosa, não foi um espanto saber que morrera baleado em uma briga de gangues. O problema vinha com a segunda notícia. Seu pai, em uma de suas diversas saideiras, acabara engravidando uma prostituta. E agora cá estava ele, Kaito Shion, um ex-presidiário de 19 anos frente a frente com uma garotinha de cabelos vermelhos a qual ele nunca nem vira na vida, mas que agora passaria a ficar sob sua guarda.

Bem, as coisas não foram tão simples assim, Kaito era um criminoso antes de tudo. Como cuidar de uma criança? Lembrou-se dos vários testes psicológicos que teve de fazer com uma psicóloga, que para Kaito era a mulher mais gorda que ele havia visto em toda sua vida. Não era sua vontade, claro, ele não dava a mínima para aquela menina que não falava uma palavra com ele. Ela era um problema do seu pai, e pouco importava para ele. Mas não suportou o fato de abandoná-la, como sua mãe fizera consigo e com seu velho. E quando finalmente recebeu a guarda dela, Kaito não sabia nem por onde começar; Escola, roupas, saúde, comida... Primeiramente deveria tentar criar uma base para a relação que ambos viriam a ter, este foi o principal desafio. Principalmente por causa de sua personalidade, na época extremamente egoísta e sociopata. Mas Miki não era de todo tão diferente, a garota não falava sequer uma palavra, não que não soubesse falar, apenas não via motivos para tal ato e com tudo que ela passara, Kaito não a julgava. Mas ela poderia se esforçar um pouco para que as coisas começassem a dar certo.

E assim que as coisas foram, com um tempo Miki começou a se abrir com ele, e o jeito individualista de Kaito mudava pouco a pouco. Quando comprou o estabelecimento, o único pensamento que passava em sua cabeça era o de poder dar uma vida digna à irmã. Claro, transformar um bordel em um clube de strip-tease não é lá algo muito digno, mas agora ele ganharia a vida assim, de forma honesta... Ou o mais honesto que conseguisse ser. Foi um imprevisto quando Miki decidiu entrar na vida dos crimes, a antiga vida que ele levara. Não concordou inicialmente, mas sabia que sua irmã era cabeça dura, e de modo algum seguiria suas ordens quando estas se tratassem sobre a forma como ela viveria sua vida, então no fim acabou cedendo. Mas com restrições, fez Miki prometer que não chegaria ao assassinato, Kaito sabia o peso de tirar uma vida. E embora fosse um sociopata, não queria que a irmã passasse por isso.

Quando Len Kagamine adentrou o clube, os primeiros raios de sol já começavam a dar as caras no horizonte. O loiro demonstrava uma expressão séria assustadora, mas ainda se era notável certa aflição por baixo daquela atmosfera medonha que o envolvia.

— Len? O que faz aqui? - Kaito indagou um tanto surpreso e confuso.

O Kagamine não respondera. Ao invés disso, subiu as escadas até o laboratório de Miki. Kaito o seguiu.

— O que quer? Pensei que a festa só terminaria ao amanhecer... - O azulado indagou novamente.

— Preciso da chave do laboratório de Miki. - O loiro ignorou-o mais uma vez estendendo a mão para que o Shion lhe entregasse o objeto.

— O quê? Por quê? O que diabos está acontecendo?

— ANDE LOGO E ME DÊ! - Len gritou irado, ainda assim seu rosto não demonstrava expressão alguma.

Kaito negou-se, aquilo tudo estava muito estranho, onde diabos estava Miki?

O Kagamine suspirou, virou-se para a porta do laboratório. Não precisava de todo modo da chave, só de entrar ali dentro, não importa o meio que fosse usar. Então se preparou, respirou fundo e atingiu a porta com um chute tão forte que as dobradiças quase se partiram.

Len adentrou o recinto apressadamente, fez um pequeno tour com os olhos rapidamente por todas aquelas fotos coladas na parede. Suas fotos. Seu rosto e corpo estavam estampados naquelas imagens de todas as formas e ângulos possíveis. Ele suspirou, garotas como Miki eram realmente problemáticas. Precisava se livrar daquilo de forma rápida, então não tardou em revirar os reagentes e produtos químicos que Miki mantinha no laboratório, para finalizar o trabalho de sua motosserra. Não que ela não confiasse na arma, mas nada superaria a sensação de se livrar de restos com um punhado de ácido.

O loiro abriu o pequeno armário onde Miki mantinha aquelas armas químicas. Precisava de algo preciso. Algo que queimasse rápido e não deixasse cheiro, resquício ou fumaça. Passou os olhos pela prateleira dos ácidos. Sulfúrico e nítrico. Era isso, nitrato de celulose, algo fácil e rápido. Se usasse da maneira correta, poderia sumir com aquelas fotos literamente em um piscar de olhos. Por sorte Miki já havia começado parte da síntese da nitrocelulose, ela deveria estar no meio de algum trabalho quando Yukari a convidou para a tal festa.

Colocou as luvas e a máscara de gás e preparou-se para terminar com aquilo. Kaito Shion ainda o observava com uma expressão confusa na face.

— Melhor se afastar. - Len avisou, sua voz saiu abafada por causa da máscara. - Se respirar o gás por mais de alguns minutos, você morre.

O Shion obedeceu.

Len abriu a caixa transparente e lacrada aonde se encontrava a nitrocelulose. Altamente inflamável, sempre usada por mágicos em diversos truques... Ou como base de explosivos. A nitrocelulose podia queimar sem deixar resquícios, mas sua síntese consistia na mistura de dois ácidos e uma base, algo extremamente perigoso que liberava um gás mais perigoso ainda. Miki lacrara a caixa para que pudesse respirar no mesmo ambiente onde ocorria a síntese.

— Len, o que você vai fazer? - Kaito indagou, sua voz soou estranha porque ele tampava o nariz.

O loiro novamente não respondera, arrancou rapidamente todas as diversas fotos suas que estampavam as paredes do laboratório de Miki e amontoou-as em um só lugar. Ele retirou a máscara por fim.

— Tudo bem, não há necessidade para isso. Miki já havia feito a síntese, pode respirar sem problemas.

O Shion soltou o nariz aliviado e sugou o máximo de ar que pode para dentro dos pulmões. Agora ele queria respostas. Mas antes que pudesse fazer alguma pergunta, Len já havia terminado o que quer que estivesse fazendo. Foi rápido, absurdamente rápido na verdade. Ele apenas viu quando o Kagamine colocou fogo nas fotos juntamente com o que estava dentro da caixa. Uma chama imensa surgira e desaparecera em menos de um segundo, e em um piscar de olhos, as fotos haviam sumido.

Len olhou através da janela. Podia ouvir as sirenes e ver as viaturas ao longe.

— Merda... - Praguejou.

Agora era tarde para usar a entrada da frente. Voltou as orbes para a saída de incêndio que havia próximo à janela. O laboratório de Miki fora realmente projetado perfeitamente, se algo desse errado durante o uso de produtos químicos durante seu "trabalho", ela poderia facilmente escapar por ali. E era isso que Len faria agora. Decidiu ficar com as luvas para ocultar suas digitais, apoiou-se no parapeito da janela e preparou-se para pular nas escadas da saída de incêndio.

Kaito permanecia sem entender absolutamente nada, pensou em impedi-lo, mas do que adiantaria? Ele apenas pode ficar lá parado com uma expressão boba no rosto.

— Desculpe... - Len sussurrou para o azulado antes de fugir.

De inicio Kaito não entendeu muito bem e Len não parecia que sentia muito pelo que quer que tenha feito, mas ele era um psicopata afinal. Talvez dissera aquilo só por convenção social... Quando cerca de três viaturas chegaram ao clube, Kaito enfim compreendeu. Compreendeu o porquê de Len agir daquele jeito, compreendeu o porquê de ele queimar suas fotos no laboratório de Miki, compreendeu o porquê de Miki não ter voltado junto à Len, e como poderia? Miki nunca mais voltaria para casa, sua irmã estava morta.

[...]

Rin Kagamine deu mais um gole no café que já havia ficado frio, depois massageou as têmporas. Aquela noite estava sendo-lhe um tanto incomoda. Poxa, era sua noite de folga! Será que não poderia ficar um dia sem presenciar ou trabalhar com assassinatos?

Voltou os olhos para a garota à sua frente. Ela a encarava de uma forma estranha, como se ambas fossem inimigas há muito tempo. Tirando esse fato, a tal garota era até que bem bonita, tinha um estilo um tanto incomum, como uma daquelas bonecas antigas que se vê em filmes vitorianos... Mas esse não era o ponto agora. Rin estava descontente. Luka Megurine designara à ela e a Gumi a tarefa de interrogar os convidados, enquanto a comandante e mais alguns membros foram notificar o único parente da garota morta.

— Então, senhorita... - Rin parou, esperando que a garota lhe dissesse seu nome.

— Mayu. - Ela respondeu, obviamente forçando um sorriso.

— Senhorita Mayu, me diga, onde estava quando o assassinato ocorreu? Por volta de meia-noite. - Gumi disse finalizando para Rin.

— Bem, eu...

E antes que a garota respondesse, a porta da sala do interrogatório abriu brutalmente. Yukari estava ali. Rin e Gumi olharam para ela com uma expressão interrogativa.

— Essa garota está liberada. - A arroxeada falou.

— Como é? - Rin e Gumi disseram em uníssono.

— Ela possui um álibi, esteve comigo a noite inteira. Nós e um grupo de amigos saímos para comprar alguns tira-gostos quando o assassinato ocorrera. - Yukari explicou.

— Pode provar isso? - Rin indagou. Odiava suspeitar de um colega de trabalho, mas era o protocolo.

Yukari caminhou até elas e retirou uma pequena nota fiscal do bolso, de uma loja de conveniência 24 horas. Lá havia o registro de tudo que haviam comprado.

— Sintam-se livres para falar com o caixa ou o dono da loja. A comandante já está a par da situação. - A arroxeada disse por fim. - Mas entendam, será apenas perda de tempo.

Rin suspirou, embora tudo aquilo parecesse verdade, ainda não tinha deixado de suspeitar daquela garota e a forma como ela lhe olhava...

— Olha Yukari, eu sei que ela é sua amiga, mas...

— Detetive Rin, essa garota não está mais sob suspeita alguma. Ao invés disso, porque não se preocupa com aquele garoto com quem passara a noite?

Rin corou fortemente.

— Eu entendo que ele tenha um álibi por estar com você na hora do assassinato, mas esse garoto desaparecera e ninguém sabe onde se encontra. Não acha isso suspeito? - Yukari continuou.

— Si-sim, é realmente muito estranho, mas que diferença faria? Ele não pode nos dar nenhuma informação sobre o caso... - Rin tentou defender-se.

— Bem, de todas as formas, esse garoto é mais suspeito do que ela. Agora se nos derem licença. - Yukari sorriu puxando Mayu pelo braço e dirigindo-se à saída.

[...]

— Isso foi completamente genial! - Mayu soltou empolgada.

Estava sentada frente a frente com Yukari no café, IA e Tone Rion não estavam presentes. Mayu saboreava um frappuccino de caramelo e creme e uma fatia de torta de limão, enquanto Yukari optou apenas por um café expresso.

— Você pode, por favor, tentar chamar menos atenção? - Yukari pediu indicando as pessoas que voltaram os olhos para Mayu após seu pequeno "ataque".

— Desculpe. - Mayu falou bebendo um gole do frappuccino. - Mas tenho que admitir, utilizar Len para constranger a detetive...

— Não foi minha intenção. Embora seja um problema, se ignorarmos tudo o que está acontecendo, Rin até que é uma boa pessoa. - Yukari disse colocando açúcar no café.

— Como é? - Mayu mostrou indignação.

— Olha, é você quem tem algo contra ela. Eu quero me livrar de Rin apenas porque ela pode se tornar um problema, não porque estou competindo com ela por um psicopata.

Mayu fez bico. Ela realmente parecia uma criança.

— Mas como você fez para nos arranjar um alibi? - Ela indagou, ainda emburrada.

— Foi bem simples na verdade, Megurine Luka já está com problemas o suficiente, então atormentá-la com uma pessoa que já possui um alibi é perda de tempo. E de todo modo, não foi ao todo uma mentira. Alguns amigos realmente foram comprar tira-gostos, eu só tive que pedir a nota fiscal.

— Mas e se um deles abrir o bico e disse que nós duas não estivemos lá?

— Não se preocupe com isso. Só tenha em mente que eu já dei um jeito em tudo. - Yukari explicou tomando um gole do café. - Agora, sem a Miki no caminho, podemos seguir com o plano.


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Notas finais do capítulo

A capa desse capítulo foi Miki e Kaito, para encher vocês de feelings he he he :3
Link para caso a capa não abra: https://fbcdn-sphotos-e-a.akamaihd.net/hphotos-ak-xtf1/v/t1.0-9/10646973_888140227934474_5135747542493974589_n.jpg?oh=32e8a088c58c6af79b401876e3375065&oe=568B33ED&__gda__=1451824566_ec67c1a94e8139fef6d331afc9350367