Estamos os três parados em uma sala escura de frente para um vidro. Do outro lado do vidro, os dois homens que atacaram minha casa e o entregador estão em pé lado a lado. Um dos homens que atacou minha casa se aproxima do vidro, eu sei que ele não pode nos ver, mas Emily anda até suas costas encostarem na parede atrás de nós.

– Tudo bem, ele não pode nos ver – ela se aproxima de mim e segura em meu braço com dedos gelados.

– Я знаю, что ты там сука – o homem diz e ri do outro lado do vidro.

Bob pega o microfone.

– Nós não falamos russo seu idiota.

– Não precisam – Emily diz – ele sabe que eu estou aqui.

O homem ri do outro lado, como se tivesse ouvido o que dissemos.

– Você fala russo ? – pergunto .

– O bastante para saber o que ele disse – ela olha fixamente para o homem que falou em russo.

– E o que ele disse ?

– Ele disse que sabe que estou aqui.

– Ele a chamou de vadia – diz Bob entre dentes, depois de olhar a tela do computador que traduziu o que o homem disse.

Cerro os punhos, e Bob está com uma carranca no rosto, agora ele sabe o que aconteceu com Emily também.

– Emily, você sabe quem eles são, certo ?! – digo sério.

– Nunca os vi, mas tenho certeza que trabalham para Joel.

– Joel ? Joel Lukashenko?- Bob pergunta e Emily assente – Droga! Não podemos ir atrás do cara sem causar uma guerra !

Emily olha para Bob tentando entender o que ele quer dizer.

– Joel Lukashenko, ele é um magnata russo, mas não há nada em sua ficha criminal, quer dizer, todo mundo sabe o que ele faz, mas não podemos fazer nada.

– Mas ele foi expulso do próprio país !

– Foi , mas ninguém sabe porque – Bob se aproxima e coloca uma mão no ombro de Emily a outra no meu – sinto muito, gente, mas não há nada que possamos fazer além de ficar de olho em vocês.

Bob sai e Emily desaba sentada no chão antes que eu consiga lhe segurar. Ela fita o chão. Ela parece perdida, porque antes ela não tinha nada, nem ninguém, agora ela tinha esperança, e essa esperança foi embora.

Me abaixo a sua frente e pego suas mãos.

– Vamos para casa.

...

– Por que estamos aqui ? – pergunta Emily esfregando o corpo por causa do vento gelado.

– Porque você precisa de roupas.

Estamos parados em frente a um shopping, com Bob a poucos passos de nós.

– Mas Ethan, eu não tenho dinheiro.

– Vamos lá !

Engancho o braço em seu pescoço e nós vamos para dentro. Ao todo compramos três calças jeans, cinco camisetas, dois vestidos, algumas roupas intimas, dois pijamas, chinelos e uma sapatilha. Emily falou o tempo todo que daria um jeito de me pagar.

Estamos sentados em um banco tomando sorvete e com um monte de sacolas, eu trouxe Emily aqui para esquecer uma pouco tudo o que estava acontecendo. Bob e eu ficamos de olho em todas as pessoas para ver se alguém reparava em Emily, mas ninguém pareceu notá-la de maneira diferente.

– Ethan, por que está me ajudando tanto ? – ela pergunta de repente.

– Você me lembra alguém – ela continua me olhando procurando explicações – um mês atrás, tinha uma moça, ela foi assaltada e abusada, nós não achamos o cara e eu fiz o possível para achar, uma semana depois ele a matou. Por isso eu não estou trabalhando por esses dias, eles me deram uma folga.

– Sinto muito – ela diz, colocando a mão em cima do meu braço – vocês pegaram o cara ? – eu acinto, fechando os olhos – Ethan ? – abro os olhos e a olho – Obrigada!

– De nada, eu só queria ter feito mais por aquela moça também.

Emily acaricia meu braço levemente e depois retira sua mão, ela junta as mãos nervosamente e olha para elas, eu olho em volta tentando entender o que aconteceu. Um cara, com uns vinte e cinco anos coça a cabeça olhando em nossa direção, ele olha em direção a Emily.

– Amy, o que houve ? – pergunto, encarando o cara, Bob percebe e se coloca entre o homem e Emily.

– Eu só me assustei com aquele cara me olhando – ela diz.

– Bob, fica aqui com ela.

– Ethan ?

Eu saio em direção ao cara, ele não parece perigoso nem nada, mas o entregador também não parecia.

– Algum problema, amigo ? – eu pergunto, o homem se vira para mim.

– Desculpe ?

– Você estava olhando para minha amiga.

– Olha, não quero confusão, eu só vi que ela era bonita, e quando ela viu que eu estava olhando pra ela, pareceu ter visto um fantasma, não fiz nada, eu juro, é a primeira vez que eu a vejo – ele levanta as mãos .

– Tudo bem – digo – ela só esta assustada com umas coisas.

Saio andando e deixo o homem olhando para minhas costas.

– Bob, se importa de me emprestar seu carro ?

– Vai me deixar fica sua Harley ? – os olhos de Bob brilharam.

– Vai com calma gafanhoto, é só por hoje – eu lhe jogo as chaves da moto e ele me joga as chaves do carro.

– Amy, você tem que me ensinar a fazer isso , porque antes de você , ninguém respirava na direção daquela moto – eu dou um soco no braço de Bob enquanto Amy ri.