Charlie deu um sorriso de canto e então saiu da cozinha e subiu as escadas da sala para os quartos. Chegando a porta de Sara, ele esperou alguns segundos antes de bater.

– Entre.

Ao entrar viu que ela estava de pijama, sentada na cama de pernas cruzadas, os cotovelos apoiados nos joelhos e o rosto apoiado nas duas mãos. Parecia pensativa.

– Charlie – Ela deu um leve sorriso.

Ele aproximou-se e então sentou perto dela. Ele queria conversar com ela, fato, mas não sabia por onde começar.

– Precisamos...

– Conversar? Por mim, tudo bem... Sobre o que agora? – Ela o interrompeu.

– Certo... – Ele olhava bem pra ela. – Desde que cheguei aqui hoje de manhã, eu pude notar a presença de alguns youkais vindo da floresta que ronda sua vizinhança.

– E meu pai notou os seus olhos? – Ela pareceu interessada.

– Não. A presença estava distante e se algo nos meus olhos mudou foi muito pouco, dificilmente ele teria reparado alguma diferença.

– Você esta certo... Mas eu nunca pensei em youkais por aqui antes, e agora nenhum youkai além de você, é claro– Ela sorriu rapidamente.

– Eu não sou... – Ele tentou permanecer com um tom de voz estável– Eu sou um Meio- Youkai... E não fui eu que escolhi me tornar isso. – Ele fechou suas mãos sobre os seus joelhos com força.

– Desculpe... Eu não quis te deixar triste. – Sara pareceu arrependida.

– Você não tem culpa.

Ela o observava. Ela não sabia o que fazer, se deveria ficar quieta ou se deveria consolá-lo. No fundo, o que ela queria mesmo era consola-lo, mas não sabia como fazer isso.

– Era sobre isso que você queria conversar?...

– Sim. – Ele pensou um pouco antes de responder e ela pode notar. Ele levantou-se da cama e se curvou para beija-la na testa. – Não vai descer para o jantar?

– Sim, daqui a pouco.

– Certo, seu pai esta lá embaixo. Alias, eu terei que dormir na sala.

– Na sala?... Espera! – Ela o segurou pelo braço antes que ele desse as costas. – Você... Pode vir me visitar mais tarde? – Ela corou.

Charlie de repente sentiu-se mais leve, como se ao menos um pedaço da ruína de gelo que parecia estar de pé entre eles, houvesse se quebrado. O modo como ela havia corado, o jeito que ela tinha segurado seu braço com as duas mãos. Aquilo o fez sorrir.

– Claro. – Ele dirigiu-se até a porta assim que ela o soltou. – Boa noite... E até mais tarde.