Your Hunger Games - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 7
Sapphire Lukastrell


Notas iniciais do capítulo

Novamente eu digo, to gamada nesse capítulo. Acho que foi o mais louco que já fiz.



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Sapphire Lukastrell

Of Monsters and Men - Sloom

O ar em volta do Distrito 04 tinha adquirido um cheiro turvo de tempestade de mariscos, o que estava lhe dando náuseas. O píer estava vazio hoje, desde quando saiu de casa, em busca do nascer do Sol. Ainda não tinha começado, e Sapphire começava a duvidar se realmente iria ver o tal evento. As nuvens negras, ameaçando o Distrito 04, estava ocultando qualquer beleza. As águas do oceano estavam negras hoje, refletindo os olhos do céu. A praia, deserta, era algo solitário e melancólico, diante daquele barco pesqueiro, pequeno e velho, que era o único ancorado nas areias. Ninguém deixava seu barco na praia sem ser que estivesse indo para ela. Sapphire pensou em simplesmente passar resto, mas o barco a chamava. Parecia estranho demais para ignorá-lo.

Subiu a lona que cobria o barco, observando as estacas de madeira já velhas onde os pés dos tripulantes deveria ser colocado. Lá havia algumas latas de ensopados, varas de pescar, minhocas vivas num pote e iscar vivas em galões de água salgada. Havia também galões de água doce e cobertores, roupas de inverno...

– Ei, e-ei! – ouviu do galpão logo acima da praia, onde o dono do barco saiu, exasperado. – Ei, gracinha, não pense em roubar minha rota de fuga.

Observou a linha de seu maxilar, com traços firmes e acentuados, numa feição angulosa. Olhos como os de uma águia, prontos para faiscarem, escuros como carvão. E a barba rala, ruiva, que crescia em seu queixo. Os cabelos desalinhados e em castanho avermelhado, de modo que suas sobrancelhas grossas e negras ficassem fora de contexto e o nariz alongado o tornasse um pouco perigoso demais, e os lábios mordidos, ressecados e finos.

– Aí, gracinha, eu até gosto quando me encaram desse jeito, mas isso está sendo desconfortável no momento. Antes de apreciar minha beleza, poderia me dizer o que está fazendo com as mãos no meu barco?

Ele não deveria ter mais de dezessete anos.

– Só estava vendo o que um barco faz em pleno dia de Colheita aqui na praia.

– Eu poderia fazer a mesma pergunta para a moça. – piscou os olhos suavemente, fazendo os cílios longos e pretos se unirem. Notou que, em meio a todo o negro da pupila e de algumas íris, havia traços de um castanho brilhante e vívido.

– Sua pele é branca demais – ela notou – Você não costuma andar de barco.

– Sim, sim. – ele pareceu meio conturbado, mas seu sorriso era tranquilo. – Tem mais alguma nota sobre sua avaliação de minha aparência?

– Você é um ruivo falso.

– Uh... Ai você se engana. Minha barba é naturalmente ruiva. – ele tocou o queixo.

– Se é que isso pode ser chamado de barba.

– Oh, ai você já pegou pesado. O que está fazendo aqui?, duvido que veio debochar da minha penugem.

Ela sorriu, voltando os olhos para o barco e lendo as inscrições na lateral, onde a tinta descascava.

Rainha dos Mares.

– O que um jovem, que nunca velejou antes, está indo fazer com um barco, iscas e comida para pelo menos uma semana em pleno dia de Colheita?

– A vigilância na praia diminui na Colheita – ele enfiou as mãos nos bolsos do casaco – então é uma boa ideia fugir hoje. E não é bom ficar tempo demais aqui. – ele virou-se para Sapphire – Quer vir comigo?

Um calafrio tomou-a e uma estranha sensação gritava “Sim!” dentro dela, mas então quase desejou dar um soco em si mesma. Como se encontrar um rapaz lindo e branquelo na praia fosse comum e ele sempre a convidasse para ir num passeio, só os dois.

– Você vai me estuprar. – recuou, nervosa.

Ele a encarou, espantado por alguns segundos, e então começou a gargalhar até lágrimas se juntarem no canto de seus olhos, tornando o castanho ainda mais brilhante e vívido.

– Não é como se eu tivesse planejado ficar aqui na praia esperando a primeira menina que surgisse passeando e quisesse estupra-la. – então tornou-se urgente – Você quer vir ou não? Bem, não precisa respondeu, começou a empurrar o barco pela areia, porém este estava pesado demais para que este trabalho se tornasse eficiente.

Os músculos de seu braço enrijeceram e então ele relaxou, puxando fôlego para voltar a tentar empurrar seu meio de fuga. “Esse cara não é mesmo daqui”, concluiu, observando os pássaros que começavam a surgir no céu. Notou o Sol, lá atrás do oceano, começando a surgir. Ele a estava fazendo perder um dos espetáculos da natureza.

– Sabe, é mais comum nós usarmos um píer ou mesmo um pneu velho para isso.

– Como? – ele virou a cabeça, ainda mantendo os braços esticados e tensionados. Tentou não olhar para eles.

– Pra arrastar o barco em direção a água. Você vai levar pelo menos duas horas pra fazer isso, e não que eu duvide da sua força, mas os Pacificadores já vão ter chegado a esse tempo.

Piscou novamente os cílios negros e então soltou o barco, olhando ao redor e encontrando um pedaço de papelão, que já tinha sido usado para isso antes. Sapphire teve de conter a vontade de rir, mesmo que fosse para dar apenas um riso fraco e gentil. Ele voltou, colocando o papelão na frente do barco e empurrando o barco para cima do mesmo. Olhou para seu trabalho e então para Sapphire.

– Obrigado. Poderia saber seu nome, gracinha?

Colocou uma madeixa do cabelo louro para trás da orelha.

– Sapphire, e não sou sua gracinha.

– Não é como se eu não tivesse notado o rubor nas suas bochechas. – ele sorriu, como uma criança sorri ao aprontar uma encrenca e contar aos pais, orgulhosa de seu feitio. Sapphire arqueou as sobrancelhas. Mas não disse nada, cruzando os braços e observando-o então tentava, em vão, mover o barco em cima do papelão. – Estou começando a pensar que você me enrolou...

– Seria mais fácil se prendesse o papelão ao barco e amarrasse uma corda na frente dele, puxando-o em vez de arrastar.

Ele piscou novamente, avaliando sua sugestão a assentiu, fazendo o que ela tinha dito. Por algum motivo Sapphire tinha vontade de sorrir, ele era como uma criança, aprendendo a andar, fazendo tudo o que os outros diziam que seria melhor. Bem, andar de barco não era tão fácil assim, ela mesma tinha suas dúvidas se conseguiria ficar dentro de um, sozinha.

O menino colocou-se na frente do barco, com a corda em mãos, inclinando-se para trás, puxando o barco para frente.

– Vai ficar ai rindo ou me ajudar? – perguntou.

Sapphire não entendeu porquê, mas agarrou uma parte da corda mais a frente dele e então começou a puxar, rindo. Estava se divertindo, e quando notou, raios solares já batiam na cabana de onde ele tinha saído. Aquela pessoa definitivamente não era comum, e definitivamente era engraçada. Sapphire sentiu-se feliz por conhecer alguém assim, enquanto ria e arrastava o barco. Os braços já estavam dormentes quando a água do mar tocou seus calcanhares. Olhou para trás, onde ele já tinha a bermuda encharcada. Estava segurando a corda com dificuldade, perdendo o equilíbrio a cada onda que vinha até a encosta. Então novamente o comparou com uma criança descobrindo o mundo, e não pôde deixar de rir.

– Pare de ficar rindo de mim e faça alguma coisa. Meus pelos já estão se arrepiando com essa água gelada – ele reclamou.

– Claro, como quiser.

Largou o barco, que agora deslizava para a água, naturalmente, pela areia molhada. Entrou mais dentro do mar e então colocou as mãos sobre os ombros do rapaz, empurrando-o para o fundo das águas. E ele foi, surpreso.

– Mas o quê é isso? – ele gritou, após sair das águas, ofegante. – Eu pedi sua ajuda!

– Então agora agradeça. – Sapphire riu, e quando ele a encarou, curioso, e lançou um jato de água gelada em sua direção, desatou a rir e a retribuir. No fim, estava cansada, ofegante, e molhada dos pés a cabeça, sentada na areia, submersa. Ele não estava muito melhor. – Eu nem sei seu nome...

– Axel. – disse, observando-a. – Você é bem estranha, Sapphire, não é toda menina que conhece um estranho tentando fugir e de repente está brincando com ele. Mas gosto da sua risada, dá vontade de rir com você.

Sentiu rubor nas bochechas, mas logo passou.

– Não é como se eu tivesse pensado assim... – levantou-se – Tem razão, que coisa doida... – ficou desconcertada e então nervosa, enquanto saía das águas e sentia as roupas grudando no corpo. Ela tinha vindo ver o Sol nascer e de repente estava rolando na areia com um cara que acabou de conhecer. Mas Axel tinha um ar de simplicidade e paz que tornava o mundo ao seu redor um pedaço de gelo, e então era possível rir, mesmo sendo dia de Colheita.

– Ei, Sapphire, eu não quis dizer isso, olhe, eu não... – e então parou de correr atrás dela. – Bem, obrigado pelo barco. Eu acho que nunca mais vamos nos ver, e sinceramente estou ansioso por isso, mas...

Um arrepio tomou a espinha.

– Como é? – virou-se para ele, já na areia – Você me faz fazer papel de criança brincando no mar e então diz que está ansioso por nunca mais me ver?

– Eu não disse isso! Quer dizer, eu disse, mas você entendeu errado... Ah, minha única obrigação era conseguir um barco e ir embora daqui, agora estou discutindo com uma loirinha rabugenta que não gosta de se divertir um pouco. Além disso é mal agradecida...

– Eu mal agradecida? – Sapphire conseguiu escutar o sangue sendo levado pelas artérias e então tornando seu rosto vermelho como um pimentão, como normalmente ficava quando estava enraivecida. – Eu te ajudei com o barco, você deveria me agradecer!

– E o fiz – Axel se afastou -, é melhor eu ir mesmo. Até nunca, Sapphire, você teve sua chance. Quando a rebelião começar, não venha me pedir socorro.

E com isso, Axel voltou para o mar, pulou no barco como se tivesse feito isso a vida inteira, com facilidade extrema, e colocou os remos no lugar, começando a remar para longe da praia, em direção ao Sol, que agora se exibia pela metade. Conforme Axel remava, o Sol atrás daquela pintura subia, lentamente, e Sapphire se sentou na areia, observando-o ir. Mordeu os lábios. Ótimo, conheceu uma pessoa, tratou-o como um amigo íntimo, depois brigou com ele e o via partir agora. Talvez para sempre. Era uma bela metáfora para a vida. Parou de pensar em devaneios quando a areia ao seu lado se espalhou.

– Achei mesmo que a encontraria aqui. – Era Lucca, sorrindo e com um pedaço de bolo em mãos – Trouxe antes que acabassem com tudo.

Pegou e agradeceu, voltando os olhos para o oceano, onde não era mais possível ver Axel ou seu barco, e o Sol já estava longe das águas. O dia parecia mais calmo agora, as nuvens negras iam embora, e o mar tinha cor verde-escura agora. Não pôde fugir de pensar que aquele rapaz se parecia muito com Lucca.


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Notas finais do capítulo

Eu sei,eu sei, o que Axel tem a ver com tudo isso? Por que não foi sobre a Colheita dela?Isso não teve nada a ver com a YHG! Só digo um coisa: Canoas do Distrito 4...