Your Hunger Games - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 4
Sapphire Lukastrell


Notas iniciais do capítulo

Eu to simplesmente apaixonada por esse capítulo (e pelo Lucca *o*)



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Sapphire Lukastrell

Daughter - Touch

Novamente o dia estava azul, naquele píer onde poucos pescadores ainda remavam. As canoas do Distrito 04 tinham se ido fazia tempo pois a véspera de Colheita significava adeus, e adeus nunca é algo para que estamos preparados. Sapphire balançou os pés, sendo na ponta dos dedos as ondas do mar. Conchas se prendiam nos vãos das tábuas de madeira do píer. O porto era o local mais vívido ao longo do dia, porém ao anoitecer tornava-se frio e silencioso. A igreja se projetava bem a frente do ancoradouro, onde freiras iam e vinham o tempo todo. O Distrito 04 era, em sua grande maioria, católicos e fiéis de um só deus, entretanto a família Lukastrell nunca acreditou neste Deus supremo e preferiu optar por outros diversos.

Agora, com aquela brisa melancólica, trazendo o cheiro do oceano, e as areias se agitando enquanto os últimos peixes eram pegos. O Distrito 04, distrito da pesca. Seus habitantes, de pele bronzeada e olhos sempre esverdeados. Sorrir era obra de arte, naquele beco. O cheiro de peixe era normal em qualquer casa, e varrer o chão significava esperar que mais grãos de areia caíssem por lá. Não tinha como fugir da maresia. Aquela névoa das manhas que cobria as águas esverdeadas como pântano. Ergueu os olhos para as nuvens passageiras. Respirou fundo.

Aquelas vidas curtas, que vagavam logo abaixo dela, eram todas errantes, sem o objetivo válido para tamanha fortuna. A vida, em si, era uma dádiva de qualquer divindade ou meramente do espaço. Mas nada disso mudava o seu valor: um material precioso em meio ao vazio. As pessoas faziam muito pouco de suas vidas, considerando o valor delas.

Levantou-se, pronta para voltar para casa. Lá seria outra batalha. Novamente pessoas medíocres fazendo o mínimo de sua existência. Seu pai, um orgulhoso homem, treinara seus filhos homens para os Jogos. O mais velho venceu e isso o tornou ainda mais orgulhoso, treinando o segundo mais novo. Mas Sapphire nunca foi vista como uma possível vitoriosa. Ela era uma mulher e jamais poderia vencer os Jogos caso fosse sorteada. Mulheres são fracas e normalmente burras. Não é de se impressionar que 70% dos Vitoriosos desde o início dos Jogos são homens. A primeira mulher vitoriosa venceu apenas depois da 10ª Edição de Jogos Vorazes, antes disso foram apenas homens. Então o que ela deveria fazer, além de torcer por seus irmãos, temer suas mortes e vibrar com suas vitórias?

Mas será mesmo? Tentou eliminar aqueles pensamentos. É claro que era. Onde era seu lugar? Em casa. Mamãe concordaria. OU melhor, ela apoiaria qualquer coisa que papai dissesse, afinal este era seu dever ao se casar com ele, certo? Sapphire respirou fundo. Mas que merda de vida era aquela? Por que as pessoas se obrigavam a crer em coisas tão mesquinhas e medíocres quando a verdadeira razão está brilhando na alma? Os Jogos. Eles eram a morte certa. Mas para pessoas que nada faziam de suas vidas, além de trabalhar para a Capital, o que era isso? A morte pouco importava se viesse rápida ou lenta. Tanto faz viver oitenta anos ou vinte, não haverá objetivo, nem lucros.

Na rua em direção a Aldeia dos Vitoriosos, reconheceu rostos de pessoas morenas e trabalhadoras. Senhoras no prego, pescadores bebendo um pouco antes de irem para casa. Crianças correndo, aproveitando seus anos de liberdade, antes de terem de se submeter aos Jogos ou a vida de trabalhos. Gostaria de voltar a ser criança, ter a mesma inocência e curiosidade. Não ter culpa de seus atos, poder errar. Observou os Pacificadores, com suas armas ao lado do corpo. Andavam muito pelo prego, embora nunca tivessem matado ou prendido ninguém pelas vendas ilegais. Ao longo do tempo a lei se tornou mais flexível e macia do que costumava ser. Apenas a lei. Ouviu ao longe os pássaros, voando para seus ninhos. Ah, aqueles miseráveis! Não sabiam a sorte que tinham.

– Phire. – chamou Lucca da varanda, quando chegou em frente a casa, grande e rica, como todas as outras da Aldeia dos Vitoriosos.

A Aldeia era especialmente dirigida aos jovens que tinham ido aos Jogos e voltado, e para suas famílias. Eram dadas a eles dinheiro e mantimentos e ao resto do Distrito cerca de 30% a mais de benefícios como óleo e sal do que ganhariam no ano.

– Sim? – perguntou subindo as escadas.

– Quero conversar com você.

De todos naquela casa, Lucca era de longe o que mais tinha feito valer sua vida. E isso era um ponto a mais para que Sapphire gostasse dele. Lucca tinha tirado a família dentre as docas dos pescadores para coloca-los na Aldeia dos Vitoriosos, naquela casa enorme. Ele vencera os Jogos Vorazes, lutando e sobrevivendo por dias. Ele era forte, era esperto e o que mas valia: era gentil com ela. Lucca não a via como uma mulher, mas sim como um ser humano, com o mesmo valor que ele, e isso o tornava especial, de modo como nenhum outro era.

– O que foi? – questionou, porém Lucca não respondeu. Ele na verdade começou a andar, dando a volta na varanda e parando no jardim dos fundos, onde uma bela vista do oceano e das docas era permitida.

– Eu estava te observando lá no píer – ele confessou, quando Sapphire chegou ao seu lado. – Uma pequena menina, num pequeno píer, diante de um imenso oceano. – voltou os olhos azulados para ela. Lucca era parecido com mamãe, com cabelos ruivos e olhos azuis, porém Sapphire puxou a papai, com o louro sem graça e os olhos azuis-esverdeados que pareciam lodo. – Fiquei pensando: como nossa vida é pequena, mesmo diante deste oceano. Ele nem é o maior do mundo, na verdade nós nem sabemos o que é o mundo. – sorriu – Nas escolas eles nos ensinam as localizações de panem e os mares que estão em volta dela, mas... O mundo é muito mais do que só nós. A Antiga Guerra... Destruiu todo o planeta, restando apenas este pequeno lugar, onde hoje de novo uma guerra começará.

– Você quer dizer uma Revolta?

– Uma destruição. – Lucca corrigiu-a. – Eu estive no meio dos outros mentores, eu sei o que pensam. O mundo, ou melhor, o país que hoje conhecemos logo não passará de cinzas, Sapphire. Ninguém vai restar, e aqueles que conseguirem sobreviver não terão onde ficar. O que sobrou da terra foi isso, e nós estamos novamente nos organizando para destruí-la. Nunca fomos os melhores animais para recebermos a razão.

– Não entendo.

– Não entenderia, mesmo que quisesse. Apenas se passasse pelos Jogos, para sentir na pele, mas isso é algo que eu nunca permitiria a você.

– Eu posso vencer – murmurou baixo, como um sussurro.

– Pode, quem sabe, mas não é como se eu fosse jogar na loteria por isso. – Lucca a olhou de cima para baixo. – As chances de vitória podem parecer maiores pra um do que pra outros quando pensamos de que distrito vieram, mas lá dentro, na Arena, não há essa diferença. Todos podem vencer, todos podem morrer, é uma questão de sorte.

– Mas você treinou, venceu. – ela lembrou.

– Treinei, sim, mas outros treinaram. Meus aliados, os Carreiristas, eram muito melhores que eu. E aquele menino do Distrito 8... - Disse, pressionando a têmpora, - era um terror.

Sapphire lembrou-se do tal menino. Tinha sido um desafortunado, magro e faminto, pobre e feioso do Distrito 08 sorteado para os Jogos Vorazes. Não chamou muita atenção, até os cinco finalistas terem sido listados. O garoto do 08 havia se escondido até restarem poucos. A Aliança Carreirista e ele. Dois tributos do Distrito 02, Lucca e o tributo masculino do 01 formavam os Carreiristas e caçaram o garoto do 08 por dias. Nem mesmo os bestantes enviados pelos Idealizadores conseguiram unir os tributos. O garoto se mostrou um gênio. Suas armadilhas não matavam, porém afastavam cada vez mais o grupo Carreirista de sua localização. Ele implantava falsas trilhas e falsas marcas de que estivesse em um lugar, sendo que ficava em outro completamente diferente. Foram oito dias. Ele conseguiu iludir e manipular os piores assassinos da Arena e os Idealizadores dos Jogos por oito dias completos.

– Ele deu trabalho. – Lucca riu. – Mas nós o subestimamos, também.

A Aliança Carreirista aos poucos morreu, o garoto do 01 foi morto por um dos bestantes e o casal do 02 começou a desconfiar de Lucca e até mesmo ameaçou mata-lo caso os estivesse traindo com a ajuda do menino do 08. Lucca, por sorte, sempre foi ótimo com as palavras e conseguiu convencê-los do contrário. Por fim, seu irmão mostrou-se um pouco mais inteligente que os outros e convenceu-os a irem separadamente procurar pelo menino que tanto os atormentava. Garantiu que assim seria mais fácil. Quando a menina do 02 foi presa numa armadilha implantada por um dos Idealizadores e Lucca viu a chance, matou-a com seu tridente. Por sorte o seu companheiro de distrito não veio procura-la e assim Lucca pôde fugir.

Encontrou o menino do 08 encostado numa árvore, escondido perfeitamente por folhas. Nunca o teria visto caso não tivesse parado para procurar algum animal para comer entre as raízes da árvore. Ele o encarou, estava tão magro e sua boca tão seca que em menos de algumas horas morreria de fome. Lucca não o matou para a tristeza dos espectadores da Capital, mas sim matou o menino do 02 numa luta sangrenta. E quando, por fim, só sobrou ele e o garoto do 08, deixou-o escolher que morte queria ter e ele decidiu morrer rapidamente, sem sofrer. E Lucca assim fez. Foi coroado como vitorioso.

Não tinha sido uma vitória muito sangrenta, nem mesmo foi julgado como um bom tributo. Mas Sapphire sabia: seu irmão teve sorte, apenas. Na luta contra o garoto do 02 ele quase morreu por diversas vezes e com uma tremenda sorte conseguiu mata-lo. E teve mais sorte ainda por ter achado o tributo do 08 sem antes ter caído em uma de suas armadilhas. E ainda mais sorte por ele estar a beira da morte, incapaz de se defender.

– A Arena pode ser um lugar tremendamente assustador e mortal. Mas se mostra muito esclarecedora aos olhos atentos. – ele piscou – Este ano você e Garnet completam dezessete anos. Papai e eu o treinamos para que ele se voluntarie. Mas você vem treinando por conta própria.

– Você sabe...? – seu rosto empalideceu e o sangue gelou nas veias. – O papai...

– Não, aquele velho não sabe de nada. Não contei para ele. Mas... Se está pensando em fazer alguma loucura... Sapphire, pense melhor.

Encarou os olhos azuis do irmão, aquele azul tão confortável. Ah, como Lucca era bom e amável...

– Você disse que logo a destruição virá, não?

– Sim.

– Então não faz diferença morrer aqui ou morrer lá.


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Notas finais do capítulo

http://thesource.com/wp-content/uploads/2014/02/amanda-seyfried-hairstyles3.jpg
:3 Mandem reviws! Vou responder todo mundo com muito prazer! E aqui vai o primeiro quiz!
Qual das loiras carreiristas vai ficar de fora da Aliança Carreirista?
a) Dakota
b) Katrine
c) Sapphire
Beijos!