Your Hunger Games - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 31
Sylvester Cherishmont


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Sylvester Cherishmont

MØ - Waste of Time

Como se não bastasse, estava justamente na sala em que tinha estado na primeira vez que entrou na sala de preparamento. Eram idênticas, embora Sylvester soubesse que não eram as mesmas. A cama estava lá, os cabides e maquiagens... Até mesmo um elevador. O elevador. Esperava o momento em que seu estilista terminasse de arrumá-lo e o mandasse para aquele tubo transparente que o levantaria em direção a Arena. Mesmo sabendo de suas habilidades, ainda sentia um frio na barriga. Sua aliança era a Carreirista e não tinha como perder logo no começo. As meninas estaria protegendo-o pois gostavam dele e... Protegendo? Elas estariam salvando a própria pele, e desde quando se escondia atrás de mulheres?

– Você vai conseguir. – disse o homem de longas tranças douradas, não louro como ele, mas um tom mais ouro. – Que a sorte esteja ao seu favor.

– Eu sei. Obrigado. – Sylvester sorriu, numa última gentileza, e se despediu com um abraço apertado. Mas não havia sentimentalismo nenhum ali. Aquele homem nascera na Capital, achava que o que fazia era normal, enviar jovens para suas covas... Eles adoravam, essa era a verdade. Sylvester não precisava que alguém lhe dissesse que tudo ficaria bem, sendo que dizia isto a todos os que passavam por ele.

Quando tocou os cabelos, sentiu-os curtos. Nunca os tivera no pescoço, sempre abaixo dos ombros, e agora estavam na nuca. Curtos, mas lisos e sedosos, como eram sempre. O estilista tinha amarrado a franja longa de Sylvester atrás da cabeça, formando um penteado que deixava sua visão livre de obstáculos e mostrava suas feições angulosas e rudes. Não via beleza naquilo. Como pode formas tão grotescas e retas conter alguma gentileza? Mas ele tinha, e não sabia de onde vinha.

Entrou no elevador, já preparado para a luz que o cegaria. Fechou os olhos fortemente, esperando que tudo fosse rápido. O cronometro, tributos correndo e fugindo, os Carreiristas tomando a Cornucópia, caçando outros tributos... Tudo normal. Engoliu em seco. Nada daria errado, certo? Ele era forte, e sabia lidar com qualquer um se estivesse com facas de arremesso em mãos. Mas para tê-las teria de ir até a Cornucópia e se alguém o derrubasse no caminho... Não. Isso não aconteceria. Ele era rápido, não? Conseguiria, tinha de ter esperança. Esperança... Que palavra irônica. O elevador começou a subir com lerdeza, mas não era com se Sylvester quisesse que ele fosse mais rápido. Seria tão bom ter algo para se apegar agora... Poderia ter pedido uma das facas com que treinava em casa com sua irmã. Também poderia pedir algum lenço, ou então uma pulseira feita de cristais e diamantes... Mas não tinha nada além dos cabelos que mamãe sempre acariciou e penteou com tanto esmero e amor. E agora estavam cortados tão rentes a cabeça que ele se sentia quase nu.

A luz realmente o cegou no começo, mas por detrás das pálpebras.

Era forte, e assim que o elevador parou de subir, Sylvester sentiu o mormaço, o calor. Abriu os olhos, assustando-se com a luminosidade. Não era uma luz branca e fria, mas sim o próprio Sol castigando-o de todos os seus pecados. O céu era de azul intenso e claro, mas nada que amenizasse aquele calor. Observou ao redor o que mais aquela Arena possuía. Casas de maneira, bancos idênticos ao do Distrito, cadeias tão primitivas que qualquer um poderia fugir delas. Uma praça onde um instrumento de castigo onde se colocava mãos e pescoço estava e logo atrás dele a Cornucópia, magnífica, com seus quatro andares elevando-se para o céu, e a luz do Sol refletindo na placa metálica de tal. Os suprimentos e armas se encontravam todos muito bem distribuídos e em fartura. Um cronômetro mostrava dezesseis segundos. Sylvester rolou os olhos novamente. O chão era de poeira e areia, terra batida e pedras pequenas, médias e grandes. Tudo aparentava ser velho e sujo, com camadas de pó em cada cantinho. Barris com água estavam na varanda de uma mercearia abandonada, janelas rangiam em uma casa caindo aos pedaços de dois andares. O horizonte era plano, revelando o deserto.

A cidade abandonada agora seria repovoada e refrescada com a vida e a morte de jovens. Sylvester se sentiu enjoado, seu estômago embrulhou, mas não tirou o foco do cronômetro, que agora marcava quatro segundos. Três. Dois...

Ele saiu correndo, como todos os outros que conseguiu ver pelo canto do olho, seu objetivo era a Cornucópia e armas. Quando chegou perto das escadas da praça, sentiu algo agarrar sua perna e o puxar para baixo tão rápido quanto qualquer coisa. Logo Sylvester estava rolando na poeira, sentindo os pés de tributos desesperados correndo por cima dele, chutando-o na costela e esmagando suas mãos e pernas. Quando acabou, levantou-se, sentindo a tontura. AO menos não o tinham matado. Quando tentou dar um passo para a frente, falhou, caindo de joelhos assim que uma flecha assobiava rente ao seu ouvido.

– Errei. – ouviu alguém praguejar e colocar outra flecha no arco. Sylvester se levantou, sentindo o pânico tomar seu corpo e congelá-lo no meio do deserto. A menina de cabelos castanhos e sardas mirava seu peito, ou sua barriga, não parecia querer atingir seu rosto. Quando ela fez menção de soltar a corda, Sylvester pulou e correu, ainda desorientado, mas louco pela vida.

Não vou morrer agora, não agora. Ele tinha razão, não seria agora. Quando saiu do campo de visão da moça, circulou a praça da Cornucópia, onde combates aconteciam, sangue jorrava para todos os lados e ele sentia cada vez mais que sua Aliança de pouco serviria naquela Carnificina. Correu, correu tanto que se esqueceu que a praça era redonda e logo estava no mesmo lugar onde tinha caído. A arqueira não estava mais lá, o que o animou. Subiu os degraus, observando os tributos fugindo para todos os lados, saltando da praça em direção a armazéns, casas, ruas, becos, e infindáveis locais onde pudessem se esconder. Por fim, apenas alguns restaram, e esses eram seus companheiros mais os tributos prestes a morrer.

– Ei, Sylver, olhe que rostinho lindo. – Katrine gritou, segurando uma garota pela gola de sua camiseta. A menina estava em uma crise de pânico elevada onde nem mesmo seus membros se moviam. Petrificada, ela rugia e gritava, mordendo a própria língua e cuspindo cada vez mais sangue e saliva. – Tão fofinha...

– Termine logo com isso. – ele virou o rosto, sentindo náuseas. Aquela cena era grotesca...

Quando o canhão soou, ele se permitiu voltar a olhar para Katrine, a tempo de vê-la retirando uma adaga ensanguentada do peito da moça que alguns segundos atrás implorava pela vida. A Carreirista sorriu e rodou a arma da morte entre os dedos, voltando a ter seu belo rosto em um dos sorrisos calorosos que Sylvester adorava. Uma assassina. Um monstro.

– Está pálido, Syl... E cheio de poeira. Será que você caiu? – ela perguntou, já ao seu lado, com a adaga ainda em mãos. Aquele vermelho vívido ainda o assustava.

– Sim, alguém me puxou e fui pisoteado. Mas acho que isso me deixou fora da matança.

Um canhão soou novamente, e em seguida outro, outro e mas um. Os outros Carreiristas voltaram para junto de seus companheiros, sorridentes e orgulhosos do trabalho. Agora tinham a Cornucópia só para eles. Sylvester tentou ver e identificar quem tinha morrido, mas parecia que todos estavam desfigurados ou então era aquela maldita náusea e o nó no estômago... Logo começou a sentir o cheiro do sangue, da morte. O sabor metálico na língua...

– Você está bem, Syl? – questionou Sapphire, segurando-o pelo maxilar. – Parece meio tonto...

– Ele é tonto. – bufou Viktor, seu companheiro, mas todas o ignoraram.

– Ele caiu – explicou Katrine. – Deve ter batido a cabeça.

Sylvester se dobrou, caindo de joelhos e colocando para fora tudo o que comera no café da manhã. O vômito fez sua garganta arder. Lágrimas rolaram pelas bochechas e ele sentiu o suor grudando suas roupas ao corpo. Tudo parecia girar. O sangue, a morte. O deserto... Aquele maldito calor.

– Meu Santo Deus, Sylver! – Dakota o agarrou pelo braço. – Você está bem?

– Sim – balbuciou, ainda com restos de alimento entre os lábios. Limpou aquilo com o braço, mas o gosto ficou. – Apenas... Enjoos... Venho sentindo-os desde a preparação...

– Você está bem mesmo? – Sapphire também se ajoelhou ao seu lado, com algumas gotas de lágrimas nos olhos. – Não está com febre ou...

– Estou bem. – garantiu, se sentando sobre os tornozelos. – Não se preocupem, apenas... Me sinto desconfortável no meio de tantos cadáveres.

O silêncio reinou, até que se tornou tão frio e medonho como a morte. O primeiro a se pronunciar foi Viktor, com uma gargalhada tão sarcástica e cortante que mais parecia uma navalha, entrando e saindo de sua barriga inúmeras vezes.

– Mas Syl, somos Carreiristas, fazemos isso. Quem não mata, morre. – Dakota o repreendeu.

– Exatamente, não há nada de errado em temer matar outras pessoas, elas fariam a mesma coisa. E sobre o sangue e morte... Deve ser nojo, é meio nojento no começo. – Katrine concordou.

Sapphire não se pronunciou. Mas Sylvester não aceitaria aqueles argumentos tão falhos. Vidas! Eram vidas! E a morte comera todas, deixando apenas suas cascas. O que importava não eram os corpos, mas as almas perdidas. Respirou fundo. Não falaria aquilo em voz alta. Se o fizesse, chutá-lo-iam da Aliança, e isso sim significaria seu fim. Apenas assentiu, se levantando com a ajuda delas. Logo estavam selecionando armamentos e comendo alguns potes com bolo e salgado. Garrafas d’água foram esvaziadas assim que encontradas. Todos suavam e tinham as camisetas empapadas, mas estavam felizes. Felizes depois de matar cinco jovens inocentes. Quem seriam? Onde estariam seus familiares? Tinham pais? Tinham amigos? Queriam voltar? Tinham medo? Sylvester sabia responder as últimas perguntas: Queriam voltar, e tinham tanto medo quanto ele.

O Sol agonizou sua pele branca e sentiu que estava fritando vivo. O suor era intenso e cobria desde seus cabelos até os cantos das unhas, mas mesmo assim ardia. A Cornucópia estava exposta, ao ar livre. Sylvester notou que se ficassem ali logo se queimariam, suas peles se irritariam e isso poderia gerar mortes certas. Ele logo disse o que tinha pensado:

– Vamos arrastas estes suprimentos e algumas armas até um esconderijo seguro e o resto coloquemos dentro de um desses armazéns, se ficarmos aqui iremos tostar ao Sol.

– Concordo. Vamos colocar tudo dentro daquele armazém, é onde eu e Viktor combinamos de dormir. – Sapphire apontou para uma construção feita totalmente de metal, com janelas e uma porta estreita. Tudo passaria por ela? Bem, não ao mesmo tempo.

– Façamos o seguinte: Vik e Syl desmontam a pilha de alimentos e dão para Sapphire e Katrine, eu fico no armazém organizando o que elas me trouxerem. Sou a mais fraca, por isso acho que o trabalho de força deveria ficar para os meninos.

– Sim. – concordou Sapphire. – Sou acostumava com esta temperatura, minha pele não se queimará tão rapidamente, posso trabalhar aqui fora, mas Katrine é branquinha, deve ficar no armazém com você, eu dou conta de tudo sozinha.

Katrine agradeceu e logo colocaram a estratégia de trabalho em equipe em prática. Viktor era incrivelmente forte, conseguia empilhar e carregar caixas de suprimentos e roupas ao mesmo tempo, embora ele próprio só conseguisse carregar duas coisas por vez. Sapphire era eficaz, mas dois eram melhor que uma e por isso logo o trabalho acumulou para ela, que ia e vinha do armazém, levando caixas, armas, comida...

– Vá ajudar a Sap, eu cuido do resto – disse Viktor quando cerca de meia hora já tinha se passado.

– Mas eu...

– Vá ajudar ela logo, frangote. – o rapaz se irritou e empurrou-o Cornucópia abaixo. Por sorte Sylvester caiu de bom jeito e logo foi ajudar a menina, que suava e rangia os dentes tentando carregar uma das caixas de água.

– Venha, vamos fazer juntos – ele disse, indo socorrê-la. Os dois levaram a caixa para o armazém. Aproveitando isso, Sylvester olhou ao redor. Mulheres sempre tiveram bons truques em organização e seleção de coisas, ele sabia isso por experiência própria ao conviver apenas com mulheres, mas Dakota tinha um olho apurado quando o assunto era “esconder” coisas. Tinham desmontado quase toda a pilha de suprimentos, e mesmo assim o armazém continuava espaçoso o suficiente para dormirem todos ali dentro e ainda fazerem uma fogueira.

– Bom trabalho, Dakota. – ele elogiou, vendo-a ruborizar a bater palmas de excitação.

– Eu também ajudei – reclamou Katrine, quase implorando por atenção. A ela Sylvester deu seu mais gentil sorriso e tentou voltar com sapphire, que corria na frente para buscar a próxima caixa. Viktor terminara seu trabalho e agora também ajudava a levar as coisas para dentro. Quando o Sol chegou ao seu último ponto no céu, quase totalmente escuro, terminaram. A praça vazia, apenas com aquele chifre de quatro andares, parecia deserta.

Sylvester encontrou a lua, mesmo com o céu ainda com o Sol, e sorriu. Diziam que Sol e Lua na frente de um par de olhos significava boa sorte. Ele foi pisoteado, trabalhou no Sol escaldante, estava moído. Mas não morreu.


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Notas finais do capítulo

Agora já sabem! A Arena é quente! E quem venceu foi... Kaochi, o dono da Ellie ( a guria que quase matou Sylvester). E por causa disso o próximo POV é dela (um extra, a rodada continua igual). Beijos e comentem!