Your Hunger Games - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 25
Sarah Ah-Dom


Notas iniciais do capítulo

Sim, sim, um capítulo de nossa bruxinha! Eu sei, todos odeiam ela (com exceção de dois leitores...), enfim, boa leitura!



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Sarah Ah-Dom

Bastille - Bad Blood

Olho pelo vidro da janela enquanto as crianças passavam correndo pela rua, subindo a ladeira em direção a escola. Sarah franziu as sobrancelhas e sorriu, acenando para eles, mas ninguém a notou, estavam rindo e entretidos consigo mesmos. Ela voltou a sentar-se na cadeira de balanço e voltou os olhos grandes e redondos para vovó, que sorriu de volta.

– Eu prometo que irá para a escola quando for mais velha, Sarah. – ela disse, virando a página do livro de história geral que usava para ensinar a Sarah tudo o que sabia. Vovó era uma ex-professora do Distrito 03. – Agora vamos falar da Bosnia, já vimos a situação da França e da Alemanha, certo?

Ela assentiu, voltando a olhar para o seu livro de mapa geográfico aberto nas pernas. Adorava passar as horas com vovó. Quando ela lhe ensinava aquelas coisas, simplesmente se perdia no tempo e podia ver o mundo antigo, como se fosse o agora. Invejava tanto eles, que faziam Guerras Mundiais, mas pelo menos tinham como provocar revoltas e conseguir o que queriam...

Sarah olhou para a avó quando ela parou de falar e começou a tossir. O ar não chegando aos seus pulmões, e a velha tornando-se roxa. Por fim, algo saiu de sua garganta e ela inspirou fundo. Logo colocou a mão sobre a testa e arregalou seus pequenos olhos por trás dos óculos redondinhos. Se levantou rapidamente, mais ágil que qualquer idosa na sua idade e pegou o pulso de Sarah, puxando-a pela sala e jogando a menina para dentro do quarto, logo trancando a porta. Sarah, caída no chão, encarou o tapete do quarto sendo puxado para fora e logo voltando com um bilhete da avó.

Estou com febre, por favor fique no quarto, mando seu jantar depois.

Sarah suspirou. Sua avó, como sempre, era protetora demais. Apenas porque Sarah nasceram HIV positivo... Tomava todos os remédios corretamente, porque é que iria temer a febre de vovó? Sarah se arrastou até a cama e puxou as pernas para cima, abraçando-as. Tinha apenas oito anos quando notou pela primeira vez que nunca iria para a escola dependendo da avó. Ela colocou os óculos de aro vermelho, que um dia foram de mamãe, ao seu lado. Vovó, a judia. Mamãe, a agnóstica. Papai, o ateu. Sarah realmente estava entre lados extremamente opostos. Mas em que religião acreditaria? Mamãe a abandonou assim que soube de seu sangue infectado, se matou. Papai morreu, se suicidou após alguns dias, ao saber que fora ele quem infectara toda sua família. Mas vovó não a abandonou. Seus pais se mataram sem nem pensar se Sarah ficaria sozinha, perdida. Sorriu. Então preferia acreditar na avó, como sua protetora.

Sarah não entendia. Que de errado havia em ter HIV positivo?

º º º

– Sai de perto, Aranha! – ele a empurrou no peito, fazendo-a cair no chão. – Não me mate. Você tem sangue envenenado, vai matar todo mundo se ficar por perto.

Sangue envenenado... – diziam aos gritos.

Sarah sentiu quando o primeiro pedaço de neve acertou-a na nuca, e então outro no joelho, até que por todos os lados as crianças do recreio atirassem bolas de neve, e ela fosse enterrada viva. Seus dentes batiam um contra o outro, mas não se atreveu a sair daquele lugar gelado. Poderiam estar esperando, para jogar mais bolas de neve. Então quando ouviu o sinal tocar, se livrou de lá e sentiu a orientadora lhe segurar assim que caiu. Ela tirou a neve dentre seus cabelos e lhe encarou, antes que Sarah desmaiasse.

– Eu disse que não iria para a escola pelo seu bem! – a velha falou, no pé da cama – E agora está com pneumonia... Santo Deus, por favor salve minha Sarah... – ela se aproximou da neta, tocando sua testa que ardia em febre. – Não se preocupe, vou fazê-los engolir tudo o que jogaram em você, querida.

E fez. Logo, na porta do quarto, trêmulos e com os rostos vermelhos marcados nas formas dos dedos de vovó, os meninos imploraram pelo perdão de Sarah. Mas ninguém entrou no quarto, e tremiam. Mas não choravam. Têm mais medo de mim do que de apanhar. Ela lhes deu seu perdão e logo quando saíram, amaldiçoou cada um. Meu sangue não é veneno. Tinha certeza disso.

Olhou para as mãos, brancas e geladas como a neve. Enquanto desenhava as veias finas e arroxeadas que surgiam nos pulsos, conseguiu ver algumas veias azuladas. Era tão pálida... Sabia que logo morreria, e vovó ficaria sozinha, mas de certo modo isso não a incomodava. Talvez fosse a maldição dos pais de serem egoístas que ela herdara. Mas assim que se recuperou e voltou a ter aulas de história geral, percebeu que Santo Deus tinha atendido a prece de vovó. Isso a incomodava, pois preferia morrer a viver o resto da vida fugindo de outras pessoas.

Alguns dias depois, jogaram uma bola de neve na sua janela, e o vidro se quebrou sobre a cama de Sarah. Ela acordou no instante, e no outro estava gritando e gemendo, retirando os cacos que se fincaram em seu rosto e em seus braços. Por que a odiavam tanto? O que fizera de mau? Ela por acaso escolheu nascer com aquele sangue envenenado? Se algum dia desejasse ter nascido assim, com certeza estaria louca! Mas o que havia de fazer? Nada, apenas aceitar e continuar vivendo, escondida da vida e das pessoas. Morreria cedo, de qualquer forma...

Quando conseguiu se livrar dos cacos de vidro, andou até o quarto de vovó, chamando-a, implorando por seus cuidados, mas encontrou-a no chão, ao lado da cama, caída, imóvel. Morta. Já era velha mesmo, logo isso aconteceria. Mas justo hoje? Sarah encarou suas mãos, vendo o sangue vermelho que escorria de sua pele ferida. Finalmente, caiu de joelhos, se enchendo de lágrimas e então chorando com todo seu pulmão. Finalmente. Finalmente!

Finalmente era uma princesa vermelha.

º º º

As pessoas são facilmente controladas pelo medo. E são obedientes aos que temem. Olhe para Deus e para seu seguidores. Alguns o adoram como alguém maravilhoso, mas outro apenas temem o inferno e por isso o seguem. Sarah entendeu isso assim que completou seus onze anos. Ser temida era ser forte. Quando foi para a escola, deixou claro suas regras e as pessoas a obedeceram. Isso era ótimo.

Mas agora estava nos Jogos, e as coisas continuavam iguais, mesmo sem os outros conhecerem seu sangue. Talvez ela tivesse um ar amedrontador. Quem sabe? Adorava isso, era maravilhoso como os outros se curvavam para ela. Controlaria o mundo deste jeito, como outros fizeram no Mundo Antigo. Ser temida era ser amada.

Sorriu, ainda desconsolada. Iria morrer cedo, disseram, não havia esperanças para uma criança tão frágil. O Distrito 03 era frio, a neve caía continuamente por seis meses do ano, e os outros seis era um outono sem fim. Seus pais se suicidaram ao descobrirem que tinham a doença, não queria morrer aos poucos como Sarah escolhera fazer. Logo, pensou, os Jogos seriam apenas jogos. Encarou a cena abaixo da árvore onde estava acocorada. Daniel tinha se machucado, ela viu quando se chocou contra a árvore, mas os Carreiristas vinham a toda força em direção a ele. Aryon e Rayseev eram os Carreiristas desta arena de treino, e eles tomavam a Cornucópia sempre, como os Carreiristas normais. Após Arabella matar Ellie no primeiro treino, Sarah concluiu que não havia aliança quando se tratava de um grupo pequeno de pessoas. É claro: ou você mata, ou você morre, e ela tinha certeza de que queria viver.

Mas naquele momento sua maior ameaça não era Daniel, mas sim os Carreiristas. Tinha matado Arabella com a flecha que Ellie atirara na árvore em que Sarah estava escalando. Ellie teve de sair correndo quando um bestante apareceu entre as folhas do chão, mas Pandora ficou imóvel, esperando ele passar. Sarah então a matou.

– Francamente... – sussurrou, pegando um de seus dardos envenenados de dentro do pote que carregava a tira colo. Os dardos eram da Cornucópia, mas Sarah encontrou uma nascente com águas envenenadas bem ao lado da Cornucópia e recolheu um pouco do líquido, colocando no mesmo pote que os dardos estavam. Agora tinha de usar uma luva especial, pois o veneno corrosivo poderia machuca-la caso não tivesse cuidado. Enfiou o dardo dentro da zarabatana com delicadeza. O material era de madeira, e por alguma razão o veneno não corria a madeira, apenas a pele.

Levou a zarabatana aos lábios, sentindo o gosto do veneno e logo o de seu sangue. Alguns traços na água ainda ficava por onde o dardo passava, mas tão pouco que não era o suficiente para mata-la. Mas como ardia! Parecia o inferno.

Sarah mirou o dardo, mas não soltou. Não era Daniel que queria atingir. Quando Aryon chegou próximo a Daniel, que tentava se arrastar para dentro da floresta, Sarah assoprou o dardo, se inclinando no galho. Era pequena e leve, por isso a árvore conseguia sustenta-la facilmente. O dardo atingiu as costas da mão de Aryon quando ele notou-a e ergueu-a para se proteger. Logo aquela mão não passava de carne viva, ossos e sangue. O veneno subia pelo cotovelo e dominou seu ombro, mas parou por ai. Aryon estava com o rosto vermelho, urrava de dor e seus dentes se trincavam cada vez mais. Mas ele não parecia abatido por isso. Este merda tem uma resistência invejável. Pensou, se preparando para saltar para outra árvore próxima. Não podia ficar por ali. Aryon, entretanto, não tinha perdido o foco e para a surpresa de Sarah, carregava uma adaga consigo, bem guardada em sua bainha. Quando a jogou em direção a menina, fincou no galho, logo ao lado de seu pé direito, e ele falhou num espasmo.

Sarah se viu caindo de uma árvore de dois metros de altura, e quando se chocou contra o chão estava de barriga para baixo. Arqueou as costas. Duas costelas afundaram e quando ergueu a camiseta para ver o estrago, apenas um borrão negro arroxeado estava lá, e a pele curvada para dentro. Sentiu o pé arquejar num estalo alto, e então gritou com todo seu pulmão. Quebrara-o na queda.

– Francamente... – murmurou, com as lágrimas aquecendo seu rosto.

Aryon estava sobre Daniel, ignorando-a por completo. Se arrastou até uma árvore e se apoiou nela, levantando-se. Rayseev carregava sua lança de duas lâminas em uma das mãos e uma rede na outra. Erguia os dois instrumentos, avançando sobre ela. Sarah tateou o chão ao seu lado, nenhum sinal da zarabatana. Quando os dedos chegaram até a bolsa que carregava a tira colo, arrancou a tampa do pote e jogou o líquido em direção a Rayseev, de olhos fechados, não queria ver a hora que ele a fincasse com a lança. Mas assim que ouviu seu urro, abriu os olhos. O rosto de Rayseev era uma quande cratera, onde a bochecha esquerda não aparecia, apenas o interior da boca e logo a maçã do rosto, e seu olho direito derreteu dentro da órbita. A sobrancelha se queimou e, do mesmo jeito que o veneno corria para cima, também corria para baixo, do queixo para a garganta, o pescoço, e os ombros, quando chegou do lado esquerdo do rosto e desceu lentamente pela garganta, Sarah o empurrou para o lado a tempo de evitar que seu sangue explodisse sobre ela.

Aryon matou Daniel com uma facilidade absurda, tanto que o menino nem notou, afinal que iria perceber a morte quando se desmaiava e depois se era asfixiado até ficar roxo. Sarah praguejou que Aryon se voltou para ela. Se pelo menos pudesse agarrar os dardos esparramados pelas folhas e encontrar a zarabatana... Mas não tinha tempo para isso. Ele já estava com a lança de Rayseev em mãos, e apontava a lâmina para a garganta de Sarah, enquanto ela se apoiava na árvore. Sentia as costas doerem quando o fez, mas ela melhor do que se apoiar no pé quebrado, ou nas costelas afundadas. Engoliu em seco, enquanto Aryon pressionava a lâmina até chegar a sua jugular.

– Normalmente não gosto de matar derramando sangue. Mas depois do que fez com Ray... Não me deixa escolhas, pequena.

A flecha de Ellie atingiu as juntas de seu cotovelo, e depois sua cabeça, fazendo-o tombar para o lado. Sarah ergueu os olhos, a tempo de ver Ellie não muito longe, mais adentro da floresta, em cima de uma grande rocha, e soltando uma flecha que atravessaria seu crânio.

– Com essa são quatro! – a menina festejou, atirando as pernas para fora da cadeira onde eram presos para entrar na Arena Virtual.

– Empatou comigo. – Aryon comentou, não muito contente.

– E agora sou o segundo, tenho duas. – Rayseev disse.

– E eu uma. – Pandora sorriu para seu amado. Sarah não demorou muito a notar aquele olhar de peixe morto que um lançava ao outro.

Não sorriu com o resto deles, apenas cruzou as pernas enquanto se sentava na cadeira em que tinha sido presa. Seus olhos chegaram a Daniel, que parecia um tanto surpreso. Poderia perguntar a ele se tinha gostado do que vira? Do jeito que o tinha encontrado estava tão assustado que parecia acreditar que aquela era uma Arena real.

– Pensei que você ganharia pelo menos uma edição – disse, por fim, fazendo com que todas as outras vozes se calassem. Sarah sentiu quando os olhos dele chegaram até ela, e a frase era dirigida a sua pessoa. Demorou digerindo as palavras. Eu também pensei, até tomar noção do que isso é.

– São pequenas arenas, esta foi a maior até agora. O que vale é força física e habilidade com armas, nada para uma mente engenhosa como a minha. – respondeu.

– Sim. – Aryon concordou – E podemos dizer que isto seria um grande defeito em você, não, Sarah?

– O que quer dizer com isso? – questionou, escondendo a raiva em um tom inexpressivo e constante. Mas como o odiava.

– Você sabe. Pode até sobreviver entre os cinco primeiros, mas quando os Idealizadores reunirem todos, você terá de se esconder muito bem para ninguém encontra-la, se não...

– Quando isso acontecer, terei minha arma especial. – Sarah o cortou.

– Será? – Aryon sorriu, do seu jeito maldoso, que reservava especialmente para ela. – Sua arma especial seria parte deste conflito, você sabe, não? Claro que sabe. E se todas estivessem vivas, então...

– Cale sua boca, pare de dizer maluquices. Acho que os treinos estão afetando sua mente.

– Não, não. Pelo contrário. Eu só queria saber como é que os treinos estão te afetando, agora que se viu sem sua arma especial...

Teve de morder os lábios para não ir até ele e meter a mão em seu rosto. Ah, como aquele menino lhe dava nos nervos! Mas quando notou a expressão atenta dos outros tributos, engoliu a raiva e sorriu, rindo e gargalhando. Aryon a encarou, desoconcertado.

– Você é um grande piadista, Aryon, isso é o que mais gosto em você.

Ele não respondeu, e logo a instrutora os disse que a décima terceira rodada dos treinos começaria, e Sarah apenas ignorou os outros, deitando-se na cadeira e fechando os olhos, aguardando ansiosamente o momento em que entrasse lá e enfim tivesse a chance de amaçar aquela cabeça oca de Aryon.

Sarah Ah-Dom


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Notas finais do capítulo

Sim, escolhi a música Bad Blood de propósito u.u E o leitor que se aproximou da resposta certa foi o Murilo, por favor me chame no MP. Ah, e quero pedir a vocês, Jujubas, que leiam a primeira fanfic da uma amiga minha, ela faz Oficina de Escrita Criativa comigo e por isso escreve bem :3 Mas é a primeira fanfic e por isso é difícil conseguir leitores. Link: http://fanfiction.com.br/historia/523316/Fragmentum/ Por favor, se tiverem um estante, só tem um capítulo curtinho... Beijos da Meell!