Reparação escrita por Luhni


Capítulo 9
O pedido


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!! ^^
Dessa vez nem demorei, não é? É que eu acabei trocando os prazos das fic's e resolvi trazer logo o capítulo de Reparação! ^^
Muito obrigada a todas que mandaram review, eu já estou os respondendo, ok?
Boa leitura!



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– Sakura-chan! – ouviu lhe chamarem e virou-se para ver Mikoto Uchiha acenando para si.

– Ohayo, Mikoto-san – cumprimentou, fazendo uma leve reverência a mais velha que sorriu.

– Ora, não precisa dessa formalidade querida! – disse ao enganchar o seu braço no da garota que estranhou – Está indo para casa? Eu lhe acompanho – disse passando a andar ao lado da menina.

– H-Hai – disse um pouco surpresa com a atitude da senhora – Aconteceu alguma coisa, Mikoto-san?

– A verdade é que eu já estava a caminho da sua casa para lhe ver, queria falar com você e sua mãe. Faz tempo que não a vejo – se explicou e Sakura não pode evitar suspirar ao ouvir a menção da mãe.

– Entendo, mas sobre o que quer falar? – perguntou mais uma vez, se deixando levar pela curiosidade.

– Eu queria lhe agradecer. Depois que você conversou com Sasuke, ele melhorou um pouco, voltou a comer e parece mais calmo também – e sorriu verdadeiramente feliz com a melhora do filho.

– Que bom, mas eu não fiz nada para que a senhora me agradecesse – e Sakura não pode evitar o sentimento de culpa lhe assolar mais uma vez.

– Claro que fez, você foi a única a conseguir fazê-lo sair do quarto por vontade própria. Bom, Itachi conseguiu uma vez também, mas foi arrastando-o mesmo – Mikoto falou ao lembrar-se da cena – Mas o que estava fazendo por aqui? Vai voltar ao hospital? – indagou.

– Não, pelo menos não no momento – murmurou para si e ao ver o olhar da Uchiha sobre si, sorriu antes de afirmar – Fui apenas fazer alguns exames de rotina.

– Entendo, mas você está bem, não é querida? – a preocupação era palpável na voz da mulher e Sakura por um momento fico se perguntando há quanto tempo alguém não se preocupava daquela forma consigo?

Já havia se passado uma semana desde que Sakura e Sasuke se encontraram pela primeira vez depois de tanto tempo. Nesse período a rosada aproveitou para fazer todos os exames que Tsunade pedira, pois logo iniciaria o seu tratamento, e ela acabava de retornar exatamente de uma dessas consultas, quando encontrou com Mikoto.

– Hai! – respondeu contente e continuaram a caminhar, conversando amenidades até chegarem a casa da Haruno, onde foram recebidas por Mebuki.

– Mikoto-san que prazer em vê-la – cumprimentou Mebuki se curvando diante da Uchiha que retribuiu o gesto.

– É um prazer revê-la também. Faz muito tempo desde que nos vimos pela última vez – comentou Mikoto com um pesar na voz, se referia ao funeral de Sayumi.

Sakura se sentiu desconfortável e Mebuki sorriu de forma triste para a visita, antes de convidá-la para entrar. Em nenhum momento seu olhar se voltou para a filha que parecia invisível aos seus olhos.

– Oka-san, o otou-san está em casa? – Sakura indagou, forçando a mãe a respondê-la e Mebuki tomou isso como uma afronta da menor.

– Jardim – foi a única coisa que disse, encarando-a pela primeira vez da forma mais fria possível.

– Certo, vou deixá-las conversando, com licença – suspirou antes de se virar, mas foi parada pela voz da matriarca.

– Sakura, se despeça de forma adequada! – ordenou impassível e a rosada apenas meneou a cabeça em concordância, havia se esquecido disso.

– Gomenasai – murmurou antes de curvar-se em respeito à Uchiha e a mãe e voltou a ir em direção ao pai.

Mikoto apenas observou a cena sem questionar nada, mas pelo jeito não era somente Sasuke que estava com problemas desde a morte de Sayumi. Sempre vira o quanto Mebuki era rígida com a criação das filhas, mas era possível ver o amor e o carinho que ela tinha pelas menores, afinal quantas vezes não viu a Haruno mais velha ficar desesperada pelas confusões em que Sakura se metia?

O problema era que Mebuki insistia em esconder o que sentia por baixo daquela fachada de esposa do líder do clã, e nisso a Haruno se parecia muito com o seu marido que também carregava nas costas o fardo que o nome do clã impunha. Era por isso que Mikoto sempre a entendera. Mas o que vira agora... não havia nada no olhar dela, era como se não fosse a mesma pessoa e aquela com quem falava não fosse sua filha. As coisas estavam piores do que pensava e rezava para que o planejava desse certo no final.

–*-

Sakura respirou fundo ao se ver longe da progenitora e passou a andar até o jardim onde pode ver o pai treinando calmamente. Ele parecia concentrado enquanto praticava taijutsu e por um momento teve vontade de ir lá e lutar com ele, como fizera quando era mais nova, deu um passo para mais perto, mas retesou ao ver o olhar do pai cair sobre si. Sorriu timidamente para ele que parou com os movimentos e foi em sua direção.

– Chegou cedo hoje – comentou sentando-se na entrada da casa e Sakura, abaixou-se, ficando de joelho devido ao quimono.

– Hai, encontrei com Mikoto Uchiha no caminho. Ela está conversando com a oka-san – disse em um tom baixo e Kizashi franziu o cenho um pouco irritado com os modos da filha.

– Sabe o que ela quer? – indagou.

– Lie, deixei as duas conversando na sala, mas parece ser só uma visita, afinal faz tempo que as duas não se veem – virou o rosto um pouco incomodada.

– Certo – disse ao se levantar – Se alguém perguntar diga que fui tomar um banho e depois irei até a sala – se despediu da filha que somente aquiesceu e ouviu quando seu pai entrou em casa.

Era sempre assim. Desde que Sayumi faleceu Kizashi não sabia como se relacionar com a menor. Suas conversas eram secas e curtas, muitas vezes ele parecia fugir de ficar perto da filha. Mas pelo menos ele conversava com ela, perguntava como havia sido seu dia, como estava, mesmo que Sakura nunca contasse realmente a verdade, pois sabia que aquilo não era algo que seu pai quisesse saber. Ele apenas estava sendo gentil e tentando tornar a convivência entre os dois pacífica. Diferente de sua mãe que praticamente ignorava a existência de Sakura. Era como se não tivesse mais nenhuma filha e quando se voltava para a rosada era apenas para criticá-la da forma mais severa possível.

Kizashi pensava que sua família havia sido desfeita naquele dia fatídico, havia ficado perdido e sem saber ao certo o que sentia. Uma filha estava morta e a outra viva, sua esposa culpava Sakura pelo o que acontecera e uma parte sua queria concordar, mas ao ver o estado da sua caçula naquele dia, tão frágil, tão triste, ele não conseguiu odiá-la. A única coisa que queria era tomar-lhe nos braços e acalentá-la, dizer que estava tudo bem, mas ele não o fez, pois não estava tudo bem, seus sentimentos eram contraditórios e acabou deixando o tempo passar sem que ele soubesse como consertar as coisas.

Ele viu sua mulher tão forte, tão vivaz, desaparecer a sua frente e dar lugar a um corpo sem vida e viu sua filha mais nova se perder em meio a dor ao vestir uma máscara de alguém que não era ela. Mas depois de tanto tempo, o que ele poderia fazer? Havia se silenciado, fora fraco e agora sua família ruía a sua frente sem poder fazer nada para impedir.

–*-

Sakura permaneceu no jardim até escurecer, não voltou à sala para conversar com Mikoto, não queria atrapalhar nada ou chatear sua mãe, e ninguém viera procurar-lhe, então ficou ali presa em memórias de um tempo mais feliz e rezando a Kami para que lhe desse força para conseguir mudar sua vida mais uma vez. Levantou-se, limpando o quimono e foi em direção ao seu quarto, tomando um sustou ao ver Ino lá dentro lhe encarando furiosa.

– O que está fazendo aqui? – sussurrou para que ninguém soubesse da presença da amiga.

– Acabei de voltar de missão e você nem foi me ver como prometeu – disse fazendo um bico emburrado. Sakura revirou os olhos com aquilo.

– E por causa disso você invade o meu quarto agora à noite? – retrucou se jogando na cama e observou a loira sair do batente da janela e sentar ao seu lado.

– Fiquei preocupada com você... – murmurou baixinho, mas a rosada conseguiu ouvir.

– Eu estou bem Ino, não precisa se preocupar – afirmou – Como foi a missão? – indagou querendo mudar de assunto.

– Foi fácil, é claro! – falou convencida, jogando o cabelo loiro para o lado e Sakura riu. Ino era uma das poucas pessoas que conseguiam lhe fazer rir de verdade.

A Yamanaka sorriu ao ver que ela parecia bem de verdade. Ficara alguns dias em missão, mas sempre que saia da vila ela ficava com aquela sensação angustiante dentro de si, com medo de que algo acontecesse a rosada. Ino lembrava-se claramente quando a encontrou, pela primeira vez depois da morte de Sayumi, chorando embaixo de uma árvore em um dos campos de treinamento. Sakura parecia uma garotinha assustada, toda aquela confiança e força haviam deixado seus olhos e ela voltara a ser apenas uma menina.

A partir de então, Ino começou a passar mais tempo com a rosada, queria ajudá-la de alguma forma, a Haruno lhe contava sobre os problemas que enfrentava em casa, como a mãe brigava consigo, como o pai agia e como ela sentia falta da irmã. Ela ouvia a tudo com paciência e carinho e tentava a todo custo animá-la, passavam horas conversando, alguns dias Sakura ia até a sua casa e a ajudava na floricultura ou então pedia para dormir no seu quarto, a rosada tentava a todo custo ficar longe do seu clã e a Yamanaka entendia perfeitamente como ela se sentia. Na verdade, achava Sakura muito forte por conseguir aguentar tudo e ainda mais sozinha. Mas hoje ela parecia diferente.

– Então, aconteceu alguma coisa que eu não sei? – sondou a rosada que apenas sorriu antes de se sentar.

– Não consigo esconder nada de você, não é?

– Claro que não! Você é uma péssima mentirosa – disse risonha.

– Tsunade-sama vai voltar a me treinar, ela vai me ajudar Ino! Eu vou poder voltar ao hospital! – exclamou com os olhos brilhando.

– Não acredito! – gritou a loira sem se conter e Sakura tapou a boca da amiga rapidamente.

– Silêncio! Quer acordar todo mundo? – sussurrou para a loira que não se importou e a abraçou com força – Ino! – falou sentindo o ar lhe faltar devido a força da amiga.

– Gomen, mas já estava na hora! O que ela vai fazer? – disse ao se acalmar. Ino era a única que sabia do problema de Sakura com sangue, mas nenhuma das duas sabia lidar com isso ou o que poderia fazer para ajudar.

– Eu ainda não sei ao certo, mas a Tsunade-sama já teve a mesma fobia com sangue e se tratou, então estou confiante – explicou.

– Ela já teve isso? Não acredito! Como? Me conta isso direito! – Ino praticamente quicava de curiosidade para saber mais sobre essa novidade.

– Calma Ino! Não é pra você contar isso por ai, você tem que prometer que não vai espalhar pra ninguém – mandou Sakura, afinal sabia a boca grande que a amiga tinha às vezes.

– Eu prometo, mas conta logo! – falou um pouco emburrada e Sakura riu mais uma vez antes de iniciar a narrativa que a Senju lhe contara.

Elas ficaram conversando por mais algumas horas e Ino ficou contente ao ver que a amiga parecia mais alegre que o normal, talvez em breve, com o tratamento de Tsunade, a Sakura impetuosa e animada que conhecera voltasse completamente.

–*-

No outro dia Sakura podia dizer que havia acordado mais disposta do que nunca, conversar com Ino sempre a divertia e o fato de que as coisas pudessem estar, finalmente, se ajeitando era uma perspectiva que a fazia querer voltar a sorrir. Saiu do quarto às pressas, queria ver Tsunade e perguntar quando poderiam começar com as sessões para o tratamento, porém parou ao ver os pais na sala, com os cenhos franzidos. A primeira coisa que teve vontade foi entrar no cômodo e perguntar o que acontecera, mas lembrou-se que sua mãe não iria gostar disso e de certo ela a mandaria não se meter, mas algo mais incrível ainda aconteceu quando foi chamada pela própria Mebuki a se aproximar.

Como ela havia lhe notado, Sakura não sabia dizer, mas fez como fora pedido e entrou na sala, sentando um pouco afastada dos mais velhos que permaneciam carrancudos.

– Sakura hoje à noite iremos jantar na casa dos Uchiha’s – decretou Mebuki, sem deixar escolhas a rosada.

– Hai

– E por amor a Kami, não use esses trapos que você insiste em chamar de quimono, uma única vez se vista de acordo com a sua posição, mesmo que não a mereça – alfinetou mais uma vez e Sakura cerrou os punhos com força pelo comentário.

– Hai – disse da forma mais firme que conseguiu sem encarar nenhum dos dois. Seu pai em nenhum momento a defendeu – Posso me retirar agora? – indagou magoada.

– Hai, esteja pronta às sete horas – informou Kizashi que foi o primeiro a se levantar a sair do cômodo.

Sakura logo seguiu o gesto do mais velho indo na direção contrária deste, somente Mebuki permaneceu encarando os lugares vazios ao seu lado. Mesmo que estivesse errada, mesmo que isso trouxesse a fúria de Kizashi para ela, tinha que fazer isso. Ela queria se livrar desse sentimento, mas para isso talvez Sakura tivesse que ir também.

– Sayumi, você faz tanta falta querida. – murmurou para si antes de se levantar e voltar aos seus afazeres.

–*-

Por mais que quisesse que o dia durasse mais, parecia que naquele momento o tempo era o seu inimigo, não havia conseguido falar com Tsunade por causa de uma reunião que não terminava nunca e ela praticamente ficou sem fazer nada o dia inteiro devido a isso. Suspirou ao ver que tinha que voltar para casa e se arrumar para o jantar. Seu andar era lento, quase um arrastar de pés, ela não queria ir até a casa dos Uchiha’s, não sabia dizer o porquê, mas tinha um mau pressentimento.

– Parece que está indo para a forca Haruno. – uma voz grave disse ao pé do ouvido da rosada que pulou devido ao susto e se afastou da pessoa.

– Idate! – repreendeu ao rapaz que arqueou uma sobrancelha – Você realmente gosta de me assustar... – murmurou um pouco irritada.

– É, mas eu gostava mais quando você rebatia – disse e a rosada apenas suspirou e sorriu de forma suave.

Sakura observou o rapaz que havia crescido muito em dois anos, estava mais alto e seu cabelo maior, preso em um rabo de cavalo baixo, não tinha mais aquele rosto de criança e sim de um homem feito e que fazia várias moças suspirarem, “uma pena que a idade mental não tenha acompanhado o corpo”, pensou risonha.

Ela não entendia muito bem a relação que havia desenvolvido com Idate durante esse tempo, eles não eram amigos, definitivamente, afinal ele vivia lhe perturbando e continuava com aquele ar soberbo, mas também não o odiava mais como quando mais novos. E parecia que ele também havia mudado sua perspectiva sobre ela, apesar de não se verem com frequência e, na maioria das vezes, apenas conversarem amenidades. Mas de alguma forma eles pareciam estar se dando melhor, talvez porque Idate conseguia fazê-la se transportar para uma época mais feliz.

– Pelo o que eu me lembro você não aguentava quando eu rebatia – disse um pouco convencida ao voltar a andar e Idate a acompanhou, surpreso com a mudança de atitude da rosada.

– Porque eu sempre deixava você ganhar, não se engane, rosada – afirmou e Sakura riu baixinho antes de dar dois tapinhas no ombro do Morino.

– Continue dizendo isso para você – brincou e foi a vez de Idate de rir. Hoje a rosada devia estar de bom humor.

– Bom, você não me disse o motivo da forca... – mudou de assunto.

– E nem vou falar, porque não há forca nenhuma – retrucou – Voltou de alguma missão? – indagou ao ver a mochila do rapaz.

– Na verdade estou indo para uma. Volto em duas semanas. – disse com um sorriso galante antes de continuar – Não vá morrer de saudades minhas. – e mais uma vez Sakura riu depois de revirar os olhos.

– Não precisa se preocupar com isso Morino! – exclamou e quando ele parou um pouco atrás de si, Sakura notou que estavam perto da saída de Konoha.

– Enquanto eu estiver fora será que você pode dar uma olhada na baa-chan? Ela está cada dia mais teimosa... – pediu um pouco sem graça, afinal Sakura não lhe devia nada e sabia que ela não atuava mais como médica-nin.

– Não se preocupe com a Mika-san! Farei uma visita a ela. – Sakura o tranquilizou, entendia a preocupação de Idate e ela gostava de Mika, então não faria mal fazer uma visita amigável.

O moreno sorriu para si agradecido e se aproximou da rosada, encarando-a bem perto. Sakura se assustou pela proximidade, mas não recuou, Idate tinha essa mania de não saber respeitar o seu espaço pessoal.

– Arigatou e quanto ao que você disse sobre não sentir saudades... – Sakura arregalou os olhos ao vê-lo colocar uma mão no seu ombro e de forma automática, esbarrou a mão no peito do rapaz para indicar que ele não devia mais se aproximar. Idate abriu um sorriso ainda maior e apenas disse – ... Continue dizendo isso para você! – usou as mesmas palavras dela e deu meia volta para sair da vila.

Sakura ficou encarando as costas do rapaz com as bochechas pegando fogo, ela só não sabia se era de raiva ou de vergonha. Como ele ousava usar contra si as suas próprias palavras? E ele precisava lhe deixar encabulada, chegando tão perto? Teve vontade de tirar a sua sandália e jogar nas costas do rapaz com toda a força que tinha.

– Baka! Baka! Baka! – gritou para ele, quebrando a etiqueta pela primeira vez em anos – Quando você voltar é bom que esteja inteiro, porque ai eu vou poder te mostrar como eu sempre ganhei de você! – exclamou mais uma vez e o moreno apenas acenou para si de costas. Ele sabia que aquele era o modo da rosada dizer para ele se cuidar.

–*-

Após a conversa com Idate, Sakura teve que correr para casa para não se atrasar e ela tinha que admitir que aquilo foi nostálgico, pois sempre estava atrasada quando mais nova. Sorriu com o pensamento conforme subia as escadas pulando os degraus e agradecia internamente por não ter encontrado com a mãe.

Tomou seu banho e pegou um quimono um pouco mais trabalhado do que os que costumava usar e prendeu os longos cabelos com uma fita em um rabo de cavalo alto. Não sabia o motivo do jantar, então não iria fazer nenhuma maquiagem ou algo mais elaborado e mesmo que fizesse sabia que teria que ouvir os comentários da mãe que nunca estaria satisfeita, porém, ao encontrá-la nenhum comentário foi proferido.

Caminharam em silêncio até a casa dos Uchiha’s, Mebuki segurava o braço de Kizashi enquanto ela ia mais atrás, apenas observando os dois e como várias pessoas cumprimentavam o líder do clã Haruno e sua esposa. Era quase o quadro perfeito de uma família feliz que via, se ela não estivesse incluída. Suspirou ao ver a porta do clã Uchiha e logo Mikoto veio os receber junto com Fugaku.

Sakura ficou um pouco surpresa ao adentrar a sala de jantar e ver Itachi e Hana ali, bem como Sasuke que parecia um pouco irritado. Além disso, percebeu que todos pareciam arrumados demais para um simples jantar, tirando ela e Sasuke, que usava uma roupa de treino. Sentou-se ao lado dos pais e de frente para Sasuke que parecia alheio a sua presença e de todas as outras pessoas já que ao menos se deu ao trabalho de cumprimentá-los.

Fugaku tomou o seu lugar na cabeceira da mesa por ser o chefe da família e todos aguardaram Mikoto servir o jantar em silêncio. Estava ficando inquieta com aquilo, ninguém falava nada, nenhuma conversa, tudo parecia forçado demais, bastava ver o rosto de Hana que de vez em quando lhe lançava um sorriso, mas nada dizia, algo que não era normal para a ex-Inuzuka.

– Agora sim podemos comer! – Mikoto exclamou com um sorriso no rosto ao se sentar e Sakura suspirou aliviada com a notícia e por quebrarem aquele silêncio – Hana-chan você já deve estar faminta, não é mesmo? Tem que alimentar bem o meu neto! – brincou com a nora que sorriu para si.

– Não se preocupe com isso oka-san, esse problema Hana não tem – Itachi disse em tom brincalhão e Hana sentiu as bochechas esquentarem.

– Itachi! – reclamou com um biquinho e Itachi e Mikoto riram. Sakura também sorriu levemente, querendo se convencer que seu pressentimento estivesse errado e aquela era apenas uma tentativa da matriarca dos Uchiha’s em fazer as coisas melhorarem entre as famílias.

O jantar até transcorreu normal, ou o mais normal possível, afinal Sasuke e Mebuki não interagiam com ninguém e Fugaku apenas conversava com Kizashi e vice-versa, enquanto que Sakura não sabia ao certo como agir, então pouco falava. Porém, ao terminar o jantar se surpreendeu ao ver Sasuke se pronunciar pela primeira vez na noite:

– Vão continuar com essa enrolação até quando? Digam logo o motivo dessa palhaçada! – bradou, batendo o punho com força na mesa, pelo visto o mau humor do Uchiha continuava o mesmo, pensou.

– Sasuke! – Fugaku foi o primeiro a censurá-lo, sua voz parecia um trovão cortando os céus e até Sakura o temeu por um instante. Mas o moreno apenas bufou e fechou os olhos para se acalmar.

– Bom, a verdade é que esse jantar realmente tem um motivo... – Mikoto iniciou um pouco constrangida e olhou para o marido que meneou a cabeça concordando com o pedido mudo da mulher.

– Eu e Mikoto conversamos muito ultimamente e percebemos que algumas coisas não podem ficar da forma como estão, por isso queríamos ouvir a resposta de vocês, Kizashi. – Fugaku disse, cruzando os braços e olhando para o Haruno que suspirou.

Sakura franziu o cenho sem entender sobre o que eles estavam falando.

– A verdade é que ficamos muito surpresos com a proposta, mas Mebuki e eu também conversamos e cheguei a conclusão de que vou honrar com a minha palavra. O trato permanece. – decretou Kizashi impassível.

– O que permanece? – Sakura se pronunciou sem conseguir mais se conter.

– Há muito tempo, antes de você nascer Sakura, um acordo foi feito entre o clã Haruno e Uchiha, um acordo matrimonial com o objetivo de estreitar os laços entre as duas famílias – Kizashi explicou.

– Eu sei essa história otou-san, é da Sayumi-nee e... – Sakura parou de falar por um momento ao se dar conta de algo, mas não podia ser isso.

– Sayumi foi prometida a Sasuke, mas o casamento não se realizou – Fugaku tomou a palavra e ao ouvir aquilo Sasuke fechou os punhos com força, “Então é isso?” pensou com desgosto. Enquanto Sakura não conseguia se manifestar, precisava ouvir as palavras para acreditar no que estavam dizendo. – Por causa disso o acordo não foi cumprido, então queríamos saber se seu pai manteria a palavra e continuaria com o que foi acordado...

– Fugaku-san com todo o respeito, mas acho que tem um pequeno problema nisso... – Sakura interrompeu o mais velho abruptamente, mas ela estava confusa demais com o que estava acontecendo ali para se importar com isso - ...não há como o acordo ser cumprido sem a Sayumi-nee e...

– Ele não está se referindo a Sayumi... – e foi a vez de Mebuki cortar a filha que a encarava chocada.

– E-Eu não estou entendendo... – murmurou, sorrindo nervosa para ninguém em especial, não queria acreditar nisso, não podia acreditar.

– Você pode ser muitas coisas Sakura, mas não é burra, estamos dizendo que você vai se casar com Sasuke! – a mãe finalmente pronunciou as palavras que fizeram o mundo de Sakura parar. – Agora temos que decidir a data... – sua mãe continuou e Sakura arregalou os olhos com pavor. Isso não podia acontecer.

– N-Nani? Não! Vocês não podem fazer isso! Isso... isso é errado! – bradou ao apoiar as mãos na mesa. Eles não podiam fazer isso com ela. Ela não queria se casar, ainda mais com o Sasuke, ele era o noivo da sua irmã! Será que não compreendiam isso? – Otou-san, o senho não pode fazer isso, eu...

– Eu sou o chefe do clã e minha palavra basta! – Kizashi retrucou e Sakura não conseguia acreditar no que ouvia, cerrou os punhos com força e não conseguiu controlar as palavras que rasgavam sua garganta:

– Uma vez o senhor disse que eu e Sayumi éramos as melhores coisas na sua vida, que sempre fez o melhor por nós... é isso que o senhor acha que é o melhor para mim, otou-san? Um casamento forçado? – indagou magoada.

Kizashi sentiu seu coração se apertar com a declaração da filha, mas tinha que manter sua palavra.

– Sua irmã também iria se casar com Sasuke por vontade do clã – respondeu.

– Mas eles tiveram anos para se apaixonarem e agora... e agora.... eu... praticamente apareço para tomar o seu lugar... eu... – ela não conseguia dizer mais nada, estava claro que seu pai não mudaria de opinião, ele nem ao menos lhe encarava.

Olhou para todos na mesa na esperança de que alguém a apoiasse e dissesse que aquilo era loucura, mas ninguém se manifestou. Hana estava de cabeça baixa, com o olhar fixo no chão e Itachi lhe encarava com um semblante preocupado assim como Mikoto, enquanto Fugaku e Mebuki permaneciam estoicos. Voltou-se para Sasuke com a esperança dele lhe ajudar, porém ele também permaneceu em silêncio. Explodiu mais uma vez ao vê-lo completamente apático como se não estivessem resolvendo a vida dele também.

– Sasuke diga alguma coisa, isso é loucura! Diga a eles que não quer se casar comigo! Diga! – vociferou para o moreno que a encarou sem emoção.

– Não me importo... – disse ao se levantar e sair do cômodo e Sakura arregalou os olhos o seguindo para o corredor, onde o interceptou.

– O quê? Você quer se casar? Comigo? – gritou, puxando a blusa do moreno, suas mãos tremiam e seus olhos ardiam, mas ela não podia ruir naquele momento – Ficou maluco ou vai me dizer que de repente se apaixonou por mim? – perguntou em tom de deboche e aquilo fez o moreno reagir.

Ele apertou o braço dela com força e a trouxe para perto. Sakura podia perceber o ódio emanando das íris escuras, mas não se encolheu, queria respostas e queria agora!

– Não diga asneiras! Eu nunca me apaixonaria por alguém como você! – exclamou feroz para em seguida sorrir de canto e sussurrar no seu ouvido – Mas se eu não posso ser feliz, então também farei da sua vida um inferno.

– Porque está fazendo isso?

– Você ainda pergunta? – retrucou irônico – Por sua causa eu perdi a única mulher que eu já amei – disse ressentido e depois a largou no meio do corredor, indo em direção ao quarto.

Sakura sentia suas pernas bambas, estava pálida e assustada demais sem saber o que fazer. Ela não tinha esperanças. Ninguém a ajudaria e ela não queria ter que se casar. Pensou em fugir, se saísse da vila talvez pudesse ter uma vida melhor, sem amarras, sem problemas, sem dinheiro, sem ter onde morar e seria considerada uma fugitiva, provavelmente. Suspirou passando a mão no rosto para limpar as lágrimas que brotavam nos olhos, aquela também não era a melhor opção, mas até agora era única que tinha. Estava tão perdida em pensamentos que tomou um leve susto ao sentir uma mão no seu ombro.

– Sakura, podemos conversar? – Mikoto indagou timidamente.

– Desculpe o meu comportamento, Mikoto-san – disse um pouco desnorteada ainda e a Uchiha meneou a cabeça negando.

– Não, sou quem precisa se desculpar. Vamos para um lugar mais reservado – disse, conduzindo-a para um banco na varanda, de frente para o jardim.

– A culpa é minha que isso esteja acontecendo Sakura – iniciou Mikoto, segurando a mão da rosada que apenas ouvia, tentando absorver as palavras e ao mesmo tempo se acalmar. – Sasuke mudou muito desde a morte de Sayumi e você mesma pôde comprovar isso naquele dia. Ele praticamente se excluiu de tudo, vive em um mundo próprio regado a dor e lamentação. – Sakura aquiesceu, concordando com as palavras e incentivando que a matriarca continuasse.

– Eu vi o meu filho definhar aos poucos durante esses dois anos e, sinceramente, pensei que ele não aguentaria por muito mais tempo e quando eu pensava que tudo estava perdido, ele melhorou, graças a você Sakura! – disse com um pequeno sorriso.

– Eu não fiz nada Mikoto-san, Sasuke apenas caiu em si... – murmurou apática.

– Não, Sasuke só conseguiu sair daquele torpor por sua causa, pelo o que você falou para ele. Ele te escuta Sakura! – e apertou a mão da menina para transmitir confiança – Você é quem eu estava esperando esses anos para conseguir resgatá-lo dessa escuridão, Sakura. Por isso eu pedi para os seus pais pensarem no matrimônio...

Sakura a encarou um pouco surpresa e em seguida sorriu tristemente, então havia sido por isso?

– Acho que está cometendo um erro Mikoto-san – disse em um sussurro.

Ela não era a pessoa ideal para Sasuke, não depois do que havia acontecido com Sayumi e depois do que ele havia lhe dito. Sasuke a odiava, pois por sua culpa a noiva dele havia morrido, então como poderia ser ela a pessoa a tirá-lo da escuridão? Mikoto estava apenas jogando mais lenha na fogueira.

– Não, eu não estou! Sakura... – rebateu Mikoto, mas ela percebia que a menina não acreditava em si, então se levantou e ao ficar de frente para Sakura se prostrou, segurando as mãos da menina que se surpreendeu com o gesto.

– Mikoto-san...

– Sakura, onegai, eu sei que o que eu estou pedindo não é algo fácil ou que se possa pedir, mas eu sou mãe e não consigo ver o meu filho se destruir dessa forma! – disse e um soluço irrompeu assim como as lágrimas de Mikoto que se forçou a continuar – Eu preciso que você me ajude com o Sasuke, de alguma forma eu sei que a única que ainda consegue alcançá-lo é você, porque os dois tem algo que os une: Sayumi. Onegai, Sakura... onegai...

Ela não sabia o que responder a Uchiha, não esperava aquele discurso, tão pouco ver Mikoto daquela forma. As palavras pareciam zunir dentro de si e, por um instante, aquelas palavras lhe remeteram a uma promessa que fizera a irmã:

– Me prometa... que não vai desistir... que vai – suspirou, cansada – que vai seguir em frente, cuidar dos nossos pais... e do Sasuke-sama... ele vai precisar de você...

“Era isso que Sayumi-nee se referia?” pensou totalmente atordoada com tudo o que acontecia. Ela seria capaz de abandonar a sua vida para ajudar Sasuke? Alguém que prometia fazer da sua vida um tormento? E foi com desgosto que reconhecia que tinha sua parcela de culpa por quem Sasuke havia se transformado e com mais desgosto ainda por ver como Mikoto e toda a família Uchiha sofriam por causa disso.

Suspirou ao se dar conta que uma parte dela começava a aceitar esse acordo. Afinal, o que ela poderia fazer? Seus pais não iriam voltar atrás e cada vez mais a ideia de fugir parecia pior, além de que queria fazer seu tratamento com Tsunade e não poderia abandonar Ino... mas casar? Com Sasuke?

Fechou os olhos com força, sabia que um dia seu clã iria fazê-la se casar com algum pretendente, mas rezava para que antes disso acontecer ela própria encontrasse alguém que realmente amasse e assim poderia fugir dessa obrigação. Por isso nunca se imaginou nessa situação, mas também nunca imaginou que Sayumi fosse morrer e fosse deixá-la daquela forma e com aquelas palavras. “Eu devo isso a você, Sayumi-nee, não é mesmo? Eu devo, pelo menos, cumprir a minha promessa e ajudar Sasuke” pensou resignada.

– Mikoto-san, se levante – pediu com um pequeno sorriso no rosto e a Uchiha a encarou com o rosto coberto por lágrimas. – Tudo bem, eu aceito...


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Não me matem ou a Mikoto, mas essa era a ideia original dela, tentar aproximar a Sakura e o Sasuke de alguma forma e, bem, como nenhum dos dois daria o braço a torcer, ela teve que forçar a coisa toda o que deu em uma Sakura surtando e um Sasuke um tanto quanto com ações dúbias. Mas no final, a rosada acabou cedendo, afinal pesou muito o fato da promessa que ela fez a irmã >..



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