Reparação escrita por Luhni


Capítulo 28
Tentativas e falhas


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Feliz Natal a todos e olha o presente que eu trouxe!! Desculpem a demora, mas muita coisa aconteceu... e como sempre, eu tardo, mas não falho!
Espero que gostem, confesso que o capítulo era para ser maior, mas enquanto ia escrevendo um dos personagens mudou algo e resolveu fazer uma cena que não estava planejada e eu decidi que tinha que terminar o capítulo dessa forma, pois eu fiquei muito surpresa e tocada... enfim, sem spoilers, vocês vão entender o que estou dizendo ;)
Boa Leitura e muito obrigada a todos os comentários, vou aproveitar as férias para escrever e respondê-los!



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            Retirava o jaleco e preparava-se para sair do hospital. Depois da conversa que tivera com a mãe e com Ino, ela resolveu aproveitar o tempo em que estava sozinha para refletir sobre tudo o que estava acontecendo na sua vida, sobre ela mesma, sobre sua mãe, sobre Sasuke e Idate e, principalmente, sobre o que ela sentia. E quando ficara cansada resolveu, no dia seguinte, ir para o hospital e trabalhar um pouco. Ela tinha a permissão de Sasuke afinal de contas, e precisava fazer algo para não ficar entediada e sozinha naquela casa depois de três dias.

            Andou até a saída pensando como a casa ficava vazia sem Sasuke, mesmo que ele não fosse alguém expansivo e que vivesse conversando, a companhia dele estava sendo agradável nesses últimos tempos, ela tinha que admitir. Sorriu e ajeitou o cabelo, talvez tivesse que admitir mais coisas, sentia falta dele, essa era a verdade. Despediu-se da recepcionista do hospital e atravessou as portas de vidro, porém não deu nem dois passos para fora e notou a figura imponente de Sasuke parada no portão do hospital, de braços cruzados e olhos fechados a esperando, exatamente da mesma forma como sempre estava em todas as vezes desde que começara a trabalhar no hospital.

            Sakura teve que piscar duas vezes para conseguir perceber que era ele de fato ali. Ele havia voltado para Konoha. E antes que se desse conta seu coração começou a se alvoroçar e isso nada tinha a ver com o fato dela sair correndo e se jogar em cima dele, abraçando-o. Ela estava com saudades dele e estava contente pois o mesmo estava bem. Ela sempre se preocupara com o bem-estar dele, mas o tempo e as circunstâncias a fizeram ser mais controlada com suas emoções, mas agora parecia que aquela preocupação se misturava a algo mais dentro de si e fazia com que ela não conseguisse nem ao menos se controlar, parecia a mesma Sakura quando criança que sempre se jogava em cima de Sasuke, querendo atenção.

— Você voltou – murmurou aliviada até se dar conta que estava abraçando-o e ele nem ao menos lhe correspondia. Sentiu o rosto esquentar, estava fazendo papel de boba novamente e fez menção de se afastar, mas foi impedida ao sentir os braços do Uchiha lhe contornarem e a puxarem para mais perto.

— Estou em casa – ele murmurou somente para ela que arregalou os olhos, mas em seguida sorriu.

— Seja bem-vindo – ela disse de volta.

            Ao se separarem Sakura tinha as bochechas rosadas, provavelmente com vergonha pelo gesto repentino, mas o sorriso que ela lhe dava fazia o coração de Sasuke se aquecer. Ele realmente não esperava uma recepção dessas, e por isso não conseguiu reagir de imediato, mas estava feliz por ter conseguido se livrar de ter que dar o relatório para a Hokage e ter tido a ideia de ver se ela estava no hospital. Sabia exatamente os horários dela e sabia que poderia encontrá-la naquele momento, algo que ele desejava desde que Kakashi dissera que voltariam para casa. Queria vê-la, queria conversar com ela, queria contar o que haviam descoberto e mais que tudo queria se aproximar dela, pois, mesmo que não mostrasse, tinha receio das palavras de Idate. Tinha medo dela preferir o Morino a ele.

— Todos... todos estão bem? – viu Sakura perguntar de modo hesitante e soube exatamente sobre quem ela falava.

— Sim, ficaram na sala da Hokage – informou e Sakura novamente pareceu aliviada, o que não o agradou – Vim lhe buscar para irmos para casa – e desviou o olhar, tentando esconder a sua raiva.

— Certo – sorriu, mas ele não parecia ter visto.

            Começaram a andar juntos em silêncio, mas para Sakura era algo agradável. Quem diria que poderia se sentir tão confortável com Sasuke sem nem ao menos falar uma palavra? Parecia que tê-lo ali lhe acalmava, sentia falta daquilo e parecia ser algo tão bobo. Sorriu com o pensamento e isso chamou a atenção de Sasuke.

— Qual a graça? – indagou curioso e Sakura corou, ficando nervosa.

— N-nada! – tentou desconversar e o Uchiha franziu o cenho – É besteira Sasuke, não ligue pra isso, eu...

— Mas eu ligo! – interrompeu a jovem e parou de andar. Ela fez o mesmo, parando um pouco mais adiante dele – Sakura...  – e encarou os orbes verde-esmeralda dela – Você pensou sobre a minha proposta?

            Sakura arregalou os olhos, não esperava que ele fosse lhe perguntar isso tão rapidamente. Imediatamente ficou envergonhada e desviou o olhar, tentando organizar os seus pensamentos, mas para Sasuke aquilo já havia sido a resposta que tanto temia. Sentiu um gosto amargo na boca, a dor da rejeição, e decidiu sair dali o mais rápido possível. Ele estava apenas se humilhando na frente dela. Sakura não entendeu o motivo dele de repente voltar a andar antes de respondê-lo, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, um ANBU surgiu na frente dos dois.

— A Godaime pede a presença de Uchiha Sasuke e Uchiha Sakura imediatamente na sala dela – disse e em seguida sumiu em uma nuvem de fumaça.

— O que houve agora? – Sakura indagou para o marido que deu de ombros, sem saber o que dizer ou com cabeça para tal, ainda tentava digerir o fora que recebera da própria esposa.

            Além do mais, ele havia saído da sala da Hokage há pouco tempo, o que teria acontecido para que fossem chamados tão de repente? E ainda mais para que levasse Sakura?

— É melhor irmos logo para descobrir o que está acontecendo – decidiu e a rosada aquiesceu.

—*-

            Naruto estava irritado e faminto. Aquele treinamento era difícil, mas ele achava que estava se saindo bem em tentar controlar a harmonização com a natureza, graças ao Kage Bushin no Jutsu. Sorriu, ele realmente era esperto e o Ero-sennin iria ficar orgulhoso dele quando visse que estava quase dominando a técnica. É claro que ao chegar na Terra dos Sapos sozinho, sendo enganado por Jiraya que o deixou sozinho para fazer sabe-lá-o-quê, ele ficou irritado e xingou bastante o mestre, mas ao ver o lugar onde estava e ao ter a possibilidade de aumentar os seus poderes com os grandes Sapos Sábios, animou-se o suficiente com o desafio de conseguir dominar a técnica antes que Jiraya voltasse e, assim, pudesse surpreender o mestre.

            Ele só não contava que aqueles sapos iriam inventar de perturbar o seu treinamento com a ideia fixa de ter que voltar para Konoha.

— Eu já disse que ainda não posso voltar! Ainda não aprendi tudo e estou esperando o Ero-sennin! – bradou irritado com Gamakichi, um sapo laranja com manchas roxas ao redor dos olhos, boca e estômago, que o empurrava para fora do centro de treinamento onde estava.

— E eu já disse que você tem que ir! Você foi convocado pela Hokage! – bradou pela última vez e isso chamou a atenção do Uzumaki.

— O que a vovó Tsunade quer comigo? – indagou-se e aquele momento de distração foi o suficiente para que Gamakichi conseguisse mandar Naruto de volta para Konoha que se assustou ao ser novamente engolido por um sapo.

— Desculpe Naruto, mas você precisa voltar, precisa saber o que aconteceu – Gamakichi comentou triste ao se ver sozinho.

—*-

— Gamakichi seu imbecil! – vociferou ao cair no chão. Odiava esse teletransporte dos sapos. Não tinha um modo mais sutil de fazerem isso?

— Naruto? – ouviu lhe chamarem e conseguiu identificar os fios rosados de Sakura na frente do seu rosto.

— Sakura-chan! – exclamou contente ao se levantar e ir abraçar a amiga, como sempre fazia, e dessa vez ninguém o impediu, mesmo que Sasuke estivesse ao lado dela – Não vai me afastar, Teme? – indagou confuso com o comportamento do amigo que desviou o olhar.

— Não – foi a única palavra que disse e Naruto voltou seu olhar para a garota em seus braços.

— Aconteceu alguma coisa, Sakura-chan? – e a menina apertou a sua jaqueta com força, mas não lhe encarou.

            Aquilo estava ficando estranho e em seguida levantou o olhar se deparando com a Godaime, Shizune, Kakashi-sensei, Sasuke, até mesmo sua mãe estava ali. E ele não entendia o motivo daquilo tudo. Por que estava na sala da Hokage? Nenhum deles lhe olhava nos olhos e todos pareciam abatidos com algo. O que estavam escondendo de si?

— Oe, estão me assustando – comentou sorrindo nervoso e voltou-se para a mãe – Aconteceu algo com o meu pai? – foi a primeira ideia que teve e Kushina teve que engolir o nó que se formava para conseguir falar com o filho.

— Não, seu pai está bem – foi o que conseguiu dizer, mas o semblante de angústia ainda estava presente em seu rosto.

— Então? – Naruto passou a observar a Hokage como se pedisse explicações e ela somente suspirou.

— Eu tenho notícias para lhe dar, Naruto – Tsunade começou, tentando se controlar – A missão em que Jiraya foi junto com você – “A missão que eu lhe dei” completou em pensamento – tivemos notícias de Jiraya recentemente, ele... – hesitou, mordendo os lábios com força, tinha que se controlar. Olhou diretamente para o Uzumaki que não desviava a atenção de si – Ele morreu em batalha – finalmente conseguiu dizer e a sala ficou em silêncio.

            Todos ficaram atentos nas reações de Naruto que, inicialmente, somente arregalara os olhos. Esperaram que ele conseguisse digerir a notícia, mas para a surpresa de todos os presentes ele começara a rir de forma nervosa.

— Oe, baa-chan, que brincadeira sem graça é essa? – a voz estava esganiçada e era possível notar o desespero tomando conta dele.

            Naruto olhou da Hokage para o ex-sensei, que não esboçou muita coisa, passou por Shizune até chegar na sua mãe que parecia preocupada.

— Por que estão me olhando assim? É só uma brincadeira, não é? – e começou a rir enquanto observava o rosto de todos – Uma brincadeira de muito mau gosto, mas uma brincadeira.

— Nunca brincaríamos com isso – foi Sasuke quem disse e Naruto parou de rir. Ele encarou o Uchiha e em seguida voltou seu olhar para Sakura, que continuava a lhe segurar fortemente.

— Sakura-chan... – murmurou com um sorriso – Diga, diga a eles que é uma brincadeira – pediu um pouco afoito e viu Sakura suspirar antes de levantar o rosto para encará-lo.

— Não é uma brincadeira, Naruto. Jiraya morreu – disse sentindo o peso daquelas palavras caírem nos ombros do melhor amigo.

— Do-Do que está falando? E-Eu não acredito! – negou, balançando a cabeça.

— Meu filho... – Kushina sussurrou com compaixão.

— Não! Ele não morreu! Ele... ele é um Sannin! Uma lenda! Não pode ter morrido! – bradou agora irritado e como se precisasse comprovar o que falava segurou o braço de Sakura, que estava mais perto de si, com força – Diga que é mentira, Sakura-chan! Diga! Por favor, diga! – ele gritava enquanto a segurava mas nenhuma palavra saia da boca da amiga e aquilo o fez entrar em pânico. Não podia ser verdade, não podia!

— Naruto! – Sasuke o chamou, colocando a mão sobre o ombro do amigo, tentando acalmá-lo – Está a machucando! – alertou e Naruto arregalou os olhos ao ver a força que usava.

            Ele afrouxou o aperto e conforme ia fazendo isso era como algo dentro dele começasse a se quebrar.

— Sakura-chan... por favor... – pediu mais uma vez com um sorriso afetado, ao mesmo tempo em que lágrimas começavam a escorrer por seu rosto – Ele não está morto... – falou mais para si, porém soube que era inútil. A verdade era a mesma, não importava para quem indagasse, seu mestre, Jiraya, estava morto.

            Sentiu que iria desabar ali mesmo, as únicas coisas que o impediam eram as mãos de Sakura ainda agarrando a sua jaqueta bem a sua frente e a mão de Sasuke no seu ombro. Eles pareciam firmar Naruto no chão, impedindo-o de cair como uma criança e chorar no chão. Olhou para a mãe que se lançou na sua direção e seus amigos o soltaram, ele continuava chorando, mas era engraçado como nem ao menos sentia as lágrimas serem vertidas por seu rosto. Ele não conseguia desviar a atenção de Tsunade que parecia tão calma diante da notícia que fez com que ele sentisse o sangue ferver. Afastou-se da mãe e andou em direção a Hokage.

— A culpa disso é sua! ‘ttebayo! – bradou apontando para Tsunade que nem ao menos se moveu na cadeira – Você o mandou para essa missão!

— Naruto, a culpa disso não é da Tsunade-sama! – Kushina retrucou, tentando acalmar o filho, mas ele a rechaçou.

— Claro que é! Se ela não tivesse o mandado na missão, se eu tivesse ido com ele...

— Você também teria morrido! – interrompeu a Hokage, seu olhar sério jamais o deixava.

— Como pode saber? Talvez tivéssemos uma chance! – contrapôs irritado.

— Não é tão simples – murmurou a Senju – Eu não poderia arriscar te perder e...

— Eu não sou uma arma para ficar guardada e ser usada quando bem se entende! – gritou furioso – Eu sei que tenho algo dentro de mim, mas você não pode decidir a minha vida! Eu...

            Ouviu-se um baque na mesa e em seguida esta havia se rachado ao meio e Tsunade o encarou, os punhos fechados apoiados no que sobrara da sua mesa. E Shizune, que estava mais perto da Hokage, havia se desequilibrado de tal forma que se não fosse por Kakashi tinha certeza que iria ao chão pelo impacto.

— Enquanto você representar um perigo a si mesmo e a todos de Konoha, sim, eu tenho o direito de decidir a sua vida! – Naruto recuou minimamente, incomodado com as palavras, mas ainda não estava satisfeito com aquilo.

— Então que chamasse outro ninja, tanto faz! Mas você sabia do perigo da missão e o mandou mesmo assim! – Naruto acusou novamente – Você o expôs e agora nem ao menos liga para ele!

— O que está dizendo Naruto? – Kushina bradou abismada pelo comportamento do filho. Ela iria se aproximar para brigar com ele, mas alguém havia sido mais rápida do que ela.

— Naruto! – Sakura gritou o nome dele e em seguida o Uzumaki sentiu o rosto arder com o tapa que recebera da ex-Haruno.

            Ele a encarou estupefato e viu a menina com os orbes marejados, arfando e com as bochechas coradas de raiva.

— Sei que está triste pelo o que aconteceu com o Jiraya, mas isso não te dá o direito de supor coisas desse tipo, por isso pense bem antes de falar. – estava magoada com o amigo e não demorou muito para o Uzumaki compreender a fala dela.

            Ele estava agindo da mesma forma que fizeram com ela quando Sayumi morreu. Ele estava sendo ignorante e estava ferindo os outros para tentar encobrir a dor que sentia pela perda do mestre. Ele só queria aliviar aquela dor e Tsunade estava sendo a vítima. E isso havia machucado não somente a Hokage, como Sakura. E ela não podia permitir que algo assim acontecesse com alguém na sua frente. Ela não queria que a Senju levasse nos ombros a culpa pela morte de Jiraya, assim como ela também não queria mais carregar o peso da morte de Sayumi. Não haviam culpados ali. E Naruto tinha que entender isso.

— Desculpe, Sakura-chan... – Naruto murmurou mais calmo, e em seguida virou-se para a Godaime e fez uma leve mesura antes de sair pela porta a passos rápidos. Precisava ficar sozinho, precisava pensar um pouco.

            Sakura ainda pensou em seguir o rapaz, queria conversar melhor com ele, fazê-lo entender o seu ponto de vista e o de Tsunade, pois para ela era claro o quanto a morte de Jiraya havia a atingido, mas quando fez menção de segui-lo, sentiu Sasuke segurar sua mão com força e impedi-la de continuar.

— Não – ele disse – Deixe ele esfriar a cabeça um pouco – pediu e Sakura, mesmo hesitante, aquiesceu.

            Ela olhou para a Senju que parecia angustiada. Tsunade, desde que chegara e dera a notícia sobre Jiraya a eles, estava ostentando aquela postura firme e inabalável. Ela havia solicitado que as pessoas mais próximas de Naruto estivessem ali, pois sabia que ele precisaria do apoio de todos, mas e quanto a ela? Ela achava que ninguém perceberia o quanto estava sofrendo? Aquela fachada era algo tão superficial que quando Naruto iniciou o seu ataque de fúria, era possível ver a mestra ruir a sua frente. Ou talvez só ela pudesse enxergar o quanto Tsunade sofria, pois ela também viveu a mesma situação. Apertou a mão de Sasuke inconscientemente em busca de amparo e ele retribuiu o gesto, aproximando-se um pouco mais dela.

— Shishou... – tentou falar algo, mas foi interrompida pela própria Tsunade.

— Ele vai sobreviver – disse em voz alta para Kushina, mas as palavras pareciam ser direcionadas a ela própria – Só precisa de um tempo, mas nós não temos muito tempo – falou com pesar e em seguida se virou para Shizune com a postura imponente – Chame Shikamaru e peça para ele tentar decodificar a mensagem de Jiraya, precisamos saber o que ele viu – e entregou a foto que tirara das costas do sapo que contou sobre a morte do seu companheiro de time – Kakashi, você também será responsável por isso, já que acabou de vir da Nuvem com informações – e começou a andar em direção a porta sem encarar nenhuma das pessoas que estavam ali – Precisamos nos manter fortes em um momento como esse – foram as últimas palavras dela antes de sair pela sala.

            Tsunade andou pelo corredor meio a esmo sem nem ao menos conseguir ver por onde estava indo ou por quem estava passando, apenas parou quando suas poucas forças se esvaíram e mais ninguém estava presente. Ela escorou-se na parede, como se tentasse segurá-la e mordeu o lábio inferior com força, sentiu o gosto de sangue, mas não se importou, e as malditas lágrimas vieram em seguida de forma silenciosa e angustiada.

— Idiota, você havia prometido voltar – murmurou passando os braços em volta de si. Mais um que havia perdido na sua vida.

—*-

            Ninguém ousou dizer nada ou contradizer as ordens da Hokage, todos compreendiam que ela devia estar passando por muita coisa e o peso de ser a Godaime parecia triplicar em suas costas nesse momento com a perda de Jiraya. A líder de uma Vila devia ser como uma rocha, dura e impenetrável, não podia demonstrar seus sentimentos ou isso poderia ser considerado como uma fraqueza, uma brecha que poderia desencadear diversos problemas para a Vila e por causa disso Tsunade não podia se permitir nem ao menos chorar a morte de alguém querido por si. Sakura olhou de relance para Sasuke, Fugaku também devia passar por isso e refletia as consequências que poderiam ter pelo fato de Sasuke ter ido contra a ordem do clã.

— Não se preocupe – Sasuke disse de repente, encarando-a e ela arregalou os olhos surpresa.

            Era como se ele estivesse lendo seus pensamentos, mesmo que fosse impossível, mas de alguma forma aquilo foi o bastante para que ela se acalmasse, de alguma forma ela sabia que ele ficaria do seu lado a partir de agora. Ela, então, aquiesceu e em seguida se retiraram da sala. Não adiantava mais eles ficarem por ali, as ordens já haviam sido dadas e a eles só restava esperar e, quem sabe, visitar Naruto mais tarde.

            Caminhavam lado a lado, Sakura perdida em pensamentos, preocupada com a mestra e com o melhor amigo, enquanto Sasuke seguia junto dela, observando cada reação que ela tinha a cada momento. E ele se sentiu um idiota e um maldito egoísta, pois, mesmo que tivessem acabado de receber péssimas notícias e ela estivesse preocupada com Naruto e Tsunade, ele só conseguia pensar no quão egoísta era por ter tido a oportunidade de segurar a mão dela como fazia até agora. Sorriu de canto, ela nem ao menos se dava conta daquilo, e ele se sentia realizado com algo tão simplório. Antes, Sakura vivia arranjando motivos para abraçá-lo, sempre ficava ao seu lado, sempre demonstrava gostar de si, mas depois da morte de Sayumi e ele ter se afastado de todos e, principalmente, a machucado, ela ficara mais reclusa e preferia não se aproximar. Por isso ele gostava de pensar que o fato dela permitir, mesmo que inconscientemente, uma aproximação por parte dele pudesse significar algo.

—*-

            Foi feito a pedido da Hokage um anúncio sobre a morte de Jiraya, o lendário Sannin dos Sapos, e os moradores da Vila prestaram as suas devidas homenagens ao shinobi corajoso durante o enterro. Durante o ato fúnebre, Sakura e Sasuke permaneceram ao lado de Naruto, assim como Kushina. E a chuva foi a responsável por dispersar a todos, menos o Uzumaki e seus amigos mais próximos.

— Naruto, é melhor irmos para casa – Kushina disse tentando se proteger das primeiras gotas de chuva.

— Eu vou ficar mais um pouco, a senhora pode ir – disse sem desviar o olhar da lápide do antigo mestre.

— Naruto, você... – Sakura ia tentar falar algo, mas novamente Sasuke negou.

— Fique o tempo que precisar – ele respondeu ao amigo e em seguida puxou as duas mulheres para saírem dali.

— Tem certeza que é melhor ele ficar sozinho? – Sakura indagou preocupada.

— Ele não está sozinho – e ambas as mulheres ficaram confusas com a frase dita por Sasuke.

            Sakura até pensou em contradizê-lo, porém ao olhar para trás pode ver a silhueta de Hinata se aproximar lentamente de Naruto e começar a murmurar algo para ele. Sorriu, talvez Sasuke estivesse certo, Naruto não estava sozinho e ela sabia que Hinata, com o seu jeito doce e gentil, poderia ser capaz de acalmar o coração dele. Olhou para Sasuke e sorriu, o Uchiha estava realmente a surpreendendo.

— Eu peço desculpas pelo o meu filho, mas ele realmente amava muito Jiraya – Kushina disse com pesar – Jiraya foi como um segundo pai para Naruto, principalmente depois que Minato... – e fechou a mão em frente ao peito, sem conseguir terminar a frase.

— Não precisa se preocupar, Kushina-san, sabemos que o Naruto só está muito abalado com tudo – Sakura tentou tranquilizá-la.

— Sakura! – ouviram o chamado e os três pararam ao ver Shizune correr em direção a ex-Haruno com um guarda-chuva em mãos – Ainda bem que a alcancei! Você pode fazer o plantão hoje no meu lugar? – e em seguida olhou para Tsunade que permanecia mais atrás com o olhar perdido e Sakura compreendeu que Shizune queria ajudar a Senju.

— Sim – e viu Sasuke arquear uma sobrancelha, mas ele nada falou – Já irei para lá – e Shizune agradeceu rapidamente antes de voltar para o lado da Godaime.

— Plantão? – Sasuke indagou e a esposa hesitou, mas por fim aquiesceu e ele suspirou – Certo, irei te acompanhar até lá.

— Não precisa! – negou rapidamente – Pode continuar a acompanhar a Kushina, eu vou sozinha, aproveito que a chuva ainda está fina – e o Uchiha franziu o cenho, não gostando de ter sido rejeitado mais uma vez. As ações ambíguas de Sakura o deixavam confuso e frustrado.

— Ora, não se preocupem comigo – Kushina se intrometeu ao ver que poderia atrapalhar o casal – Eu já estou perto de casa, e estou protegida – apontou para o objeto que a abrigava da tempestade que começava a cair – Pode acompanhar a sua esposa, Sasuke-kun.

— Não, o Sasuke acompanhará a senhora, não é? – Sakura negou e encarou o marido que, apesar de preferir ficar ao lado da esposa, sabia que a educação mandava ele acompanhar a Uzumaki mais velha. E foi por isso que ele concordou.

— Eu a busco mais tarde lá, então – disse antes de se retirar junto com Kushina que reclamava que os dois eram muito teimosos e que ela não era uma velha para ser tratada como tal.

            Sakura apenas riu do comportamento da Uzumaki e por ver a cara de desagrado do marido por ter que ouvir Kushina reclamando, provavelmente, até a casa dela. Correu para o hospital ao ver que estava perdendo tempo e procurou ir até a sala de Shizune para trocar de roupa por uma mais seca.

—*-

            A mente dele estava em branco e os pés dele pareciam colados ali, ele sabia que era verdade, podia ver a lápide a sua frente, mas se recusava a acreditar. Sakura tentara falar com ele durante todo o enterro, mas ele só conseguia respondê-la com monossílabos, algo inimaginável para ele. Não queria ser mal educado com ela, mas não tinha forças para nada, apenas desejava ficar ali, sentindo as gotas da chuva o castigarem por algo que nem era a sua culpa. De repente sentiu a chuva parar e notou que um guarda-chuva havia sido posto sobre a sua cabeça, olhou para o lado e viu Hinata.

            Ela nada disse, apenas ficou ali e começou a rezar por Jiraya. Quando ela acabou, virou-se para ele que ainda encarava o nada. Suspirou e tocou-lhe o braço levemente.

— Naruto-kun... – murmurou, mas ele nada disse, então resolveu continuar – Sei que está triste, mas não adianta ficar aqui. Todos já foram...

— Pode ir Hinata, eu quero ficar – interrompeu a menina.

— Mas...

— Eu quero ficar sozinho! – foi mais ríspido, assustando a Hyuuga, mas esta logo retomou a postura firme e permaneceu ao lado dele.

            Naruto não disse mais nada, achava que ela logo se cansaria e não demorou para a chuva aumentar. O vento frio fustigava a ambos e o guarda-chuva quase não servia para nada. Hinata nada falava, somente ficava ao lado dele, mesmo que começasse a tremer um pouco, se recusava a deixá-lo sozinho. Ela via o quanto ele estava arrasado pela perda do mestre, mas Naruto sempre gostou de se fazer de forte, mostrar que nada o abalava e que ninguém precisava se preocupar com ele. E era justamente por isso que Hinata estava ali, pois ela queria mostrar que estava ao lado dele, que ele não precisava ser forte o tempo todo.

            Naruto suspirou ao ver como Hinata tremia. Não a entendia. Ele havia sido um idiota, como estava sendo desde que soubera da morte do mestre, mas ali estava ela, ao seu lado, no meio da chuva, apenas com aquele guarda-chuva que mal cabia os dois, esperando pacientemente por ele. Passou a mão nos cabelos úmidos e decidiu que era melhor sair dali antes que a fizesse ficar doente.

— Vamos – murmurou, chamando a atenção da Hyuuga que o encarou, sem dar um único passo. Ela tinha que ajudá-lo de alguma forma, ele não podia ficar daquele jeito para sempre – O que foi? – indagou ao ver que ela não se movia.

— Naruto-kun – o interrompeu, segurando na manga do casaco dele – Sei que está triste, mas o Jiraya-san acreditava em você – disse e ele arregalou os olhos confuso, mas logo a confusão deu lugar a mágoa.

— Eu queria que ele continuasse a cuidar de mim – murmurou com um sorriso triste – Queria que, já que meu pai não acordou até hoje, o Ero-sennin pudesse me ver como Hokage, mas eu não passei de um menino tolo o tempo todo – reclamou, mostrando pela primeira vez como se sentia. – Eu não mereço...

 - Você não pode desistir e se entregar para a tristeza! – Hinata o cortou e o Uzumaki ficou surpreso com a forma obstinada com que ela falara – Tenho certeza que o Jiraya-san fez tudo o que podia para viver, mas ele sabia que, mesmo que algo acontecesse com ele, ele podia confiar em você.

— O que quer dizer? - murmurou um pouco atônito com as palavras proferidas e com a própria Hinata como um todo.

— O Naruto-kun que eu conheço... – “e amo” completou em pensamento e sentiu o rosto esquentar – ...continuaria a lutar, seguiria os passos do mestre e o orgulharia. Você nunca desistiu, nem quando o seu pai ficou em coma, você sempre foi decidido, sempre esteve sorrindo e sei que a Sakura-san o ajudou muito naquele tempo, assim como o Jiraya-san. Mas pense que Jiraya-san não gostaria de vê-lo dessa forma, assim como a Sakura-san também está sofrendo por vê-lo assim... e... e... – engoliu a seco, criando coragem para finalizar a sua frase – e eu tam...

            Porém, antes que concluísse sentiu os braços de Naruto a envolverem, foi algo tão repentino que ela nem conseguiu segurar o guarda-chuva, e enquanto este caia no chão, o corpo quente dele a envolvia. Ela sentia as gotas frias da chuva fustigando as suas costas e rosto, mas elas nem se comparavam ao calor que ele emanava e nem o que sentiu ao vê-lo chorar na sua frente. Aquilo doía nela, mais do que ele poderia imaginar, e ela queria confortá-lo, foi por isso que retribuiu ao abraço, esperando que ele se acalmasse.

— Jiraya-san confiou muitas coisas a você, ele o reconheceu como um discípulo querido e o protegeu, mas agora é a hora de você confiar muitas coisas aos outros. Eu sei que será capaz de orgulhá-lo, não importa o que aconteça, você é o Naruto-kun, o ninja hiperativo número um de Konoha e acredito que vai conseguir realizar todos os seus sonhos e Jiraya irá olhar por você onde ele estiver – ela disse tentando controlar a própria voz para não chorar.

 - Obrigado, Hinata – e a segurou mais perto de si – Obrigado... – e voltou a chorar agarrado a ela sem se importar com o que acontecia ao seu redor, mas era como se pela primeira vez aquele choro estivesse lavando a sua alma junto com a chuva, enquanto Hinata o aquecia por dentro apenas com aquelas palavras de incentivo e o fato de estar ali ao seu lado. 

—*-

            Já havia feito duas cirurgias no lugar de Shizune e agora visitava alguns pacientes, conforme via as observações feitas na prancheta que segurava. Sorriu, Shizune sempre fora muito metódica e deixava tudo anotado, mas Sakura tinha que agradecer a isso, pois facilitava o seu trabalho também. Se fosse pensar em um defeito em Shizune talvez fosse o fato dela se desesperar facilmente quando algo acontecia com Tsunade ou quando as coisas acabavam fugindo do seu plano milimetricamente traçado, mas para Sakura ver a mais velha aflita era muito engraçado, principalmente quando envolvia Tsunade e saquê. Suspirou ao pensar na mestra, esperava que ela estivesse bem ou pelo menos não desse tanto trabalho a Shizune.

            Virou no corredor indo em direção ao elevador, tinha que visitar outra ala do hospital, quando foi surpreendida por dois braços, que a agarraram e a puxaram para dentro de um depósito. Ela se assustou ao ver que ele tentava tapar a sua boca e sem conseguir ver quem era ou o que queria, rapidamente acumulou chakra na mão e virou-se dando um soco certeiro na cara do inimigo que resmungou de dor.

— Shannaro! Quem é você? – exclamou irritada pronta para acertá-lo novamente, porém foi impossível não arregalar os olhos ao ver quem era – I-Idate?

— Acho que a minha entrada foi muito brusca, não? – tentou fazer graça, mas sentiu o rosto doer devido a força que ela utilizara – Acho que quebrei alguma coisa – comentou e viu que o nariz sangrava de forma abundante.

— Ah meu Kami! – falou desesperada e correu em direção a ele, se agachando para verificar o estrago feito – Me desculpa – pediu ao ver que realmente havia o machucado e começou a emanar o jutsu medicinal para curá-lo – Eu não sabia que era você – comentou envergonhada e sem saber o que fazer na situação.

— Imagino o que faria se soubesse – tentou brincar e sentiu o rosto doer quando ela pressionou com um pouco de força – Itai!

— Desculpe! – falou nervosa.

— Tudo bem, não me importo com isso, desde que você sempre seja a minha médica – quis aliviar o clima, mas Sakura novamente se retraiu enquanto terminava de curá-lo e Idate percebeu isso – Está tudo bem?

— Está sim, por que não estaria? – questionou e ele deu de ombros.

— Você parece estranha – foi a resposta dele e continuou a encará-la.

— É impressão sua – e sorriu procurando se concentrar.

            Idate a observou atentamente e Sakura corou ao ver a forma compenetrada dele enquanto a encarava. Não queria agir dessa forma, estava sendo boba, afinal Idate era alguém especial para si, mas ao mesmo tempo parecia que tudo havia mudado de uma hora para outra e agora ela não sabia mais como falar com Idate.

— Estava em missão – ele disse de repente e Sakura aquiesceu.

— Eu sei.

— Com o seu marido — o tom foi debochado e ela revirou os olhos, mas sorriu. Idate nunca mudava, ao contrário de outra pessoa. Dissipou o pensamento indevido e focou-se no Morino.

— Eu sei – repetiu, curiosa para ver até onde ele chegaria e riu baixinho ao ver o bico de desagrado dele pelas suas respostas monossilábicas, mas ele logo a acompanhou e o clima parecia mais ameno agora, ou assim ela pensou até senti-lo acariciar o seu rosto.

— Senti a sua falta – sussurrou tão baixo que Sakura pensou não ter entendido direito por um momento.

            Ele se aproximou lentamente dela, a mão ainda tocando o rosto da kunoichi em um afago enquanto seu olhar se dirigia até a boca entreaberta dela. Como havia sentido falta dela, eles não podiam se encontrar sempre e por isso desde aquele beijo no beco perto da sua casa não conseguira parar de pensar em tê-la novamente em seus braços. Sorriu com a perspectiva e por vê-la corar ao se dar conta do que faria. Fechou lentamente os olhos, preparando-se para saborear aqueles lábios. Não se importava se eles não poderiam ficar juntos, se ela estava casada e se odiava o cara, naquele momento nada era importante, apenas eles. Apenas ela. E ele não iria perder aquela oportunidade.

— Não... – Sakura soprou no seu rosto quando já estava a milímetros de si. Idate não conseguiu compreender e ao ver que ele continuaria, Sakura colocou um dedo na frente dos lábios dele, interrompendo-o completamente.

            Foi como se ele tivesse recebido um choque. Afastou-se rapidamente para encará-la e Sakura desviou o olhar.

— O que foi? – ele indagou tentando esconder que havia ficado aborrecido pela recusa.

— Eu não acho isso certo – foi sincera e ele pareceu ficar confuso. Suspirou, reunindo coragem para o que falaria a seguir. – Nunca fui alguém que se escondesse com medo, sempre disse o que queria e agora não seria diferente – tentou ser o mais o sutil possível, até porque não sabia ao certo como falar aquilo.

— Como assim? – Idate indagou já ficando nervoso e Sakura o olhou diretamente, da forma mais firme que conseguia.

— Ficarmos desse jeito, não acho certo... – respirou fundo antes de continuar, mas foi interrompida por Idate.

— Sakura, sei que é ruim, mas no momento não temos escolha e...

— Você não está entendendo – balançou a cabeça em negativa e em seguida voltou a encará-lo – Não quero trair o Sasuke e fazer algo às escondidas como quando eu treinava.

— O q-quer dizer? – forçou um sorriso, tentando se manter calmo, não podia ser aquilo que pensava. Não depois de tudo.

— Acho que você sabe o que eu quero dizer – Sakura murmurou gentilmente, olhando-o por cima do cílios.

—*-

            Saíram daquele depósito juntos em um silêncio que não era opressor, como ela pensou que fosse ser. Sakura o indicou a enfermaria e foi junto com Idate até lá para terminar de verificar o machucado que fizera no rosto dele. Ele se manteve a maior parte do tempo calado, mas sempre estava a observá-la, cada pequeno gesto era como se fosse a última vez que fosse ver e, provavelmente, seria. Ela não havia dito que não queria nada com ele, apenas que não aprovava aquele comportamento enquanto estava oficialmente casada com Sasuke, mas ele sabia que havia algo diferente ali. Se ela sentisse algo por ele, convenções iriam afastá-los? Ficou em dúvida quanto a resposta e aquilo o devastou, sem saber o que esperar. Sorriu tristemente ao vê-la ficar tão próxima de si e levantou os olhos para a porta ao ver de relance um vulto passar. Voltou-se para Sakura e disse que ele poderia continuar dali.

            Ela pensou em discutir, mas hesitou, talvez ele quisesse um tempo sozinho e resolveu apenas concordar e sair da enfermaria. Ainda pensava na conversa com o Morino quando deu de cara com Sasuke do lado de fora do cômodo com os braços cruzados. Sentiu o coração acelerar, como vinha fazendo há algum tempo, e olhou para trás antes de voltar-se para ele, preocupada com o que ele poderia ter visto ou ouvido e como ele reagiria a isso.

— Sasuke... – estendeu a mão ao tentar dizer algo, mas ele lhe deu as costas e passou a caminhar e aquilo a machucou mais do que esperava. Não queria que ele voltasse a ignorá-la. Nunca se importou, mas agora tudo parecia diferente. Ela estava diferente e passava a vê-lo com outros olhos, mesmo que o receio dentro de si continuasse a existir.

            Foi então que, de repente, Sasuke parou de andar e a encarou por cima do ombro. Ela ainda o observava e parecia aflita com algo. E ele não sabia exatamente como se sentia, uma parte dele estava em chamas, queria entrar naquela enfermaria e matar Idate que novamente estava ao lado da sua mulher e ao mesmo tempo sentia-se derrotado, magoado, por ver que nada havia mudado com Sakura, mas o que ele podia fazer senão continuar tentando? Mesmo que o seu humor no momento fosse péssimo, ele não queria ficar longe dela, ele ainda se importava com ela e foi por isso que parara de andar para falar de forma suave e humilde:

— Vim lhe buscar, vamos para casa – Sakura, ao contrário da calma que ele aparentava, estava nervosa, até ouvir as palavras dele, e apertou com força a mão em frente ao peito.

            Ela ainda não entendia o Uchiha completamente, mas estava feliz ao ver que ele ainda se importava consigo. Meneou a cabeça, concordando, e sorriu antes de correr até ficar ao seu lado, sem notar que era observada por mais alguém.

            Idate não conseguiu desviar o olhar daquela cena. Quando ele resolveu ir atrás de Sakura, arrependido de permitir que se fosse, e xingando-se por tal estupidez, teve que ver aquela cena como um mero expectador. Sakura parecia contente ao lado do Uchiha e ambos caminhavam calmamente para a saída do hospital. Para alguém de fora, talvez fosse algo bem simplório de ver, mas não para ele. Idate conhecia muito bem Sakura, a forma como os ombros estavam relaxados, como ela sorria para ele, como ela o olhava, ele conseguia perceber as nuances diferentes quando o olhar dela estava em Sasuke. E sorriu tristemente enquanto passava as mãos no cabelo. Ele realmente não tinha a menor chance e parecia que o seu coração ficava cada vez menor ao se dar conta de que a perdera, quando nem menos tivera a chance de tê-la.

—*-

            Ela já tinha perdido a conta de quantas garrafas já havia bebido, mas ainda conseguia ouvir Shizune brigar consigo sobre estar exagerando. Sorriu, isso significava que ainda não havia bebido o suficiente e tornou a tomar um gole do seu precioso saquê. Era engraçado como as coisas aconteciam, em um momento ela estava com Jiraya e estavam desfrutando da companhia de cada um, e no outro ela estava brindando a sua morte. Querendo brigar com ele enquanto chorava por ele a ter deixado sozinha, especialmente agora quando ela mais precisava.

— Tsunade-sama? – ouviu a voz de Shizune e viu o semblante preocupado – Está chorando? – e foi somente nesse momento que percebeu as lágrimas pelo seu rosto.

— Traga mais bebida, Shizune – foi a sua resposta e viu a pupila suspirar.

            Shizune não podia fazer nada a não ser ficar ao lado da mestra e esperar até que ela terminasse de beber para que ambas pudessem dormir um pouco. E foi exatamente o que aconteceu. Já era de madrugada quando ela conseguiu levar a Senju para a cama. Preparava-se para sair da casa da mestra quando ouviu baterem na porta. Olhou o relógio e surpreendeu-se com o horário, em seguida ouviu-se mais uma batida e teve um mau pressentimento sobre quem seria e a notícia que essa pessoa traria. Abriu a porta e viu uma parte do rosto cansado de Kakashi que parecia sorrir para si por debaixo da máscara.

— A Godaime está? – ele indagou e Shizune abriu a porta para que pudesse entrar.

— Ela está dormindo no momento e eu realmente gostaria que ela descansasse um pouco – disse enquanto o Hatake observava a casa com pouco interesse.

— Infelizmente isso não pode esperar – ele a encarou de forma séria e Shizune não conseguiu se segurar:

— Descobriram algo sobre a mensagem? – e Kakashi aquiesceu, fazendo-a arfar.

— Serão dias sombrios a partir de agora – foi a resposta dele antes de entregar a mensagem decodificada e Shizune ao ler correu para chamar Tsunade, pois mesmo que ela estivesse de ressaca e tentasse a matar por isso, mais vidas dependeriam do que estava por vir agora.

—*-

— Você não me contou sobre a missão – Sakura comentou baixinho, na intenção de apenas de iniciar uma conversa enquanto caminhavam lado a lado.

— Acho que o seu amigo já deve ter lhe contado tudo, já que ele correu para os seus braços – foi irônico e Sakura franziu o cenho, não gostando do deboche.

— É, ele me contou algumas coisas – comentou de forma vaga e Sasuke xingou baixinho. O que ele estava escondendo de si? E semicerrou os olhos, desconfiada – Mas queria ouvir de você a versão dos fatos.

— Não há nada para contar, a não ser que ele é um grande idiota e quase estragou a missão inteira por uma estupidez! – reclamou e Sakura suspirou.

— Não precisa exagerar e...

— Vai defendê-lo agora? – exaltou-se e foi a vez dela ficar irritada.

— Qual o seu problema? – brigou no momento em que chegaram em casa. Abriu a porta da frente e se virou para o rapaz que estava mais atrás de si – Se não te conhecesse diria que está com ciúmes – provocou e viu o Uchiha apertar os punhos com força. Estranhou, era a primeira vez que ele se comportava daquela forma.

— Ciúmes? Claro que não! Não me faça rir! Não tem nem como me comparar ao Morino – rebateu e viu Sakura revirar os olhos. Ele estava sendo infantil agora, mas notou que ele preferiu dizer que era melhor do que Idate e não que não teria ciúmes dela.

— Quando quiser conversar normalmente, pode me chamar – disse antes de ir em direção as escadas, deixando o Uchiha sozinho que bufou irritado.

            Ele teve vontade de quebrar algo, mas respirou fundo se controlando. Não estava irritado com ela, mas com Idate e essa mania de ficar perseguindo sua esposa. E também consigo. Principalmente consigo. Realmente estava enciumado por ver a esposa tão perto de Idate naquele hospital, não pode deixar de sentir que estava mais uma vez a perdendo. O Morino tinha vantagem sobre ele, era mais próximo a Sakura e conseguia facilmente demonstrar o que sentia, enquanto Sasuke parecia ser incapaz disso, ou de se fazer compreender por ela. Afinal, o máximo que conseguia era mostrar a sua raiva, o seu pior lado a ela e não era o que desejava. Qual o seu problema? Questionou-se e pegou uma almofada, atirando-a com força na parede, sem conseguir mais se controlar. Havia sido rejeitado por Sakura e ainda era obrigado a ver uma cena dela com o Morino e aquilo de alguma forma estava acabando consigo.

            Ele não sabia o que fazer para conquistá-la, tinha medo do que aconteceria em seguida e parecia que mais alguma coisa o rondava, algo que o assustava e ele não sabia dizer o que era, mas parecia pesar dentro de si cada vez mais. Olhou em direção às escadas e apertou os punhos tentando não se deixar abater por aquele sentimento negativo que crescia em si. Tinha que acreditar em si e que nada de ruim aconteceria.

—*-

            Tsunade lia com atenção o relatório entregue por Kakashi pela terceira vez. Todo o resquício da bebida parecia ter sido evaporado e agora dera lugar a apreensão. Ela já havia pedido que chamassem os líderes de cada clã de Konoha. Ela não poderia mais omitir nada deles, precisava que se aliassem em prol de um bem maior. Ouviu a porta se abrir e por ela passar Haruno Kizashi com cara de sono, mas mesmo assim ele a cumprimentou e ficou à espera de instruções.

— Desculpe o horário, Kizashi – e olhou brevemente para o relógio que marcava quatro da madrugada – Descanse um pouco enquanto esperamos os outros – foi o que ela disse e em seguida voltou a ler o relatório mais uma vez.

            Mas Kizashi em nenhum momento procurou relaxar. Ele sabia que para um ANBU vir lhe tirar da cama nesse horário e pedir que fosse até a residência da Hokage e não no seu escritório era porque algo sério estava acontecendo e, por mais cansado que estivesse, ele não conseguiria mais relaxar completamente até saber o que era. Olhou para trás ao ouvir um barulho e franziu o cenho ao ver Hyuuga Hiashi, Yamanaka Inoichi e Nara Shikaku aparecerem. Ninguém fez nenhum comentário e os três homens apenas se juntaram a ele, avaliando o motivo de tanto alarde e de tantos líderes de clãs reunidos.

            Nenhum ali era inimigo de fato, mas os Haruno’s não confiavam muito nos Hyuuga’s, algo que vinha de muito tempo devido a problemas internos dos clãs. E se a Hokage os chamou, mesmo sabendo de suas desavenças, a situação devia ser mais grave do que pensara. Dez minutos já haviam passado e a Senju apenas repetiu a mesma coisa que dissera ao Haruno que começava a ficar impaciente com tanto mistério. Sakura tivera a quem puxar, afinal. Sorriu ao pensar na filha, mas seu semblante logo ficou triste ao notar o quanto estava distante dela e o quanto era sua culpa. Por mais que Mebuki dissesse que a culpa era inteiramente dela, ele sabia que não. Ele fora um fraco e um covarde na época, incapaz de agir como um pai e estar presente quando a caçula mais precisava dele. O problema era que ele também se sentia desamparado, havia perdido uma filha, e sua esposa, que sempre fora o seu alicerce, também estava quebrada.

            Era muita coisa para absorver na época, tantos sentimentos que ele não sabia o que fazer, o que sentir... então ele simplesmente se deixou levar. Enquanto Mebuki usava a raiva para culpar a si mesma, ele não foi capaz de enfrentá-la, de negar e isso somente fez com que a esposa continuasse a remoer aqueles sentimentos negativos dentro de si. Se tivesse ajudado a esposa, talvez ela não tivesse sofrido tanto. Se ele tivesse percebido a dor de Sakura depois da morte de Sayumi, como ela e a mãe estavam lidando, talvez pudesse ter ajudado. Ele costumava dizer que era o pilar dos Haruno’s, mas como um pilar pode ser tão facilmente derrubado como ele foi? E ele viu sua filha se transformar em algo que ela não era e cada vez que a via agir como Sayumi e menos como Sakura, aquilo lhe doía e parecia estar diante de um fantasma, o que o fazia se afastar cada vez mais e tudo piorar.

            Era um fraco de fato. Havia se acostumado com a dor adormecida, com fatos que pareciam passar como um borrão na sua frente. Ele foi conivente com a proposta da esposa do casamento com Sasuke, pois mesmo tendo relutado, ele acatou. As palavras “quem sabe isso possa fazer Sakura feliz, como nós fomos ao casarmos” ditas por Mebuki deram a sentença final. Ele só queria que sua filha mais nova fosse feliz, que ela estivesse a salvo de qualquer mal e, principalmente, depois de tudo, que não ficasse mais na linha de batalha. Só que nem tudo acontece como planejado e por mais que Mebuki tentasse esconder e ele não soubesse ao certo o que acontecia, via que algo estava errado com sua menina, e novamente ele não agiu. Não entendia a situação e começava a pensar que, talvez, fosse somente a saudade falando mais alto e continuou inerte. Até que aconteceu aquele segundo ataque.

            Ele havia sido designado para trabalhar no Exame Chunnin e ao ver a confusão que ficara a vila, a aflição tomou conta de si ao pensar na esposa sozinha em casa, mas tentava se convencer que Mebuki saberia se defender, ele havia a ensinado, afinal de contas. Mesmo que fosse proibido uma mulher dos Haruno’s saber lutar, ele havia prometido a si mesmo que nunca mais deixaria que alguém pudesse fazer mal a mulher que amava e isso significava que ela devia aprender a se proteger para quando ele não estivesse ali. Foi por isso que a ensinou e aquilo se tornou um segredo apenas deles. Ao final do ataque ele voltou para sua casa e encontrou Mebuki que correu para si, em busca de proteção e ele se sentiu aliviado ao saber que estava bem. Ela lhe narrara tudo o que vivenciou e o que sentiu foi algo tão forte que não soube definir ao certo o que sentira mais: medo, angústia ou orgulho.

            Havia ficado com medo ao ouvir da invasão à sua casa e como Mebuki e outras mulheres foram tratadas, ficara angustiado por saber da situação da menina Uchiha que estava grávida e que dera a luz durante aquele momento de tensão. E ficara duplamente orgulhoso ao ouvir como sua Mebuki protegeu, como podia, as mulheres que estavam consigo, agindo como uma verdadeira líder e como sua filha, sua pequena Sakura, havia as salvado do perigo. Mas tudo o que sentiu pareceu ser ínfimo ao ouvir que a caçula havia sido envenenada e corria risco de vida.

            E foi esse o estopim para perceber que ficara inerte por tempo demais. Somente naquele momento deu-se conta do que estava acontecendo e que podia perder Sakura da mesma forma que perdera Sayumi e o pior era que ela poderia ser tirada de si tendo os piores pensamentos dele e de Mebuki. E sua esposa deve ter pensado como ele e por isso decidiu conversar com a caçula e contar a história dos dois. Ele realmente não esperava ouvir aquela conversa, sua Mebuki sempre preferiu guardar muita coisa para si, orgulhosa e teimosa, sempre se mostrava inatingível, quando ela era a mais sensível e frágil de todas, mas o fato dela se abrir e falar sobre o passado era o jeito dela dizer que queria mudar e ele também estava disposto a isso. Restava agora ele conseguir reparar o erro dele com a filha antes que fosse tarde demais.

— Desculpem o atraso – ouviu uma voz proferir e virou-se para ver o líder do clã Akimichi, Chouza, seguido de Uchiha Fugaku e Itachi.

— Não tem problema, sei que o horário não foi o melhor para essa reunião, mas não podia esperar até amanhã – Tsunade se manifestou, observando cada um ali presente – Convoquei todos os líderes de cada clã pois será necessário tomar uma medida e preciso do consentimento de vocês para o que está por vir – comentou e Kizashi olhou em volta, se dando conta que, enquanto estava perdido em pensamentos, os líderes dos clãs Inuzuka, Aburame e Morino também haviam chegado. Suspirou, havia ficado muito distraído.

— Qual o problema Tsunade-sama? – Shikaku indagou e a Senju olhou para o Hatake que deu dois passos para a frente e tomou a palavra:

— Jiraya-sama conseguiu na sua última missão descobrir algo sobre os nossos inimigos, algo extremamente relevante e nos enviou uma mensagem criptografada e, depois de um tempo de análise, finalmente conseguimos decifrá-la.

— E o que dizia essa mensagem? – Fugaku se manifestou pela primeira vez naquela noite.

— Jiraya... – Tsunade sua voz falhou ao falar do antigo companheiro, mas rapidamente se recuperou e olhou diretamente para todos os presentes – Jiraya descobriu quem estava por trás dos ataques à Konoha junto com a Akatsuki.

— E quem é? – Inoichi fez a pergunta que todos ansiavam.

— Assim como Kabuto o nosso inimigo veio de dentro da Vila, um antigo shinobi de Konoha está por trás do último ataque sofrido no Exame Chunnin. Vocês o conhecem pelo honorífico de Sannin das Cobras, Orochimaru.

— Um Sannin? – murmurou Kizashi para si – Então era por isso que nossa segurança foi ineficaz...

— Exatamente, Kizashi – Tsunade disse ao ouvir o comentário – E ele havia colocado Kabuto aqui para ajudar no ataque, assim ele sabia como tudo funcionava, não importava as modificações que fizéssemos.

— Mas não foi somente isso que descobrimos – Kakashi tornou a falar – Parece que Orochimaru se uniu a Akatsuki e eles pretendem começar uma guerra ninja.

— Uma guerra? – Itachi encarou Kakashi como se quisesse confirmar os seus pensamentos e viu o Hatake assentir.

— Mas, mesmo com a Akatsuki, iniciar uma guerra exige um grande número de shinobis, algo que eles não têm! – Hiashi rapidamente negou aquela alternativa.

— Na verdade, eles têm – Morino Ibiki, chefe Comandante do departamento de Tortura e Investigação de Konoha tomou a palavra – Conseguimos capturar um ninja da Nuvem e extraímos algumas informações dele. Eles estão seguindo ordens do Raikage para se prepararem para uma guerra iminente e ele também confessou que havia mais alguém atuando junto com o Raikage e, apesar dele não saber quem é, depois dessa informação é fácil supor que se trata da Akastsuki com Orochimaru.

— Por causa disso, precisamos tomar uma medida urgente – Tsunade cruzou os braços, tentando manter a calma ao finalizar a sua ideia – Não sabemos em que nível será essa batalha, mas a ideia é que acabemos com o exército da Nuvem antes que cheguem a Konoha.

— Um ataque surpresa – Shikaku complementou e a Senju aquiesceu, voltando a se sentar à sua mesa.

            Ela apoiou as mãos em frente ao rosto e encarou a todos antes de falar:

— No entanto, há um impasse em jogo: não posso deixar a Vila desprotegida, mas também preciso dos nossos melhores shinobis em campo e para isso é necessário que vocês estejam a par de tudo e de todos os riscos que essa missão implica – foi sincera, precisava que eles a ajudassem e que entrassem em acordo com o que pedia, ou então aquela investida seria apenas perda de tempo se tivesse que lidar com os egos de cada líder e com cada picuinha existente entre os clãs.

— Qual o plano, Tsunade-sama? – Chouza questionou.

— Iremos para o campo de batalha, todos os jounins dos maiores e menores clãs. Na Vila ficará apenas chunins e genins, bem como alguns poucos escolhidos por cada um de vocês para fazer a segurança dos civis.

— Mas isso vai expor muito Konoha – Itachi interveio – Não é melhor pedir auxílio de outras vilas?

— Seria, mas nós só temos uma relação harmônica com Suna e no momento eles passam por um momento delicado depois da morte do Kazekage. Eles ainda não decidiram quem irá assumir o posto e dificilmente irão se envolver com uma guerra que não tem nada a ver com eles, assim como as outras vilas – explicou ao Uchiha que aquiesceu, compreendendo o pensamento da Hokage.

— Então a nossa opção é: escolhermos ficar na Vila e esperarmos uma guerra às cegas ou irmos para o campo de batalha antes? – Fugaku questionou sério, tentando refletir sobre o que fora dito.

— Exatamente, vocês são os líderes e futuros líderes dos clãs – Tsunade olhou para Itachi ao falar a última parte antes de continuar – e cada clã lida com os seus shinobis de uma forma diferente, por isso eu preciso da anuência de vocês e, claro, da indicação de cada shinobi e qual será o papel deles para dar seguimento com o plano.

            Kizashi apertou os punhos ao ouvir o proposta da Hokage. Ele já sabia que a notícia seria desastrosa, só não esperou que isso fosse envolver a vida de pessoas queridas para si. Ele preferia mil vezes ir para o campo de batalha sozinho do que arriscar a vida dos companheiros e ainda havia outro fator envolvido: os civis. Eles não poderiam ir todos ao campo de batalha, pois a Vila ficaria vulnerável, o que significaria que seriam os responsáveis pelas prováveis mortes que viessem a acontecer durante a luta ao escolher determinado ninja para lutar. Além disso havia o fato de que tinham que lidar com outro problema: o orgulho dos shinobis. Tinha certeza que todos os Haruno’s iriam querer lutar por seus entes queridos, mostrar que eram capazes e, consequentemente, não iriam optar por ficar na Vila, caso não fosse ordenado. Esse era um dos problemas de ser o chefe do clã, suas obrigações sempre pesavam em seus ombros.

— Os Hyuuga’s irão para o campo de batalha, Neji e eu seremos os responsáveis por um esquadrão. Apenas minhas filhas ficarão, junto de mais três shinobis, para a proteção da Vila – Hiashi foi o primeiro a se manifestar.

            Kizashi revirou os olhos ao ouvir a declaração do outro, o Hyuuga era realmente muito convencido, sempre gostou de se sobressair assim como todos do clã dele, era óbvio que eles não iriam ficar em Konoha. No entanto, ficara contente que, pelo menos, ele havia pensado no bem-estar das filhas, ou então só pensava no futuro do clã ao deixar as herdeiras a salvo. Bufou com o último pensamento, era melhor pensar na primeira hipótese.

— Os Inuzuka’s também estão à disposição da Hokage para irem ao combate, não temos medo do inimigo.

— A questão não é ter medo do inimigo, Inuzuka – Inoichi cortou o outro que franziu o cenho com as palavras proferidas – Mas temos que pensar nos dois lados, não podemos fragilizar Konoha – e em seguida se virou para Tsunade – Irei selecionar alguns shinobis para ficarem na Vila, mas a maioria do clã estará junto com a Hokage.

            E um por todos os líderes tomaram a mesma decisão, até Fugaku já havia se pronunciado dizendo que os Uchiha’s não deixariam de lutar por Konoha e agora somente faltava Kizashi dar o seu veredicto.

— Eu... – interrompeu-se e esfregou as têmporas tentando refletir melhor, mas no fim ele se viu sem escolhas. Suspirou, derrotado, olhando a Hokage que parecia ser a única a entender o que sentia, ele não queria ter suas mãos manchadas de sangue, mas era o que aconteceria a seguir – Os Haruno’s a apoiarão, Tsunade-sama.

            A Senju suspirou aliviada ao ver que todos haviam concordado com os seus termos e tratou de dispensá-los, dizendo para avisarem e prepararem os shinobis que iriam para a guerra que se aproximava. Eles teriam pouco tempo antes de tudo se tornar um caos e precisavam ser rápidos se quisessem ter uma chance com os inimigos. Um por um dos líderes dos clãs saíram da sala, restando apenas Kizashi a sua frente e ela sabia que ele era o mais angustiado pelo o que estava prestes a fazer.

— Diga Kizashi – disse a ele quando ficaram a sós, só pelo olhar dele, que já vira tantas vezes na discípula já sabia o que viria a seguir. Eles eram muito parecidos, afinal.

— Tsunade-sama, a senhora sabe que nunca fugi de uma luta e não irei fazer agora, mas... se for necessário fazer um cessar-fogo a fim de preservar a vida dos ninjas, saiba que não hesitarei em fazer – seu olhar foi firme e apertou os punhos com força. Não queria falar isso na frente dos outros pois sabia que seu posicionamento seria alvo de críticas, mas tinha que falar o que pensava para a Hokage – Independente da missão, sempre preservarei a vida dos meus companheiros, o que não significa que serei desleal à missão. Se preciso for, darei minha vida por Konoha, mas não arriscarei a de mais ninguém em prol disso.

            Tsunade sorriu em meio a discurso do Haruno... realmente, Sakura tinha a quem puxar.

— Não considero isso deslealdade, pelo contrário só me mostra o quão valioso é como shinobi e líder ao pensar nos seus companheiros. E saiba que eu também farei tudo ao meu alcance para poupar o máximo de vidas possíveis – e sorriu ao ver a expressão do homem suavizar.

—*-

            Sasuke observava Sakura vir a seu encontro. Ela esbanjava sorrisos a uma mulher que carregava uma criança. Alguns dias haviam se passado desde aquele pequeno desentendimento com ela e nenhum dos dois tinha tocado mais no assunto, mas ele sentia que ela havia se afastado novamente. Ou talvez fosse ele quem se afastou, principalmente depois de receber uma carta do pai, intimando-o a comparecer à sede do clã para uma reunião.  E depois de ouvir, junto com todos os outros Uchiha’s, sobre a batalha iminente, ele não conseguiu mais ter paz. A todo momento ele se pegava pensando no que aconteceria nessa batalha, muitos iriam morrer, tinha certeza disso, afinal era uma guerra, mas era outra preocupação que lhe rondava a mente.

            Viu a esposa chegar ao seu lado e dizer algo, mas ele não conseguiu prestar muita atenção. Parecia que funcionava no piloto automático esses últimos dias. A mesma pergunta rondava a sua mente e o assombrava desde que ouvira a notícia que estaria na linha de frente junto da sua família: “o que aconteceria com Sakura em sua ausência?” Parecia ser algo tolo de se pensar, ela sabia se proteger, mas mesmo assim essa pequena questão passou a ser tão relevante que o trouxe diversos pesadelos. Pesadelos que ele imaginou nunca mais precisar reviver e...

— Sasuke, Sasuke! Está me ouvindo? – Sakura o chamou e pelo jeito como ela o olhava, já o fazia a certo tempo.

— Aa – murmurou sem saber ao certo que dizer e ela revirou os olhos. Era óbvio que ele não a escutara.

— Hana nos chamou para irmos à cerimônia em homenagem ao nascimento da Megumi-chan – explicou novamente, como se ele fosse uma criança – Vai ser hoje e... eu concordei, tudo bem? – questionou a segunda parte incerta, mas Sasuke nem ao menos se importou e apenas aquiesceu, voltando a ficar preso nos próprios pensamentos.

            Suspirou, sem entender o que havia acontecido com ele nos últimos dias, desde aquele dia que a encontrara com Idate, Sasuke ficara estranho e ela duvidava que tinha a ver somente com aquilo, mas ele não lhe dava espaço para perguntar, pelo contrário, parecia que escondia algo de si. E ela estava treinando a sua paciência para não questioná-lo, havia aprendido que com Sasuke era melhor deixar ele falar no seu próprio tempo, e não forçá-lo, mas isso estava se mostrando uma missão quase impossível para ela, já que não era conhecida pela paciência e ele estava demorando muito para falar consigo.

            E cada vez que ele demorava mais a conversar, só fazia com que ela pensasse que, talvez, ele não quisesse dividir o que quer que fosse e ela estava fazendo papel de tola por esperar algo dele. Nesses momentos, geralmente, quando pensava nisso, Sasuke de alguma forma parecia ler a sua mente e a olhava tão sério que a arrepiava. Ele, então, falava algo que a fazia se sentir melhor e novamente ela esperava um incentivo dele para conversarem sobre o que estava o atormentando.

— Sakura – chamou a atenção da esposa que se virou para ele – Gostaria de voltar a treinar comigo?

— Treinar? – ela perguntou o óbvio, tentando ver se conseguia captar algo nas entrelinhas do que ele falava.

            Por que ele queria treinar consigo? Na última vez que treinaram, bom, não deu muito certo e eles acabaram... Sentiu o rosto esquentar com a lembrança e inconscientemente colocou a mão em frente aos lábios. Sasuke imediatamente achou ter compreendido o estado da esposa e virou o rosto para o lado para que ela não pudesse ver o seu rosto também corado.

— N-Não é isso – e se amaldiçoou ao ver que havia gaguejado, mas tinha que mostrar que não planejava atacá-la da forma como estava pensando. Ela estava com medo de si, novamente, pensou erroneamente. – É só porque... porque eu pensei que você estivesse querendo fazer algo diferente além de ir para o hospital – foi a melhor coisa que conseguiu pensar e, na verdade, não era de todo mentira, apesar de que havia outro motivo para querer que ela treinasse consigo e isso envolvia o que estava por vir.

            Sakura olhou para ele que nem ao menos lhe encarava e franziu o cenho. Era óbvio que ele não planejava lhe beijar, ele apenas estava tentando manter uma vida harmoniosa com ela, não significava mais nada e ela tinha que parar de pensar que os sentimentos dele estavam diferentes.

— Claro... – murmurou de volta e suspirou baixinho. Não iria desperdiçar a chance de poder treinar, além disso Sasuke parecia ter as melhores intenções ao tentar fazer aquele casamento melhor para ambos.

— Certo, amanhã começaremos então – foram as últimas palavras dele antes de voltarem a andar juntos, ambos se sentindo um pouco envergonhados pela situação e se perguntando o que aconteceria ao voltarem a treinar.

—*-

            O sol ainda se punha e Sakura sorria enquanto via Itachi andar de um lado para o outro, sendo seguido por Sasuke que começava a se irritar com o irmão por não se decidir. Era engraçado ver Itachi tão ansioso por algo, ele queria que tudo fosse perfeito para o Omiyamairi que daria em homenagem ao nascimento da filha e usava o irmão caçula para ajudá-lo a decorar todo o quintal da casa antes que os convidados chegassem. É claro que Sasuke não queria ter que ficar fazendo aquele trabalho, mas a mãe, que também estava supervisionando as atividades, foi capaz de obrigá-lo. Enquanto ela e Hana observavam tudo com Megumi no colo.

— Não devíamos ajudá-los? – Sakura indagou contendo uma risada ao ver Sasuke xingar Itachi por ser a terceira vez que ele resolvia mudar de local algumas mesas.

— Talvez, mas confesso que me divirto mais assim – foi a resposta da outra Uchiha, o que fez Sakura rir – Fico feliz que tenham conseguido vir ajudar – olhou para o marido que falava algo com Mikoto – Pensei que não fosse poder realizar essa cerimônia.

— Ora, não podíamos faltar nesse dia especial, não é mesmo? – tentou animar a mais velha que suspirou.

— Sim, quero que Megumi tenha ao menos uma festa e possa ser reconhecida como uma legítima Uchiha – comentou e Sakura começou a ficar confusa com aquela conversa.

— O que quer dizer? – Hana olhou para a cunhada e sorriu tristemente. Sasuke não havia contado a ela, claro. Ela não sabia o que estava por vir. Ficou tentada a contar a verdade, mas sabia que seria errado. Seu cunhado devia ter os seus motivos e ela não se meteria, por enquanto.

— Não ligue para mim, acho que ainda estou sentindo os efeitos da gravidez – comentou com bom humor e antes que Sakura pudesse falar algo mais, Hana levantou-se com Megumi no colo – Acho melhor apressar aqueles dois antes que os convidados cheguem e vejam essa confusão que o Itachi está fazendo – e revirou os olhos. Conhecia o marido bem o suficiente para saber que estava exagerando e que estava aproveitando para provocar o irmão.

— Vai entrar na briga? – Sakura indagou olhando para os dois e soube que Sasuke estava próximo de cometer um fratricídio.

— Claro, a festa é da minha filha, não vou deixar esses dois estragarem nada – e em seguida entregou Megumi para Sakura enquanto ia em direção ao jardim e começava a bradar com os dois irmãos.

— É Megumi-chan... sobramos eu e você – disse brincando com a bebê – O que acha de nos arrumarmos para a festa? – e em seguida levantou-se indo para dentro da casa.

            Era a primeira vez que ela iria participar de uma cerimônia como aquela. Cada clã tinha uma forma de fazer a apresentação de um bebê para o seu respectivo clã, e apenas quem era da família tinha a permissão para participar. Os Haruno’s, por exemplo, tinham o costume de celebrar o nascimento dos bebês com uma dança típica feita pelos guerreiros do clã, para que a criança pudesse crescer forte e saudável, tendo o primeiro sono embalado pelo batuque de tambores. Era uma festa bem animada e Sakura sempre dançava na comemoração, mas ela não sabia ao certo o que podia esperar dos Uchiha’s até ver a organização de tudo.

            E realmente estava bem encantada com aquilo. Era, de certa forma, bem parecido com a tradição de sua família. Haviam velas distribuídas por todo o quintal, as mesas dispostas em alguns lugares, para os familiares, estavam enfeitadas e, no centro do quintal, uma espécie de púlpito fora formado, coberto de ramos Tamagushi. Ao lado do pequeno altar havia uma mesa, onde seriam depositadas as oferendas. Talvez a festa não fosse tão animada quanto era nos Haruno’s, mas estava ansiosa para ver aquela cerimônia.

            Sorriu ao olhar Megumi e, após dar banho na pequena, pegou a roupa escolhida por Hana, um pequeno pano de seda vermelha ricamente estampada com fitas e bolas, que lembrava muito um quimono, e vestiu na menina que parecia se divertir com tudo.

— Sakura, obrigada por vesti-la – Hana disse ao chegar no quarto e ver a cunhada terminar de ajeitar a filha – Não precisava se incomodar – sorriu ao pegar a bebê no colo e admirá-la.

— Você estava ocupada lá embaixo, não foi nada – e deu de ombros.

— Você realmente tem jeito com crianças – elogiou – Mal posso esperar para ver como será como mãe. Tenho certeza que Sasuke será um pai babão – comentou risonha e a rosada sentiu o rosto esquentar com a possibilidade, mas imediatamente afastou aqueles pensamentos. Maternidade não era algo com que poderia sonhar, nem ao menos seu casamento era real, não podia esperar nada mais do que uma vivência pacífica com o marido. Ou pelo menos era isso que tentava se convencer ultimamente.

— É melhor eu ir me arrumar – desconversou e em seguida foi para o quarto cedido por Itachi para que Sakura e Sasuke pudessem se arrumar.

            Quis fugir tão rápido daquela conversa que nem ao menos se preocupou em verificar se estava sozinha. E não estava. Ao fechar a porta do quarto e virar-se, deparou-se com Sasuke, nu, no meio do cômodo, olhando-a aturdido, sem saber o que fazer. Sakura sentiu todo o seu sangue se concentrar no rosto enquanto seus olhos, inconscientemente, passavam por todo o corpo do Uchiha e, ao se dar conta do que fazia, preparou-se para gritar, assustada e envergonhada, mas foi impedida pelo próprio marido que se aproximou rapidamente de si e tampou com a mão a boca dela.

— Não! Não grite ou vai chamar a atenção de todos– pediu baixinho e Sakura arregalou os olhos ao ver que ele continuava nu e agora mais perto de si. E como se tivesse se dado conta do feito, imediatamente se afastou da esposa apenas o suficiente para pegar a primeira coisa que viu pela frente, que foi um travesseiro, e cobriu as suas partes íntimas.

            Sakura acalmou-se e olhou para o lado, sem ter condições de falar algo devido ao susto e Sasuke ficou preocupado com o fato dele ter piorado ainda mais a relação deles.

— N-Não foi intencional, eu... apenas não sabia que você se arrumaria aqui e... – justificou-se para tentar remediar qualquer problema e tentou controlar o rubor que sentia subir por seu rosto. Aquela situação não poderia ficar pior.

            Mas ele estava errado, pois no instante seguinte, bateram na porta e Hana, sem esperar uma resposta, entrou no quarto:

— Sakura, esqueci de avisar que... Oh! – mas interrompeu-se ao ver o cunhado com apenas um travesseiro próximo de Sakura que continuava vermelha. – Esqueçam que eu estive aqui! – sorriu maliciosa e bateu a porta, deixando os dois ainda mais desconfortáveis.

            Sasuke nem ao menos conseguiu abrir a boca de tão surpreso e constrangido que havia ficado com a cena presenciada pela esposa do seu irmão. Um silêncio incômodo apoderou-se do lugar, nenhum dos dois conseguiam falar algo, nem ao menos conseguiam se encarar. O que Hana estaria pensando de si agora? De Sakura? Céus, ele era realmente um idiota. Pensou em dizer algo ou simplesmente sair dali o quanto antes e salvar o resto de dignidade que ainda tinha, quando um pequeno ruído lhe chamou a atenção.

            Tomando coragem, olhou para a esposa e viu que ela tentava abafar com as mãos a risada que insistia em sair. Ela não conseguia acreditar no que havia acontecido. Nunca havia passado por tamanha vergonha e, ainda assim, ela não conseguia não rir daquilo. Havia sido tão ridículo! A forma como Hana entrara no quarto, a forma como Sasuke ficara paralisado com a mão segurando apenas o travesseiro e ela própria devia estar com uma cara tão assombrada que era impossível não rir. E Hana ainda interpretara toda a situação de forma errônea, o que seria trágico se não fosse tão cômico. Riu alto, sem conseguir mais se controlar, e viu que Sasuke parecia lhe olhar confuso, mas isso só fez com que ela risse ainda mais até que ele próprio percebeu a situação e também riu, de forma mais contida, do pequeno ocorrido.

—*-

             Após aquele vexame, Sakura preferiu se retirar para dar privacidade ao Uchiha, antes que um dos dois estragassem aquele momento e as coisas ficassem novamente estranhas entre eles. Somente depois que ele saiu do quarto, foi que entrou para se arrumar, eles haviam se cruzado na porta e Sasuke, mesmo que mais relaxado, ainda estava um pouco envergonhado por ela tê-lo visto daquela forma, mas Sakura só pode pensar que agora estavam quites, já que ele também já a vira sem roupa, duas vezes ainda por cima. Sorriu com o pensamento ao recordar como ele ficara constrangido pela primeira vez e saíra correndo do quarto, o que fez com que Naruto a pegasse de toalha e a irritasse ainda mais pela indiscrição.

            Na segunda vez, foi quando ele lhe ajudou na hora do banho, devido ainda estar ferida, e para si foi bem tocante recordar o quanto ele havia a respeitado, principalmente por ser uma situação tão desconfortável para si. Por causa disso, ela achava que estava tudo bem tê-lo visto nu, e no fundo, gostou de ver o quanto ele havia ficado sem graça com a sua presença. Tinha que admitir, pelo menos para si, que mesmo tendo visto alguns homens nus devido a sua experiência no hospital, nenhum deles era como Sasuke que parecia bem mais...

— Sakura – ouviu a voz do marido a chamar e sentiu o rosto esquentar ao perceber o que pensava. Sorriu nervosa ao se aproximar, agora com o quimono que usaria para a cerimônia de Megumi.

            Seus cabelos curtos estavam mais lisos que o costume e ela havia posto uma faixa simples para enfeitar, deixando-os soltos. Usava uma maquiagem leve, apenas para realçar um pouco os olhos e um quimono que, apesar de não ser novo, era um dos seus favoritos por ser ornamentado e nas cores que lembravam as cerejeiras que simbolizavam o seu nome. Sasuke ao ver a esposa sorrir para si, enquanto andava na sua direção, não conseguiu evitar engolir a seco. E se perguntou se ela seria capaz de ouvir o seu coração batendo tão forte. Ela estava linda e não conseguia desviar o olhar dela, ao mesmo tempo que lutava para não parecer tão idiota quanto parecia estar.

            Mas se Sakura não reparou no seu nervosismo, Itachi, que estava ao lado do irmão, notou e sorriu feliz antes de puxar a manga do quimono do irmão, entregando algo a ele:

— Faça um elogio e entregue-lhe isso – aconselhou e em seguida o deixou assim que Sakura os alcançou.

— Onde Itachi está indo? – indagou ao ver o cunhado acenar e lhe dar as costas. Sasuke apenas deu de ombros, sem desviar o seu olhar dela. E Sakura ao perceber que era observada encolheu-se envergonhada – Algum problema? – e questionou-se se havia exagerado ou se ele a confundiria novamente, mas não esperava as próximas palavras dele:

— Não. Você está muito bonita – conseguiu dizer e ficou grato ao ver que ela lhe encarava pela primeira vez na noite, depois da cena lamentável no quarto – Isso é para você – e entregou o presente que Itachi lhe dera, sem nem ao menos perceber o que era.

— É lindo – Sakura sorriu ao ver o broche de cabelo no formato de uma flor e Sasuke sorriu de canto ao ver que ela gostara. Devia uma ao irmão.

            Ela começou a tentar colocar o presente, mas Sasuke a impediu de continuar e pediu para que ele mesmo pudesse fazer isso. Ela ficou acanhada de início, mas aceitou e ao vê-lo mais próximo de si, sentiu o seu coração falhar uma batida, enquanto ele ajeitava o seu cabelo de forma tão delicada que ela não acreditaria ser possível se não estivesse vendo.

            E enquanto o casal interagia entre si, escondidos, atrás de uma parede, Hana e Itachi sorriam cúmplices. Se dependesse dos dois, essa noite ainda traria muitas surpresas ao jovem casal que parecia precisar de uma pequena forcinha para acelerar as coisas.

—*-

            Sakura olhava maravilhada para a cerimônia que acontecia na sua frente. Megumi estava nos braços de Itachi ao lado de Hana que entoavam uma pequena oração enquanto o sacerdote dos Uchiha’s abençoava a recém-nascida. Alguns Uchiha’s mais ao fundo acompanhavam a prece dos pais de primeira viagem a fim de chamar sorte para a menor. O sacerdote, em seguida pegou a criança do colo do pai e proclamou o nome de Megumi, dos pais da criança e pediu bênçãos divinas para todos e para o lar onde todos estavam.

            Em seguida foi a vez dela e de Sasuke. Eles se levantaram dos seus lugares e foram em direção ao pequeno altar onde Megumi estava e depositaram dois ramos de Tamagushi como uma forma de oferenda à criança. Depois Mikoto e Fugaku, como avós, fizeram o mesmo, sendo imitados pelos outros parentes Uchiha’s enquanto todos continuavam a entoar o cântico. Após todas as oferendas, diversos galhos de árvore com enfeites de papel estavam amontoados em frente ao altar e Hana tinha os olhos marejados ao ver que a filha havia sido apresentada aos deuses e ao clã tendo tantos votos de felicidade.

            Sakura sorriu para a cunhada e foi para o seu lado, pegando Megumi e finalizando com uma pequena oração junto com Sasuke, afirmando que seriam os segundos pais da bebê e que ela seria sua responsabilidade também. Após a cerimônia, deu-se início a festa no clã e Sakura observava todos os detalhes atenta. Era a primeira vez que via os Uchiha’s tão... felizes. Eles comemoravam com prazer a vinda de uma nova Uchiha ao clã e, apesar de ainda não concordar com a forma como eles lidavam com as mulheres, viu uma interação entre eles nunca vista antes. As mulheres serviam os maridos e em seguida se dirigiam para o outro lado do quintal, onde conversavam animadamente e cuidavam das crianças, enquanto os homens se reuniam em outro canto rindo e conversando.

            Hana ficava o tempo todo andando de um lugar ao outro, carregando Megumi consigo, e por onde passava os Uchiha’s colocavam a mão na cabeça da bebê e sorriam para a pequena. Itachi revezava com a esposa quem cuidava da filha e Sakura suspeitava que nunca havia visto o mais velho dos irmãos Uchiha’s tão feliz quanto naquele momento.

— Eles estão muito felizes, não é? – Sasuke lhe chamou a atenção de repente. Nem havia percebido que ele estava ali. Apenas aquiesceu e sorriu ao ver um grupo de mulheres se reunirem para dançar.

— Seu irmão está radiante, assim como todos – comentou ao ver Itachi erguer a filha para a cima e falar algo que fez Fugaku e outros que estavam ali sorrirem.

— Os Uchiha’s valorizam muito a família. É um dos nossos pilares mais importantes – Sasuke disse ao ver a cunhada dançar com Mikoto e as mulheres do clã.

— Vocês tens costumes tão contraditórios... – Sakura comentou para si, mas o marido foi capaz de ouvir. Ele a observou de canto e suspirou, sabia exatamente do que ela falava, mas deixou que ela concluísse sua ideia – ...são capazes de atos de amor tão grande, e ao mesmo tempo impedem a felicidade de quem amam.

            Sasuke até pensou em falar algo, porém fora impedido pela mãe que puxou Sakura para que dançassem juntas. A ex-Haruno ficou nervosa e sem graça, afinal não sabia os passos exatos da dança dos Uchiha’s, mas Mikoto junto de Hana insistiram e levaram a rosada para o meio da roda. E Sasuke sorriu ao ver o constrangimento da esposa. Apesar de ser mais extrovertida que Sayumi, Sakura não se expunha muito nas festas dos clãs, preferia observar e conversar com as pessoas ao seu redor do que dançar, algo que só fazia quando estava entre os Haruno’s, e ele não via motivo já que ela se movimentava de forma tão graciosa ao lutar que também deveria dançar lindamente.

— O que está fazendo sentado aí? E com esse olhar de bobo? – Itachi indagou ao se aproximar com a filha.

            Sasuke imediatamente franziu o cenho e segurou uma das pequenas mãozinhas de Megumi.

— Nada – desviou o assunto, mas o mais velho sorriu ao ver Sakura rodopiando alegremente com Hana.

— Vá chamá-la para dançar – cutucou o irmão e ajeitou a filha no colo.

— Quem? – se fez de desentendido e Itachi revirou os olhos.

— Sua esposa, é claro. – Sasuke ainda pensou em dizer que não queria dançar com ela, mas isso seria uma mentira, então resolveu apenas ser prático e responder:

— Ela não vai aceitar.

— Nunca vai saber se não tentar. Vá lá, tente a sorte.

— E correr o risco de ser humilhado na frente de todo o clã, de novo? – indagou achando aquela uma péssima ideia.

— Bom, você foi um idiota com ela muitas vezes, um pouco de humilhação faz parte se quer ter uma chance com ela – Sasuke olhou de esguelha o irmão e se perguntou o que ele sabia.

— Do que está falando? Eu não... – mas foi incapaz de continuar a frase. Parecia que cada vez ficava mais difícil negar o que sentia pela esposa. Itachi apenas sorriu para o irmão e o cutucou com o braço livre, indicando a roda de mulheres.

            Sasuke suspirou e observou Sakura mais uma vez dançando, alegre, no meio das mulheres do clã. Não havia um único homem ali, geralmente os casais eram mais discretos e demonstrações de afeto não eram vistas com frequência dentro do clã. Um Uchiha somente dançava com a esposa se o anfitrião tomasse a iniciativa e mesmo assim eram poucos os casais a irem para a pista de dança. O que não impedia as mulheres de dançarem entre si, como faziam naquele momento. Engoliu a seco e levantou-se sob os olhos atentos do irmão.

            Andou até as mulheres que imediatamente pararam de dançar ao vê-lo se aproximar. E ele tentou não pensar na vergonha que estava passando ao se ver no centro das atenções. Ficou de frente para Sakura que o encarava confusa e pigarreou, desviando o olhar, antes de falar:

— Gostaria... – engoliu a seco e forçou-se a observar o rosto delicado da esposa – ...Gostaria de dançar comigo?

            Ouviu o arfar surpreso das mulheres do clã que pareciam na expectativa para saber a resposta de Sakura que estava de olhos arregalados. Ela olhou de um lado para o outro sem saber o que responder. E sem entender o motivo de todos estarem observando aquilo como se fosse algo inédito.

— Er... bom, eu não sei dançar muito bem, então talvez fosse melhor não... – ela começou a dizer e Sasuke fechou os olhos com força, ela estava o recusando, como sabia que faria, na frente de todos.

— Sakura! – Mikoto interviu – Não se deve recusar um pedido desses – tentou alertar a nora que franziu o cenho e Sasuke imediatamente interrompeu a mãe:

— Não, mãe! Sakura tem o direito de não querer dançar comigo. – e em seguida virou-se para a ex-Haruno que o encarava aturdida – Ela é livre para fazer as escolhas dela – e Sakura prendeu a respiração por um momento ao ouvir aquela frase. Sasuke fez uma pequena reverência às mulheres e deu as costas para se retirar dali, mas sentiu algo puxar a manga da sua camisa. Olhou sobre o ombro e viu Sakura sorrir timidamente.

— Me deixe terminar a minha frase – pediu e Sasuke aquiesceu, mesmo que estivesse magoado por ainda ter que vê-la proferir todas as palavras que machucariam ainda mais o seu orgulho. – Eu não sei dançar muito bem – ela disse e deu um passo em direção a ele – Então talvez fosse melhor não esperar muito de mim e saber que vou pisar em seu pé algumas, muitas, vezes – e sorriu ao ver o Uchiha arregalar os olhos. Ele não esperava por aquilo.

— Então, aceita dançar comigo? – indagou nervoso e ela assentiu com a cabeça, dando mais um passo para a frente.

— Se quiser me ensinar... – murmurou envergonhada ao ver que ainda eram alvo de olhares de todos.

            Mas Sasuke nem ao menos se importou com as outras pessoas e lentamente colocou uma das mãos na cintura fina de Sakura, como se pedisse permissão para tocá-la, e a outra segurou a mão pequena da mulher, deixando-os na posição para iniciar a dança. Mikoto observou a cena contente com o comportamento do filho e imediatamente fez sinal para que a música voltasse a tocar. Enquanto Hana chamou algumas mulheres para dançar a fim de dispersar as atenções do jovem casal. A matriarca Uchiha, no início, ficara tão surpresa quanto todos ao ver o filho fazer aquele convite à esposa, ela já havia percebido os olhares do caçula para a esposa, mas não imaginara que logo o seu Sasuke, sempre tão contido e tímido, iria se expor na frente de todo o clã dessa forma.

            E foi por saber disso que tentou alertar a nora sobre a recusa, ela só não imaginava que o filho fosse proferir tamanha defesa a ex-Haruno. Mikoto percebia que, na realidade, Sakura não pretendia dançar com Sasuke, a menina ficara sem graça e estava querendo evitar aquela cena, no entanto após ouvir as palavras do filho sobre ela ser livre para fazer escolhas, algo mudou na garota que repensou suas atitudes e resolveu acatar ao pedido. E ver os dois bailarem, mesmo que timidamente, não poderia ter sido mais recompensador.

—*-

            Sakura estava com o rosto corado e tentava se concentrar em não pisar no pé de Sasuke que estava, estranhamente, paciente com ela. Franziu o cenho ao errar o passo, de novo, mas ele nada disse para si e ela não estava com coragem para ver como ele a encarava. Provavelmente já havia se arrependido de estar dançando com ela.

— Obrigado... – ouviu-o murmurar e foi impossível não olhá-lo diretamente.

— O que disse? – indagou confusa, havia ouvido direito? Ele balançou a cabeça e se aproximou mais dela. Ela ficou surpresa e tensa, mas dessa vez ele não se importou, somente queria ficar mais perto dela, nem que fosse por um instante.

— Sobre o que você disse sobre os Uchiha’s... – mudou de assunto rapidamente, ainda não se sentia preparado para algumas conversas – Não duvide dos nossos sentimentos por nossa família – “não duvide do que eu sinto por você” completou em pensamento.

— Não duvido, mas sentimento sem liberdade não traz benefício a ninguém – retrucou baixinho e mexeu a cabeça para o lado, vendo as outras pessoas do clã continuarem seus afazeres. – Apenas cria uma falsa sensação de felicidade.

— Eu fui criado para crer que os homens eram os responsáveis pela família – falou com um sorriso amargurado, enquanto continuava a se movimentar com ela. A verdade era que apenas planejava fazê-la continuar falando, pois queria que ela ficasse perto de si. Se Sakura notasse que a música já havia terminado, provavelmente se afastaria novamente – Mas você fala como se fôssemos vilões e eu não consigo ver assim. Essa é a minha família e nós amamos as nossas mulheres, queremos apenas protegê-las e...

— Você não me ama – foi categórica, mas o olhar penetrante de Sasuke parecia querer contradizê-la, mas ele nada falou, apenas a aproximou mais de si – E assim como eu, quantas mulheres aqui não tiveram escolhas a não ser ter que se sujeitar a ordens do marido? Sem que fossem realmente amadas? – continuou, tentando conversar baixinho com ele para não atrair mais ouvintes.

            Sasuke, ao notar o teor da conversa, percebeu que não poderiam ficar ali correndo o risco de serem escutados, então ainda conduzindo a dança dos dois, começou a levar a esposa para um lugar mais afastado e longe dos outros Uchiha’s.

— Talvez nosso amor seja deturpado e egoísta, meu clã não é perfeito, assim como o seu também não é – foi calmo e ficou minimamente contente por vê-la concordar consigo, aquilo realmente era uma façanha visto a teimosia daquela mulher – Mas eu penso que podemos mudar ainda – e aquilo atraiu a atenção dela – E você foi a responsável por me fazer acreditar nisso.

— O que está dizendo? – e sorriu tristemente – Eu não fiz nada e não mudei nada também, continuo na mesma situação de antes, sem conseguir seguir os meus sonhos – e instintivamente apertou a mão de Sasuke que a conduzia até o final da pista de dança e agora os movimentos dela pareciam se encaixar melhor aos dele.

— Você sempre foi a mais forte de todos, uma verdadeira flor de cerejeira que desabrocha na adversidade – ele comentou e Sakura sentiu o rosto esquentar e seu coração bater mais rápido. Ele estava a elogiando? – Afinal você nunca desistiu e eu não quero que desista... não mais – e lentamente soltou a mão de Sakura e passou a fazer uma leve carícia no rosto dela. Eles já não bailavam mais.

— Não quer eu desista? – murmurou sem jeito, mas não parecia ter a mínima vontade de se afastar dele, perdida em pensamentos tentando entender o que ele estava fazendo consigo. – E se eu quiser ser uma kunoichi? Como vai fazer? – indagou baixinho e ela nem ao menos entendia o motivo de estar sussurrando, já que não havia mais ninguém ali.

            Sasuke suspirou e encarou os orbes verdes que o fascinavam cada vez mais. O que ele faria?

— Vou apoiá-la – foi a sua resposta e aquilo chocou Sakura que recuou um passo, mas ainda estava perto o suficiente para que Sasuke continuasse a fazer carinho em seu rosto.

— Vai ficar contra os Uchiha’s? – estava cada vez mais descrente e começou a pensar se ele não zombava de si. Sasuke apenas sorriu de canto com a desconfiança dela e deu outro passo para a frente, diminuindo a distância entre os dois.

— Eu já fiz isso uma vez, não me importo em fazer de novo – ele assoprou em seu ouvido e Sakura sentiu seu coração acelerar com as palavras proferidas e ao recordar da forma como ele lhe defendeu durante a reunião com o clã.

— Mesmo assim... – pigarreou tentando se concentrar e se perguntou se Sasuke não estava fazendo aquilo de propósito. Segurou a mão dele, interrompendo o carinho que ainda fazia no seu rosto e o encarou firmemente – Mesmo assim... ainda estaria presa a você.

— É tão ruim assim ser minha esposa? – os olhos dele denunciavam a tristeza que sentia e Sakura ficou ainda mais confusa. O que estava acontecendo com Sasuke? – Não precisa responder, acho que já sei a resposta – tentando impedir que ela pudesse se pronunciar sobre aquilo.

— Eu não tive escolha Sasuke... – mesmo assim ela falou e ele somente a escutou – Esse casamento não era para ter acontecido e só trouxe dor, a nós dois – comentou e Sasuke se afastou um pouco dela com o coração apertado – Eu tentei ser uma esposa perfeita, mas eu não consigo ser a minha irmã...

— Eu só quero que seja você mesma – ele a interrompeu e aquilo a pegou de surpresa novamente e, de alguma forma estranha, mexeu com ela mais do que gostaria. Mesmo assim ela continuou, precisava entender o que sentia, precisava tirar todas as suas dúvidas e tinha que aproveitar que ele estava receptivo o suficiente para conversar com ela.

— Você não quis isso no início – falou amargurada e ele franziu o cenho e virou o rosto envergonhado.

— Eu... – e novamente hesitou. Suspirou e voltou a encará-la – Há outra pessoa no seu coração? – mudou a frase na última hora. E foi a vez de Sakura semicerrar os olhos.

— E se eu tiver? Acha que esse casamento pode dar certo quando alguém ama outra pessoa? Sempre vai haver um lado que irá sofrer – explicou fazendo referência ao que o Uchiha sentia pela irmã. Ela não queria ser um fantasma, uma sombra do que a irmã era, não queria ser amada pela metade, não merecia isso, por isso precisava saber o que ele sentia antes que pudesse tomar uma decisão quanto aos próprios sentimentos.

            No entanto Sasuke não conseguiu entender que ela falava dele, pelo contrário, pensava apenas que aquela era a forma dela lhe dizer que amava Idate. Por isso sua proposta de tentarem viver juntos nunca daria certo. E aquilo o destroçou por dentro. Sentia raiva de si e do maldito Morino por se intrometer na sua relação com Sakura, porém mais que raiva, sentia tristeza, algo tão profundo e doloroso que pensava que nunca mais sentiria isso desde que Sayumi falecera. Mas estava sentindo agora, mesmo que Sakura estivesse viva na sua frente. Um bolo se formou na sua garganta e seus olhos arderam.

— Eu... – tentou falar, porém não conseguiu, seus pensamentos conflitavam dentro de si e parecia a ponto de desmoronar na frente dela.

            Doía tanto descobrir que pôde ter uma segunda chance e a perdera, e o pior é que a culpa maior era dele próprio. Colocou a mão na frente do peito como isso pudesse fazer com que aquilo parasse, tinha que se controlar. Os dentes trincavam e a respiração ficava mais forte, querendo evitar demonstrar o que sentia, mas seus olhos não deixavam Sakura que parecia ficar angustiada por vê-lo daquela forma.

— Sasuke? Está tudo bem? – e colocou a mão no seu rosto para checar algo e ele obrigou-se a respirar fundo e se acalmar. Sabia desde o início que essa possibilidade existia. Havia prometido para si o que faria caso fosse a escolha dela e agora era hora de provar que não era tão egoísta quanto o resto de sua família e que por isso ele e todos os Uchiha’s ainda tinham uma chance.

— Se você realmente amar outro... – ele começou com dificuldade. Seus olhos nunca a deixavam – Se for para você ser feliz... eu desfaço esse casamento.

            Sakura achava que Sasuke não lhe surpreenderia mais na sua vida. Pensara que já havia visto todos os lados dele, dos piores aos melhores. Mas provara estar errada ao ouvir aquela frase. O que ele estava dizendo? Que a libertaria se ela quisesse? Não podia ser verdade, podia? Aquela conversa não tinha sentido nenhum, em um momento falavam dos Uchiha’s enquanto dançavam e no outro ele havia a conduzido para uma parte mais afastada e conversavam sobre eles. E ela nem ao menos havia percebido isso! Como surgiu aquele assunto? Ele não queria mais saber a sua resposta sobre a pergunta que fizera antes de sair em missão? Ou havia desistido de tentar fazer aquele casamento dar certo e a descartava?

            Olhou para o marido que, agora, andava calmamente ao seu lado. Eles não haviam dito mais nada um para o outro, pois logo em seguida Hana surgiu junto de Itachi e os interromperam para fazer algo que ela nem ao menos conseguiu prestar atenção no que era. E nem Sasuke que também parecia alheio a tudo. E depois de Sasuke dar alguma desculpa para a família, voltavam para casa sob à luz da lua. Ambos calados e perdidos em seus próprios pensamentos.

— Ainda vamos treinar amanhã, certo? – a voz de Sasuke soou alta perto de si e ela se assustou, mas tentou não demonstrar, confusa demais com tudo o que acontecia.

— Você ainda quer treinar? Pensei que...

— Acho que eu não consegui ser claro naquela hora e Itachi acabou nos atrapalhando – ele disse ao parar e Sakura ficou de frente para ele. Era agora que ele lhe diria que tudo não passou de uma farsa? Franziu o cenho com o pensamento e Sasuke se aproximou de si.

— Eu realmente anulo o casamento se quiser... – e ajeitou uma mecha do cabelo dela, apenas como uma desculpa para tocá-la. Sua mão vagou pelo rosto iluminado à luz da lua e voltou a falar – Mas se ainda me der um motivo para tentar, eu irei tentar Sakura. – confessou baixinho antes de se aproximar lentamente. Os olhos ônix nunca deixando os verdes – Então, por favor... por favor! – repetia a palavra como se fosse uma pequena prece até encostar a testa na dela – Me deixe tentar... – pediu em um sussurro e, sem conseguir mais resistir, fechou lentamente os seus olhos e colou seus lábios nos dela em um beijo suave.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Muita coisa aconteceu, não é mesmo? Vimos o Naruto tendo que encarar a morte do Jiraya e também quis mostrar como é fácil agir da mesma forma que a mãe da Sakura agiu, quando perdemos alguém nem sempre sabemos lidar com a dor, ainda bem que a Sakura abriu os olhos do amigo e a Hinata ajudou o Uzumaki.
O título do capítulo faz referência justamente às tentativas de aproximação do Sasuke com a Sakura e como ele falhava, ou acha estar falhando. Ele acha que não tem chances, mas mesmo assim insiste com a Sakura do jeito dele e sem perceber, algumas palavras e atitudes deles estão chegando na esposa. Ele já disse que apoiaria a esposa no sonho de ser kunoichi se ela quiser, ele mostrou isso durante a reunião do clã, ele disse que ela era livre para fazer as próprias escolhas (e o fato dele usar a palavra "liberdade" não foi à toa, não!) e como prova disso ele disse, o que eu achei muito simbólico e importante, que ele anularia o casamento com ela, se ela quisesse, e ao mesmo tempo mostrou que estava disposto a tentar novamente se fosse da vontade dela. Ahh como eu adoro esse Sasuke! *-* Mas, hey, essa sou eu, a autora babona que tem uma perspectiva da fic, quero saber a de vocês agora!
Também mostrei um pouco do Idate e, como disse, a intenção nunca foi a Sakura ficar traindo o Sasuke na fic, nem é da índole da personagem fazer isso, e foi isso que ela foi dizer ao Idate, ao dizer que não podiam mais se encontrar ou ter um caso enquanto ela estivesse casada, mas, claro, o Sasuke não sabia disso ao ver a cena e, por enquanto, é bom ele pensar assim. Mas não pensem que o Idate não vai mais dar as caras XD
No início, a minha intenção era já mostrar a parte da luta para vocês, mas ia ser muita informação e eu iria demorar mais e eu realmente achei que o capítulo tinha ser mais íntimo e voltado para o casal, já que no próximo será a partida deles para a batalha e o ritmo da fic vai mudar drasticamente.
Bom, espero que tenham gostado!
E nos vemos no próximo capítulo!
Beijos e até a próxima