Reparação escrita por Luhni


Capítulo 26
Reunião no clã Uchiha


Notas iniciais do capítulo

Oi genteee! Voltei! ^^
Estou respondendo aos reviews de todos e tenho que agradecer por continuarem a acompanhar a fic. E novamente aqui estou eu com mais um capítulo enorme XD

Espero que gostem e nos vemos nas notas finais!
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/513016/chapter/26

— Acho que fez cócegas, garoto – e riu ao ver a cara abismado do Hyuuga – A minha armadura, Hiruko, é impenetrável, você... – mas antes que pudesse concluir, ouviu um estalo e viu com assombro uma parte da sua preciosa armadura trincar e outra parte se soltar, formando um buraco perto da cauda.

— O que dizia mesmo? – Neji sorriu de forma superior e aquilo foi o suficiente para o sangue de Sasori esquentar como a areia do deserto.

— Certo, você realmente me tirou do sério, então vou lhe recompensar e deixar que veja uma das minhas marionetes favoritas – e tirou de dentro do manto um pergaminho com um selo.

            Neji ficou em posição de defesa, aguardando o próximo passo, mas foi impossível não ficar abismado ao ver surgir na sua frente uma marionete que pouco se assemelhava a um boneco, parecia mais humano.

— Uma marionete?

— Não é uma marionete qualquer – Saori disse dentro da sua armadura, Hiruko – Essa é a minha favorita, a minha marionete humana do Sandaime Kazekage.

— Humana? – Neji indagou, mas internamente temia a resposta que iria ouvir. Ouviu-se uma risada de dentro de Hiruko e teve certeza que teria problemas.

— Antes de fazer parte da minha coleção, digamos que ele tinha uma outra função, cuidando da minha antiga Vila – disse e Neji arregalou os olhos.

            Ele já sabia que seu adversário podia controlar pessoas como marionetes, mas o que estava na sua frente era algo que não podia imaginar. Ele transformara um humano em marionete?

— Surpreso? Saiba que ele foi uma conquista realmente preciosa e difícil de conseguir, por isso é a minha favorita – disse e em seguida movimentou uma das mãos, comandando o boneco que correu na direção de Neji, disparando diversas agulhas envenenadas.

            Para evitar o contato, o Hyuuga usou o Hakkeshō Kaiten, girando o corpo rapidamente para bloquear que as agulhas o atingissem. Ao terminar estava um pouco ofegante, mas sabia que havia dado certo, nenhuma o atingiu. Olhou para o inimigo que não parecia nem um pouco impressionado, talvez já até esperasse isso.

— Não pense que sua defesa é indestrutível – foi o que Sasori disse antes de mandar o Sandaime em um ataque direto, usando algumas lâminas envenenadas, saídas do braço direito.

            Neji sabia que não podia se deixar tocar, por isso começou a desviar, procurando uma forma de fugir da marionete, que se mostrava muito rápida. Mas em um momento sentiu as lâminas afundando na sua carne e Sasori comemorou internamente até ver que se tratava de um Kawamiri no jutsu e o que havia sido atingido era somente um tronco de madeira e não o verdadeiro shinobi de Konoha.

— Não adianta tentar fugir, seu destino está selado – Sasori disse, enquanto tentava identificar onde o oponente estava.

— O destino somos nós que fazemos! – Neji bradou e começou a atacar a marionete que desviava com precisão.

            Estava concentrado em acabar com o boneco que quase não notou quando o inimigo apareceu ao seu lado na forma de Hiruko, usando a grande cauda para atacar. A cauda, como a de um escorpião, veio na sua direção e ele sabia que devia agir rápido ou seria o seu fim, jogou três kunais ao mesmo tempo para impedir o golpe e Neji teve milésimos de segundos para escapar também da marionete do Sandaime, saltando para cima. Tinha que se afastar dos oponentes ou não aguentaria por muito tempo.

            No entanto, Sasori não o deixaria escapar tão facilmente e ao ver o que o Hyuuga planejava, abriu a boca de Hiruko e disparou mais agulhas envenenadas. Seria difícil coordenar o corpo enquanto caia, mas Neji não teve escolha, então começou a movimentar-se no ar para evitar de qualquer modo o veneno. Ao cair no chão uma pequena cratera se formou devido ao seu jutsu, que funcionou como um escudo de chakra, porém, dessa vez, não havia sido totalmente eficiente. Algumas agulhas transpassaram a sua defesa devido à queda. Observou o seu inimigo com atenção, ele era muito inteligente, esperara o melhor momento para que ele não pudesse se proteger do ataque.

— Qual o seu nome? – Neji indagou com um sorriso, ele realmente era um adversário formidável, mas ainda não sabia o nome dele.

— Como você irá morrer acho que deve saber quem o matou – Hiruko disse, chamando a marionete do Sandaime para perto de si – Meu nome é Akasuna no Sasori.

— Akasuna... vou me lembrar desse nome – Neji disse em posição de luta e em seguida investiu contra Sasori que sorriu, provavelmente o Hyuuga já sabia que morreria e queria adiantar a sua morte.

            A marionete do Sandaime se colocou na frente de Hiruko, mesmo que fosse desnecessário a proteção. O Hyuuga usava o “punho gentil” para tentar destruir da marionete, em contrapartida esta usava o braço esquerdo como escudo e tentava revidar com o direito onde surgia uma cerra. Neji usou uma kunai para impedir que fosse atingido e uma série de golpes começou ser realizado. De um lado Sasori usava sua habilidade para controlar o boneco enquanto alternava investidas e defesas. E do outro havia Neji, que estudava todos os movimentos com o byakugan ao mesmo tempo em que desviava da arma do inimigo e o golpeava em pontos precisos para inutilizar a marionete.

            Sentiu sua visão ficar embaçada e um tremor percorreu o seu corpo, foi somente um segundo de distração, mas foi o suficiente para que fosse atingido no braço. Saltou para trás e praguejou, o veneno já estava fazendo efeito. Ele tinha que fazer algo rapidamente e terminar com essa luta.

— Não adianta – Sasori chamou a atenção do ninja – O veneno já está correndo na sua corrente sanguínea, provavelmente você deve ter somente mais alguns minutos de vida.

— Alguns minutos são mais do que preciso para acabar com você – se vangloriou novamente, mesmo sabendo que estava em desvantagem. Afinal, ele tinha técnicas para combate à curta distância e seu oponente preferia um combate à longa distância. Além disso, havia o fato de que seu corpo já sentia os efeitos do veneno.

            Sorriu, ele ainda tinha uma carta na manga, mas não podia correr o risco de usá-lo antes da hora. Por causa disso, no momento não importava quantas vezes ele fosse atingido, nada iria pará-lo. E foi com esse pensamento que se lançou novamente contra o adversário.

            Para Sasori aquilo começava a se tornar enfadonho, o rapaz não apresentava nenhuma técnica nova, nem ao menos parecia disposto a realmente atingi-lo, foi quando notou que o Hyuuga deveria apenas estar o atrasando para que os companheiros terminassem o serviço. Movimentou as mãos de forma mais rápida, fazendo com que sua marionete atacasse de forma mais implacável e Neji acabou por ser atingido em diversas partes do corpo, ele não estava sendo alguém tão interessante quanto a garota com quem lutou, pois pelo menos ela sabia usar ninjutsu médico e se recuperar minimamente. Recordou-se que, talvez, ela estivesse viva, e decidiu não prolongar mais a batalha. Queria saber se ela havia sobrevivido ao seu veneno, pois com certeza ela saberia lhe entreter muito mais.

            Olhou o shinobi no chão que respirava com dificuldade, tentando conter o sangue que saia dos ferimentos e calculou que ele não mais poderia se mexer, havia muito veneno na corrente sanguínea dele. Pensou em dar o golpe o final, mas achou que ele deveria estrebuchar até a morte e foi com esse pensamento que saiu dali. Além disso, ainda devia ajudar o idiota do Deidara e do Kabuto, não podia mais perder tempo.

            Neji notou quando o adversário foi embora e por um momento sentiu-se um inútil por não conseguir derrotá-lo. Ofegava, sentindo os músculos tremerem, seu chakra oscilava e ele quase não conseguia se mexer de tanta dor que sentia. Forçou o braço e com dificuldade tirou de dentro da roupa uma pequena seringa dada por Sakura antes de iniciarem a missão.

“Se for envenenado, use esse antídoto, não sei se será eficaz pois não o testei, mas eu mesma fiz com base no veneno do mesmo shinobi que enfrentei.”

            Recordara as palavras dela. Ela havia se precavido e feito um antídoto e dado a todos, com medo de que alguém se ferisse e, por mais orgulhoso que fosse, ele tinha que admitir que aquela seria a sua salvação. Só esperava que desse certo. Com a mão trêmula, fincou a seringa em uma veia no outro braço e esperou que fizesse efeito e não morresse de hemorragia enquanto isso. Fechou os olhos enquanto espasmos percorriam o seu corpo, arfou de dor e em seguida somente havia o breu.

            Acordou ofegante, os olhos arregalados, tentando se situar onde estava, olhava para os lados mas não conseguia enxergar nada devido à noite escura. Suor escorria por seu rosto, enquanto tentava se acalmar e organizar seus pensamentos. Alguém acendeu a luz, e ele fechou os orbes com força por causa da claridade.

— Neji! Está tudo bem? – uma mulher de longos cabelos castanhos, indagou preocupada ao se aproximar. Ela tocou suavemente em seu rosto frio, enxugando o suor que ali havia – O que houve? Você está gelado – disse ao ver que ele não lhe respondia. Ainda estava perdido nos acontecimentos de alguns dias, antes de chegar à Konoha.

— Tenten... – murmurou como se somente agora a reconhecesse e ela suspirou mais aliviada, abraçando o Hyuuga fortemente.

— Foi mais um pesadelo, não é? Tudo bem... – e começou a deslizar as mãos pela costa do rapaz - ...Ino disse que era normal, mesmo que você não corra mais perigo, ainda há vestígios do veneno no seu corpo – explicou docemente.

— Eu sei... – e suspirou, apertando-a contra si. Ela se afastou para observar o rosto que tanto amava e sorriu para ele.

— Estou aqui com você, vai ficar tudo bem – Neji aquiesceu, aproximando-se do rosto dela, precisava senti-la mais do que nunca para ter certeza que continuava vivo, que não perdera a oportunidade de estar com quem mais amava nesse mundo, para ter certeza que seu destino ainda continuava a ser escrito.

— Eu sei... – ele murmurou antes de tocar os lábios de Tenten com sofreguidão.

—*-

 

            Olhava a janela com o olhar vago. Estava sentindo-se cansada e sentia um pouco de dor pelo corpo, principalmente na barriga onde tivera a espada fincada. Passou a mão no local e sentiu as faixas cobrindo o ferimento. Mas nada disso a importava muito, sua mente se focava apenas no fato de que haviam falhado mais uma vez. Cerrou o punho com força ao lembrar de Kabuto na sua frente e como ele escapou por seus dedos. Estava tão próxima de alcançá-lo.

            Ouviu a porta sendo aberta, mas permaneceu no mesmo local. Não queria conversar com ninguém, muito menos com ele.

— Não está com fome? – Sasuke indagou ao ver a bandeja que trouxera mais cedo intocada. Ela apenas meneou a cabeça, negando, sem encará-lo e ele suspirou sem saber o que fazer – Trarei algo mais tarde para que coma – tentou novamente, mas ela só assentiu mais uma vez e ele saiu do cômodo.

            Sakura soltou a respiração ao ver que Sasuke não estava mais ali, desde que acordara não sabia como agir perto dele. Ainda recordava-se de ver os dois olhos negros, tão profundos e escuros, a lhe encarar atentamente. Colocou a mão no peito e sentiu as faces coradas com o momento, ele estava lá ao lado dela, parecia tão preocupado e tão aliviado que ela não soube reagir àquilo. Ainda mais depois do sonho que teve com Sayumi. Isso era outra coisa que rondava sua mente, não sabia dizer se o encontro com a irmã havia sido real, ou apenas algo que sua imaginação criou. Franziu o cenho, negando, não, havia sido real, sentia dentro de si que aquela era realmente sua irmã. Ainda conseguia sentir o abraço dela, o cheiro, mas se ela era real, quer dizer que o que conversaram também era.

            Suspirou, para Sakura era inconcebível que a irmã dissesse que Sasuke amava outra pessoa que não a própria Sayumi, mas ao acordar e ver o Uchiha ao seu lado fez com seu coração disparasse e ela ficasse confusa com tudo ao seu redor e, para piorar a situação, Sasuke sempre vinha vê-la, ou perguntava como estava e aquilo era tão... não-Sasuke. Pelo menos com ela não era algo normal essa preocupação.

— Tenho que parar de pensar nisso – murmurou para si, colocando as mãos na cabeça.

            Levantou-se lentamente, e com um pouco de dor no corpo, olhou ao redor. Estava no seu quarto, dentro da sua casa na Vila da Cachoeira, ou melhor no quarto que era para ser dos dois, mas Sasuke nunca dormiu ali com ela, então praticamente considerava como o seu quarto unicamente. Ao acordar ela indagou o que havia acontecido, onde estava, onde todos estavam e, principalmente o que havia acontecido a Kabuto.

            Sasuke havia sido bem paciente consigo, explicando que o plano falhara. Kabuto havia escapado, assim como o shinobi da Akatsuki, Deidara, pois mesmo depois de ser derrotado por Sasuke, havia aparecido o terceiro ninja que controlava as marionetes e o resgatou durante a confusão. Ele também contou que o fato das marionetes terem parado de lutar foi pelo fato de que o seu controlador estava em uma luta com Neji e isso fez com que todos tivessem uma chance maior, já que o número dos adversários havia diminuído de forma drástica, mas que mesmo assim o Hyuuga havia sido gravemente ferido, e somente sobreviveu ao veneno devido a ela. Assim como Ino. Sakura sentiu os olhos marejarem, mas não chorou. Ficara aliviada e feliz em poder ter ajudado os companheiros de alguma forma e, principalmente, por não ter perdido Ino também.

            Lembrou-se também que tivera a mesma reação ao ouvir pela primeira vez essa parte da história por Sasuke, mas naquele momento ela não conseguiu controlar a vontade de chorar e ficara surpresa ao sentir a mão do Uchiha afagar a sua, como se estivesse lhe dando apoio. Balançou a cabeça, negando. Sasuke também lhe contara que Hinata havia dado os primeiros socorros em todos ali, mas o caso dela era mais grave, por isso decidiram que eles ficariam na Cachoeira por mais alguns dias, enquanto os outros eram levados para Konoha, já que o veneno já havia sido controlado. E porque Neji se recusava a ser tratado em uma vila estranha ou que não fosse uma aliada. Então, somente os dois estavam ali de novo. Suspirou, havia acordado somente ontem no hospital e fizera de tudo para pelo menos não ficar presa ali, não sabia o que pensar de tudo, apenas torcia para que se recuperasse logo e pudesse voltar para sua casa em Konoha.

            Tentou moldar chakra nas mãos, mas sentiu-se tonta e teve que se apoiar na cama para não cair. Pelo jeito teria que ir mais devagar se não quisesse piorar a situação. Deitou-se lentamente e fechou os olhos, cansada. Quem sabe não estivesse melhor ao acordar?

—*-

            Era a segunda vez que lia a mensagem do irmão. Ele contava como estavam as coisas em Konoha. Parecia que tudo havia se acalmado, Gaara havia conversado com os conselheiros de Suna e um tratado entre as duas vilas seria selado em breve. Por causa disso, as pessoas comemoravam os dias de paz. Mas Itachi era categórico ao dizer que estava com um mau pressentimento de tudo aquilo. E seu irmão nunca errava. Além disso, ele comentava sobre o clã, mas Sasuke preferiu não dar atenção a isso no momento, sua cabeça estava cheia demais para pensar no que faria ao chegar em Konoha e como Sakura seria recebida por seus familiares.

            Poderia até dizer que sua cabeça estava lotada por pensamentos que envolviam a rosada. Desde que ela fora atingida, ele não saíra do lado dela e quando a viu acordar foi como se um peso houvesse sido retirado de si. Mas ele não sabia o que fazer a partir daí, e provavelmente ela estava estranhando o fato dele estar tão solícito com ela, mas ele apenas estava preocupado. Ele queria que ela se recuperasse. Ele queria mostrar que estava diferente, mas ela recuava e o ignorava. E aquilo o irritava tanto que ele tinha que sair do quarto para não discutir com ela. Passou a mão no rosto e sorriu pesaroso, pelo visto velhos hábitos nunca mudavam mesmo, ela continuava sendo irritante para si, mas de uma forma completamente diferente e ao mesmo tempo tão igual.

            Guardou a folha dentro do bolso e pegou a bandeja com comida. Ela tinha que se alimentar. Andou a passos lentos até a porta do quarto e abriu a porta, notando que Sakura estava dormindo novamente. Ela ainda devia estar sentindo dor e estar com o corpo esgotado. Ela ficara inconsciente por uma semana antes de acordar no hospital da Vila da Cachoeira e ser liberada, mas ainda estava fraca para fazer uma viagem e por isso ainda estavam ali e não em Konoha juntos dos outros. Ele próprio achara melhor que fossem depois, não queria arriscar e, por mais que Naruto dissesse que ele fazia isso pois queria ficar a sós com ela, ele sabia que não se tratava disso, não totalmente, pelo menos.

            Deixou a bandeja na cômoda e a observou dormindo, ela estava com a testa suada, os lábios entreabertos indicavam a respiração mais acelerada, parecia estar tendo um pesadelo. Colocou a mão no ombro da garota, sacudindo-a levemente para que acordasse.

— Sakura? – a chamou e ela abriu os olhos assustada levantando-se rapidamente e gemendo de dor no processo. – Calma – pediu apoiando-a contra si para que não se machucasse mais.

— Sasuke-kun? – ela disse com os olhos ainda atordoados e Sasuke sentiu o coração falhar uma batida por ela ter lhe chamado da forma carinhosa que lhe chamava a anos atrás.

— Está tudo bem? – indagou ao vê-la afastar-se de si, parecia mais desperta agora e o rosto estava corado.

— Sim – respondeu sem encará-lo.

— Teve um pesadelo? – tentou novamente manter um diálogo e a garota apenas aquiesceu. Ele pensou em falar algo mais, porém ela foi mais rápida, cortando-o.

— O que quer?

— Você tem que comer – e apontou para a bandeja.

— Não estou com fome... – resmungou. E ele franziu o cenho pela teimosia.

— Não perguntei se estava – retrucou e Sakura revirou os olhos.

— Vou primeiro tomar um banho, depois como – tentou afastá-lo, queria ficar sozinha, pois toda vez que o via a conversa com Sayumi lhe vinha à mente.

— Eu ajudo – disse e ela não pode evitar encará-lo surpresa pela resposta, ele pareceu se dar conta do que havia dito e desviou o olhar, envergonhado – Quero dizer, você não está em condições e...

— Sei tomar banho sozinha – disse nervosa e ele suspirou.

— Você está ferida, mal consegue sair da cama sem sentir dor – quis explicar o seu ponto de vista, tentando soar o mais calmo possível e não como um pervertido.  – Deixe-me ajudá-la.

— Eu... – iria negar, nunca poderia aceitar algo assim.

— Vamos fazer assim, se conseguir provar que não precisa de ajuda, eu saio. – e cruzou os braços à espera de uma resposta.

            Sakura até pensou em discordar, mas parecia que não havia outro modo, lentamente levantou os braços, tentando puxar a blusa para cima, mas a fisgada que sentia a impedia de continuar. Encolheu-se com dor e sentiu Sasuke terminar de puxar a blusa, deixando-a de sutiã. Colocou as mãos na frente do corpo e virou-se, recusando-se a olhá-lo, estava envergonhada demais.

— Posso ajudar agora? – ouviu ele questionar e ela não soube o que fazer. Espiou o Uchiha sobre o ombro e viu que ele também não a encarava, dando o espaço que ela precisava para ficar mais à vontade.

            Suspirou, não tinha outro modo, não havia mais ninguém ali para lhe auxiliar e ela, mesmo que negasse agora, em algum momento iria ter que tomar banho. Não era para ela agir assim, ele já havia lhe visto de roupa íntima, mas sem nada... sentiu o rosto esquentar e murmurou, hesitante:

— T-Tudo... bem...

            Sasuke meneou a cabeça para informar que havia ouvido e colocou as mãos na costa de Sakura, guiando-a até o banheiro. Nenhum dos dois se encaravam, ambos estavam extremamente constrangidos com aquilo. Seria até cômico pensar que eram casados e tinham vergonha do parceiro, se não fosse tão trágico o fato de ambos parecerem dois desconhecidos um para o outro. Sakura parou no meio do banheiro sem saber o que fazer e Sasuke engoliu em seco.

— Eu... vou tirar as suas calças – informou e abaixou-se na frente da menina que teve o ímpeto de afastá-lo de vergonha, mas apenas aquiesceu.

            Agora ela estava somente de sutiã e calcinha na frente dele e ela não pode evitar lembrar da lua de mel, não conseguia nem ao menos levantar a cabeça, somente encarava o chão, querendo que aquilo terminasse o mais rápido possível.

— Sakura – ele a chamou e ela soube que teria que se dirigir para ele. Levantou a cabeça e viu ele se aproximar perigosamente de si, deu um passo para trás, receosa, e Sasuke parou. Ele suspirou e novamente tentou uma aproximação, ergueu os braços devagar, circundando-a até chegar no fecho do sutiã e soltá-lo.

            Ele abaixou levemente a alça e retirou a peça do corpo de Sakura que prendia a respiração, envergonhada. Seu coração batia forte e ela não sabia para onde olhar, foi então que viu que os olhos de Sasuke ainda estavam em si, nunca deixando o seu rosto. As bochechas esquentaram mais uma vez e, dessa vez, ela não conseguiu desviar. Sasuke a encarava de forma tão intensa que parecia ver sua alma.

— Vire-se – pediu de forma suave e Sakura engoliu a seco, fazendo o que foi pedido.

            Sentiu os dedos do Uchiha se enroscarem na sua calcinha e todos os seus músculos tencionaram enquanto ele a abaixava e a ajudava a tirar a peça de cada lado da perna. Fechou os olhos com força e esperou por algo... que ele falasse algo, que ele zombasse de algo, que ele fizesse qualquer coisa como ficar lhe observando igual à noite de núpcias, como se ela não fosse o suficiente.

— Sakura – ouviu ele lhe chamar e olhou por cima do ombro, usando o cabelo curto para esconder um pouco o seu rosto e ficou surpresa ao vê-lo da mesma forma, ainda lhe encarando fervorosamente. Ele não ousava desviar o olhar do rosto dela, queria que ela soubesse que não a constrangeria novamente, se ela não queria que ele a olhasse, ele não olharia, por mais tentado que estivesse. Queria que Sakura soubesse que podia confiar em si, ele não agiria da mesma forma novamente.

            Ela girou o corpo levemente, com as mãos ainda tapando o que podia da sua nudez, enquanto que os orbes esmeralda permaneciam presos em si, confusa e intrigada com o seu comportamento. Ele sorriu de canto e foi a vez de Sasuke dar meia volta, ficando de costas para a garota que não entendeu o motivo daquilo.

— Acho que agora ficará mais fácil para você – disse indo em direção à porta – Se precisar estarei do outro lado – e saiu do banheiro.

            Sakura soltou a respiração que nem percebeu que prendia. Tinha que se recuperar logo, não aguentaria ter que passar por isso outras vezes, pensou ao colocar a mão na altura do peito onde seu coração batia descontroladamente.

—*-

            Comia calmamente e tinha que admitir, mesmo que fosse somente para si, que Sasuke cozinhava melhor do que ela. Bufou irritada com aquilo e viu ele arquear uma sobrancelha enquanto a observava comer. Ela deu de ombros, tentando ignorá-lo, ainda estava tímida pelo o que havia acontecido no banho, ainda mais porque teve que pedir para que ele a ajudasse a colocar uma roupa, sentiu as bochechas esquentarem com aquilo e colocou mais um pouco de comida na boca.

— Está ruim? – ele indagou e ela sorriu de forma debochada.

— Já comi melhores – como dissera, ele não precisava saber que estava achando aquilo delicioso. Mas ao contrário do que pensava, Sasuke sorriu para si e virou o rosto para o lado antes de dizer:

— Talvez você possa me ensinar quando melhorar – Sakura quase cuspiu a comida ao ouvir tal coisa e ficou se perguntando se havia entendido direito, mas o sorriso de lado estava lá e ele parecia acanhado ao proferir tais palavras, o que significava que ele estava sendo sincero.

— O q-que? – indagou com os orbes arregalados.

— Você precisa descansar, depois eu volto – ignorou a pergunta feita e saiu do cômodo a passos rápidos, antes que ela pudesse questioná-lo de novo. E Sakura apenas fitou a porta sem entender o que havia acabado de acontecer.

—*-

            Ela o observava lavar a louça calmamente, mesmo que soubesse que ele, no fundo, estava com raiva de si por ter saído do quarto e não estar descansando. Mas o que mais poderia fazer? Já havia dormido muito no dia anterior depois de comer e tomar banho e hoje ela havia acordado mais disposta, por isso pensou em passear um pouco pela casa para fazer seu corpo se acostumar com a pequena atividade. Ouviu um barulho ecoar na pia e Sasuke praguejou baixinho, chamando a sua atenção. Ele segurava a mão com força e ela soube que ele havia se cortado.

— Está tudo bem? – perguntou fazendo menção de se aproximar dele.

— Está, fique ai – mandou irritado e ela revirou os olhos ao vê-lo andar de um lado para o outro à procura de algo.

— Deixa eu ver isso – andou até ele e puxou a mão dele para ver o corte. Olhou rapidamente para a pia onde havia um copo quebrado e voltou sua atenção ao ferimento.

— Não foi nada – tentou puxar novamente, mas ela o impediu e colocou sua mão por cima da dele, enquanto se concentrava para reunir chakra – Sakura, não ouse! Ainda está fraca! – brigou e novamente ela o ignorou, formando uma pequena luz verde na palma da mão, estancando o sangue.

— Prontinho – sorriu, feliz, por ver que já conseguia usar um pouco do seu ninjutsu médico novamente, isso significava que ela estava se recuperando. Sentiu uma pequena vertigem pelo esforço, mas antes que algo mais grave acontecesse foi amparada por Sasuke que a fitava sério.

— Irritante, eu disse que não era para se esforçar! – disse irritado e Sakura se ajeitou, saindo dos braços dele e bufou irritada.

— Eu estou bem, não foi nada – falou um pouco emburrada.

— Vá para o quarto, está me atrapalhando – mandou e ela revirou os olhos, mas resolveu acatar a ordem.

— Você poderia aprender a agradecer de vez em quando – disse fazendo bico, dando meia volta para sair da cozinha, mas parou ao ouvi-lo chamá-la.

— Obrigado – ele murmurou e ela o encarou surpresa.

            Ele estava com a face séria, seu olhar firme não a deixava e ele parecia falar de algo mais do que o fato dela ter cuidado de um simples corte. Franziu o cenho para questioná-lo, mas ele virara-se para o outro lado, voltando a atenção para pia com a louça suja novamente. Balançou a cabeça, decidida a não se importar e saiu dali, mesmo que esboçasse um pequeno sorriso no rosto.

—*-

            Olhou para o céu límpido e azul que indicava o lindo dia que faria em Konoha. Já fazia mais de três semanas desde que retornara ao lar depois de estar em missão na Vila da Cachoeira. Suspirou, suas lembranças dessa missão eram tanto boas quanto ruins. Perderam a oportunidade de capturar Kabuto, mas conseguiram fazer com que a Vila da Cachoeira se manifestasse e ajudasse Konoha a capturar os nukenins, já que eles também estavam sofrendo com os ataques sofridos. Além disso, havia Sasuke e Sakura, recordava de ter ficado desesperado ao ver a amiga no chão sangrando nos braços de Sasuke. Pensara que era tarde demais, que mais uma vez perdera alguém que amava, que mais uma vez seu amigo ficaria perdido em meio à escuridão.

            Franziu o cenho com a imagem de Sasuke naquele dia... ele nunca esqueceria o amargor, o desespero, a angústia no rosto do melhor amigo que se recusava a crer que Sakura havia o deixado. Era como se o Uchiha recebesse pela segunda vez um golpe e, dessa vez, Naruto sabia que seria fatal. Tinha certeza que ele nunca mais se recuperaria se Sakura morresse. Sasuke bradava para que Naruto o ajudasse, o orgulhoso Uchiha pedindo ajuda, porém o Uzumaki estava tão assustado com a visão de Sakura desacordada e sangrando que nem ao menos conseguiu se mover, deixando o amigo mais irritado com a sua postura indiferente.

            Fechou os olhos com força ao recordar que não havia conseguido ajudar seus amigos, estava ferido demais, com medo demais, sem saber como reagir, e naquele momento de desesperança, Hinata surgira como uma luz na frente de todos ao conseguir fazer com que Sakura tivesse uma chance de continuar viva. E a lembrança da perolada o fez sorrir, ela realmente havia sido espetacular, tão forte e decidida e lutara como nunca havia visto. Agora ele, assim como Sasuke, devia imensamente à perolada por ter salvado alguém tão importante para si quanto Sakura, não que isso fosse um problema. Ele estava orgulhoso ao ver o quanto ela havia mudado desde quando eram meros gennins e ela se escondia de tudo e de todos com vergonha. Com certeza ela seria uma grande líder um dia e uma líder muito bonita.

            Balançou a cabeça com os pensamentos indevidos e voltou a pensar nos amigos, esperava que eles estivessem se dando bem, ele vira naquele momento que não precisaria se preocupar com Sasuke, ele faria de tudo para ajudar Sakura, para que ambos tivessem uma oportunidade juntos, mas ainda assim se preocupava. Não sabia o que havia no coração de Sakura e, talvez, já fosse tarde para Sasuke. Além do mais, o fato dela não ter morrido naquele momento, não significava que não corresse perigo de vida ainda e ele não soube mais nada desde que saíra de lá com os outros companheiros.

            Resolveu sair de casa, queria andar pela vila e espairecer. Despediu-se da mãe que arrumava algo na casa e andou sem um rumo certo. As habitações já se erguiam e a vida voltava ao seu rumo normal. Era bom saber que Konoha, apesar do último ataque sofrido, continuava sendo tão acolhedora como sempre fora e isso se devia à vontade do Fogo que corria nas veias de cada cidadão ali, que prezava pela Vila, e pela Godaime que protegeu a todos, impedindo que houvesse muitas baixas no dia. Parou em frente ao clã Haruno e viu a mãe de Sakura com algumas caixas nas mãos, quase deixando-as cair.

— Eu ajudo – disse evitando que tudo fosse ao chão.

— Obrigada, Naruto – respondeu a senhora e ficou mais aliviada ao ver o loiro carregar tudo.

— O que é tudo isso, Mebuki-san? – Naruto questionou e a mais velha deu de ombros.

— Doações – foi tudo que a esposa do líder do clã disse e Naruto ficou ainda mais intrigado, porém resolveu não se manifestar mais ao ver o semblante triste da senhora.

            Andaram cinco minutos em silêncio e ele não aguentava mais ficar tanto tempo sem falar e quando pensava em comentar algo de Sakura, ficou surpreso quando a mulher o fez primeiro:

— Tem notícias de Sakura? – a pergunta foi baixa, como se estivesse constrangida de perguntar pela filha e realmente estava. Não tinha direito de perguntar por ela depois de tudo.

— Ela... – hesitou, não sabia se seria uma boa ideia contar que, na última vez que vira a amiga, ela estava quase morrendo. Mas Mebuki notou que algo estava errado.

— O quê? – indagou novamente e o Uzumaki começou a ficar inquieto, sem saber como responder – Naruto, você está escondendo algo de mim? – Mebuki parou de andar, fazendo o loiro também estancar.

            A mulher lhe encarava com o cenho franzido e os braços cruzados em frente ao corpo. Ela tinha uma postura altiva e tinha que admitir que ela botava um pouco de medo em si, só não ganhava da própria mãe, Kushina, quando estava irritada, mas Haruno Mebuki também sabia ser assustadora.

— Ehh, a Sakura-chan... – começou nervoso – Ela... bem... o Teme... e a missão... então... – falava coisas totalmente desconexas, tentando pensar em algo, mas isso só fazia a matriarca Haruno se irritar ainda mais.

— Naruto, pare de enrolar e... – começava a se alterar, porém parou de falar ao encarar algo mais à frente. Ela soltou um suspiro de alivio e sorriu inconscientemente. O Uzumaki ficou confuso com a repentina interrupção da mulher e ficou curioso para saber o que havia feito ela parar de brigar consigo.

            Virou-se para a frente e arregalou os olhos ao ver Sasuke e Sakura caminhando lentamente pelas ruas de Konoha. Observou com mais atenção a amiga que, apesar de andar devagar, parecia bem e recuperada de tudo. Sorriu amplo e não conseguiu se controlar, largou as caixas no chão, gritando enquanto corria desesperadamente na direção do casal.

— Sakura-chan!! Temee! – berrou e Sakura foi a única a correspondê-lo com um sorriso enquanto Sasuke revirava os olhos pela reação do amigo, mesmo que no fundo estivesse sentindo falta daquele escandaloso.

            Sasuke notou que Naruto vinha muito rápido e já tinha uma noção do que o amigo planejava fazer, por isso antes que o Uzumaki pudesse se jogar em cima de Sakura, como sempre fazia, ele a puxou para trás, ficando na frente da rosada que arregalou surpresa pelo movimento repentino do Uchiha, fazendo com que Naruto parasse bruscamente na frente do outro.

— Teme, seu chato! Eu quero ver a Sakura-chan! – resmungou, tentando passar pelo amigo que revirou os olhos, mas não saiu do lugar.

— Sasuke, está tudo bem, também estou com saudades do Naruto, deixe-me vê-lo – Sakura também falou nas costas do Uchiha e este apenas suspirou antes de dar um passo para o lado, dando espaço para o loiro.

            A primeira coisa que Naruto fez foi arregalar os olhos, pois seu melhor amigo acabava de acatar uma ordem dada a ele, e por Sakura, mas ao ver os orbes verde-esmeralda a sua frente, sorriu e a envolveu em seus braços o mais rápido possível, tentando controlar a si próprio para não chorar.

— Sakura-chan, estou tão feliz que esteja bem! – disse apertando-a contra si.

— N-Naruto... – falou com um pouco de dificuldade e Sasuke fez o favor de afastá-lo da garota que pode respirar melhor.

— Idiota, ela ainda está se recuperando – repreendeu o loiro que sorriu de forma apologética.

— Eu não tive a intenção, Sakura-chan...

— Tudo bem, eu já estou melhor – tentou fazer pouco caso, já bastava o mal humor de Sasuke ali.

— Vocês chegaram quando? Por que não avisaram? Por que demoraram? O que aconteceu? Vocês estão estranhos! – disparou diversas perguntas e Sasuke bufou com a ansiedade do loiro, ele não mudava nunca.

— Acabamos de chegar e avisamos somente a Hokage – foram as palavras de Sasuke e Sakura resolveu continuar.

— Eu quis voltar logo, não aguentava mais ficar longe de Konoha e eu já estava bem o suficiente para isso – e sorriu ao mesmo tempo em que Sasuke bufava ao seu lado.

— O que foi? – Naruto questionou meio perdido pelo jeito do Uchiha.

— Ah, ele está emburrado porque acha que estou sendo irresponsável – Sakura deu de ombros e Sasuke virou o rosto para o lado, resmungando que tinha certeza disso.

— Entendi... – Naruto falou olhando de um para o outro, tentando captar tudo o que eles não diziam para si. Sasuke era o mais mudado. Era óbvio isso e não pode evitar o sorriso – Que bom que voltaram, eu estava justamente falando com... – parou de repente e virou-se com os olhos arregalados, verificando onde estava dona Mebuki, ele havia a deixado sozinha para ir até os amigos. Havia se esquecido dela. – Droga! – disse antes de correr até onde estava anteriormente e deixando os outros dois sozinhos.

            Sakura ficou confusa com a ação do amigo, mas não questionou, assim como Sasuke que voltou a andar em direção ao clã. E Sakura não teve alternativa a não ser seguir o marido. Sorriu nostálgica enquanto caminhava pela vila novamente. Estava realmente com saudades dali. Havia sido uma boa coisa ter insistido para voltar para casa, afinal não aguentava mais passar os dias somente ao lado de Sasuke, estava tudo ficando confuso demais para ela e preferia se afastar o quanto pudesse. Mesmo que volta e meia as palavras que Sayumi lhe dissera viessem lhe assombrar. Por causa disso havia decidido voltar para Konoha, pois lá Sasuke voltaria a fazer missões, ficaria longe de si, tudo voltaria a ser como era, com ele a esnobando e a deixando sozinha, tinha certeza.

            Parou de andar com o pensamento. Mas se era isso que queria, porque de repente ficou triste com essa perspectiva? Olhou para as costas do Uchiha que parou ao notar que não estava sendo seguido e virou-se para a garota com o uma sobrancelha arqueada.

— O que foi? – indagou e ela balançou a cabeça, negando e voltando a andar ao seu lado.

            Ela estava sendo boba, tinha que parar com isso. Devia estar muito carente de atenção para desejar a companhia de Sasuke, devia ser isso, mas agora em Konoha tudo ia voltar ao normal. E enquanto refletia, não notou o olhar de Sasuke sobre si.

—*- 

— Vocês voltaram! – Mikoto disse enquanto se jogava nos braços do filho mais novo que retribuía o gesto – Graças a Kami! Vocês estão bem! – falou com a voz embargada, limpando os olhos e em seguida olhou para a nora que sorria para si e a abraçou com força, ouvindo um pequeno gemido de dor – Sakura? – indagou, olhando para a garota que ainda mantinha o sorriso.

— Está tudo bem – falou baixo e Sasuke revirou os olhos.

— Ela está machucada – informou o Uchiha e Mikoto rapidamente se preocupou.

— Como assim? O que houve? – disse começando a analisar a rosada que tentava escapar do exame da matriarca dos Uchihas.

— Sasuke! – ouviram outra pessoa e Sasuke sorriu ao ver o irmão correr para perto de si, sendo seguido por Fugaku mais atrás – Finalmente voltaram! – exclamou ao abraçar o irmão e em seguida a cunhada. O pai foi o último a dar as boas-vindas ao mais novo e de forma mais contida.

— Não faz tanto tempo assim – resmungou e Mikoto foi a primeira a protestar:

— Vocês ficaram quase dois meses fora, isso é muito tempo! – e aquela foi a primeira vez que Sakura notou que realmente havia passado muito tempo longe de Konoha, na sua concepção o tempo parecia ter sido muito menor ao lado de Sasuke.

            Olhou para o marido que também parecia pensar a mesma coisa que ela, ao notar que estava sendo observado olhou para a mulher que desviou olhar rapidamente.

— Por que demoraram tanto? – Fugaku indagou e Sasuke deu de ombros.

— Algumas coisas aconteceram por lá – e deu uma pequena olhada em Sakura que fingiu não ser consigo.

— Bom, você vai ter tempo de nos contar tudo quando chegarmos em casa – disse o líder do clã – Nós temos muito que conversar – disse sério e Sasuke assentiu, já tinha noção do que deveria se tratar.

— Itachi, como está Hana e Megumi? – se manifestou Sakura depois de um tempo e o primogênito abriu um sorriso com a pergunta.

— Elas estão ótimas. Hana vai ficar feliz em saber que os padrinhos de Megumi finalmente chegaram – disse e Sakura sorriu.

— Também quero vê-las, estava com saudade de Konoha. Podemos ir vê-las agora? – pediu.

— Cla...

— É melhor irmos para casa agora, depois você as visita. – Sasuke interrompeu o irmão de forma séria e os pais suspiraram ao ver que o filho continuava o mesmo.

— Eu estou bem – falou pela milésima vez aquilo e revirou os olhos.

            Ambos se encararam de forma séria, parecia que eles conversavam por olhares, esquecendo todos a sua volta e tanto Mikoto e Fugaku quanto Itachi estranharam o jeito dos mais novos, principalmente ao verem Sasuke bufar e revirar os olhos, dando de ombros.

— Tudo bem, mas será uma visita rápida – disse à contragosto para a surpresa de todos.

— C-Certo, então vamos – Itachi falou um pouco nervoso e questionou-se o que havia acontecido com aqueles dois nessa viagem. Ele só podia afirmar que Sasuke, definitivamente, não era mais o mesmo.

            Ao andarem pelo distrito Uchiha, Sasuke e Sakura puderam reparar que todos os membros do clã trabalhavam na reconstrução do que faltava no distrito, mas tudo parecia ir muito bem, diversas casas já estavam reconstruídas e as crianças do clã voltavam a brincar na rua sob a supervisão das mães. Sakura ficou feliz de ver que não somente no clã, mas Konoha parecia ter se recuperado do último ataque. Mas logo seu sorriso morreu ao perceber que os familiares do seu marido não pareciam tão felizes com o seu retorno e lembrou-se que quando saíram da vila ela havia desrespeitado diversas regras dos Uchiha’s. Suspirou, ainda teria que muito o que enfrentar pelo visto.

            Sasuke também notara os cochichos vindos de alguns Uchiha’s que falavam a respeito de Sakura, ignorou-os, mas inconscientemente aproximou-se da esposa como se isso pudesse protegê-la, mesmo que a rosada nem ao menos tivesse notado. Mikoto que ia mais atrás junto do marido sorriu esperançosa ao ver aquilo e olhou para Fugaku, que sorriu em resposta.

— Você sempre acerta, não é mesmo? – sussurrou para a esposa que arqueou uma sobrancelha e com um sorriso debochado acenou, concordando.

— Agora que você percebeu? – e foi a vez do marido sorrir e abraçar a cintura da mulher enquanto andavam.

—*-

— Sakura! Sasuke! Que bom que voltaram! – Hana os recepcionou na porta da casa com Megumi nos braços.

            Sakura sorriu para a mulher e em seguida foi ver a bebê que olhava a figura de cabelos rosas de forma curiosa.

— Nossa, como ela cresceu! – disse e Hana passou a filha para os braços da cunhada – Você está tão grande, Megumi-chan! – falou para a bebê que sorriu balançando os bracinhos.

— Vamos entrar, vocês devem estar cansados da viagem – disse e Sakura sentou-se no sofá da sala com Sasuke ao seu lado.

            Na sua frente havia uma pequena mesa e do outro lado mais um sofá onde Itachi e Fugaku se sentaram. Mikoto e Hana foram para a cozinha para fazer algo para comerem e ao ver que apenas Sakura ficara no meio dos homens, perguntou-se se não deveria ajudar. Fez menção de se levantar, mas Sasuke a impediu para surpresa dela e dos outros Uchiha’s na sala.

— Então... – pigarreou Fugaku sem saber ao certo o que dizer, não era comum mulheres ouvirem a conversa dos homens do clã – Soubemos que a missão não teve tanto sucesso, não é?

— Kabuto foi encontrado, mas fugiu graças aos ninjas que o protegiam – Sasuke respondeu e Sakura abaixou a cabeça, olhando para Megumi – Mas a Vila da Cachoeira agora está do nosso lado para ajudar a encontrá-lo.

— Não que eles sejam de muita ajuda – Fugaku cruzou os braços em frente ao peito.

— Pai! – repreendeu Itachi e o mais velho deu de ombros, apenas falava a verdade, os shinobis da Vila da Cachoeira não seriam de tanta ajuda.

— Foi o que conseguimos – Sasuke continuou, sem se importar com o comentário do progenitor que massageou as têmporas enquanto pensava – Qual o problema?

            Fugaku olhou do caçula para a nora e em seguida voltou sua atenção a Sasuke, tentando encontrar uma forma de dizer aquilo.

— Sakura, você poderia se retirar por um momento? – indagou ainda encarando ao filho que franziu o cenho, mas não retrucou. Sakura apenas aquiesceu, já estava acostumada com aquilo, então levou Megumi consigo e rumou para a cozinha junto com as outras mulheres, apesar de estar curiosa com o que estava por vir.

— Sakura teve algo a ver com essa missão, Sasuke? – o pai indagou e Sasuke arqueou uma sobrancelha.

— Por que quer saber? – hesitou ao responder.

— Desde que houve a resposta de que Kabuto conseguira fugir, está havendo rumores aqui no clã – Itachi continuou pelo pai, encarando ao irmão que continuava confuso.

— Rumores?

— Estão dizendo que Sakura, desde que entrou para o clã Uchiha, anda trazendo... desonra ao clã – tentou ser o mais suave possível por temer a reação do caçula.

— Como? – Sasuke falou neutro.

— Yashiro anda dizendo que o fato de você não fazer sua esposa seguir as regras está destruindo a reputação do clã – Fugaku foi direto ao ver que o mais novo não estava entendendo.

            Sasuke levou um milésimo de segundo para recordar-se de Yashiro e as incitações que ele fizera antes de sair em missão com Sakura. Aquele cretino queria apenas uma chance para fazer seu pai ser destituído do posto de líder do clã e pelo visto ele continuava a usar o seu casamento com Sakura como principal alvo de críticas para isso.

— Sakura é minha esposa, eu tenho direito de permitir que ela faça missões ao meu lado se assim eu quiser – disse aparentando estar calmo.

— Estão dizendo que o fato dela estar participando de missões e estar sendo permitida de lutar como uma kunoichi, quando não tem experiência, é o motivo de não terem conseguido capturar Kabuto e esse boato já está se espalhando entre outros clãs de Konoha – Itachi explicou e Sasuke teve que se controlar para não alterar a voz.

— Isso é... – respirou fundo antes de continuar – Isso é ridículo.

— Nós sabemos, mas eles estão usando isso para dizer que você não sabe lidar com sua esposa, para dizer que os Uchiha’s estão sendo irresponsáveis perante outros clãs – Fugaku tomou a palavra – Antes de vocês irem para a missão, você sabia como Sakura já estava sendo visada por Yashiro como alvo, afinal ele precisava de alguma coisa para conseguir me atingir.

— Pouco me importa o que esse velho pensa a meu respeito e...

— Sasuke não é tão simples! – Fugaku o interrompeu, batendo na mesa a sua frente – Estão usando isso como uma forma para me tirar do poder! Estão dizendo que não sei ensinar aos meus filhos as regras e tradições do clã, que isso está trazendo prejuízos a Konoha!

            Sasuke trincou os dentes, mas não retrucou ao pai, sabia que havia ido contra as regras do clã ao não punir Sakura quando ela lutara, mas aquilo para ele era irracional, puni-la quando havia salvado vidas, as vidas das esposas de diversos Uchiha’s. Mas o que poderia dizer quanto ao fato de tê-la permitido lutar na missão na Vila da Cachoeira? O motivo havia sido outro, ele próprio permitiu a ida dela até lá, queria afastá-la da Vila e de todos os problemas que rondavam por ali e depois... depois muitas coisas foram acontecendo e ele só sabia que tinha que permitir que ela fosse para a missão junto com ele.

— O que eu devo fazer? – indagou com os punhos cerrados. Ele sabia que estava prejudicando ao pai e agora tinha que arcar com as consequências.

            Fugaku e Itachi se entreolharam e ambos suspiraram sem saber ao certo como responder ao mais novo.

— Vai haver uma reunião com o clã. Mesmo sendo contra as regras, leve Sakura e peça para ela se desculpar perante todos – o líder do clã começou a explicar, pois era isso que ele era agora, o líder dos Uchiha’s e não um pai de família – Ela deve se curvar na frente de todos e dizer que não fará algo que desrespeite ao clã, que ela será como as outras esposas e...

— Isso nunca vai acontecer – Sasuke interrompeu o pai que franziu o cenho pelo o ato – Ela nunca vai concordar com isso.

— Não é questão dela concordar, Sasuke – disse o Fugaku mais uma vez – Precisamos mostrar ao clã que Sakura respeita as nossas tradições, que ela não trará mais problemas.

— Sabe que eu também não gosto disso, mas a situação no momento é muito delicada, Sasuke – Itachi disse ressentido por não concordar com muitas regras do clã.

— Ela não vai me ouvir – suspirou, perdido, aquilo não estava nos seus planos.

— Eu percebi que vocês estão se dando melhor, converse com ela, explique o que está acontecendo, sei que ela vai entender e, mais do que isso, sei que ela capaz de convencê-los e acalmar o ânimo de todos – suspirou Fugaku e Sasuke levantou-se aquiescendo e indo em direção à cozinha. Não queria mais ficar ali.

            Viu a ex-Haruno brincando com Megumi enquanto Mikoto estava sentada ao seu lado e foi a vez dele suspirar.

— Sakura, vamos embora – disse e as mulheres ficaram sem entender o motivo daquela decisão.

— Mas acabamos de chegar – retrucou Sakura com um bico, Sasuke franziu o cenho, irritado e cansado daquilo, ele queria apenas descansar um pouco.

— Vamos embora agora! – falou de forma ríspida.

— Sasuke! – a mãe o repreendeu por seu comportamento grosseiro, mas Sakura apenas entregou Megumi para Hana e seguiu o marido.

— Não se preocupe, Mikoto-san, nos vemos depois – despediu-se com um sorriso, mesmo que por dentro estivesse irritada, no fundo já esperava por isso. Tudo normal, pensou.

            Seguiram calmamente e Sakura notou que algo incomodava Sasuke, talvez fosse por isso que ele estava mais mal humorado que o normal e logo pensou que devia ter alguma relação com a conversa que tivera com o pai e o irmão. Pararam em frente à casa que os pertencia e não pode deixar que a onda de nostalgia a cobrisse, de uma forma nenhum pouco boa. E, foi por esse motivo que hesitou por um instante antes de entrar na casa que, apesar de ser o seu lar, em nada se parecia consigo. Suspirou, a impressão que tinha era que a casa na Vila da Cachoeira era mais sua do que essa.

            Sasuke também parara na soleira da porta, observando o local que também lhe trazia recordações. Aquele lugar que sempre lhe trouxe acalento, sempre lhe fazia se recordar de Sayumi, agora parecia tão... triste, tão vazio. Suspirou, até o ar parecia mais carregado, como se tivesse algo lúgubre dentro da casa. Viu Sakura passar por si e foi inevitável pensar como ela se sentia ali desde que se mudara, mas ele não conseguia ver nada daquilo na época. Aquele lugar em nada lhe trazia a sensação de lar e ele começava a odiar isso.

            Sakura foi diretamente para o quarto sem se importar com as divagações de Sasuke, tomou um banho e, apesar de dizer que estava bem, apagou ao se jogar na cama. Ao acordar percebeu que já era outro dia e ficou atordoada com o fato, não sabia que estava tão cansada assim, levantou-se e resolveu que era melhor ela se mexer um pouco, principalmente quando ouviu a barriga roncar. Escutou alguns sons estranhos, que não vinham da sua barriga, e ficou curiosa, Sasuke não costumava ser tão barulhento, resolveu então verificar do que se tratava.

            Andou nas pontas dos pés e ficou escondida no vão do corredor que dava para a sala e não pode evitar de arregalar os olhos com a cena que via: Sasuke estava arrastando os móveis da sala. Ficou perplexa e depois confusa com aquilo. O que ele estava pensando? Logo ele que sempre quis que tudo ficasse exatamente da mesma forma que Sayumi havia deixado.

            Sasuke olhou para a disposição do sofá e depois para a pequena mesa que agora estava em um canto e franziu o cenho. Arrumar esse tipo de coisa realmente não era o seu forte. Sentiu que estava sendo observado e virou-se vendo uma Sakura escondida ficar surpresa antes de dar meia volta e sair das suas vistas. Suspirou e passou a mão no rosto para chamá-la em seguida.

— Sakura! – e ouviu o barulho de passos cessarem – Venha aqui! – disse tentando fazer com que não soasse como uma ordem, mas acabou falhando e se amaldiçoou por isso. Mesmo assim a garota retornou e ele olhou dela para a sala toda bagunçada, mas antes que pudesse falar algo, Sakura se manifestou primeiro:

— O que está fazendo? – e ele deu de ombros sem saber ao certo o que responder, afinal não havia planejado nada daquilo, apenas ficou a noite toda virando na cama, desconfortável, pensando na conversa com o pai e o irmão e no fato de que não se sentia em paz ali. E quando o dia raiou, ele foi para a sala e começou a mexer nos móveis.

— Venha e me ajude com isso – foi a única resposta dele e Sakura revirou os olhos, mas ficou ao lado do Uchiha, esperando que ele dissesse algo, o que não aconteceu.

— Então, o que fazemos? – tentou novamente e disse a si mesma que se ele não a respondesse direito iria embora, ignorando-o.

— Pensei em mudar o sofá de lugar. Onde acha que pode ficar? – disse simplesmente e Sakura o olhou assombrada, sem saber se era porque ele havia deixado de ser um teimoso e lhe respondido ou se por ele pedir a sua opinião.

— Bom... – falou sem saber ao certo o que dizer e ao ser encarada pelo Uchiha, desviou os olhos, procurando evitar contato - ... talvez se ele ficasse nessa ponta... – apontou para a parede que ficava do lado oposto ao sofá – ...não iria atrapalhar a passagem – e ficou incerta se ele não brigaria consigo por estar criticando a irmã de forma indireta.

            Mas ele apenas aquiesceu e se pôs a fazer o que foi dito, para a surpresa de Sakura, que ficou se perguntando o que havia acontecido com ele ultimamente. Quando Sasuke terminou de empurrar o sofá olhou para ela novamente, que estava com os orbes arregalados, ele revirou os olhos, e depois virou o rosto para o outro lado.

— E agora? – indagou novamente sem olhá-la e Sakura ficou em silêncio até ser chamada atenção – O que mais, Sakura?

— Ah... então... – colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha enquanto visualizava a sala – Acho que a mesa deve ficar no centro de novo – disse imaginando que ele reclamaria, pois já havia mexido no móvel.

— Certo, diga onde fica bom – e voltou a fazer a mudança.

            Sakura então passou a fazer alterações que achava serem necessárias, mas a todo o momento ficava receosa de Sasuke criticá-la, porém o mais incrível foi que isso não aconteceu, ele somente não a deixava ajudar, dizendo que ela precisava descansar, pois ainda estava ferida. Se olhassem aquela cena de fora poderiam acreditar que eram um casal normal, apenas arrumando a casa depois de um tempo longe, e o pensamento a fez franzir o cenho. Encarou as costas do rapaz que agora carregava a poltrona para que ficasse mais perto da varanda e não pode deixar de refletir sobre as suas atitudes, não entendia o comportamento dele, ele parecia se importar com ela cada vez mais nesses dias. Sempre cuidando de si, perguntando a sua opinião, ouvindo o que pedia, mas ao mesmo tempo... céus porque ele a deixava tão confusa assim? Entender Sasuke era difícil demais para ela e sentia que sempre andava sobre ovos perto do marido. Resolveu, então, arriscar um pouco mais e o chamou:

— Sasuke... será que eu posso – começou, mas imediatamente se repreendeu e recomeçou a falar – Quero dizer, eu vou ver Tsunade hoje, quero continuar ajudando no hospital – afirmou, ela havia prometido a si mesma que não abaixaria a cabeça mais para ele, não deixaria que ele a machucasse, mas mais do que isso, naquele momento, ela queria ver qual seria a reação dele, queria saber em qual terreno estava pisando, se ela podia tentar criar alguma esperança de que eles pudessem se entender, e a resposta não poderia ter sido mais desapontadora ao ouvi-lo falar:

— Sobre isso... temos que conversar. – Sasuke suspirou sem saber como fugir dessa conversa, precisava contar sobre a decisão do clã.

—*-

            Andava distraído pelas ruas da vila... já fazia dois meses. Dois longos meses sem ela ou qualquer notícia. Seu corpo já estava recuperado, mas ainda não estava apto, segundo a Hokage, a pegar novas missões e isso, juntando o fato de Sakura ter saído em missão com o Uchiha, deixava-o inquieto e irritadiço por não conseguir espairecer ou pensar em outra coisa. Suspirou e a imagem do seu beijo com ela no quarto do hospital veio à mente novamente, céus, ele não conseguia esquecer o sabor dela, a maciez dos lábios, a forma tímida como ficou, tão doce e...

            Esfregou a mão nos cabelos, nervoso por estar pensando nela de novo, estava virando um idiota, um idiota completo, mas mesmo assim não conseguia mudar o rumo dos seus pensamentos. Chegou em casa e foi entrando sem se preocupar por onde ia, passando pela frente da loja até entrar na sala enquanto perguntava-se se ela ainda iria demorar para voltar, se estava bem e se o Uchiha estava a tratando bem. Franziu o cenho ao recordar-se dele e parou de andar ao ser chamado pela avó.

— Garoto, onde estão os seus modos? Passa pelas visitas e nem as cumprimenta? – ouviu Mika brigar consigo e foi só então que se deu conta que havia alguém na parte da frente da loja.

— Oe, baa-chan, eu... – começou a reclamar ao ser arrastado para onde estava a suposta visita, mas parou de falar ao ver quem era.

— Pelo jeito continua o mesmo Idate – Sakura disse ao mesmo tempo em que ria de si por estar sendo puxado por Mika, mas ele pouco se importou com isso.

            Ela voltara. Voltara e estava ali na sua frente, rindo, com os mesmos cabelos rosados, a mesma face alegre que tanto adorava e os mesmos lábios que desejou noite após noite voltar a sentir depois que a beijou pela primeira vez. Ele estava tão aturdido, tão feliz por ela ter voltado que quando deu por si havia se desvencilhado da avó e correu ao encontro da menina, abraçando-a com força, sentindo o cheiro dos cabelos dela enquanto a sentia encolher dentro do seu abraço, provavelmente envergonhada, mas ele não se importou e tão pouco a soltou.

— Você voltou – sussurrou para que só ela ouvisse e sentiu sua roupa ser segurada, confirmando que ela estava realmente ali.

— Hai... – Sakura disse corada. Não esperava essa reação do moreno e não sabia o que fazer, mas... era tão bom a forma como ele a acolhia que, por um momento, não quis sair do abraço dele, até ouvir um pigarro mais ao fundo e perceber que Mika continuava a observá-los com um sorriso malicioso – E-Então... – e afastou-se dele com o rosto em chamas – E-Eu cheguei ontem – falou para quebrar o clima estranho que havia se instalado.

— Que bom, senti a sua falta – Idate disse com um sorriso enorme e Sakura teve vontade de se enterrar ao ver a forma como ele falava consigo na frente da avó – Pensou em mim?

— Er.... – olhou para Mika que simplesmente ria de si e de sua reação patética, mas como ele podia ser tão aberto enquanto ela estava quase para se esconder de vergonha?

            Ela era casada, ele falar assim não seria errado? Além disso o que ele queria que ela comentasse? Céus, não pensou nisso quando resolveu aparecer ali, na verdade, não esperava vê-lo tão cedo, mesmo que estivesse feliz de reencontrá-lo. E aquela confusão de sentimentos não estava ajudando em nada o seu raciocínio que, no momento, não estava nem um pouco lógico.

— Sakura-chan veio aqui pedir um favor – Mika resolveu intervir e ajudar a menina que parecia desesperada.

— Um favor? – Idate olhou da avó para a ex-Haruno que aquiesceu.

— Eu preciso que a Mika-san ajeite esse quimono para mim – mostrou a peça e Idate sentiu toda a sua empolgação ir para o ralo. Então era somente por causa disso que ela viera até ali?

— Ah... – falou e sua cara de desapontado devia ser evidente, pois Sakura tratou de emendar.

— É que eu não tive tempo de visitar ninguém, você é o primeiro que vejo, tirando o Naruto que eu encontrei por acaso ao chegar.

            Ainda não era o que ele queria ouvir, mas pelo menos não era o último a saber que ela havia voltado. E tinha que parar de ficar ansioso ou exigir algo dela, na verdade, eles tinham que sentar e conversar sobre o que aconteceria daqui para frente.

— Para quando precisa do quimono, Sakura-chan? – Mika disse vendo a qualidade do tecido e onde eram necessários os ajustes.

— Para hoje, eu pegaria mais tarde, se fosse possível – falou um pouco envergonhada por estar pedindo algo em tão pouco tempo, mas queria usar esse quimono quando fosse para a reunião do clã e essa já havia sido marcada.

— Ora, é claro que é possível! Eu ainda sou a melhor costureira de Konoha! – disse Mika orgulhosa, já pegando o pano e virando-se para começar a missão – Idate, acompanhe a Sakura-chan e pedirei que informe quando estiver pronto.

— Não preci... – tentou retrucar, mas a velha senhora já havia ido embora, deixando-a sozinha com o neto - ...sa.

— Não tem como teimar com ela, acredite, eu sei do que falo – Idate disse com um sorriso e Sakura suspirou – Vamos – e colocou a mão no ombro da garota que ficou tensa com o toque.

— Idate, não precisa me acompanhar, eu vou ao hospital falar com Shizune ainda e volto mais tarde – tentou se desvencilhar dele, mas o rapaz não permitiu.

— Melhor ainda, assim damos uma volta, conversamos e voltamos para pegar o seu quimono.

— Mas...

— Sakura – interrompeu a garota ao ver que ela retrucaria mais uma vez – Sabe quanto tempo eu perderia tentando te achar na Vila quando posso simplesmente ficar ao seu lado? – e Sakura não soube dizer o motivo, mas tinha certeza que quando ele pronunciou “ficar ao seu lado” havia algo mais implícito na fala.

            Corou com o pensamento, ela sabia que deviam conversar, só que não sabia ao certo o que dizer, mas não fugiria, no fundo também estava com saudades dele, o único problema era que não sabia se devia andar ao lado de Idate sozinha. Sasuke havia a deixado ir até Mika com a desculpa de ajeitar um quimono enquanto ele iria até Tsunade, mas andar por Konoha na companhia de outro que não fosse seu marido? Balançou a cabeça, não, antes ela temeria fazer isso, temeria a fúria de Sasuke, mas ela prometeu que isso não aconteceria mais, além disso nada iria acontecer, então que mal teria? Já que estava indo ao clã para fazer um pedido de desculpas, que ela cometesse mais uma infração antes. Sorriu antes de aquiescer para Idate e sair sendo seguida pelo rapaz que tinha um sorriso enorme estampado no rosto.

—*-

            Na sala de reuniões Sasuke terminava de dar o relatório da missão para a Hokage que lia atentamente os papeis entregues enquanto ouvia o Uchiha. Mordeu a ponta do dedo ao ver o nome da Akatsuki mais uma vez sendo citado. Tsunade sabia que o fato desse grupo estar envolvido significava problemas, quase não se sabia muito sobre esse bando de criminosos, não sabiam quem eram os seus integrantes e nem o seu objetivo, a única coisa que sabia era que por onde eles passavam havia um rastro de destruição e ninguém conseguia pará-los, e pelo visto eles haviam escolhido Konoha como alvo. Mas ainda havia mais alguém por trás daquilo além de Kabuto, tinha certeza.

— Certo – disse ao ver que o Uchiha terminara de relatar o ocorrido e massageou as têmporas tentando pensar no próximo passo quando a porta foi aberta sem cerimônias. Levantou-se da cadeira e abriu a boca para gritar com o infeliz que ousara entrar dessa forma, mas foi impossível ao ver quem estava ali – Jiraya! – falou surpresa e ao mesmo tempo contente de rever o velho amigo.

— Yo! Tsuna-hime! – saudou o homem de cabelos compridos brancos com um sorriso enorme.

            Sasuke apenas arqueou a sobrancelha analisando o shinobi que acabara de entrar. Ele o reconhecia pois Naruto vivia falando sobre o pervertido Sennin lendário dos sapos que o treinara durante um breve tempo, mas nunca havia o visto, pois sabia que ele vivia como um andarilho em busca de novas informações para que pudesse o inspirar a escrever algum novo livro da série “Icha Icha”, o livro favorito de seu ex-sensei, Kakashi.

— Faz muito tempo desde a última vez que te vi e é assim que recebe um amigo? – disse ao se aproximar sorrateiramente da Hokage, ignorando Sasuke que também se manteve afastado, tinha uma mal pressentimento do que estava para acontecer.

— O que você... – mas antes que pudesse terminar de falar, os braços de Jiraya a envolveram em um abraço terno. Ela ficou sem reação por um momento, desfrutando do calor do corpo dele. Há quanto tempo eles não ficavam assim, juntos? – Jiraya...

            Mas todo o momento doce acabou ao sentir o Sennin dos sapos passar lentamente a mão sobre um dos seus seios. Sentiu uma veia saltar com a afronta e antes que Jiraya conseguisse se afastar foi socado fortemente, o impacto foi tão forte que ele atravessou a mesa e foi parar do outro lado do escritório e uma pequena cratera se abrira na parede.

— Seu velho pervertido! – bradou Tsunade vermelha de raiva. Por um momento ela esquecera do quanto o amigo era tarado e louco por seus seios.

— São tão macios – ainda o ouviu resmungar e Tsunade olhou de Jiraya para Sasuke que virara o rosto para não presenciar a cena e se manter o mais neutro possível. Mas foi impossível não se sentir constrangido com a fala do Sennin, pelo visto Naruto estava certo ao dizer que ele era um tarado, só não imaginava que ele tivesse instintos suicidas ao dizer algo assim para a Hokage.

— Seu maldito... – Tsunade apertou os punhos, estava envergonhada pelo Uchiha ter ouvido aquilo, iria matar Jiraya.

— Calma Tsuna! – pediu o velho tentando se levantar e notou que saia sangue do rosto e devia estar com algumas costelas quebradas – Você pegou pesado dessa vez – disse com a mão no lugar onde havia fraturado e desistindo de ficar em pé.

— Se quiser eu conserto e depois quebro de novo se vier com essas gracinhas! – bradou e Jiraya sorriu para ela. Era bom ver que Tsunade não havia mudado nada – Imbecil!

            E em seguida foi até o ex-companheiro de time, curando rapidamente o estrago feito. Sasuke não entendeu muito bem a cena que seguia na sua frente, mas sentiu que havia algo mais do que simplesmente dois companheiros de time, talvez pelo fato de que não imaginava que Tsunade fosse curá-lo depois do que fizera, ou talvez fosse por Jiraya ter sussurrado algo à Tsunade, fazendo-a corar – fato inédito até então para o Uchiha. Seja o que fosse ele se sentiu desconfortável por estar ali, por isso pigarreou para chamar a atenção dos dois que se encaravam de forma estranha.

            Tsunade apenas se afastou de Jiraya ao notar que Sasuke ainda estava na sala e levantou-se para falar com o Uchiha:

— Encerramos por aqui Sasuke, qualquer novidade o informarei, está bem? – disse e o outro apenas aquiesceu e se virou para sair da sala, mas foi novamente chamado, dessa vez pelo Sennin dos sapos:

— Ah, então você é o Sasuke que o Naruto tanto fala? – e sorriu para o jovem que lhe encarava apático – Você pode avisá-lo que estou em Konoha e quero falar com ele?

— Você mesmo não pode fazer isso? – e arqueou uma sobrancelha, não gostava de ser menino de recados, mas Jiraya pareceu se divertir com a sua pergunta.

— Você realmente é o Sasuke – brincou, mas Sasuke não achara a mínima graça – Faça esse favor, garoto, ainda tenho algumas “questões” a resolver com a Tsuna aqui – e piscou o olho direito como se fossem cúmplices e ouviu Tsunade bufar com a audácia, mas realmente tinham que conversar, então resolveu ajudar o Sennin.

— Sasuke, peça que Naruto venha até aqui, preciso falar com ele também – mandou e foi a vez do Uchiha bufar, mas ele ainda devia cumprir as ordens dela, então acatou a ordem. Virou-se novamente para ir embora, mas foi chamado novamente por Tsunade.

— O que é? – falou de forma ríspida ao ser perturbado mais uma vez e foi a vez da Hokage se irritar, odiava o modo como aquele shinobi se comportava, mas o que perguntaria era delicado demais para começar a bradar com ele por causa disso.

— Quero saber se vai permitir que Sakura continue a trabalhar no hospital?

—*-

            Sakura saia do hospital, havia conversado com Shizune e estava feliz em saber que tudo parecia em ordem, mas também ficou pensativa ao ser indagada pela morena se ela retornaria ao hospital. Ela não tinha como responder àquilo, iria até o clã Uchiha naquela noite e não tinha a menor noção do que estava por vir, muito menos o que Sasuke faria. Suspirou, estava pensando novamente nele, no que ele faria, no que ele pensaria, tinha que parar com isso, a opinião dele não era importante, ela decidia a sua vida, como sempre fez independente de ter apoio ou não, passou a mão nos cabelos curtos e viu Idate a esperando encostado no portão do hospital. Foi em direção ao moreno e corou ao vê-lo sorrir para si.

— Como foi lá? – indagou ao se aproximar da garota que deu de ombros, tentando parecer neutra.

— Normal.

— Estava com saudades daqui, não é? – e Sakura sorriu para si aquiescendo, era difícil enganá-lo.

— Gosto de ajudar os outros – murmurou, mas Idate a ouviu.

— Você sempre teve esse coração mole – brincou e riu ao vê-la franzir o cenho e logo em seguida disse o mais sério, encarando os olhos dela – Mas essa é uma das coisas que me faz gostar de você.

— Idate! – repreende-o olhando para os lados, com medo que alguém tivesse ouvido ao mesmo tempo em que procurava esconder o seu rosto corado.

— Vamos conversar em um lugar mais... calmo – disse e antes que Sakura pudesse responder teve sua mão agarrada pela dele enquanto a levava para algum lugar.

            Começaram a andar por Konoha, mas sentiu-se desconfortável ao ver que estava de mãos dadas com ele, apesar de não dever explicações a Sasuke e ter todos os motivos para humilhá-lo, ela não queria fazer isso, não era de sua índole machucar os outros de forma desnecessária. Então, por saber que traria mais problemas ao marido se continuasse a andar dessa forma com Idate, delicadamente, retirou sua mão da dele e passou a andar ao seu lado. Idate não gostou disso, mas sabia que ele estava sendo impulsivo, então apenas sorriu para ela enquanto continuavam a andar lado a lado.

—*-

— Parece que você não é muito fã do Uchiha, não é? – Jiraya questionou ao ficar sozinho com a Senju.

— O que o traz de volta a Konoha? – ignorou a pergunta do amigo, tinha coisas mais importantes no momento para se preocupar do que com Sasuke.

— Ora, não posso rever velhos amigos? – respondeu com outra pergunta, conseguindo se levantar agora. Mas ao ver que a mulher não parecia estar a fim de brincadeiras, ficou sério e suspirou – Soube do que aconteceu recentemente, vim ver se estava tudo bem e se precisa de alguma ajuda.

— Você chegou bem na hora, devo dizer – e pegou as folhas que estavam espalhadas no chão depois que ela quebrou a mesa e entregou a Jiraya. – O que você acha? – e viu o Sennin do sapos franzir o cenho com o que lia.

— Não sabia que a Akatsuki estava envolvida.

— Soubemos há pouco tempo, durante o exame chunnin. – e Jiraya encarou Tsunade com o olhar sério.

— E quanto a Suna? Não está do lado deles?

— Não, o Kazekage foi morto pela Akatsuki – disse e se apoiou no que restava da mesa – Eles enganaram Suna e Konoha e pelo o que entendi o objetivo era fazer com que uma guerra se iniciasse entre as duas nações.

— Acha que isso tem a ver com o ataque de dois anos atrás? – Jiraya se aproximou da loira enquanto ainda lia o relatório que foi entregue.

— Pode ser – e mordeu a ponta do dedo novamente ao refletir – Talvez a Nuvem tenha pago para a Akatsuki semear a discórdia, talvez planejem nos destruir dessa forma, causando intrigas até que Konoha fique isolada e sem aliados.

— Mas eles não tiveram êxito nisso, não é? – e sorriu tentando acalmar Tsunade – Afinal, soube que vai haver uma aliança com Suna.

— Sim – e correspondeu ao gesto de Jiraya, ele sempre sabia acalmá-la, porém logo ficou séria novamente – Mesmo assim, ainda acho que tem mais alguém por trás da Akatsuki, afinal Kabuto era da Vila e nos traiu – olhou para o shinobi que acenou, concordando, já estava a par da traição do médico ninja graças aos seus informantes.

— Você acha que eles podem estar atrás de Naruto, não é? – Jiraya finalmente falou em voz alta o que tanto atormentava Tsunade que concordou com a cabeça.

            Essa era a principal preocupação de Tsunade. Duas vilas. Konoha e Suna. Ambas tinham um jinchuuriki sob sua proteção e ambas foram atacadas e traídas por alguém, o que causara toda aquela confusão durante o exame chunnin. Naquele dia Naruto e Gaara batalharam e eles foram expostos de tal forma que poderiam ter sido raptados, se a batalha deles não houvesse tomado uma proporção tão grande e violenta a ponto de todos estarem voltados a ela. A Akatsuki poderia estar atrás dos poderes dos jinchuurikis e tivesse armado o ataque, mas também poderia ser outra pessoa controlando a organização criminosa, talvez fosse uma forma de desestabilizar as duas vilas para algo maior, mas ela não sabia o que poderia ser e nem quem estava por trás de tudo isso. Talvez Kabuto fosse apenas um peão, ou talvez fosse o maior responsável, mas também não poderia descartar os interesses misteriosos do grupo de nukenins.

— Tsunade, se continuar desse jeito vai sair fumaça pelas orelhas – comentou Jiraya ao ver como a loira estava quase surtando com os problemas.

— Eu não sei o que fazer, Jiraya – suspirou ao falar aquelas palavras em voz alta – Estou perdida e tenho medo de dar o próximo passo e errar.

            E foi a vez de Jiraya supirar e trazê-la para os seus braços, dessa vez não havia malícia nenhuma, ele apenas queria de alguma forma confortá-la. Odiava vê-la tão frágil, pois ele sabia o quão forte ela era.

— Não se preocupe, vim dar as soluções para os seus problemas – e sorriu ao se afastar da Senju que o encarou confusa – Irei eu mesmo investigar quem está por trás da Akatsuki e ainda levarei Naruto comigo para treinar.

— Você só pode estar louco! – bradou Tsunade – Não acabou de ouvir o que eu falei e...

— Claro que ouvi – interrompeu a Hokage que ainda o olhava irritada – Eu vou levar o Naruto para treinar no Monte Myōboku, na terra dos Sapos, lá ele estará seguro enquanto investigo tudo. O que acha da minha ideia?

            Tsunade refletiu por um momento e mesmo relutante teve admitir era uma boa ideia. Naruto estaria protegido e ela poderia ganhar um tempo e investigar sem ter que se preocupar com ele, teria que convencer Kushina, mas não achava que seria difícil ao explicar a situação a ela. Olhou para Jiraya e sentiu seu coração se apertar, ele mal havia chegado de viagem e ela já o jogava um problema nas costas e um que poderia tomar proporções maiores.

— Pode ser muito perigoso ir sozinho – murmurou para ele e Jiraya arqueou a sobrancelha antes de rir.

— Está preocupada comigo, Tsuna? – brincou tentando aliviar o clima, mas Tsunade continuou o encarando com os olhos úmidos o que o fez ficar constrangido – Ora, deixe disso. Não sou um dos Sennin Lendários de Konoha à toa.

— Eu sei, mas...

— Ah, já sei! Você estava morrendo de saudades de mim e agora não quer que eu me afaste, não é? – disse de forma convencida ao se aproximar da Senju que arqueou uma sobrancelha – Não se preocupe, irei voltar para você – murmurou no ouvido da Hokage que se arrepiou – Mas podemos aproveitar e matar a saudade logo agora.

— Baka – revirou os olhos antes de se afastar e Jiraya apenas riu ao ver que fora rejeitado mais uma vez, ou assim pensou – Apareça em casa mais tarde e podemos conversar melhor e beber – foi o que ela disse para a surpresa do shinobi, afinal Tsunade, geralmente, não lhe fazia convites assim – Algum problema?

— Nenhum, nenhum – disse rapidamente, não perderia a oportunidade de passar um tempo com a loira se assim ela quisesse – Você realmente está preocupada comigo? – perguntou sem conseguir se segurar e Tsunade novamente estava com aquele olhar triste e preocupado que ele tanto jurara fazer de tudo para não ver mais nela.

— Sei que você é forte, mas o inimigo...

— Eu vou voltar Tsuna, sempre volto para você, mas se for para te tranquilizar podemos fazer uma apostar se vou voltar ou não, afinal você nunca foi boa em apostas – brincou mais uma vez e mesmo sabendo que poderia morrer por estar fazendo isso, aproximou os lábios dos dela, dando apenas um selinho, e novamente ficou surpreso ao ver que fora correspondido.

—*- 

 - Como foi a missão? – Idate disse para quebrar o silêncio que havia se instalado entre eles. Não queria que ela ficasse constrangida consigo.

— Foi... – parou de falar sem saber ao certo como responder aquela pergunta. Eles não haviam conseguido finalizar a missão, haviam falhado e ainda tinha Sasuke e tudo o que aconteceu por lá. Franziu o cenho e suspirou - ...estranha.

— Como assim? – e arqueou uma sobrancelha encarando a garota enquanto andavam, iam em direção à loja da avó de Idate e aproveitariam para ficarem mais à vontade.

— Não sei explicar, mas as coisas não correram como deveriam, eu acho – e mexeu no cabelo sem querer tocar mais no assunto.

— Mas... você pelo menos pensou no que eu te falei? – quis se bater ao perguntar aquilo, mas ele não conseguia mais se segurar. Queria saber o que ela pensava dele, se ele poderia continuar a ter sentimentos por ela, se poderia ter uma chance com ela.

— Idate aqui não é o melhor lugar para... – tentou mudar de assunto, visivelmente constrangida, mas Idate não estava disposto a deixá-la fugir novamente e a puxou para um beco perto da sua casa.

— Sakura, não! Eu... – começou a falar, mas também estava nervoso - ...só quero saber se pensou em mim enquanto esteve longe... – murmurou envergonhado.

— C-Claro, eu pensei muito – foi a vez dela sussurrar, mas Idate pode ouvir e ele suspirou aliviado e contente com o que ouvira – M-Mas... – e novamente prendeu a respiração ao ouvir aquela palavra, nada de bom podia vir depois dela – ...isso nunca daria certo, eu estou casada e...

— Você ama ele? – Idate a interrompeu e Sakura arregalou os olhos com a pergunta.

— O q-quê? – gaguejou.

— Você ama o Sasuke? Sente algo por ele? – e ela abriu a boca para responder, mas nada saiu. Ela não o amava, mas também parecia ser incapaz de odiá-lo e novamente o jeito que ele vinha lhe tratando lhe veio à mente. Por que estava tão confusa? Ela sentia algo por Sasuke?

— ...Não – disse de forma hesitante e tinha certeza que não havia sido muito convincente ao ver o rosto de Idate, mas ele tornou a perguntar.

— E quanto a mim? O que você sente por mim? – Sakura sentiu as faces esquentarem, deu um passo para trás ao vê-lo se aproximar e desviou o olhar.

— Você, eu...

            Idate percebeu o nervosismo dela, ela podia não amar Sasuke, mas sentia algo por ele e aquilo foi como uma facada no seu coração, mas ao ver como ela ficara ao perguntar o que sentia por si, também teve um pouco de esperança. Ela estava confusa, então ele ainda tinha como lutar por ela e foi pensando nisso que se aproximou ainda mais dela que recuou mais um pouco até se ver encurralada na parede. Ele a encarava profundamente e aquilo deixava Sakura mais nervosa, tão nervosa que ela não conseguia formular mais nenhuma palavra, mas para Idate não eram precisas mais palavras.

— Deixe-me te fazer feliz, sei que pode ser difícil, sei que está casada, mas... – e passou a observar os lábios entreabertos dela – ...se houver uma mínima chance de eu poder lutar por você, me deixe tentar – sussurrou para Sakura que nem foi capaz de responder algo, pois no instante seguinte sentiu ele novamente selar os seus lábios nos dele.

            Aquela era a segunda vez que Idate a beijava e a segunda vez que ela correspondia.

—*-

            Ele caminhava em direção ao distrito Uchiha, já havia avisado Naruto sobre a presença de Jiraya e o amigo praticamente urrou de felicidade por ter o mestre de volta à cidade. Sorriu de canto e viu que estava perto da loja onde Sakura disse que iria para consertar um quimono que, de acordo com as palavras dela, fazia questão de usar na reunião do clã esta noite. Revirou os olhos e balançou a cabeça com a teimosia da esposa, mas pelo menos ela havia recebido a notícia de forma muito mais pacífica do que imaginara e isso o preocupava um pouco, pois não sabia o que esperar dela durante a reunião. Decidiu ver se a esposa estava por ali e se ele não estivesse a procurando, provavelmente não teria notado a movimentação em um beco próximo à loja.

            Arqueou uma sobrancelha e algo nos seus instintos dizia que não iria gostar do que veria, mas como um shinobi sabia que deveria investigar, podia ser um inimigo, ou talvez fosse Sakura e ela pudesse estar precisando de alguma ajuda. Mas ele não estava preparado para aquilo. Sentiu seu peito apertar, parecia sufocar, porém mais do que isso era a sensação de impotência que lhe dominava, Sasuke simplesmente não acreditava no que seus olhos lhe mostravam, e ele congelou ali enquanto via Idate beijar Sakura bem diante de seus olhos.

            Porém essa sensação durou apenas um segundo e no momento seguinte seu sangue passou correr mais rápido dentro de si. Cerrou os dentes com força enquanto a raiva o dominava, não acreditava em tamanha humilhação. Não acreditava que Sakura havia feito isso consigo. Ele havia dito a ela para se afastar do Morino, mas ela o ignorou, começou a andar em direção ao “casal”, iria dar um basta naquilo, iria matar aquele idiota que ousou ficar no seu caminho, iria fazer Sakura pagar e... e de repente ele não conseguiu dar mais nenhum passo e ficou parado no meio da rua sem saber o que fazer.

            Sorriu de forma sofrida ao ver o quão idiota era e sentiu seus olhos arderem, mas ele se recusou chorar ali onde qualquer um poderia vê-lo. Desde quando era tão estúpido? Sakura havia o traído pois não o amava, e como poderia amar se na maior parte do tempo ele havia a tratado de forma tão miserável? Ele só estava colhendo o que plantara. Ele que sempre quisera que Sayumi o admirasse, agora queria que o olhar de Sakura se voltasse para si, mas ele não a merecia. E mesmo quando tinha noção dos seus atos deploráveis e vendo que ela preferiria outro a ele, ainda tinha a ideia de castigá-la... ela não era a errada ali, era ele.

            Algo lhe disse que os seus próximos atos definiria a sua vida, se ele fosse até lá, se ele fizesse aquilo que uma parte sua, a sua parte mais insana, desejava, sabia que nunca conseguiria o perdão dela e, por mais que lhe doesse vê-la nos braços de outro, ele não suportaria perder o pouco que tinha ao lado dela, o pouco de luz que ainda restava em seu mundo. Apertou ainda mais os punhos e deu meia volta antes que o vissem.

— Chega, Idate – Sakura disse, separando-se dele – Olha onde estamos... eu não quero que seja assim! – brigou com ele, mesmo que estivesse ofegante e com as bochechas coradas.

— Certo – e deu um sorriso ao ver os lábios inchados dela. Ela lhe correspondera e aquilo o fazia pular de alegria.

— B-Baka – murmurou ao ver a forma exultante que ele a olhava, mas no fundo estava feliz por ele estar ali – É melhor eu ir agora – e deu um passo para fora do beco, quando foi segurada pelo Morino novamente – Oe!

— Podemos nos ver de novo? – indagou e Sakura ficou receosa novamente, mas no fundo ela queria ver Idate, ela havia prometido procurar alguém que gostasse dela e até agora só estava fugindo dos sentimentos dele, pois também não queria magoá-lo sem saber o que sentia ao certo, mas ela devia dar uma chance a si, dar uma chance a alguém mais além de Sasuke.

— S-Sim... – murmurou e em seguida puxou o braço e correu para fora dali antes que ele inventasse de beijá-la mais uma vez, ainda tinha medo de que alguém pudesse flagrá-los.

            Idate não conseguia parar de sorrir e mesmo depois de ver a silhueta da menina se distanciar ficou ali, encostado na parede, lembrando do gosto dela em si. Tocou os lábios e suspirou. Estava irremediavelmente apaixonado por ela, a única coisa que deveria ser mais maravilhosa que isso seria o fato dela também se sentir dessa forma por ele. Ficou um tempo aproveitando o momento que teve até resolver ir embora, foi quando sentiu uma presença hostil e observou Uchiha Sasuke surgir e andar em sua direção com o sharingan ativado.

— Uchiha – disse sério e cerrou os punhos ao perceber que ele devia ter visto o que acontecera ali.

— Morino – a voz fria fez Idate se sobressaltar e imediatamente se recordar de Sakura, preocupando-se.

— O que fez com a Sakura? – indagou e viu Sasuke franzir ainda mais o cenho com a menção do nome da esposa.

Minha esposa não lhe diz respeito – frisou as palavras, queria que ele soubesse que Sakura continuava sendo sua mulher.

— Eu juro que se a machucou, eu... – tentou falar, mas foi interrompido pelo Uchiha que parecia cada vez mais furioso.

— Eu nunca a machucaria! Não mais... – murmurou a última parte e Idate arregalou os olhos – Eu estou aqui para avisar que não quero que você volte a se aproximar dela novamente – ordenou e o outro simplesmente sorriu diante da ameaça velada.

— Eu avisei a você, Uchiha, que se não tomasse conta dela direito, eu iria tomá-la de si – relembrou as primeiras palavras que disse ao se conhecerem pessoalmente – Mas você não me deu ouvidos.

— Sakura não é um objeto para você tomar de alguém. Ela decide com quem quer ficar – afirmou e deu meia volta para sair dali. Ele não bateria em Idate, apesar de estar se corroendo de vontade, estava ali unicamente para avisar a ele que se manteria vigilante, não permitiria que o fizessem de idiota mais uma vez.

— E se ela me escolher? – ouviu Idate gritar para si – Vai deixá-la livre para mim? – Sasuke parou de andar ao ouvir tal pergunta. Seria ele capaz de deixá-la ir se assim quisesse? Fechou os olhos e viu o sorriso dela e o rosto transbordando de felicidade como quando era criança e o que ela mais queria era ser uma kunoichi, e soube a resposta.

— Se ela decidir por você, sim, eu a deixarei livre – foi firme, sentindo um gosto amargo na boca pelas palavras proferidas, e em seguida olhou por cima do ombro e encarou Idate de forma fria – Mas isso não significa que ficarei de braços cruzados enquanto a leva para longe de mim. Agora, eu também irei lutar. – e em seguida sumiu das vistas de Idate.

—*-

            Ela usava um quimono tradicional do clã Uchiha e estava se sentindo sufocada, ela só não sabia dizer se era pela roupa ou pelo lugar onde estavam. Era a primeira vez que estava dentro do templo em que aconteciam as reuniões do clã ao qual pertencia agora. As paredes vermelhas eram iluminadas por castiçais de velas que bruxuleavam dando uma aspecto sombrio ao local do encontro. Ela podia ver tudo, escondida por uma grande cortina vermelha, enquanto os membros do clã Uchiha chegavam e se sentavam em pequenas almofadas dispostas no chão em dois lados, deixando um caminho no meio para a passagem. Mais à frente estava uma espécie de palco com três almofadas e ela soube que ali eram os lugares de Sasuke, Itachi e Fugaku, por serem os herdeiros e o líder do clã, respectivamente. E ela teria que passar por todos os Uchiha’s até chegar ao lado de Sasuke para terminar com aquilo de uma vez.

            Sentiu o suor se acumular na sua testa e passou a mão, limpando qualquer vestígio para que não desse a impressão de estar nervosa, apesar dessa ser uma grande mentira. Ela não queria estar ali, mas não tinha escolha. Sasuke lhe contara que suas atitudes, como o fato de ter lutado e saído em missão, estavam prejudicando Fugaku. Suspirou, e a última coisa que queria era que o sogro estivesse com problemas, ele era um bom líder, por isso se dispôs a estar ali, para tentar remediar tudo, mas ela sinceramente tinha medo do que estava prestes a acontecer. Afinal de contas, apenas pedir desculpas seria realmente o suficiente?

            Olhou ao redor tentando procurar Sasuke, não queria ficar sozinha naquele momento e desde que voltara para casa ele se afastou de si, procurando-a somente quando já era hora de saírem e, mesmo que ela não soubesse o porquê desse comportamento e também não estivesse disposta a saber, queria vê-lo agora, ver um rosto conhecido para tentar se acalmar. E como se Kami ouvisse as suas preces Sasuke apareceu ao seu lado.

— Está tudo pronto – murmurou perto de si e ela engoliu em seco, olhando novamente pela cortina ao ver todos à espera da reunião começar.

            Voltou-se para comentar algo mais com Sasuke e notou que ele ainda a encarava. Ficou constrangida com o olhar intenso dele sobre si e ajeitou algo no cabelo, que estava preso, para evitar o contato visual. Ele estava mais estranho que o normal.

— Er... – pigarreou – Então, o que eu devo falar? – indagou observando novamente os Uchiha’s que conversavam amenidades sentados nos seus devidos lugares.

— Nós já conversamos sobre isso – suspirou Sasuke e Sakura franziu o cenho, preocupada. Não, eles não haviam conversado a respeito do que ela devia falar, no máximo ele comentara sobre algo que poderia fazer quando ele a contou da reunião, mas ainda sentia que estava às cegas ali – Você vai se sair bem – ouviu ele dizer e ela arregalou os olhos com a confiança dele em si.

            Antes que pudesse comentar mais alguma coisa com ele, Itachi apareceu chamando o irmão e Sakura se viu sozinha mais uma vez. Respirou fundo ao ver Fugaku se posicionar na frente de todo o clã, sendo seguido mais atrás por Itachi e Sasuke. Estava na hora.

— Meus irmãos, chamei a todos aqui essa noite, pois meu filho, Sasuke, tem algo a dizer – e apontou para o caçula que deu um passo para frente enquanto o pai e o irmão se sentavam.

            Sasuke encarou os rostos de todos que estavam ali, viu Yashiro, quem estava por trás de toda a disputa pela liderança do clã, sentado bem na frente e parecia contente com o que estava prestes a ver. Franziu o cenho, não confiava nem um pouco naquele homem e esperava não se arrepender do que faria.

— Vim aqui essa noite, pois soube que alguns – e olhou especificamente para Yashiro – estão questionando o modo como minha esposa vem se comportando perante o clã – observou o rosto a meia luz de alguns conhecidos, todos pareciam concentrados no que dizia e nenhum barulho era ouvido, até ele pronunciar o resto – Por causa disso, eu a trouxe aqui para que ela própria possa se explicar – e ergueu a mão em direção ao caminho por onde sua esposa iria atravessar.

— Uma mulher no templo Uchiha? – Yashiro foi o primeiro a bradar, sendo seguido por outras vozes – Isso é um ultraje! Como pode Sasuke?  - vociferou, mas Sasuke nem ao menos se deu trabalho de responder, enquanto Sakura continuava parada na entrada do templo e nervosa com aquele alvoroço.

— Na verdade, a ideia foi minha, Yashiro – Fugaku falou calmamente, para a surpresa de todos.

— Quer dizer que deliberadamente ousou profanar o templo dos Uchiha’s trazendo uma mulher que nem é Uchiha de sangue? – Yashiro reclamou e Sasuke e Itachi cerraram os punhos.

— Ela é uma Uchiha agora e como vocês não se convenceram com a minha palava ou a do meu filho, acho justo que escutem quem vocês consideram um problema – impôs a voz e o olhar gélido de Fugaku fez a sala ficar novamente vazia, para em seguida fazer um gesto com a mão para que Sakura se aproximasse.

            Alguns cochichos começaram ao ver a mulher entrar no templo Uchiha, afinal a presença delas não era permitida ali, mas Sasuke não deu atenção, concentrado demais na visão que tinha. E por um minuto enquanto a via caminhar sob a luz das velas até chegar onde estava, vestida com um quimono azul, cheio de pétalas de flores sakura, amarrado por uma faixa vermelha, com o rosto altivo, enquanto tentava passar a maior tranquilidade possível, ele ficou sem ar. Ela nunca esteve tão linda na sua visão. Afinal, não era qualquer pessoa que tinha coragem de enfrentar os Uchiha’s como ela. E um estranho orgulho dela começou a se apossar de si.

            Sakura andava calmamente sem olhar para os lados, ignorando tudo o que ouvia, seu olhar se prendia unicamente a Sasuke, que no momento era o seu ponto de apoio e agradecia pelo fato dele estar focado nela. Chegou perto do palco e o marido logo ficou ao seu lado, segurando a sua mão para ajudá-la a subir que ficou tocada com o gesto gentil dele. Ele sorriu de lado para ela e apertou sua mão para passar segurança, Sakura sorriu em resposta e em seguida virou-se para os Uchiha’s engolindo a seco ao ver todos a encarando, e foi a vez dela segurar firmemente a mão de Sasuke, antes dele soltá-la e sentar-se enquanto ela permanecia de pé. Respirou fundo e fechou os olhos rapidamente, pensando no que falar.

— Boa noite a todos – começou analisando cada um dos membros do clã – Meu marido me contou sobre o que estava acontecendo no clã – estranhou um pouco usar as palavras “meu marido”, mas resolveu continuar, tinha que se acostumar com aquilo – Eu vim de outro clã tradicional e sei que assim como os Harunos, os Uchiha’s tem regras e tradições próprias, sei o quanto são tradicionalistas e sei também que não era para ser eu a fazer parte dos Uchiha’s...– sorriu um pouco triste por ter que citar a irmã daquela forma e percebeu pelo canto do olho que Sasuke também estava desconfortável.

            Pigarreou, ajeitando-se, antes de voltar a falar:

— Mas aqui estou e eu gostaria de dizer que eu vim para o clã, unicamente, para contribuir com os Uchiha’s – e novamente olhou rápido para o marido, pois a verdade era que aceitara aquele casamento unicamente devido ao pedido de Mikoto para ajudar ao filho – para evitar que os nossos clãs entrassem em um embate. Eu só desejo paz. Porém, minhas atitudes não estão sendo bem vistas e, por causa disso, eu peço perdão – e fez uma reverência a todos que começaram a murmurar entre si.

            A ideia de Fugaku era justamente essa, que Sakura mostrasse estar arrependida. Ela era uma garota adorável, tinha um poder de convencimento que era para poucos, ela podia não ter conhecimento, mas a sua personalidade cativava a todos e era isso que ele queria, que conhecessem a força de vontade dela e da mesma forma que ela fez na luta contra Kizashi, fizesse todos vibrarem com ela, assim, quem sabe,  parariam de falar de nora, parariam de inventar coisas sobre o clã ser arruinado devido ao casamento do filho. Sorriu ao ver que Sakura desempenhava o papel de forma formidável e em seguida olhou para Yashiro que franziu o cenho antes de se manifestar:

— Isso significa que passará a agir de acordo com suas funções? – Sakura ouviu um Uchiha perguntar e ela levantou a cabeça para ver quem se tratava. Era um homem que devia ter a mesma idade ou próxima a Fugaku, seus cabelos negros eram curtos e possuía uma tonalidade mais grisalha, se não se enganava o nome dele era Uchiha Yashiro e já havia o visto em alguns jantares do clã.

— Eu ficarei ao lado de Sasuke como sua esposa, se é isso o que o senhor quer saber – foi a sua resposta sucinta.

— Não é a isso que estou me referindo, quero saber se vai assumir suas funções como uma Uchiha e vai abandonar qualquer coisa que envolva o mundo shinobi! – falou de forma áspera e Sakura arqueou uma sobrancelha ao ver os outros Uchiha’s concordarem querendo saber a sua resposta.

            Olhou para Sasuke que tinha o maxilar travado, claramente irritado com o rumo daquilo, e ela soube que ele não havia lhe contado tudo ao conversarem. Recordava-se dele dizer que havia problemas no clã devido ao seu comportamento no último ataque, mas ele nunca disse que estavam a obrigando a deixar de lutar por causa daquilo. Não que fosse algo que não esperava, mas estranhou ele não lhe contar isso, afinal não era isso que ele queria? Que ela renunciasse ao seu sonho? Ele podia ter lhe forçado a fazer isso ao contar sobre a reunião, mas ele permanecera calado. Cerrou as mãos em punho ao voltar a ouvir os Uchiha’s que continuavam a dizer que ela devia se comportar como uma mulher, que devia ficar em casa e cuidar das crianças unicamente.

— Acho que isso é algo somente diz respeito ao meu marido e a mim – tentou evitar a resposta, mas logo os Uchiha’s começaram a reclamar.

— É claro que tem a ver com o clã! – um deles falou.

—Você está pisando em cima de todas as nossas regras! – outro bradou.

— Acalmem-se! – Fugaku pediu, mas de nada adiantou. Olhou para Yashiro que dava de ombros como se não pudesse fazer nada, mas Fugaku sabia que isso tudo estava sendo orquestrado por ele.

— Está nos fazendo de idiotas, nos humilhou publicamente e debocha de nós ao quebrar nossas tradições – os ânimos começaram a inflamar e Sakura não conseguia retrucar a todos ao mesmo tempo.

— Ela não tem respeito nenhum de nós, muito menos com o marido – Sasuke apenas escutava a tudo calado, os dentes trincavam de raiva, tentando se controlar.

            Olhou para o irmão e o pai que também pareciam descontentes com aquilo, eles não esperavam que as coisas saíssem do programado, mas aquele velho decrépito do Yashiro parecia determinado a piorar o que era para ser uma simples conversa, e Sasuke o odiou ainda mais ao ver o sorriso vitorioso dele. Não podia intervir, ou faria justamente como ele queria, apenas um movimento seu e saberia que seria alvo de mais veneno e só pioraria a situação do seu pai. Voltou a observar Sakura que parecia começar a ficar nervosa por não a deixarem falar.

— E-Eu... – tentou dizer algo, mas Yashiro novamente a interrompeu ao falar em deboche:

— Parece que Fugaku fez um péssimo acordo com os Uchiha’s ao aceitar que Sasuke se casasse com outra Haruno. – disse querendo atingir Fugaku que tentava se manter neutro, mesmo que sua vontade fosse acabar com aquela confusão.

            Sakura arquejou com o insulto e aquilo foi o bastante para Sasuke que urrou furioso ao se levantar:

— Calados! – e imediatamente a sala ficou em silêncio ao ver o mangekyou sharingan no olhar do Uchiha – Sakura é minha esposa e não irei permitir que a desrespeitem! Ou a mim! Ela veio até aqui para falar com vocês, então fiquem calados e a ouçam! – praticamente rosnou para todos e em seguida respirou fundo, desativando a kekkei genkai e um pouco mais calmo falou com a esposa – Você tem a palavra agora. – foi o que conseguiu dizer antes de se sentar novamente, ignorando os olhares do pai e do irmão que estavam surpresos pela explosão do caçula, não só eles como todos os outros membros do clã, inclusive a esposa.

— Er... – pigarreou Sakura ainda abismada pelo comportamento de Sasuke – Obrigada – murmurou para ele que apenas aquiesceu sem desviar sua atenção da plateia.

            Sakura voltou a encarar aos Uchiha’s, tremia levemente e seu coração batia de forma descompassada dentro de si. Estava nervosa, e isso era óbvio, quem não estaria diante de tantos Uchiha’s sendo sabatinada dessa forma, porém o motivo de seu coração disparar ainda mais naquele momento estava mais ligado ao fato de que ficara emocionada ao ver Sasuke defendê-la dos próprios parentes.

            Sasuke sempre foi alguém que colocava a família e os seus deveres para com esta em primeiro lugar, não importava quem fosse, ele era um shinobi honrado, que defendia o clã com unhas e dentes. Ele nunca fizera algo parecido e achava que nunca viveria para ver algo assim, ainda recordava-se quando ela realmente xingou o clã dele no meio da rua, chamando os Uchiha’s de covardes e frouxos, e ele a puniu depois de discutirem. E agora, ali estava ele ao seu lado, indo contra a família, defendendo-a quando a compararam com a irmã. Céus, ela não podia estar enganada quanto a isso, não é? Ele realmente tinha a ajudado e a forma feroz com que fizera isso...

— Certo, então qual a sua resposta, mulher? – Yashiro fez pouco caso e sorriu ao ver Sasuke bufar e Sakura balançou a cabeça para espantar os pensamentos indevidos enquanto estava naquela situação.

— Eu... – respirou fundo para organizar os pensamentos, colocou a mão fechada em frente ao peito e voltou a falar, determinada – Eu sei que era para minha irmã estar aqui e que sou diferente dela, sei que ela nunca agiria como eu, pois ela não era assim. Sayumi nunca desejou lutar, odiava violência ou qualquer tipo de discussão. Ela seria a Uchiha perfeita para vocês – e sorriu ao lembrar da irmã enquanto todos se perguntavam aonde a menina queria chegar ao falar daquela forma, aparentemente ela não sabia como se defender. Yashiro até pensou em interrompê-la, mas ao ver o olhar de Sasuke sobre si, permaneceu quieto.

            “Mas por não saber se proteger, Sayumi morreu tentando me salvar. E por muito tempo eu me senti culpada por isso. Eu não pude protegê-la, logo eu que tanto treinei e quis ser uma kunoichi para conseguir proteger quem eu amo. Então eu tentei ser a melhor esposa que podia, resolvi abandonar o meu sonho, mas também não deu certo. Simplesmente não era eu ali. E quando atacaram Konoha há alguns meses eu tentei me manter fora do conflito, e me senti ainda mais miserável por ter que fingir quem eu não sou, por não poder ajudar ninguém.”

            Sakura encarou cada Uchiha ali, o olhar esmeraldino brilhava determinação e ninguém ousou interrompê-la dessa vez, intrigados com as palavras da menina.

            “Mas durante a batalha eu consegui compreender várias coisas. Eu aprendi mais sobre mim mesma e vi que mais do que querer ajudar, eu tinha o dever de fazer isso. Eu era a única mulher dentre as Uchiha’s que tinha uma habilidade de luta minimamente superior e que podia entrar em combate, não havia mais ninguém ali por elas e eu não queria perder mais ninguém, não quando eu poderia fazer algo que não pude pela minha irmã. E eu também me dei conta que, mesmo com todos os meus defeitos, eu era a melhor chance de todas sobreviverem, pois se Sayumi estivesse viva, mesmo que ela estivesse ali no meu lugar junto com suas esposas e filhas, o destino dela provavelmente seria o mesmo, apenas o número de mortos que aumentaria.”

— Onde quer chegar? Você somente está falando de probabilidades, não tem como saber se todas iriam morrer! Nossas regras fizeram o clã ser o mais forte de todos, elas nos unem e... – Yashiro começou a retrucar, irritado pelo discurso da mulher que parecia estar afetando aos outros.

— Mas nem todas as regras significam justiça! – Sakura cortou o Uchiha pela primeira vez sem se importar em ser educada – Eu não estou fazendo com que as mulheres do clã abandonem os seus lares, porém quero que entendam, permitam que elas sejam mais do que são! Se elas pudessem se proteger...

— Nossas mulheres são amadas e protegidas por nós! – algum Uchiha reclamou no meio da multidão – Nós as amamos mais que tudo e daríamos a nossa vida por elas!

— O problema é que vocês não podem estar sempre ao lado delas! – bradou, nervosa. Não era assim que ela esperava que fosse essa conversa com o clã. Suspirou, tentando se acalmar antes de retomar:

— Eu nunca quis humilhar ao clã, eu apenas fiz o que devia ser feito naquele momento e se vocês amam suas mulheres realmente não deveriam estar discutindo sobre isso – e ao ver que havia acabado com o orgulho de muitos deles ali ao tocar nesse ponto, resolveu terminar, encarando Yashiro seriamente, os orbes verdes brilhando – O senhor me perguntou se estava disposta a esquecer tudo do mundo shinobi e ser uma dona de casa como as outras Uchihas, então eu lhe respondo – e rapidamente lançou um olhar a Sasuke que somente a observava – Não! Se houver outro ataque a Konoha e precisarem de mim, mesmo que não seja uma kunoichi, mesmo que eu seja proibida por vocês, eu juro que irei lutar até as minhas últimas forças, irei ajudar a salvar o máximo de pessoas que estiverem em perigo, pois essa é quem eu sou!

            A sala entrou em um silêncio sepulcral enquanto todos digeriam a declaração feita e encaravam boquiabertos Sakura que devolvia o olhar de forma firme e decidida e Sasuke sentiu vontade de sorrir ao ver aquela Sakura de anos atrás de volta. E mais uma vez aquele sentimento de orgulho lhe invadiu ao vê-la tão forte enfrentando sua família daquela forma. Seu coração galopava dentro de si enquanto ela discursava que continuaria a lutar e se perguntou desde quando passara a concordar com ela?

            Antes ele pensava como a maioria daqueles Uchiha’s, antes ele sempre a criticava por lutar, mesmo que no fundo quisesse torcer por ela, mas algo o impedia de concordar com aquelas ideias, talvez fosse o fato de que se fosse contra os sonhos dela poderia vê-la sofrer, ou talvez fossem os próprios pensamentos antiquados do clã dentro dele, mas ele tinha que admitir que amava o espírito guerreiro dela, amava o fato dela ser tão indomável e ao mesmo tempo tão carinhosa e preocupada com todos ao seu redor. E agora ele conseguia ver tão claro quanto água que o que mais queria era vê-la crescer mais forte. Ele queria incentivar o seu sonho e foi por isso que tomou a palavra ao dizer:

— E você terá o meu apoio para tal, Sakura – e ao se pronunciar pode observar o choque no rosto dos homens ali presentes, inclusive na esposa, mas ele apenas se levantou e encarando todos do clã, declarou – A partir de agora, Uchiha Sakura terá a minha permissão para lutar em casos de necessidade e poderá trabalhar no hospital de Konoha, se assim ela desejar.

            Realmente não era isso que Sakura esperava daquela reunião e nem ninguém. Fugaku estava atordoado pelas palavras, assim como Itachi que tinha um misto de orgulho e apreensão do que estava por vir. Mas era Yashiro quem mais parecia contente com as palavras proferidas.

— Agora começa o seu declínio, Fugaku – murmurou para si.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Vamos por parte!
Em primeiro lugar: comecei mostrando um sonho/flashback da luta do Neji porque eu queria muito escrever essa luta e foi uma forma de introduzir a Tenten também que ainda não havia aparecido da fic, além disso foi a minha forma de fazer uma homenagem a esse casal que nem ao menos se concretizou no mangá e fico arrasada por isso, mas calma que vocês verão mais desses dois, pode esperar ;)
Em segundo lugar: Gostaram dos momentos fofos do Sasuke e da Sakura? Da forma como ele tem mudado, ouvido mais a Sakura, como disse as mudanças são sutis, ele continua fechado, não falando sobre os próprios sentimentos, mas aos poucos ele vai se soltando, mostrando o que sente através de gestos e eu gostei muito de escrever as cenas dos dois XD
Em terceiro lugar: Outro casal que fico triste de não ter se concretizado foi Tsunade e Jiraya, não que isso vá acontecer nessa fic (olha o spoiler aí XD), mas pelo menos um pouquinho eu quis mostrar desses dois. Falando nisso, alguém arrisca o que vai acontecer agora com a entrada do Jiraya na fic?
Em quarto lugar: Idate apareceu, senhoras e senhores! E que entrada, né non? Ele já chegou tirando mais um beijo da Sakura, o que só a deixou mais confusa ainda. Eu tive que fazer isso, mesmo que vocês me odeiem por isso, o Sasuke tinha que ver os dois se beijando, tinha que saber que ele estava perdendo a rosada e também foi importante para ver como ele reagiria com essa "traição" e como um Uchiha em busca de redenção ele soube que não adiantaria apelar para a violência, afinal ele teria muitas chances de perder a Sakura de forma definitiva se voltasse a ser o Uchiha vingador de antes.
Em quinto e último lugar: Tive que colocar a reunião no clã pelo simples e único motivo de que: a Sakura vive falando depois do último ataque que não vai mais baixar a cabeça para ninguém e vai seguir o seu sonho, mas era algo só para ela e então quis que ela tivesse a chance de enfrentar o clã Uchiha cara a cara e pudesse expressar ou não o seu sentimento. A minha única tristeza é que fic não tem como colocar música junto, pois quando ela começou a discursar eu queria que vocês ouvissem a música do anime do Naruto para esses momentos emocionantes kkkk E um lado meu queria terminar com a frase dela, mas a Sakura já teve vários momentos emocionantes, então quis mostrar o lado do Sasuke e a declaração dele me pegou de surpresa quando escrevi, sério, eu não pretendia que ele dissesse isso, era para ser algo bem mais simples, mas quando vi, o Sasuke já havia ido contra todos os meus planos e eu tive simplesmente que acatar, pois adorei vê-lo ficar ao lado da esposa.

Mas agora espero que vocês me digam a opinião de vocês e o que acham que vai acontecer a partir desse ponto! ;)

Beijos e até mais!

P.S: Fiquem de olho no Yashiro!