Reparação escrita por Luhni


Capítulo 14
Delírios


Notas iniciais do capítulo

Genteee!!! Que saudades!!! Nossa, faz muito tempo desde a última vez que postei e até eu fiquei surpresa com isso!! o.o Mil desculpas, mas o ano começou no nível hard, meu emprego tá me sugando, estou quase passando de trabalho assalariado para trabalho escravo T.T Então quando tinha uma folga eu descansava e quando conseguia escrever só tinha o bom e velho caderno a mão, então demorou até eu organizar tudo no pc. Mas, hey, o capítulo de hoje está enormeeee, queria ter escrito mais, mas ia demorar muito, então resolvi postar "logo" já que tinha decidido que não ia passar de hoje!
Muito obrigada aos reviews lindos, já li todos e daqui a pouco termino de respondê-los, prometo!
E o capítulo de hoje é dedicado a Sayaharuno pela linda recomendação, obrigada flor e desculpe a demora! ;D
Sem mais delongas,
Boa leitura!



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Havia conseguido convencer Tsunade a participar da missão, tudo bem, ele teria que seguir as ordens de Kakashi e Naruto ficaria lhe vigiando para que o plano não falhasse, mas mesmo assim estava satisfeito de ter vindo e tinha certeza que seu esforço seria recompensado se conseguisse descobrir algo sobre o que os ninjas da Nuvem planejavam. A equipe designada para a missão era pequena, apenas ele, Naruto, Kakashi, Hyuuga Neji e Nara Shikamaru, e eles tinham o objetivo de ir até a Vila Oculta da Nuvem fazer um reconhecimento da área e verificar como estava a movimentação da vila.

– Dentro de mais um dia devemos chegar até a Nuvem, então preparem-se, não podemos falhar – informou Kakashi e todos assentiram, cientes do seu dever, Sasuke principalmente.

– Ei teme! – Naruto o chamou e se pôs a correr do seu lado – Você avisou a Sakura-chan da missão? – indagou e Sasuke revirou os olhos com a pergunta idiota.

– E porque avisaria? – disse frio e o Uzumaki começou a fazer um escarcéu.

– Ora, ela é sua mulher, não acha que deveria deixá-la a par do que vai fazer? E se ela se preocupar? – e Sasuke franziu o cenho descrente que a rosada em algum momento fosse se preocupar com ele.

– Não se preocupe dobe, eu deixei uma surpresa para ela saber que estarei ausente – disse com um sorriso de canto.

– O quê? - desconfiou Naruto – Você deixou um presente para a Sakura-chan? O que é?

E mais incrédulo ainda ficou o loiro ao ver o amigo rir baixinho, só não sabia se seu alarde era porque o Uchiha estava armando algo ou porque ele estava rindo. Há quanto tempo isso não acontecia?

– É melhor nos concentrarmos na missão agora, conversamos depois – Sasuke disse com um sorriso prepotente, deixando o Uzumaki confuso e irritado por não ser respondido.

A verdade era que Sasuke naquele momento tinha vontade de estar em Konoha apenas para ver a cara da esposa ao ver o “presente” que havia deixado.

–*-

Furiosa. Era como ela se sentia naquele momento, ou melhor, há seis dias. Se ele achava que o obedeceria, estava muito enganado, porém não imaginava que Sasuke fosse irritá-la a ponto de sair em missão e deixar dois guarda-costas para vigiá-la e a impedir de sair de casa. Bufou irritada, encarando os dois Uchiha’s que estavam tão desconfortáveis quanto ela. Já fazia seis dias que eles estavam ali na sua casa como dois objetos, apenas a observando e aquilo era enervante. Bastava ela se levantar que eles a seguiam como duas sombras e apesar das suas tentativas de chantageá-los, nada funcionou. Pelo visto o medo do Demônio Uchiha e de um dos sucessores do clã era maior.

– Digam de novo e a família de vocês? – indagou um pouco irritada – Eles devem estar preocupados com esse sumiço repentino. – tentou mais uma vez convencê-los a deixarem-na em paz.

– Somos solteiros e nossa família sabe que estamos em missão – o de cabelo castanho escuro respondeu, Ren.

– Sim, mas vocês não precisam me seguir enquanto estiver dentro de casa! – exclamou ao ir para cozinha tomar um copo d’água com os dois atrás de si.

– Só estamos seguindo ordens, senhora – dessa vez quem respondeu foi Hiro.

– Vocês estão dando trabalho, isso sim – resmungou com um bico ao recordar da quantidade de comida que tivera que preparar nesse meio tempo para os dois.

– Gomenasai – desculpou-se Ren, com as faces rosadas.

Eles não sabiam cozinhar e nem tinham lugar para dormir, aparentemente as ordens de Sasuke foram: “não a deixem sair de casa e fiquem ao lado dela vinte quatro horas por dia”, então a rosada tinha que fazer as refeições e arrumar o futon na sala, já que o quarto de Sasuke estava trancado, para que eles pudessem ter onde dormir. Suspirou e encarou os dois rapazes na sua frente.

Eles eram mais novos que Sasuke, porém um pouco mais velhos que ela, deviam ter dezenove ou dezoito anos e possuíam os traços característicos do clã: olhos negros e cabelos escuros. A diferença era que Ren tinha cabelo castanho escuro curto e Hiro cabelo preto liso na altura do queixo. Mas eles não eram más pessoas, pelo contrário pareciam ser bem gentis, o único problema era que eram certinhos demais e não ousavam desobedecer Sasuke.

– Tudo bem – suspirou ao deixar o copo em cima da pia e foi em direção ao quarto, suspirou mais uma vez ao parar e se virar para os dois com o cenho franzido – Eu vou ao banheiro, vocês vão me seguir até lá também? – indagou irônica e viu os dois ficarem vermelhos pelo comentário.

– C-Claro que não, senhora Uchiha – Ren disse sem jeito, ele era o mais falante dos dois.

– Então me esperem aqui – mandou antes de fechar com força a porta do seu quarto.

Respirou fundo e foi em direção à banheira, abriu a torneira e deixou a água correr. Após verificar a temperatura, fechou o registro e fingiu jogar um pouco de água para fazer barulho, depois foi para a janela, observou se não havia ninguém por perto e saltou para fora do cômodo. Ela não gostava de enganar os dois rapazes, mas não tinha escolha, afinal tinha que ir para as suas sessões com Tsunade e também era uma forma de afrontar Sasuke e as suas ordens idiotas.

Voltou para casa duas horas depois, havia parado para falar com Ino e soube pela mesma que Idate havia saído em missão mais uma vez. Também aproveitou para contar à amiga o que aconteceu durante o treinamento dos dois e que estava sendo vigiada no momento e não podia demorar. Ino até tentou comentar algo, mas a rosada estava tão apressada que não teve chance, porém ainda ouviu a Yamanaka afirmar que faria uma visita a ela o mais breve possível. Jogou-se na cama ao ouvir baterem na porta e fechou os olhos, embrulhando-se.

– Sakura-sama! – ouviu Ren bradar ao abrir a porta e adentrar apressado no quarto, seguido por Shiro.

Sakura abriu os olhos, sonolenta, e forçou um bocejo antes de encarar os dois shinobis um pouco surpresa e confusa.

– O que houve? Porque... – forçou mais um bocejo - ...estão assim?

– Eh... bom... a senhora estava demorando, então pensamos que algo pudesse ter acontecido – Ren explicou sem graça.

– Pensaram que eu havia fugido? – fingiu estar brava com a acusação – Ora, eu só vim dormir um pouco depois do banho – e se levantou ao andar em direção aos dois shinobis – Estão com fome? – indagou com um sorriso e ambos acenaram com a cabeça – Irei preparar um lanche, então. Deixem eu me arrumar, só um instante – disse e eles foram em direção à saída do quarto.

– Sakura-sama – Hiro a chamou antes de ela fechar a porta – Da próxima vez que “tomar banho”, lembre-se de trocar de roupa – disse e a rosada arregalou os olhos ao ter sido pega no flagra.

Balbuciou alguma resposta, mas sabia que seria em vão. Havia cometido um erro. Olhou de Hiro para Ren e percebeu que ambos tinham um pequeno sorriso no rosto e ela não pôde evitar sentir as bochechas esquentarem ao perceber que eles sabiam que ela havia fugido.

– Não se preocupe, não contaremos ao Sasuke-sama, mas, por favor, não faça novamente – Ren pediu e a rosada aquiesceu sem jeito, sem saber se contava para eles que aquela não era a primeira vez que fugia ou se eles já tinham noção disso e estavam deixando passar.

A verdade era que desde o começo nenhum dos dois entendeu a ordem de Sasuke, porque manter a esposa em cárcere desse jeito? Durante o tempo em que estavam lá, apesar da rosada brigar com os dois por darem trabalho e tentar expulsá-los da casa, era uma pessoa muito gentil e divertida, além de teimosa. Mas na primeira vez que ela fugiu, eles ficaram desesperados e ideias errôneas passaram pela mente dos dois, e se ela não voltasse? E se ela tivesse ido se encontrar com um amante? Eles teriam que enfrentar a fúria de Sasuke e quando estavam prestes a tomar medidas mais drásticas, viram que ela havia retornado para casa, sã e salva, depois de algumas horas.

Na segunda vez que isso aconteceu, eles estavam mais atentos e a seguiram sem que percebesse, mas o único destino dela era a torre da Hokage e, mesmo sem entender, deixaram passar afinal ela não estava fazendo nada de ruim, apenas conversava com a Hokage. Talvez Sasuke só estivesse preocupado com a sua segurança, então não havia porque contar isso a ele, não queriam trazer problemas a figura rosa que cuidou deles durante esse tempo. Mesmo que fossem honestos e ótimos ninjas, uma parte deles havia se afeiçoado a Sakura. Por isso, resolveram deixar que ela soubesse que não havia porque se preocupar, ao mesmo tempo em que a alertavam sobre o fato dela ficar se expondo tanto.

Eles não faziam ideia de que o fato de Sasuke não querer que Sakura saísse era por puro capricho do Uchiha, como uma forma de irritá-la e puni-la de alguma forma pela morte de Sayumi, então era melhor ficar calada e, assim, evitar problemas para si e os dois shinobis, mas não pôde deixar de agradecer internamente a eles por serem compreensivos com ela.

– Vocês só me dão trabalho – suspirou ao ver que havia fingido tanto para nada e os dois apenas deram de ombros e sorriram para si – Bom, então vamos lanchar de uma vez.

– Hai!

–*-

Sakura estava orgulhosa de si e comemorava internamente por aquilo. Afinal, não era todo dia que ouvia alguém elogiar sua comida e ela não achava que Ren e Hiro estivessem mentindo para si, afinal mesmo que Hiro não se manifestasse muito sempre estendia o prato para repetir a refeição, fosse o que fosse.

“Está vendo Sasuke-kun como eu cozinho bem?” pensou ao lembrar-se de que o marido havia ofendido os seus dotes culinários. Podia não sair sempre perfeito como a de Sayumi, mas mesmo assim era gostoso.

– Querem mais? – indagou para os dois que levantaram o prato para que ela colocasse mais alguns onigiris.

– A senhora cozinha muito bem – Ren lhe disse mais uma vez e Hiro aquiesceu.

– E eu já disse que não precisam me chamar de senhora, não sou velha – bufou um pouco chateada e os rapazes se entreolharam envergonhados.

– É que a senhora é casada – explicou Hiro e Sakura revirou os olhos.

– Mas eu sou mais nova que vocês, desse jeito eu teria que chamá-los de senpais – e sorriu ao ver Ren se engasgar.

– C-Claro que não, não precisa disso senho... – interrompeu-se ao ver o olhar da rosada sobre si e pigarreou antes de continuar - ...Sakura-sama?

– Só Sakura – disse com um sorriso e os dois menearam a cabeça como se concordassem, mas no fundo ela sabia que eles ainda teriam dificuldades de lhe chamar dessa forma. – Tudo bem, vamos ficar treinando aqui já que não tenho mais nada para fazer mesmo – brincou e viu os dois shinobis suando frio.

–*-

Mais um dia passou e Sasuke ainda não havia retornado da missão, começava a desconfiar de toda aquela demora. Balançou a cabeça para afugentar alguns pensamentos, Sasuke era o shinobi mais forte que ela já vira, mesmo que negasse ou se irritasse com ele, sempre admirou a forma como ele lutava, até que Sayumi morreu. Naquele dia, ela vira Sasuke ganhar um poder extraordinário, o Mangekyou sharingan, e derrotar facilmente diversos adversários, e pela primeira vez sentiu medo dele e do que podia fazer. Era como se não fosse o Sasuke que ela conhecia e admirava ali, mas um monstro sanguinário.

Arrepiou-se ao recordar do olhar insano dele quando o abraçou em uma tentativa de pará-lo. Os gritos de dor, a carne sendo queimada, até os mortos não foram poupados, todos enfrentavam um inferno e ela não conseguia ficar parada vendo aquilo, era como se a cada rogo de suplico Sasuke se transformasse na sua frente em algo que não sabia o que era piedade ou detinha sequer uma alma. Até hoje ela não sabia como havia conseguido pará-lo, agiu por impulso, mas agradecia aos céus pelo moreno ter recuado por um momento.

– Sakura, a panela! – ouviu Ren dizer e saiu de seus devaneios apenas para ver que a comida que fazia parecia queimar.

– Ah droga! – exclamou irritada ao ver que o seu arroz havia estragado e acidentalmente acabou por se queimar ao tocar na panela fumegante – Itai! – resmungou ao segurar a mão machucada.

– Você está bem? – Ren se aproximou da rosada que forçou um sorriso.

– Coloque a mão debaixo da água fria – Hiro explicou e assim ela fez, sentindo a ardência diminuir.

– Não tem porque se preocuparem foi só uma queimadura simples – disse ao ver o olhar de preocupação nos dois rapazes que estavam a sua volta.

– Quer que chamemos um médico? Pode ser sério e Sasuke-sama pode se irritar conosco por causa disso – Ren começou a falar um pouco nervoso pela situação.

– Não seja bobo – Sakura revirou os olhos, nunca que Sasuke repararia em algo assim – Eu mesma posso fazer isso sumir em dois segundos – afirmou e viu o rosto surpreso e apreensivo dos dois shinobis.

– Como assim? – Hiro questionou e ela mordeu a língua ao entender que não podia mostrar ou falar sobre seu ninjutsu de cura, afinal as mulheres Uchihas não eram kunoichis.

– Tenho uma pomada para queimaduras e um kit de primeiros socorros no armário daqui da cozinha – disse e os dois pareceram relaxar.

– Eu vou pegar então – Ren se manifestou.

Começou a cuidar das mãos enquanto os dois guarda-costas ficavam atrás de si como sombras, bufou irritada por eles serem tão cuidadosos, não era necessário toda essa atenção para si, aquilo era somente uma queimadura leve que ela daria um jeito de sumir, quando estivesse sozinha em seu quarto. Estava prestes a brigar com eles mais uma vez para respeitarem seu espaço pessoal, quando Itachi irrompeu pela porta da cozinha um pouco ofegante.

– Sakura! – chamou e a rosada deu um pulo da cadeira, sem entender o que o cunhado fazia ali.

– Itachi? O que houve? – indagou ao vê-lo parado na entrada do cômodo.

Itachi parecia intrigado ao ver a presença de dois homens na casa do seu irmão, porém ao ver os rostos conhecidos, a bandana e roupas ninjas, e que eles mantinham uma postura firme, compreendeu que eles deviam estar em missão, mas qual era esta ele ainda não havia entendido.

– Itachi! – chamou mais uma vez para o cunhado que voltou sua atenção a rosada.

– Sasuke está no hospital – foi direto e a rosada arregalou os olhos – Ele chegou ontem a noite e...

– E porque só veio me avisar agora? – bradou, interrompendo-o e Ren e Hiro arregalaram os olhos diante da ousadia da rosada.

– Nós não sabíamos, ele estava em uma missão ANBU, então houve discrição quando a equipe retornou machucada. Mas... – parou de falar ao ver a rosada passar por si, ignorando sua fala – Sakura! – chamou.

– Você me conta o resto a caminho do hospital – disse ao amarrar um pequeno lenço na mão machucada e em seguida calçando suas sandálias.

– Mas Sakura... – Ren parou de falar ao ver o olhar fulminante de Itachi sobre si - ...sama – completou e foi a vez de Sakura fazer uma carranca para si por causa do honorífico. – Er... a senhora não pode sair, lembra-se? – terminou de falar nervosamente.

– Ren, eu vou ver Sasuke, não importa que droga ele tenha ordenado a vocês, então vocês só tem duas alternativas: me seguir ou ficar aqui! Vocês escolhem! – disse e os dois guarda-costas se entreolharam, aquiescendo – Ótimo, então estamos resolvidos!

Não demorou muito e adentrava rapidamente no hospital, sendo seguida por seus dois guarda-costas. Itachi ia mais a frente, indicando o caminho e ela respirou fundo, rezando para não ter nenhuma crise. Era tudo o que não precisava no momento. Focava o seu olhar no teto, observando as lâmpadas para não enxergar nenhuma cena desagradável e somente em alguns momentos abaixava o olhar para continuar no encalço do cunhado. Quem diria que um dia iria se comportar dessa forma e não ter condições de entrar em um simples hospital? Em outra época se dissessem isso para ela riria na cara da pessoa, mas não era o caso agora.

– Sakura, é aqui – Itachi indicou o quarto onde Sasuke estava e ela balançou a cabeça para afugentar os pensamentos, tinha que descobrir o que havia acontecido com ele.

–*-

Abriu os olhos lentamente e borrões se formaram a sua frente, sua mente ainda estava anuviada e se perguntava onde estava quando ouviu uma voz lhe chamar a atenção.

– Sasuke-kun! Sasuke-kun! – moveu o rosto para ver a garota de cabelos rosados sorrir enquanto limpava os orbes verdes que estavam marejados – Sasuke-kun, você deu um susto em todos, baka! – exclamou ao se agarrar no pescoço do moreno em um abraço sufocante. Como uma menina de doze anos conseguia ter aquela força? Mesmo assim aquele gesto lhe transmitia um certo conforto.

– Sakura... isso dói... – murmurou fracamente e a menina se afastou de si.

– Gomen... – disse enxugando os olhos ao se afastar, para em seguida continuar a brigar com o Uchiha – A Sayumi-nee chorou muito, se fizer isso de novo não vou te perdoar!

– Sayumi... – murmurou, virando o rosto ao perceber que sua noiva estava do outro lado da cama, junto de sua família, lhe encarando chorosa – Está tudo bem – disse para reconfortá-la e por um momento ele desejou que ela o abraçasse da mesma forma que Sakura, porém ela permaneceu onde estava, segurando somente a mão dele.

Sorriu fracamente e apertou a mão da menina, tinha consciência que ela nunca ousaria demonstrar tanto afeto na frente de outras pessoas ou ir contra as tradições do clã, mesmo que ele tivesse voltado de uma missão onde fora ferido gravemente.

Pôde ouvir vozes ao seu redor, pareciam nervosos e conversavam algo que ele não conseguiu entender, e ele também não identificava quem era. Seu corpo estava letárgico e qualquer movimento se fazia um suplício. Onde estou? Pensou confuso com o sonho, ou melhor, a lembrança que tivera. Lentamente, abriu os olhos para tentar entender o que acontecera, mas em seguida fechou-os devido o incômodo da claridade.

– Sasuke... – ouviu a voz da mãe, porém não a respondeu, ainda tentava organizar seus pensamentos.

Lembrava-se de estar em missão com Naruto, Kakashi, Neji e Shikamaru na Vila da Nuvem. O objetivo deles era de reconhecimento. Mas eles foram emboscados em determinado momento. Os adversários estavam em vantagem numérica e por conhecerem o terreno. Não tiveram como escapar, então lutaram como podiam, mas os shinobis utilizaram de veneno para tentar capturá-los. Mesmo feridos eles deram tudo de si e graças ao kage bunshin de Naruto conseguiram despistar os inimigos. Porém, todos foram feridos e não demorou a sentirem os efeitos do veneno. Depois disso as coisas ficavam turvas para ele, via os companheiros ora gritando de dor ora se arrastando, Kakashi o segurava pelo braço ou era Neji? Não importava, pois logo tudo ficou escuro e ele não se recordava de mais nada, nem como chegara em Konoha.

– Sasuke-kun... – ouviu outra pessoa lhe chamar e, apesar de não conseguir focar em seu rosto normalmente, sabia quem era – Sasuke, consegue me ouvir? – Sakura mudou o tom de voz, repreendendo-se por chamá-lo daquela forma.

Inconscientemente se aproximou, tocando no rosto dele, preocupada pelo fato dele não lhe encarar nitidamente e suspirou aliviada ao ver que os olhos dele não estavam feridos como pensara.

– Sakura... – murmurou fraco e com a garganta seca ao ver a rosada ao seu lado como antigamente – O que está... fazendo... aqui? – indagou e Sakura recuou a mão, crispando os lábios. Ele estava a repreendendo por sair de casa naquele momento?

– Você deu um susto em todos, baka – ela disse, ignorando a pergunta do marido e este não pode evitar a sensação nostálgica que se apoderou dele por causa do sonho.

Porém aquela cena também parecia diferente aos seus olhos, apesar dela ter lhe tocado o rosto e estar visivelmente nervosa, não havia lágrimas, não havia os abraços sufocantes de alívio que ele sempre recebia ao se machucar e vê-la no hospital. E aquilo parecia tão... estranho. Mais estranho ainda era ela estar ali depois da discussão dos dois e da condição dela. Virou o rosto para ver seus pais e Itachi do seu outro lado que pareciam aliviados, mas seu olhar se focou em outra pessoa que também estava presente, mas era desconhecida por ele.

Um rapaz de cabelos prateados e que ajeitava constantemente os óculos lhe observava ao mesmo tempo em que anotava algo em uma prancheta.

– Fico feliz que tenha acordado Sasuke-kun – o rapaz se manifestou, repetindo o honorífico utilizado por Sakura e o Uchiha franziu o cenho – Me chamo Yakushi Kabuto e sou seu médico. Como está se sentindo?

– Com... sede e... – parou de falar, seus lábios estavam secos e sua língua parecia pesar uma tonelada, por isso agradeceu internamente ao ver Sakura se aproximar com um copo d’água em mãos e molhar sua boca. Afoito, procurou sorver do líquido, mas a mulher logo afastou o copo de si. Ficou irritado, abriu a boca para protestar, mas a rosada foi mais rápida.

– Vá com calma, você passou dois dias desacordado – e Sasuke arregalou os olhos com a informação, o que havia acontecido?

– O que... a missão? Os outros? – questionou fracamente e Sakura pareceu perdida, sem saber como responder.

– Todos estão vivos, inclusive, Uzumaki Naruto encontra-se dormindo ao seu lado – e indicou a cama ao lado onde pôde ver o seu companheiro de time – Mas você é o primeiro a acordar depois de terem sido encontrados nos arredores de Konoha, desmaiados e feridos. Vocês tiveram muita sorte. – disse chamando a atenção do Uchiha novamente para si.

– Sasuke, sei que está cansado, mas você se lembra de alguma coisa? – Itachi perguntou e o mais novo apenas meneou a cabeça, negando, antes de ouvir a porta do quarto bater com força e a própria Hokage surgir na sua frente.

– Vim assim que soube que havia acordado, qual o prognóstico? – indagou para Kabuto, enquanto verificava os reflexos do Uchiha que estava incomodado com a luz que ela colocava em direção aos seus olhos.

– A recuperação está sendo lenta, parece que ainda há alguns vestígios do veneno, mas considerando que era um veneno complexo com três bases e tivemos pouco tempo para analisá-lo, o corpo parece estar aceitando o antídoto perfeitamente – respondeu e viu Tsunade acenar, concordando com o que fora dito, mas Sakura não pôde evitar franzir o cenho.

– Quanto tempo Sasuke vai ter que ficar internado? – Fugaku se manifestou pela primeira vez.

– Precisamos ter certeza que o antídoto está fazendo efeito, então creio que mais dois ou três dias teremos uma resposta. Além disso, quero conversar com Sasuke para saber mais da missão. – Tsunade informou e ao ver o moreno fechando os olhos decidiu que era melhor encerrar a visita – É melhor irmos, Sasuke precisa descansar.

– Eu vou ficar – Sakura disse e todos concordaram com a decisão até que Kabuto se pronunciou.

– Tem certeza Sakura-sama? Sasuke está dividindo o quarto com outro shinobi, talvez não fosse de bom tom a senhora ficar.

– Kushina-san deve passar por aqui também. E é só o Naruto. – retrucou crispando os lábios perante a ideia que o médico supôs.

– Se quiser eu posso ficar no seu lugar, você vai ficar cansada e... – Itachi resolveu apaziguar as coisas antes que a cunhada se irritasse, mas parecia que já era uma causa perdida.

– Não seja ridículo! – interrompeu a rosada – Você tem que cuidar de Hana e Sasuke é meu marido, não vejo problemas em ficar com ele, afinal esse não é um dos deveres das esposas dos Uchiha’s? – falou prepotente, encarando Fugaku que franziu o cenho com a audácia da menina. Iria respondê-la quando sentiu o toque da esposa em seu braço.

– Eu ficaria mais tranquila se alguém da família estivesse com ele – Mikoto murmurou somente para o marido ouvir enquanto observava o rosto adormecido do caçula e Fugaku suspirou, rendido.

– Deixe-a ficar, Kabuto-sensei, Sakura tem “conhecimentos” em medicina, talvez possa ajudar – disse em tom ameno antes de dar um olhar de aviso para a nora que apenas aquiesceu.

Kabuto, então, cedeu e informou à rosada que poderia chamá-lo caso algo acontecesse. Despediu-se de todos e por um momento observou o marido dormir tranquilamente para, em seguida, ir em direção a Naruto que também seguia desacordado. Perguntava-se o que havia acontecido nessa missão para derrubar dois shinobis como Naruto e Sasuke. O veneno que fora usado ou era raro ou ainda não existia um antídoto e ambos os casos eram preocupantes.

Viu o loiro se remexer e começar a transpirar, tocou em sua testa e notou que ele estava queimando, será que o antídoto não estava fazendo efeito? Pensou preocupada e a imagem de Kushina lhe veio à mente. Ela devia estar arrasada, seu marido e filho estavam no hospital, não sabia como ainda não havia aparecido ali. Não... na verdade ela sabia o motivo. A ruiva devia estar juntando forças para encarar o problema e ver o filho naquele estado. Elas eram um pouco parecidas naquele aspecto, procuravam não demonstrar fraqueza na frente dos outros, então recolhiam os cacos antes de enfrentar a todos.

– Fique bom logo Naruto – disse enquanto emitia um pouco de chakra para tentar amenizar a febre e quando ele pareceu um pouco melhor, voltou para o lado de Sasuke.

–*-

Mais um dia se passou e Sasuke agora parecia ficar mais tempo acordado, porém estava claro que os efeitos do veneno ainda agiam no seu corpo. Às vezes, ele ficava inerte com o olhar perdido, estava fraco e passava mal com febres altas e vômito, mas Kabuto dizia que isso fazia parte dos efeitos colaterais do antídoto e logo ele melhoraria, então não podia fazer nada, apesar de não gostar da explicação do médico.

Sasuke, quando estava lúcido, não falava com ela e, bom, ela também não sabia o que dizer, então apenas sorria sem graça e voltava a encarar o nada ou então aproveitava a presença de Kushina, que já se encontrava no hospital, para não ficar entediada.

Naquele mesmo dia Naruto havia acordado para a felicidade de Kushina e de Sakura que não se refreou ao abraçar o amigo.

– Que bom que acordou, Naruto! – exclamou a rosada apertando o loiro em seus braços.

– Não... tão forte... Sakura-chan... – murmurou o Uzumaki, puxando o ar com força ao se ver separado da amiga.

– Gomen... – murmurou e sorriu ao ver Kushina repetir o mesmo gesto e quase sufocar o filho em um abraço.

Sasuke, que havia acordado com o estardalhaço das duas mulheres, apenas observou a cena com estranheza. Estava feliz por ver que o amigo estava bem, mas ao ver o carinho da rosada com o loiro lhe remeteu ao passado e como antes ele próprio detinha essa atenção e, por algum motivo aquilo lhe incomodou, apesar de não saber exatamente por que.

– Sasuke, que bom que acordou! Naruto acabou de despertar, ainda bem não é? – disse Sakura com um sorriso no rosto ao se aproximar dele – Como se sente? – indagou ao colocar a mão na testa dele a fim de ver se estava com febre.

– Como você pode ver – respondeu de forma ríspida e virou o rosto, afastando-a de si enquanto menina apenas revirou os olhos.

– Tudo bem, vou chamar o Kabuto-sensei para dar uma olhada nos dois – disse Sakura.

– Espere Sakura, vou com você! Assim aproveito para ver como Minato está – Kushina disse esperançosa ao acompanhá-la porta afora.

– Ei teme! – Naruto chamou a atenção do moreno ao ficarem sozinhos no quarto – É bom... ver essa sua cara feia ’ttebayo! – falou um pouco animado.

– Humf... e eu que pensei que pudesse ter um pouco mais de paz antes de você acordar – resmungou e sorriu ao ouvir o Uzumaki reclamar de si. Fechou os olhos, no fundo agradecendo pelo amigo estar ali.

– Ei teme, tivemos sorte... não é mesmo? – Naruto falou com a voz séria – Pensei que fôssemos morrer... – e Sasuke apenas assentiu.

Era estranho pensar que estivera perto da morte, era estranho pensar que, no fundo, as duas únicas coisas que passaram pela sua cabeça foi que ele não conseguiria cumprir sua promessa de matar os responsáveis pela morte de Sayumi e que ele poderia encontrá-la mais uma vez. Era um pouco contraditório, querer lutar e morrer ao mesmo tempo, mas sua vida estava tão sem sentido que ele não se importava com isso e quando o sua vista começou a turvar, ele deixou de pensar e se entregou, mas não havia sido a sua hora e única coisa que podia entender era que ele ainda tinha um objetivo a cumprir e não morreria até saciar aquele desejo.

Interrompeu seus devaneios ao ver Kabuto adentrar o quarto sendo seguido por Sakura e Kushina, que carregavam um arranjo floral cada uma.

– Como se sente Naruto-san? – indagou o médico, chamando a atenção para si e o loiro sorriu.

– Já estou pronto pra outra ’ttebayo!

– Não está não Naruto! Nem pense nisso! – Kushina brigou ao ficar do lado filho e Kabuto resolveu intervir, iniciando uma série de perguntas ao rapaz.

Sakura sorriu e depositou o arranjo no criado-mudo ao lado da cama de Sasuke que observava o objeto ferrenhamente.

– Deram isso para mim e Kushina-san lá fora – respondeu a pergunta nos olhos de Sasuke - ... são para você e Naruto, mas... quem é Hyuuga Hinata? – indagou curiosa e o rapaz lhe encarou não acreditando que ela não conhecia Hyuuga Hinata.

– Ela é a futura sucessora do clã Hyuuga – respondeu suspirando ao ver que a rosada realmente não a conhecia.

– Está se sentindo mal? – mudou de assunto ao ver o gesto do moreno que virou o rosto para o lado. Por que ela perguntava a todo o momento como estava? Não acreditava que estivesse preocupada com si.

– Lie.

– Então... porque ela lhe mandou flores? – tornou a questionar enquanto observava o ramalhete que ornamentava o criado-mudo.

Sasuke a olhou de soslaio e não entendeu o motivo dela estar cismada por isso, mesmo assim resolveu responder:

– Deve ser uma estima por melhoras, Naruto também recebeu, não é mesmo? – e a rosada aquiesceu, aparentemente satisfeita, voltando sua atenção ao médico que conversava com o amigo.

– Pelo jeito o antídoto está fazendo efeito, muito bom Naruto-san! – exclamou Kabuto contente e Sakura franziu o cenho.

– Gomen, Kabuto-sensei – chamou a menina – mas Sasuke não apresentou uma melhora significativa ainda, então como o antídoto pode estar fazendo efeito no Naruto, que acabou de acordar? – indagou desconfiada, cruzando os braços.

– Sakura! – repreendeu Sasuke.

– Está tudo bem, é apenas preocupação de esposa – interviu Kabuto ao ajeitar os óculos e sorrir – Bom, só posso responder que isso se deve ao fato do organismo do Naruto-san ser mais forte do que o do seu marido, acredite até eu estou surpreso com isso – falou observando atentamente o loiro e Kushina apertou a mão do filho – mas isso era algo que podia acontecer, afinal não sabemos como um remédio vai agir e sua reação depende muito de pessoa para pessoa. – finalizou antes de se despedir – Bom, agora se for só isso, eu vou ver meus outros pacientes, com licença, e qualquer coisa basta me chamarem.

– Feliz agora, Sakura? – indagou Sasuke entredentes ao ver o médico sair do quarto. Sentia-se humilhado ao ouvir que Naruto era mais forte do que ele e tudo por culpa da esposa. Sakura apenas o encarou fazendo pouco caso e deu de ombros.

– Você vai sobreviver – disse, fazendo referência ao fato de que havia ferido o orgulho dele e Sasuke ficou ainda mais irritado, porém não contestou, afinal estava sem forças para iniciar uma discussão com ela, muito menos na frente de outras pessoas.

Sakura não queria se indispor com o marido, mas ela não podia ficar calada. Naruto mal tinha acordado e já estava praticamente novo em folha se comparado com o Uchiha que ainda tinha a aparência muito fraca. Além disso, a resposta de Kabuto não a agradou nem um pouco, foi somente uma maneira de alfinetar o orgulho do moreno, na verdade, parecia mais que ele estava fugindo da pergunta.

–*-

Mais três dias se passaram até que Sasuke tivesse alta do hospital e isso somente aconteceu porque ele insistiu que estava perfeitamente bem e não precisava mais ficar ali. Sakura, é claro, sabia que aquilo não era totalmente verdade, o moreno ainda tinha febres altas e parecia abatido, mas não pôde retrucar por mais que sua vontade fosse dizer que ele fazia isso unicamente pelo fato que Naruto já havia sido liberado no dia anterior.

– Orgulhoso – murmurou enquanto andava ao lado do marido pelas ruas da cidade em direção a casa deles.

– Disse alguma coisa? – indagou soturno, seu humor não estava dos melhores desde quando o Uzumaki foi liberado do hospital na sua frente e começou a fazer brincadeiras sobre isso.

– Eu disse que o parque está charmoso – inventou, apontando para o lugar onde algumas crianças brincavam sob a supervisão dos pais e casais se sentavam à sombra de uma árvore.

As palavras de Sakura fizeram Sasuke observar o local mais atentamente, estava diferente desde a última vez que reparara nele. Já passara muito tempo ali quando mais novo, cuidando de Sakura para que ela não aprontasse ou sentado sob uma árvore com Sayumi ao seu lado. Sentiu uma pontada na cabeça e tudo pareceu girar ao seu redor, segurou-se na rosada para evitar uma queda, assustando-a com a aproximação repentina.

– Sasuke, algum problema? – indagou segurando o moreno que franzia o cenho com dor – Acho melhor voltarmos ao hospital e...

– Estou bem – disse se recompondo – Só ia lhe chamar para irmos por ali – e indicou uma velha trilha que cortava o meio do parque.

– Certo... – respondeu desconfiada do comportamento do Uchiha que já andava na sua frente.

Aquele caminho era muito conhecido por ela, sempre que vinha treinar em algum campo passava por ali, mas nunca havia ido de lá para o clã Uchiha, mas Sasuke parecia saber exatamente onde estava indo. Ou foi isso que ela pensou até ver que ele parava diversas vezes e ficava com o olhar perdido para o nada. “O que estava acontecendo com ele” pensava, porém toda vez que tentava questioná-lo ou ver se estava bem, Sasuke somente voltava a andar, ignorando-a.

Em determinado momento Sakura não sabia dizer se estava mais irritada ou preocupada com o moreno que continuava a vagar alheio a tudo ao seu redor, arrastando-a junto e se expondo ao sol forte, algo que com certeza não estava fazendo bem para ele que já dava indícios de cansaço.

– Chega Sasuke! Você não está em condições de passear, vamos para casa agora! – mandou ao ver o moreno se apoiar em uma árvore para descansar. Em um primeiro momento ele não a respondeu, mas logo um sorriso de canto surgiu e ele disse:

– Eu que digo isso, vai parar de treinar? – Sakura só pôde arregalar os olhos, surpresa, por ele ter descoberto.

– O... quê?Eu... eu... – disse desconcertada e sem saber o que ele faria.

– Sayumi fica preocupada por você demorar a voltar para casa – interrompeu-a e mais uma vez Sakura ficou perplexa, sem entender sobre o que ele falava.

– Sayumi...nee? – indagou e viu Sasuke escorregar pelo tronco da árvore até ficar sentado – Sasuke! – exclamou colocando a mão no rosto do moreno – Você está ardendo em febre.

– Pare de ser teimosa! – resmungou, segurando a mão da rosada – Olha só, você já se machucou de novo – e virou a palma para cima, mostrando o pequeno curativo que fizera por causa da queimadura de dias atrás.

– Mas o quê? – não conseguia esconder sua surpresa, só não sabia se era por ele ter notado o ferimento que nem ela lembrava ou por ele estar agindo daquela forma tão... cuidadosa. “Foco, Sakura! Ele só está assim porque está delirando por causa da febre!” disse a si mesma, afinal ele parecia falar de coisas de muito tempo atrás.

– Sei que você quer dar o seu máximo, mas não precisa treinar até a exaustão. Sayumi sente a sua falta – falou com o olhar desfocado na direção dela – E até eu estou ficando preocupado com isso.

– Com a Sayumi-nee? – indagou confusa com a última fala dele.

– Não... preocupado com você – e mais uma vez abriu a boca espantada com as palavras proferidas – É por isso... que eu sempre vou até o campo, para ver se você não desmaiou de tanto esforço – suspirou cansado e um pouco arfante.

– Pensei que fosse pela Sayumi-nee, porque ela pedia para você me vigiar – disse para si, mas o moreno escutou e deu um pequeno sorriso.

– Nem... nem sempre – respondeu ao fechar os olhos enquanto sentia sua cabeça pesar.

– Sasuke! Sasuke-kun, acorde! Não pode dormir aqui! – Sakura disse segurando-o pelo ombro ao ver que ele parecia adormecer – Vamos, vamos voltar para casa! – e viu que o Uchiha voltava a lhe observar ainda delirante.

– Vejo que mudou de ideia... isso é bom – falou ao se levantar com a ajuda de Sakura que serviu de apoio para ele.

Continuaram caminhando por dentro do campo, e apesar dela estar um pouco incerta sobre o fato de estarem seguindo a direção correta, conseguiram chegar a casa no clã Uchiha e ela agradecia internamente por não estarem longe. Enquanto isso Sasuke continuava murmurando algumas coisas inteligíveis, mas não deu atenção, ainda pensava nas palavras proferidas há pouco.

Lembrava-se que quando começou a aprender com Tsunade quase não tinha tempo para mais nada, afinal o treinamento para iryo-nin era muito duro e com uma das lendárias sannin’s se tornava quase mortal. Estremeceu ao relembrar os treinos com a mestra e como várias vezes pensara que fosse morrer. Porém, ela não desistira e isso ocasionou em horas e horas treinando sozinha em um dos campos e, por diversas vezes, ela notava que era observada por Sasuke, apesar dele quase nunca se manifestar. Na época ela pensava que ele ficava de olho nela por um pedido da irmã e não por vontade própria e saber que, de certa forma, ele se importava consigo a agradou, mais do imaginara.

Pouco tempo depois, após colocá-lo na cama, Sasuke acordou um pouco grogue, olhou ao redor e viu que estava em outro lugar, tentou levantar-se, mas foi impedido por dois braços finos.

– Não se atreva! Agora que eu consegui abaixar a sua febre, então pode ficar quietinho aí! – Sakura mandou e Sasuke apenas piscou em uma tentativa de organizar seus pensamentos.

– Como eu cheguei aqui? – indagou confuso e Sakura arqueou uma sobrancelha quando uma ideia lhe cruzou a mente.

– Você não se lembra? – retrucou e ao ver o moreno negar, sorriu maliciosamente – Eu te carreguei como uma princesa e a depositei na minha cama a espera de um beijo – brincou e ao ver a carranca de Sasuke teve vontade de rir.

Talvez o fato de saber que ele não era um completo insensível provocara isso. Ou então a risada que tentava conter era porque não havia passado despercebido por ela a ponta de dúvida e vergonha nos olhos do Uchiha por, talvez, ter passado por essa situação.

– Fale sério, Sakura! – disse entredentes ao ver a menina deixar escapar um risinho.

– Tudo bem, você teve uma febre alta, mas conseguiu chegar até aqui com as próprias pernas, não se preocupe – tranquilizou-o – Agora descanse, eu vou ver se preparo algo para você comer – disse ao se levantar.

– Não pedi a sua ajuda – rebateu. Odiava dar trabalho aos outros e saber que estaria dependendo de Sakura parecia piorar as coisas.

– Você já disse isso – informou com um sorriso pretensioso no rosto, antes de virar-se em direção a porta e o Uchiha franziu o cenho.

– Então por que continua insistindo em cuidar de mim? – indagou ao vê-la na soleira do quarto. Sakura suspirou e olhando-o por cima do ombro, sorriu, para em seguida respondê-lo:

– Porque eu sou sua esposa, quer queira ou não, e... – hesitou antes de falar em um tom mais baixo, mas Sasuke ainda conseguiu ouvir – ... porque você sempre cuidava de mim quando mais nova, até mesmo sem eu saber – e saiu deixando um Sasuke surpreso para trás.

–*-

Sakura não sabia mais o que fazer com Sasuke Dois dias haviam se passado e ele não apresentava nenhuma melhora significativa, continuava fraco, a ter febre e sem muita vontade de comer e ela não entendia isso. Ela estava seguindo a risca as recomendações de Kabuto quanto a dosagem e a hora do remédio para auxiliar no combate ao veneno. Por causa disso, em um primeiro instante, pensou que ele poderia ter pegado alguma infecção no hospital, por causa dos sintomas, mas descartou a possibilidade depois de observar melhor o quadro, notou que em determinados momentos Sasuke parecia se recuperar um pouco, principalmente quando administrava um pouco de seu chakra medicinal, ou então quando ele não tomava o antídoto que Kabuto havia receitado.

Suspirou ao ouvir um resmungo de Sasuke que se remexia inquieto na cama e trocou o pano molhado da testa do moreno por outro mais úmido, a fim de diminuir a febre mais uma vez. Não fazia sentido aquilo, já era para ele estar reagindo ao medicamento, ou pelo menos estar melhor como Naruto, se isso não acontecia só podia significar duas coisas: ou o antídoto feito não era o ideal para o veneno e a base do remédio estava agravando a situação, pois, provavelmente, Sasuke continuava com veneno na corrente sanguínea ou o próprio organismo de Sasuke estava rejeitando o remédio por causa de algum componente. E os dois casos faziam o quadro do Uchiha piorar.

Mordeu o lábio inferior, preocupada, e tentou lembrar-se das informações que Kabuto-sensei havia dito sobre o que descobrira da toxina que infectara Sasuke e os outros shinobis.

– Ele disse que... o veneno era uma mistura de três componentes tóxicos... – refletiu - ...sendo assim um dos componentes deve ter se sobressaído dos outros, por isso o antídoto não deve ter tido o efeito desejado – levantou-se enquanto caminhava em direção ao seu guarda-roupa para pegar uma caixa com alguns livros.

Kabuto havia dito que aquele era um antídoto experimental e ela sabia que, se ele houvesse errado só um pouco na fórmula, poderia ocasionar consequências graves ao paciente, afinal com um veneno complexo, como aquele se mostrava, tudo devia ser milimetricamente igual, nenhum dos componentes poderia faltar ou estar abaixo ou acima da dosagem adequada. Encontrou o livro que procurava e folheou em busca de mais respostas, em seguida pegou um pouco do remédio de Sasuke a fim de analisá-lo melhor.

Se Kabuto não conseguiu acertar no antídoto, cabia a ela descobrir o que faltava para salvar a vida do Uchiha e para isso ela deveria falar com Tsunade, o único problema era que não podia deixar Sasuke sozinho com aquela febre tão alta. Mordeu o lábio, em dúvida do que faria e observou remexer-se na cama, preso em algum sonho.

–*-

– Acordou? – ouviu uma voz ao longe, onde estava? Tudo ao seu redor era branco, apenas a sombra de uma árvore o cobria, parcialmente – Está me ouvindo? – chamou mais uma vez e ele tentou reconhecer a voz.

Virou o rosto da direção da pessoa e arregalou os olhos ao vê-la. Uma luz incidia atrás dela, iluminando-a, como um anjo, seus olhos violeta pareciam preocupados e seus cabelos caiam para frente. Ela esticou uma mão tocando o seu rosto e ele fechou os olhos, aproveitando o carinho. Há quanto tempo esperava por isso? Para sentir o toque dela de novo? Mas logo ela ameaçou retirar o calor de perto de si e desesperado com a ideia de se separar dela, agarrou-lhe a mão.

– Não vá – murmurou, colocando a mão dela contra o seu rosto mais uma vez, queria absorver todo o calor dela. Ela lhe olhou em choque e ele não compreendeu o porquê, talvez estivesse desesperado demais, mas como não estaria? – Eu senti a sua falta.

– Eu... – tentou afastar-se dele, mas ele foi mais rápido e a puxou contra si. Ela deu um gritinho pelo susto e caiu em cima dele. Os cabelos rosa caiam-lhe pela face, os olhos brilhavam assustados e as bochechas estavam avermelhadas, provavelmente com vergonha pelo o que fizera, e ele sorriu, não se envergonhava, não mais. Queria estar junto a ela, então a abraçou fortemente. – O que...

– Sayumi... – sussurrou ao acariciar o rosto da mulher que amava e a viu arregalar ainda mais os olhos, talvez estivesse preocupada com o que poderia fazer – Finalmente eu posso tocá-la de novo...

– Sasuke...sama – falou pausada e timidamente, parecia não saber ao certo o que falar, isso o lembrou quando a conheceu. Sentiu seu peito se apertou em dor com a lembrança.

– Me desculpe... – murmurou ao abraçá-la, escondendo o rosto no pescoço dela, o cheiro estava um pouco mais suave do que se lembrava. – Me desculpe... – falou de forma sôfrega enquanto sentia seus olhos se encherem de lágrimas.

– P-Pelo quê? – gaguejou, ela estava claramente nervosa e seu corpo estava tenso, parecia não conseguir relaxar ao seu toque.

– Por tudo... por não conseguir te proteger, por não ser forte o bastante... – murmurou com a voz trêmula e apertou-a mais uma vez contra si – Você não sabe o quanto eu senti sua falta... eu fiquei tão perdido sem você, tão sozinho...

– Você... nunca esteve sozinho – ela disse suavemente, mas ele negou com a cabeça, voltando a encará-la.

– Eu me sentia sufocar sem você, ninguém compreendia a dor que eu senti ao te perder, Sayumi... – disse acariciando o rosto dela - ...Nós havíamos prometido que ficaríamos juntos para sempre, mas você foi sem mim e não pude fazer nada, eu...

– Você não em culpa – ela interrompeu com a voz embargada e ele notou que ela estava prestes a chorar. Sorriu tristemente, Sayumi sempre se preocupava consigo, mas ele sabia que tinha culpa e por isso aquele sentimento o corroía.

– Eu não consegui cumprir a promessa que me pediu, eu não consigo seguir em frente, não sem você ao meu lado – voltou a falar enquanto limpava os vestígios de uma lágrima solitária no rosto dela – Toda vez que eu acordo eu sinto que a minha existência é vazia, não consigo mais ser eu mesmo. – disse angustiado – Sayumi... eu estou quebrado, meu coração bate, mas eu não vivo mais, a única coisa que me motiva a estar vivo agora é a minha vontade de vingar você...

– Sasuke... sama – a menina parecia desolada e agora as lágrimas já se faziam presentes em todo a face dela – Você sentiu tanto a falta de... a minha falta assim? – indagou, apertando as pequenas mãos na camisa dele em agonia, enquanto a mantinha em cima de si.

– Todos os dias – disse com um pequeno sorriso, mas ele não queria que ela chorasse, vê-la assim o deixava pior, ele só queria que soubesse o motivo de não conseguir seguir em frente.

– Por que não pediu ajuda aos outros? Seus pais, seu irmão, seus amigos? – continuou a questioná-lo, os olhos tremeluziam com algo desconhecido por ele até então, ela parecia irritada.

– Porque eu não queria me ferir mais – disse e ao ver a confusão nos olhos da amada, resolveu explicar – Eles não entendem o que eu sinto, nunca perderam alguém importante, não tiveram o amor da vida deles tirado de si, pedir a ajuda deles seria apenas mais agonizante, eu tinha que continuar sozinho para completar a minha missão, para não perder mais ninguém... mas não mais.

– Do que está falando? – ela questionou e ele aproximou seus rostos, lentamente, observando as reações dela até encostar suas testas. – S-Sasuke- sama... – falou com os olhos arregalados e sentiu ela tentar recuar, mas ele não permitiu que se afastasse.

– Eu te amo – disse suavemente, de forma tão simples e tão convicto que ela congelou, sem saber o que responder, mas ela não precisava falar nada, então sem aviso, encostou seus lábios nos dela.

Ele sentiu a surpresa de Sayumi, sentiu o corpo dela ficar tenso em seus braços, mas não se afastou, então ele pediu para aprofundar o beijo e, mesmo hesitante, ela concedeu. E aquilo foi como o paraíso para ele, há quanto tempo não a beijava? Ela parecia meio incerta em como agir, um pouco inexperiente, mas talvez fosse ele em sua ânsia de conseguir mais e mais dela que a deixasse sem saber como corresponder, ele precisava tanto dela que não se importava se ela parecia acanhada naquele momento, porque ela estava ali em seus braços e nada nem ninguém a tiraria de si mais uma vez.

Quando o beijo se findou, observou a face corada dela, os lábios um pouco inchados e a respiração ofegante e para ele estava mais linda do que nunca. Sorriu.

– Faz tanto tempo que parece que se esqueceu de como beijar, Sayumi – disse em tom brincalhão e ela arregalou os olhos, claramente surpresa, e as faces se rosaram ainda mais.

– É... é melhor eu ir agora – sussurrou e se ele não estivesse tão próximo dela não teria ouvido.

– Não... não de novo – disse buscando os lábios dela mais uma vez, afoito, com medo de que ela se afastasse de si. Dessa vez o beijo foi mais desesperado e Sayumi, apesar de corresponder de forma tímida as suas investidas, parecia querer separar-se de si.

– S-Sasuke-sama – murmurou ao conseguir afastar-se dele – Por favor, eu tenho que ir... – disse tristemente e Sasuke sentiu seus olhos marejarem, perderia ela de novo.

– Então me leve com você – pediu, acariciando a face da jovem que tornou a chorar enquanto negava com a cabeça – Sayumi, não me deixe de novo, eu não vou suportar – e abraçou-a com força.

– Não chegou a sua hora ainda – ela disse baixinho em seu ouvido, a voz embargada – Você vai sobreviver – e com um olhar terno enquanto derramava mais lágrimas pediu que ele a soltasse. Sasuke se viu hesitante em obedecê-la, mas como sempre, não negou o pedido da amada. E com o coração apertado ele a viu se afastar de si cada vez mais.

Fechou os olhos com força enquanto sentia aquela dor retornar, a mesma quando a perdeu pela primeira, estava sendo idiota, deveria tê-la mantido consigo ou então segui-la. Iria atrás dela, não importava se não era sua hora, ele não iria sobreviver sem ela, não iria deixá-la partir mais uma vez, então abriu os olhos.

– Sayumi! – gritou, sobressaltado a mão estendida para o nada. Focou seu olhar procurando-a ou pelo menos tentando entender o que havia acontecido, mas não havia ninguém ali.

Olhou ao redor e percebeu estar no quarto que pertencia a Sakura, estava suado e um pano outrora úmido agora se encontrava seco e com um sorriso melancólico notou que tudo não passara de um sonho, um delírio da sua febre. Nada havia mudado, ele não havia estado com ela em seus braços, não havia tocado, beijado, nem falado com ela, por mais que todo o seu corpo ainda sentisse o calor dela. Tudo, tudo não passou de uma mera ilusão. Droga. Droga. Droga.

– Droga! – gritou de forma lancinante com os olhos ardendo – Sayumi! Por quê? – gritou mais uma vez, seu coração sangrando em dor, mas ele não se importou, não se importava se Sakura o visse daquela forma, naquele momento ele só queria se libertar daquela ferida pungente que insistia em se abrir mais uma vez.

Do lado de fora do quarto, encostada na porta, Sakura somente ouvia os lamentos de Sasuke. Seu coração batia descompassado, seu rosto estava quente e repleto de lágrimas enquanto tentava abafar que qualquer som saísse da sua boca. Sentiu as pernas trêmulas e não sabia o que pensar ou como agir depois de presenciar aquela cena. Então era assim que Sasuke se sentia com relação à Sayumi? Amava-a tanto assim? Passou a mão pelos lábios, desconcertada e sentiu seu coração se apertar ao ouvi-lo gritar mais uma vez pela irmã, mas ela nada podia fazer agora, porque assim como ele, ela também sofria, mas desejava que pudesse fazer algo para diminuir aquele sofrimento dos dois.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Essa capítulo foi meio que uma forma de preparação para o que vem a seguir, é o início de algo, a percepção de algo e o problema também... hehe ficou confuso isso? É pra ser mesmo kkk
Mas posso dizer que foi uma forma de mostrar que algumas opiniões do Sasuke sobre a Sakura e vice-versa estavam errados, mas talvez eu tenha sido muitoooo sutil, ou não, me digam vocês ;D Sobre Ren e Hiro, novos personagens que eu adorei escrever e eles vão ter uma participação a mais no próximo capítulo ;D Também tivemos a entrada de Kabuto e a menção de Hyuuga Hinata, o que será que eles vão aprontar, hein? tãdãdã (fail - ignorem essa sonoplastia ridícula XD)
Também quero saber o que acharam desse final, tentei passar um pouco do que o Sasuke sentia com relação a perda de Sayumi - sorry foi uma cena SasukexSayumi necessária, mas provavelmente não acontecerá de novo XD -, mas quero saber se ficou claro o que aconteceu ou não? Bom, se não ficou vocês vão entender no próximo de qualquer jeito XD Querem uma dica? Prestem atenção na reação dos personagens ^^
Ahh no próximo teremos o Idate de novo, muitas meninas gostaram dele, então comemorem, yeyyy!!!! Mas estejam preparadas para segurar o forninho de vocês, fortes emoções no próximo, com cenas fofas antes (prometo!), mas provavelmente vocês irão querer me matar e um certo moreno também... ok, sem mais spoiler's...
Muito obrigada, beijos e até a próxima!!!



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