Reparação escrita por Luhni


Capítulo 12
Fios e sangue


Notas iniciais do capítulo

Então gente, como prometido, aqui está o capítulo que deixei agendado para vocês!

Boa Leitura!



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Saltava de galho em galho com uma precisão invejável, a paisagem se transformava em apenas um borrão devido a velocidade em que estava, o vento batia contra o seu rosto e se coração retumbava contra o peito devido ao esforço, mas ele não ligava. Gostava da sensação de ter as rajadas de ar vindo de encontro a si e também porque quando corria se sentia livre como se tudo estivesse bem, mesmo que ele soubesse que aquilo era uma ilusão. Enquanto corria ele era o mais rápido, ninguém o alcançaria, mas continuava a ser uma mentira. Ouviu o farfalhar de folhas atrás de si e parou de correr, seu parceiro devia estar tendo dificuldades em acompanhá-lo.

– Sasuke, não há necessidade de ir tão rápido, só chegaremos ao nosso destino daqui a três dias – um homem vestindo um uniforme ANBU com uma máscara de gato no rosto se pronunciou.

– Hum, se não consegue me acompanhar é melhor voltar – foi a única coisa que disse antes de voltar a se movimentar, dessa vez um pouco mais devagar.

– Yare, yare, é assim que fala por ter o seu sensei em uma missão com você? – o ANBU se manifestou correndo ao lado do moreno.

– Essa missão deveria ser solo – retrucou, colocando a máscara de lobo no rosto, impedindo-o de sentir o vento.

– Tsunade-sama estranhou o fato de você ter pedido para sair em missão enquanto deveria estar na sua lua de mel, por isso eu estou aqui – explicou para o Uchiha que fechou as mãos com a menção do casamento e aquilo não passou despercebido pelo Hatake. – Mal se casou e já está com problemas no casamento?

– Calado! – ordenou, apressando um pouco o passo e Kakashi o acompanhou.

– Sua esposa não merece alguém tão rude quanto você Sasuke – disse entediado e Sasuke lhe deu um olhar de advertência antes de falar:

– Desde quando você a conhece?

– Não a conheço pessoalmente – mentiu – Mas já a vi uma vez pela vila e ouvi falarem muito dela. Ela parece uma pessoa gentil – se Sakura não contara nada a Sasuke, devia ter os seus motivos e não seria ele a contar.

– Não devemos estar falando da mesma pessoa.

– Por quê? – indagou Kakashi, curioso. Ficaram em silêncio por um longo tempo e já tinha desistido de obter uma resposta de Sasuke quando este se manifestou.

– Sakura é egoísta, infantil e só pensa em si. Ela é irritante.

Kakashi observou o ex-aluno e estranhou as palavras dele, Sasuke podia até pensar isso sobre a menina, mas havia algo mais escondido naquelas palavras que ele não conseguiu captar, mas tinha certeza de uma coisa: o Uchiha ficava com um humor ainda mais intragável quando o nome de Sakura era tocado e ele se questionou se a menina devia estar dando trabalho para ele. Sorriu por baixo da máscara, seria divertido essa missão e quem sabe poderia ajudar o relacionamento do aluno com a rosada?

Sasuke teve vontade de bater em Kakashi quando começou aquela conversa sobre seu casamento. Odiava aquela palavra, odiava saber que estava casado com outra que não fosse Sayumi e mais ainda odiava que esse alguém fosse Sakura. Porém, mais do que isso estava incomodado com o que havia acontecido antes de sair de Konoha.

Flashback on

Ainda estava dormindo quando um ANBU apareceu no seu quarto o convocando para ir até a torre do Hokage, pelo jeito Tsunade fora mais rápida do que pensara. No dia anterior, depois da discussão com Sakura e serem interrompidos pelas duas matriarcas, resolveu sair de casa, aquele lugar estava o sufocando de um modo que ele não conseguia ficar muito tempo no mesmo espaço que a rosada sem ter vontade de gritar ou machucá-la e vê-la mexendo nas coisas de Sayumi quase o tirou do sério. Seria um problema para sua sanidade conviver com ela, então foi até Tsunade e pediu uma missão.

Houve gritos e xingamentos por parte da Godaime, mas no fim ela resolveu por acatar seu pedido e disse que iria informá-lo quando tivesse uma missão de Rank elevado para fazer. Agradeceu internamente por não ter demorado, foi para o banheiro fazer sua higiene matinal e em seguida se arrumou para ir até o escritório de Tsunade. Lá, ele recebeu as instruções da missão, era um assassinato de um nukenin da Vila da Pedra, pelo o que foi informado o shinobi foi contrato pela Nuvem para conseguir informações sobre Konoha. Só de ouvir o nome Nuvem fez o seu sangue ferver, aquela missão seria mais interessante ao saber que poderia ter a chance de estragar os planos daqueles canalhas, quem sabe não apareceria algum ninja da mesma vila com quem pudesse se divertir?

O lado ruim foi que ao contrário do que pensava, teria que fazer essa missão com um parceiro, seu ex-sensei Katake Kakashi. E isso seria no mínimo irritante, seu sensei apesar de calado e sempre manter o aspecto de entediado, tinha o costume de sempre se atrasar onde quer que fosse e sempre carregava consigo um pequeno livro erótico, fazendo observações que incomodavam Sasuke muitas vezes. Mesmo assim, era melhor o sensei do que ficar em casa com Sakura. Despediu-se da Hokage, marcou o lugar de encontro com Kakashi e voltou para preparar suas coisas, só não esperava encontrar Sakura acordada.

– Acordado tão cedo Sasuke? – indagou a rosada e prontamente foi ignorada por ele que seguiu em direção ao seu quarto. Ainda ouviu uma exclamação como “mal educado dos infernos!”, mas preferiu deixar aquilo passar, afinal estava mais ansioso para ir à missão depois que soube sobre o envolvimento da Vila da Nuvem.

Arrumou seus equipamentos e colocou sua roupa ANBU, prendendo sua katana no suporte das costas e sua máscara atrás da cabeça. Estava pronto. Desceu as escadas e passou em frente à cozinha, onde Sakura estava, sem dizer uma única palavra, mas a menina não permitiu que ele saísse daquela forma:

– Vai sair em missão? – questionou o óbvio e Sasuke revirou os olhos.

– Muito perspicaz esposa – disse sarcástico e Sakura bufou irritada.

– Aonde vai? Qual a missão? Quando volta? – disparou diversas perguntas e Sasuke mais uma vez a ignorou, voltando a caminhar até chegar à sala, mas a rosada o seguiu – Oe, me responda! Acho que devo saber disso, não?

– Você só deve saber o que eu quiser, limite-se as tarefas de casa enquanto estiver fora e não mude nada do lugar, entendido? – disse encarando-a por cima do ombro.

– Hai – disse em um suspiro e ele semicerrou os olhos duvidando da palavra de Sakura. – Pare com isso! – reclamou incomodada com os orbes ônix a sondarem.

– Humf – desdenhou e voltou a andar para a saída, quando Sakura a chamou mais uma vez:

– Sasuke, espere! – e ele respirou fundo, massageando as têmporas.

– O que foi irritante? – disse entredente sem se voltar para ela.

– Er... Você... – hesitou, sem saber ao certo como falar – já comeu alguma coisa hoje?

Sasuke ficou um pouco surpreso com a pergunta, por causa disso virou de lado para observar a menina que parecia um pouco tímida, provavelmente ela estava passando por cima do orgulho ao lhe questionar sobre aquilo. Abriu a boca, mas ao invés de dar uma resposta mal educada como era sua intenção, apenas disse:

– Não...

– Então espere um pouco – pediu correndo para a cozinha e Sasuke se questionou o motivo de ter feito agido de forma tão branda. Talvez fosse pelo modo como ela o abordou ou simplesmente porque realmente se dera conta que não havia se alimentado até o momento. Estava tão perdido em pensamentos que nem notou quando a rosada voltou para o cômodo.

– Sasuke-kun, aqui! Pelo menos leve esse obento para comer durante a viagem – disse com um sorriso gentil.

Sasuke olhou da pequena marmita para a garota que a segurava com um sorriso gentil. Os cabelos rosa estavam soltos e as bochechas aparentavam estar um pouco coradas por ter corrido no preparo, porém por um instante a tonalidade das madeixas ficou mais escura, ela era um pouco mais alta e os olhos adquiriram um tom rosado. Bem ali na sua frente, Sayumi lhe oferecia a comida que fizera, como sempre fez quando ia se despedir dela antes de sair em missão.

Ficou de frente para a garota com os olhos um pouco arregalados e levantou a mão para pegar o pequeno mimo, quando a imagem se dissipou e viu que a sua frente estava Sakura e não Sayumi. Irritado por tê-las confundido mais uma vez, bateu com força na pequena vasilha oferecida pela rosada, jogando-a no chão e espalhando comida.

– Sasuke! – repreendeu Sakura irritada – Não precisava estragar a comida, bastava dizer se não queria. Eu...

– Pensei que não fosse mais cozinhar para mim – interrompeu-a e a menina se calou, era a vez dela receber o troco pelo o que dissera no dia anterior – Não preciso que faça as coisas por mim.

– Só queria ajudar... – murmurou baixinho, mas ele foi capaz de escutá-la.

– Ajudar? Desde quando pensa em alguém que não seja você? – disse de forma áspera, ficando de costas para ela. Ouviu-a resfolegar, provavelmente para lhe retrucar, mas ele já estava na porta quando voltou a se pronunciar – Eu não preciso da sua ajuda e pare de fingir ser ela! – disse a última parte em um sussurro para em seguida sair de casa, batendo a porta com força.

Flashback off

Apertou os punhos com força, porque ele continuava vendo Sayumi em Sakura? Sempre as distinguiu tão bem, Sakura era a garota travessa, teimosa e brigona enquanto Sayumi era sua doce noiva, delicada e frágil. Confundir as duas só por causa da aparência era ridículo, mas era o que estava acontecendo. Não, não era só a aparência, parecia que Sakura estava imitando Sayumi, o cabelo comprido, as vestes e naquele momento até o gesto pareceu ser uma cópia da sua antiga noiva.

E aquilo o machucava, trazia lembranças dolorosas, e mais que isso o irritava, o fazia vacilar e ficar confuso consigo mesmo por cair naquele truque, pois era isso que pensava que Sakura estivesse fazendo, enganando-o, iludindo-o para fazer com ele a deixasse em paz, mas isso não aconteceria, não iria mais cair naquela armadilha. Iria deixar Sayumi apenas em suas lembranças e em seus sonhos, e infernizaria a vida de Sakura enquanto vivesse.

– Sasuke? – chamou Kakashi ao ver o rapaz mais taciturno do que o normal.

– Temos uma missão a cumprir, deixemos a conversa de lado agora – disse antes de saltar mais uma vez e ganhar velocidade, deixando Kakashi para trás que suspirou.

– Acho que a Sakura vai ter muito mais problema de convencer esse cabeça dura do que eu pensei – murmurou consigo ao seguir o moreno enquanto refletia sobre algo.

–*-

Uma semana.

Uma semana de completa paz.

Uma semana casada com Uchiha Sasuke.

Uma semana desde que ele saíra em missão.

Espreguiçou-se, estava deitada na varanda que dava para o quintal atrás da casa, aproveitando o vento enquanto descansava depois de um treino de taijutsu que fizera. Usara esse tempo em que esteve só para treinar um pouco e como se sentia relaxada deitada ali, mesmo assim reuniu forças para conseguir se levantar e tomar um banho. Foi em direção à porta de correr e ao passar bateu o pé no canto do sofá mais uma vez. Fuzilou o objeto com os olhos e o amaldiçoou, como odiava aquele sofá!

– Calma, isso não vai estragar o meu dia – disse para si ao se recompor e foi tomar o seu tão relaxante banho.

Enquanto sentia a água escorrer por seu rosto, mais uma vez recordou-se das palavras que o moreno proferira contra si antes de sair de casa:

Eu não preciso da sua ajuda e pare de fingir ser ela!

Por mais que ele tivesse sido um estúpido e lhe dito muito mais coisas, eram aquelas palavras que lhe rondavam a mente, precisamente o final. Ela não estava fingindo ser Sayumi. Bom, talvez no início ela realmente se comportara como a irmã, mas aquele era apenas o jeito dela tentar consertar as coisas na sua casa, sabia que nunca poderia apagar a existência de Sayumi e não era isso que ela queria, ela apenas pensou que se se comportasse mais com a filha que seus pais tanto amavam, talvez pudesse tranquilizá-los. Se ela fosse delicada, frágil, obediente e calma como Sayumi, como seus pais sempre a ensinaram a ser, talvez as coisas melhorassem.

Mas de nada adiantou. E agora ela estava perdida sem saber ao certo como ela se comportava, de alguma forma ela não conseguia ser exatamente igual a Sakura de antes, mas ela também não era como a irmã. Não era uma cópia de Sayumi, nunca seria, ela só precisava se encontrar de novo e mostrar que mesmo diferente ela também tinha qualidades. Suspirou, ao oferecer a pequena marmita para Sasuke ela não esperava ofendê-lo, apenas quis oferecer uma bandeira branca, tentar conviver harmonicamente, mas ele não enxergava a ela dessa forma.

Sentiu um nó se formar dentro de si, mas se forçou a não chorar, aquilo não estava adiantando de nada e suas lágrimas já estavam a incomodando, desde quando passou a ser tão chorona? Saiu do banheiro enrolada na toalha e pegou um yukata simples, penteou os cabelos com os dedos apenas para desembaraçá-los e desceu as escadas a fim de voltar para a varanda.

Encostou-se no batente, ficando ao lado da porta enquanto observava o jardim. Quando Sayumi mostrou-lhe a casa aquele foi o lugar que Sakura mais gostara, afinal havia tantas flores, árvores frondosas que faziam sombra quando o sol estava mais quente e para completar havia uma cerejeira no canto do jardim, era um pouco escondida, mas tinha certeza que quando a primavera chegasse aquela árvore encantaria a todos, mesmo que por pouco tempo. Aquele era o único local que apreciava. Mirou para dentro da casa, estava tão silencioso, tão vazio. Ela não era alguém que gostava de ficar em um ambiente como esse, mesmo tendo se acostumado a ficar só.

Tinha que admitir que era um pouco estranho ficar sozinha ali, não se sentia em casa, mas também não sentia que pertencia a sua antiga casa, sorriu ao perceber que não havia um lugar para ela e que mesmo não gostando da presença de Sasuke o fato de saber que havia mais alguém ali com ela a acalmava um pouco. Porém não podia reclamar, afinal nesse meio tempo Itachi e Hana a visitaram o que a alegrou um pouco e a distraía de ter que passar o dia sozinha. E sem a presença intimidante do Uchiha pôde ir visitar Ino, Naruto e a velha Mika como prometera.

Sabia que havia desobedecido ao marido que já havia lhe dito que não tinha permissão para sair sozinha, mas não era como se ligasse para aquelas regras estúpidas dele. Enquanto ele não descobrisse não se preocuparia com isso e, caso soubesse, daria um jeito de contestar o moreno. Sua vontade não seria abafada pelo o que Sasuke queria. Além disso, tivera que sair de casa para poder iniciar o seu tratamento com Tsunade.

Um arrepio cruzou sua espinha ao se lembrar da sua primeira sessão com a Senju. Tsunade havia lhe explicado como funcionaria o tratamento, ela seria exposta aos poucos ao sangue a fim de fazer uma dessensibilização sistemática, trabalhando do menos assustador ao mais assustador. Inicialmente duas sessões por semana seriam feitas para se acostumar com o método desenvolvido e com o tempo o número dos encontros aumentaria, mas ela não conseguia crer que isso desse certo, pois assim que Tsunade começou a lhe mostrar imagens que continham sangue seu coração se acelerou, sua mãos tremeram e suor começou a escorrer de sua testa em total pavor.

Tsunade havia lhe explicado que no começo não seria fácil, mas aos poucos ela melhoraria e Sakura queria acreditar naquelas palavras mesmo que as coisas estivessem longe da realidade. Olhou para as próprias mãos imaginando se algum dia poderia voltar a ser uma médica-nin de verdade. Estava tão distraída com os seus pensamentos que não percebeu uma figura se aproximar até que estivesse perto demais.

Virou-se em um rompante apenas para observar a figura de Sasuke atrás de si, com a respiração ofegante, os olhos rubros do sharingan a vista, suas botas estavam sujas de terra e lama assim como a roupa, mas o que chamara sua atenção foi a tonalidade carmesim que tingia as vestes e fez Sakura desviar os olhos para qualquer lugar enquanto lutava contra a ânsia de vômito e o pavor que a assolava.

Porém mal teve tempo de tentar assimilar o que estava acontecendo quando sentiu o moreno lhe puxar os cabelos com força, trazendo-a para perto de si e a encostando no sangue empapado. Gritou ao sentir o líquido viscoso contra a pele e lutou para se afastar, mas Sasuke apenas intensificou o agarre a arrastando para dentro de casa, furioso com algo que ela não sabia dizer e tão pouco se preocupava naquele momento, ela só queria manter-se afastada do sangue.

– Calada! – bradou Sasuke com o sangue fervendo de raiva, sem se ater ao medo da menina. A raiva o cegava naquele momento.

A missão fora cansativa e estressante, passou três dias para localizar o nukenin da Pedra junto com Kakashi e quando o encontraram ele não estava sozinho, alguns ninjas da Nuvem faziam a sua escolta. Uma batalha feroz se iniciou, mas Sasuke estava mais do que satisfeito em tirar a vida de alguns shinobis da Nuvem, sentia um prazer inexplicável enquanto sua espada atravessava o corpo do inimigo e via os olhos dele perderem a vida aos poucos. Conforme ia atacando, tentava descobrir algo sobre o ocorrido de anos atrás, mas todos apenas sorriam debochado de si antes de serem perfurados e morrerem. Porém, com o líder dos ninjas da Nuvem foi diferente.

Sasuke não recordava do nome do shinobi, mas ele tinha uma cicatriz do lado direito do rosto que chegava até o nariz, seus cabelos eram de um castanho avermelhado e comprido e usava duas espadas de médio alcance. O ninja foi de encontro a si bramindo espadas, mas Sasuke conseguiu evitar o golpe, o inimigo era tão rápido quanto ele, suas forças pareciam equivalentes, mas Sasuke apenas brincava com o adversário, queria respostas e ali estava alguém que poderia saná-las, tinha certeza disso. Ele só não esperava que as palavras do shinobi fossem afetá-lo daquela forma.

Quando a missão acabou, retornaram imediatamente para a vila apesar dos protestos de Kakashi de descansarem um pouco, mas conforme o tempo passava mais tempo ele refletia sobre a conversa que teve com o inimigo e aquilo foi o consumindo por dentro. Ao chegar em Konoha saiu em disparada para casa, deixando o ex-sensei com a tarefa de reportar o que acontecera na missão. Sentia-se cansado física e mentalmente, estava irritado com tudo, queria tomar um banho, dormir por longas horas e esquecer-se do mundo. Mas parecia que Kami queria brincar com sua sanidade pois assim que atravessou a porta de casa teve uma visão que o fez interromper seu objetivo.

Encostada no batente da porta da varanda estava uma garota de cabelos compridos rosados, vestindo uma yukata, seus olhos estavam fechados como se apreciasse os raios de sol que incidiam sobre a pele translúcida e macia, tão calma e serena quanto um anjo, o seu anjo. Sayumi. Sentiu uma paz lhe inundar ao mesmo tempo em que seu coração passou a bater descompassado. Não conseguiu se mover, apesar da vontade de tocá-la mais uma vez, tinha medo de que a qualquer movimento ela sumisse da sua frente.

O anjo ergueu a mão em direção ao rosto e ele desviou sua atenção a fim de observar os orbes ametistas que tanto sentira falta, mas não os encontrou. Duas pedras esmeraldas estavam em seu lugar e logo os cabelos desbotaram, as feições do rosto se modificaram e quem estava a sua frente era Sakura. De novo. Pensou com raiva de si, fechando a mão em punho. De novo havia confundido as duas e as palavras do shinobi com quem lutara a pouco vieram a sua cabeça:

Nós sabemos de muita coisa, Uchiha, e você é um pobre coitado fadado à ignorância e aos fantasmas do passado.

Seu sangue ferveu ao relembrar aquilo, a prepotência daquele ninja ao lhe falar essas coisas, o deboche e a confiança mesmo estando a beira da morte, porém talvez o que mais o irritara era porque o maldito estava certo. Estava condenado a viver com o fantasma da culpa pela morte de Sayumi, por não ter conseguido salvá-la e o fato de confundi-la com Sakura o deixava pior. Do jeito que estava ele continuaria a ser iludido pela mais nova, ela brincaria com a sua sanidade até se sentir satisfeita e ele não conseguia mais suportar a dor de ver Sayumi e deixá-la escapar diante de seus olhos.

Foi pensando nisso que continuou a segurar com força os cabelos da menina enquanto retirava uma kunai do bolso. Aquilo acabaria agora. Sakura não mais fingiria ser Sayumi, ela não o enganaria e o torturaria daquela forma mais. Ele não iria deixar as palavras do shinobi o atormentarem. Estava cego de ódio, queria tanto apagar aquela visão que não prestava atenção no que fazia, não via os movimentos desesperados da garota a sua frente que tremia, chorava e gritava para ele parar, não viu quando a kunai passou a arrancar os fios rosados de forma irregular e aflita, tão pouco quando por acidente a arma desviou do seu caminho indo de encontro a bochecha de Sakura, fazendo um pequeno ferimento.

Ele só parou quando o cansaço o abateu e pôde então visualizar o que havia feito com espanto. As madeixas rosadas estavam amontoadas no chão em tufos, Sakura tremia levemente com o cabelo agora batendo um pouco acima dos ombros, as mechas estavam totalmente irregulares, estando mais curto atrás e maiores na frente. Abriu a boca para falar algo, mas nenhum som saiu. Não sabia o que dizer e arregalou os olhos ao ver Sakura lhe mirar sobre os ombros. Sangue saia de um pequeno corte na bochecha esquerda, mas o que o impressionou foi o olhar da mais nova. Sentia-se queimar pela intensidade e ferocidade de Sakura.

– Estou mais diferente dela agora? – cuspiu as palavras de forma ácida e aquilo o atingiu mais do que se tivessem acertado uma kunai contra si.

– Sakura... - se interrompeu sem saber o que responder.

Viu Sakura se levantar com as pernas bambas, tocando as madeixas agora curtas, mas o olhar dela era duro e ressentido e lembrou-o do seu. Alguma coisa dentro de si revirou ao vê-la com aquele olhar, ignorou. Ele não se importava, ele não se desculparia, ele a faria sofrer ainda mais, ela se quebraria assim como ele estava quebrado. Saiu de seus pensamentos ao ouvir a menina arfar e arqueou a sobrancelha, confuso. Sakura tremia, seus olhos agora estavam arregalados e aflitos enquanto uma das mãos tocava a bochecha ferida. Mal teve tempo de desviar da garota que o empurrou e saiu correndo para subir as escadas, desesperada com algo.

O comportamento estranho da rosada o intrigou, por isso a seguiu, apenas para vê-la correr trêmula para o quarto e se trancar no banheiro. Ele a ouviu soluçar e gritar algo incompreensível por minutos enquanto o barulho de algo se quebrando se fazia presente, se ele não tivesse visto que ela entrara ali sozinha, juraria que estava lutando contra alguém. Ela se debatia e arfava sofregamente, quando de repente o som parou e foi substituído por algo sendo regurgitado. Ele se manteve atrás da porta ouvindo tudo o que acontecia com a garota, mas em nenhum momento se manifestou. Minutos se passaram e ela continuava ali e ele também, até que o tempo se estendeu demais e ele não conseguiu mais ficar parado.

Forçou a maçaneta e esmurrou a porta, mas Sakura não respondeu, então começou a forçar a sua entrada até que arrombou a entrada apenas para ver a menina desmaiada e encolhida no canto do banheiro completamente destruído. Todas as coisas estavam jogadas no chão e o espelho estava em pedaços havendo resquícios de sangue e vidro espalhados por todo lugar. Seguiu o rastro de sangue e viu a mão de Sakura ferida, cacos de vidro estavam presos entre os nós dos dedos enquanto o líquido carmesim se esvaía dos pontos machucados. Bufou irritado pela cena e saiu do pequeno compartimento.

–*-

Abriu os olhos debilmente e tornou a fechá-los devido à claridade, se aconchegou entre os cobertores, tentando voltar a dormir. Foi quando um flash do que aconteceu passou pela sua mente e isso a fez sentar-se abruptamente. Recordava de Sasuke chegar furioso em casa, coberto de sangue e como ele a puxou pelos cabelos enquanto ela se debatia para ficar longe dele e do líquido rubro, porém quanto mais ela se esforçava parecia que o desespero aumentava e Sasuke investia a kunai contra os seus cabelos com mais força. Quando tentou virar o rosto para se afastar sentiu uma ardência na bochecha e arregalou os olhos ao ver escorrer uma pequena gota de sangue. Aquilo foi o suficiente para congelar e parar de lutar.

Seu corpo tremia levemente e ela fechou os olhos para não ver mais nada. Quando Sasuke parou seu cabelo se estendia no chão e ela reuniu toda a sua força para enfrentá-lo, naquele momento só passava em sua mente que ele fizera isso por causa de Sayumi, por elas serem parecidas, ele a estava castigando por algo que não tinha culpa, mas não queria mais mostrar fraqueza na frente dele por isso o questionou tão fria quanto ele se agora estaria satisfeito. Estava tão irritada e concentrada naquilo que somente depois percebeu que estava ferida e que aquele sangue era seu. Foi o bastante para perder toda a compostura que lutara e voltar a demonstrar fraqueza.

Correu para o banheiro de forma trôpega, sem se preocupar em empurrar Sasuke e trancou-se ali. Seus olhos se arregalaram e viu que começava a chorar, levou as mãos trêmulas para a bochecha e tentou concentrar chakra para fechar o ferimento, mas ela não conseguia. Não conseguia emitir nenhum chakra porque não conseguia se concentrar e ver o reflexo daquele sangue escorrendo por seu rosto só piorava as coisas. Gritou com raiva e derrubou o que estava sobre a pia, tentando mais uma vez fechar o ferimento. Seus dedos estavam com um pouco de sangue, mas para ela era como se estivesse se afogando em um mar rubro.

Soluçou e desesperada fechou os olhos, mas aquilo foi um erro. Imediatamente viu suas mãos encharcadas pelo sangue de Sayumi e a dor a dilacerou por dentro. Abriu os olhos, ofegante, apenas para ver mais uma vez o seu reflexo manchado, gritou mais uma vez, suas mãos não respondiam, seu corpo tremia, não conseguia desviar o olhar do espelho que parecia debochar de si e deformar sua imagem enquanto mais sangue começava a fluir do reflexo. “Não! Não! Pare!” gritava. Seu coração batia forte e sua respiração descompassada, ela não queria mais ver isso, ela queria que aquilo parasse, mas não conseguia se curar e o espelho continuava a mostrar sua dor cada vez mais intensa, sentia-se apavorada, então ela não pensou quando socou o espelho com toda a sua força e gritou.

Olhou mais uma vez o espaço agora vazio do espelho e respirou tentando normalizar sua respiração, porém seu momento de alívio logo deu lugar à ânsia quando viu sua mão mais uma vez coberta de sangue. Sayumi. Lembrou-se da irmã e sentiu-se enojada. Quando deu por si já estava agachada ao lado do vaso sanitário enquanto expelia a bile que parecia ir rasgando sua garganta. Estava fraca e não aguentava mais nada, toda a adrenalina que sentira agora se esvaía e ela viu quando seus olhos começaram a se anuviar. Agradeceu ao perceber que pelo menos não veria mais sangue se desmaiasse.

Tremeu ao recorda-se daquilo e observou as mãos que estavam enfaixadas, sem nenhum resquício de sangue, e em seguida tocou a bochecha, vendo que havia um curativo ali também. Arregalou os olhos surpresa com aquilo e levantou-se aturdida indo em direção ao banheiro que estava completamente arrumado, poderia pensar que aquele surto nem ao menos acontecera se não fossem as provas no seu corpo e o espaço vazio onde devia estar o espelho. Questionou-se então quem poderia tê-la ajudado e arregalou os olhos ao pensar em um nome.

– Não, ele nunca me ajudaria, afinal foi ele que causou isso tudo – murmurou consigo e tocou os fios que ainda estavam irregulares.

Mesmo assim queria uma resposta e ao sentir o chakra de Sasuke se surpreendeu, mais uma vez, por ele estar em casa e resolveu que perguntaria para ele. Correu porta a fora até encontrá-lo no jardim, treinando, porém foi só vê-lo que retesou. Talvez não fosse uma boa ideia falar com Sasuke, não sabia como ele a trataria depois daquele ataque de fúria e sinceramente não queria ter que lidar com ele daquela forma de novo, mas já era tarde. Sasuke parara de treinar e a encarava como se questionasse o motivo de estar ali. Ficou sem saber o que dizer, uma parte sua queria confrontá-lo e até gritar algumas obscenidades pelo o que lhe fizera e a outra estava receosa de como proceder.

Como se ele notasse o seu conflito, aproximou-se da menina que recuou um passo na defensiva. O moreno arqueou uma sobrancelha, examinando-a e em seguida a ignorou entrando em casa, enquanto comentava:

– Devia dar um jeito nesse seu cabelo, você está pior do que antes – irritou-se com aquelas palavras e não conseguiu se segurar ao retrucar:

– E de quem é a culpa por isso? – mas imediatamente se arrependeu, não queria brigar com ele de novo, porém novamente se espantou ao vê-lo se virar, sorrir de canto e murmurar:

– Humf... vejo que está melhor.

– Sasuke... – hesitou e respirou fundo antes de continuar – foi você que me ajudou? – indagou incerta e o rapaz parou de sorrir.

– Não seja idiota – retrucou de costas para Sakura que continuou desconfiada – Por mim você ainda estaria naquele banheiro e teria que limpar a bagunça depois. – disse com a voz um pouco áspera.

– Então quem...

– Itachi – interrompeu o moreno – Ele veio aqui em casa horas depois, te achou no banheiro e pediu para um médico vir cuidar de você.

– E você? – questionou e Sasuke a encarou com os olhos frios e escurecidos.

– Eu fui treinar ou achou mesmo que eu fosse cuidar de você? – Sakura cerrou os punhos ao ouvir aquelas palavras e Sasuke sorriu em escárnio – Não se iluda Sakura, Sayumi não está mais aqui para cuidar de você, ninguém mais está.

– Não precisa me lembrar disso, eu sei que estou sozinha – sussurrou Sakura com raiva, encarando o chão e Sasuke observou a garota impassível, antes de se virar e continuar a andar.

– Arrume logo esse cabelo e faça algo comestível para o jantar – ordenou, chamando a atenção de Sakura que estranhou as palavras do marido.

Era impressão sua ou Sasuke estava querendo comer sua comida?


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Notas finais do capítulo

E ai? Gostaram? Eu disse que iria ter fortes emoções, quis mostrar um ataque de pânico da Sakura e como sempre o responsável por isso foi o Sasuke. Quem aqui quer matar ele por ter cortado o cabelo da rosada? hahaha O Uchiha surtou ao compará-la mais uma vez com a irmã e pelas palavras do inimigo, falando nisso ainda irá aparecer melhor como foi essa luta, não se preocupem! Então, a Sakura estava prestes a brigar de forma séria com ele por causa do que fez, e uma parte minha quis muito escrever isso, mas ainda não era o momento e quando vi a Sakura tinha ganhado vida própria e estava tendo um ataque por causa da fobia dela...pois é, essas coisas acontecem! XD hahaha

Beijos e até a próxima!