PDV NATÁLIA.
Saí do banheiro assustando-me ao dar de cara com Percy. Meu irmão encarou-me de cima abaixo desconfiado.

__Passou a noite no banheiro? - Perguntou incrédulo.

–Não... - Menti desviando o olhar.

Sim, eu havia virado a noite dentro do banheiro. Ali era o único lugar em que eu podia chorar sem incomodar ninguém e, também, sem ninguém me ver chorar. Ontem, depois de me salvar de Rachel, Clarisse insistiu que precisávamos treinar para o caça a bandeira que iria acontecer hoje, porém depois de saber que... Ele era gay, eu não sentia vontade de fazer mais nada. Por esse motivo acabei levando uma bela surra da filha de Ares, o que me deixou inteiramente dolorida.

Mas eu não estava ligando muito pra isso, afinal havia dor maior em mim. Meus olhos ardiam como brasa cada vez que aquele nome vinha na minha cabeça. Eu queria gritar, me jogar no chão ou apenas sair correndo dali sem rumo. Como Nico pode ser gay?! Como Eros pode não me contar isso?! Como puderam me condenar dessa maneira?!

–Ei, está tudo bem? - Perguntou Percy franzindo o cenho.Meu maxilar estava tão travado que pensei ser impossível responder meu irmão. Porém, respirei fundo tentando parecer normal. Fingi coçar os olhos, limpando discretamente as lágrimas que se acumulavam no canto do mesmo, e assentindo logo depois.

–Sim... Só estou um pouco dolorida pelo treino de ontem. - Murmurei. Percy sorriu de lado batendo em meu ombro.

–Relaxe, você não viu nada ainda. - Brincou. Tentei sorrir, o que não deu muito certo. - Nos vemos daqui a pouco para o caça?

–Hm... Sim. - Falei. - Só vou dar uma palavrinha com Clarisse antes de ir para o ponto de encontro. - Percy assentiu pegando seu elmo em cima da cama junto com seu peitoral de bronze.

–Ok. Mas lembre-se, os de Ares hoje são inimigos. - O garoto apontou para seu elmo. - Soldados azuis!

–É... Uhu! - Murmurei sem animo algum.

Percy saiu sorrindo me deixando totalmente sozinha no chalé. Respirei fundo algumas vezes antes de enfiar o elmo em minha cabeça e vestindo, com uma certa dificuldade, o peitoral de bronze que devia pesar quase o quanto eu peso. Peguei com receio a espada escolhida para mim no arsenal gemendo em desgosto. γοητεία, ou melhor, encanto. A espada que pertencia a Atalanta, uma jovem amaldiçoada como eu. Legal isso não é?

Arrastei-me para fora do chalé vendo quase todos os campistas sentados no chão do pavilhão. Soldados azuis e soldados vermelhos ainda se misturavam, mas eu tinha certeza que daqui a algumas horas isso iria mudar. Afastei-me dos grupinhos sentando-me na sombra de uma árvore.

Abracei as pernas sentindo meu coração doer. Eu, de alguma maneira louca, me sentia traída. Por mais que ninguém tivesse culpa, eu os culpava sem temer. Culpava meu pai por não me ajudar, culpava Nico por me salvar naquela noite e culpava, principalmente, minha mãe por ter me escondido essa maldição por tanto tempo; por ter me privado de viver só para adiar essa merda de vida que estou tendo agora.

Oque será ela estava fazendo agora? Será que ela estaria preocupada comigo ou já teria alguma ideia de onde eu estava?
Algumas noites atrás Percy havia me contado sobre as MI's, mensagens de Íris, que me permitiam falar com quem eu quisesse desde que tivesse um dracma de ouro mas... Eu não tive coragem de ligar para minha mãe. Talvez eu nem conseguisse olhar para seu rosto sem me sentir traída, então resolvi deixar pra lá. Ela que fique com esse peso no coração...

–Nati! - Exclamou alguém se aproximando. Levantei a cabeça vendo Percy chegar perto com um pequeno pacote na mão.

–Oque foi, Percy? - Perguntei. Meu irmão ajoelhou-se ao meu lado estendendo o pacote para mim.

–Vi que você não estava se sentindo bem então... Resolvi comprar isso com Travis e Connor para você. Não deixe Quíron ver, Ok? - Meu irmão selou os lábios rapidamente em minha testa saindo logo depois.

–Espera... Percy! O que...? - Bufei vendo meu irmão sumir na multidão de campistas olhando o pacote em minhas mãos.
O abri vendo dois cupcakes decorados com bolinhas coloridas. Sorri de lado sentindo um pingo de felicidade surgir em mim, mas isso não durou muito. Olhei em direção a floresta vendo Nico sair receoso do lugar. O mesmo vestia um elmo do time vermelho e parecia não querer estar ali. Senti meu coração dando um solavanco e as malditas borboletas felizes voarem e surgirem como magica em minha barriga.

–Não...Por favor. - Pedi colando-me no tronco da arvore atrás de mim. - Eu não preciso ir até ele! - Exclamei para mim mesma. Senti meu corpo começar a tremer fechando os olhos apertado. Merda, merda, merda! Me levantei rápido andando com passos largos até Nico. O filho de Hades não percebeu minha presença até eu estar bem perto dele.

–Você de novo... - Murmurou ele. - Como está? Rachel não encheu muito seu saco, não é?

–Pegue. - Murmurei desgostosa estendendo o pacote que Percy me deu para ele. Senti meu corpo se acalmar um pouco sabendo que Nico era o meu calmante. O garoto encarou os cupcakes em minha mão com as sobrancelhas levantadas.

–Agradecimento de novo? Você já fez isso esqueceu?-Perguntou-me. Neguei com a cabeça.

–É um novo agradecimento. Por ontem... Clarisse me disse que foi você quem a avisou sobre Rachel estar me importunando. - Apontei para o Cupcakes novamente. - Pegue. - Insisti.

–Hm...Ok. - O garoto pegou um dos cupcake me avaliando com os olhos. -Está tudo bem?

–Estaria se eu não estivesse aqui. - Respondi ríspida, me sentindo horrivelmente culpada logo depois. - Eu... Me desculpe! Eu não deveria descontar minha raiva em você.

–Porque está se desculpando? - Perguntou. - Eu conheço essa sensação. Daria um rim para estar longe daqui também.

–Sério? Por quê? - Perguntei involuntariamente. Nico lançou um olhar irritado em minha direção me fazendo quase me arrepender por ter perguntado. Porém, o garoto suspirou encostando-se a uma árvore.

–Por causa de tudo isso. De Michael, de Rachel e principalmente dele. - Nico apontou para algo me fazendo seguir seu dedo. Semicerrei os olhos estranhando para quem ele apontava.

–Meu irmão? - Questionei vendo Percy rir em companhia de uma loira. Nico deixou o braço cair trincando o maxilar.

–Eu esqueci que ele era seu irmão. Eu... Eu nem devia estar falando disso com você, com licença. - Nico saiu andando fazendo-me segurá-lo antes do mesmo conseguir se afastar.

–Espera! Não é só por eu ser irmã de Percy que não posso te ouvir!-Protestei. Nico encarou-me descendo os olhos para minha mão que segurava seu pulso.

–Você e essa mania de pegar nas pessoas sem permissão. - Rosnou Nico se soltando de mim. Confesso que isso doeu em meu peito, mas fingi que nada tinha acontecido.

–E então? - Perguntei.

–E então o que? Apenas não gosto de seu irmão, é proibido? - Perguntou.

–Você não gosta do Percy? - Perguntei incrédula.

–Porque a surpresa? É proibido?! - Questionou tão irritado que me fez recuar alguns passos. - Droga...

–Eu... Me desculpe. Eu não queria te deixar irritado. – Murmurei, porém, a curiosidade ainda estava aqui. Por que Nico não gostava do Percy? Pelo que eu saiba todo mundo gostava do Percy.

–Porque continua se desculpando?! Você não tem nada comigo... Oque diz e o que deixa de dizer não é problema meu! - Exclamou irritado se soltando de mim.

–Nico, esper... - Antes que eu pudesse terminar senti alguém tampando minha boca. Tentei chamar Nico, mas antes de qualquer reação minha fui puxada a força para dentro da floresta.

PDV NICO.

Eu tentava não me sentir irritado, mas não conseguia. O que aquela garota estava fazendo, hein?! Será que aquilo era algum tipo de zoação ou algo do tipo? Como ela ainda não pode saber sobre mim e Percy dormindo todo o dia no chalé do filho de Poseidon? Será que ela acha que aqueles olhos verdes e inocentes me enganam?

–Olhe... - Comecei me virando para trás. Semicerrei os olhos não vendo ninguém atrás de mim. Deuses... Onde essa garota se meteu?

–Atenção, soldados vermelhos! - Chamou Clarisse em cima da mesa de Ares. - Não quero moleza nessa caça, precisamos ganhar do time azul e quero a colaboração de todos. - Clarisse encarou-me por alguns segundos antes de desviar o olhar. - Droga... Onde Michael e sua alcateia estão?! Quer saber? Não importa! Fiquem atentos! - Fiquei em posição de ataque me esquecendo da filha de Poseidon por hora. Afundei o pé no chão para pegar impulso quando o apito soou. As ninfas se debruçaram nos galhos das árvores para espiar o jogo enquanto todos nós começamos a correr. Logo os primeiros soltados azuis apareceram criando inúmeras batalhas em minha volta. Me joguei em uma sombra afim de ir logo procurar a bandeira porém nem consegui pensar direito quando fui cuspido no meio da mata fechada. Olhei incrédulo para os lados não sabendo o motivo de ter caído aqui até ouvir os primeiros gritos.

–Por Zeus, ela é arisca! - Exclamou a voz de Jeff risonha.
Me escondi atrás de uma árvore olhando em direção ao som, e vendo Michael encurralando alguém perto do que me pareceu ser um rio de lama. A água suja e grossa parecia ser grudenta e tinha um cheiro nada agradável.

–Argh, oque querem?! - Perguntou uma voz conhecida. Prendi a respiração incrédulo. Céus, não é possível que seja Natália novamente... Porque sempre que essa garota tem problemas eu preciso estar perto?! Deuses, que problemático!

–Hey, fique calma! Eu só quero conversar! – Exclamou Michael sorridente. Natália assoprou uma mecha de cabelo que lhe caia nos olhos e retirou o elmo.

–Então mande seus cachorros recuarem. - Rosnou fazendo os amigos de Michael avançarem um passo.

–Quem está chamando de cachorro, sua vad...

–Calma, Jeff... Não queremos brigar. - Falou Michael calmamente olhando de soslaio para o amigo. Natália semicerrou os olhos tentando passar entre os garotos, porém os mesmos entraram em sua frente impedindo a garota de prosseguir. – Ah. - Murmurou Michael negando com o dedo. - Disse que precisamos conversar!

–Não tenho nada para conversar com vocês, saiam da minha frente!-Natália empurrou Michael passando rápido pelo mesmo. O garoto sorriu de lado segurando o braço de Natália como a mesma tinha feito comigo a pouco. Porém o filho de Ares não parou por ai, além de segura-la Michael chutou um dos seus pés fazendo-a perder o equilíbrio, segurando-a por cima do rio de lama.

–Droga! - Gritou Natália assustada. A garota encarou Michael de olhos arregalados enquanto o mesmo apertava suas mãos nos braços da filha de Poseidon. Os pés de Natália escorregavam na marguem do rio tendo sua única estabilidade nas mãos do filho de Ares.

–Vejam só... - Riu-se Jeff. Michael aproximou do rosto de Natália dando um sorriso maldoso e então, ele a soltou. Arregalei os olhos vendo Natália afundar no rio de águas escuras voltando a superfície logo depois. O rio não parecia fundo, porém ele foi o suficiente para deixar a filha de Poseidon inteiramente suja.

–Desculpe, eu escorreguei. - Falou Michael ajoelhando-se na margem do rio enquanto seus amigos explodiam em risadas. Natália encarou Michael com ódio enquanto ofegava.

–Você tinha que fazer isso?! Era isso que queria falar comigo?! - Perguntou raivosa. A menina tentou subir de volta a terra, mas Jeff não deixou empurrando-a novamente para o centro do rio.

–Não. Oque eu fiz é apenas o que vai acontecer com você caso continue atrás de Nico di Angelo. - Franzi o cenho escutando com atenção o filho de Ares. - Você vai se afundar em um rio negro e nojento... Como consegue tentar ser amiga de alguém como ele?

–O que você tem contra o Nico?!- Perguntou Natália irritada.

–Nada. Apenas não concordo com o seu gosto sexual. - Falou Michael dando de ombros. - E você também não deveria concordar!

–Isso não é da sua conta! - Rebateu Natália.

–O que? Então você gosta de Nico ser gay? Gosta do fato dele amar seu irmãozinho querido? - Perguntou Michael. Fechei os olhos socando o tronco da arvore com força. Mas que droga!

–O-oque? - Gaguejou Natália. Michael riu balançando a cabeça.

–É, claro... Você não sabia! - Exclamou o filho de Ares óbvio. - Céus... Garota me escute. Nico é apaixonado por seu irmão. Foi por causa dele que todos souberam que Nico era gay. O filho de Hades se confessou ao deus Eros enquanto estavam em uma missão na batalha contra gaia. Como pode não saber disso?

–Nico... e Percy? - Sussurrou Natália incrédula. Vi a cor da garota diminuir alguns tons enquanto a mesma encarava Michael ainda parecendo confusa.

–Isso aí. Nico e Percy. Agora, faça o que eu digo. Não fale mais com o Nico. Deixe-o, fique bem longe dele. Escutou?

–Eu... Porque quer isso?! Porque não me deixa em paz?! - Gritou Natália. A garota tampou, os ouvidos balançando a cabeça negativamente. - Eu não quero mais ouvir, não quero! E... e mais uma coisa. Eu vou te matar... -Michael riu.

–E eu posso morrer por causa de você? - Provocou.

–Já chega... - Murmurei. Saquei minha espada saindo de trás da árvore com raiva.

–Michae... - Antes de Jeff terminar apontei minha espada para ele avisando-o para calar a boca. Caminhei até Michael antes dele perceber minha presença, chutando suas costas derrubando-o dentro do rio. Natália se encolheu olhando-me assustada enquanto Michael emergia ao lado da filha de Poseidon.

–Sinto muito, eu escorreguei. - Falei fingindo sentir culpa. Michael gargalhou.

–Isso pode acontecer, mas não me atingiu. Estou sentindo que hoje eu ganhei. - Exclamou Michael feliz. Trinquei o maxilar estendendo a mão para Natália.

–Vamos embora. - Ordenei a puxando pela mão. Natália não falou nada apenas deixando-me arrastá-la para longe dali.

Estávamos andando há alguns minutos já quando ouvi um soluço. Me virei em direção a filha de Poseidon ficando perplexo logo depois. A garota estava chorando, como eu nunca vi algum chorar. – O que houve? O que aconteceu?! - Natália não respondeu apenas continuou a chorar. Sua mão escorregou da minha e a mesma agachou no chão segurando suas pernas.

–Não... - Chorou. - Por favor...

–Natália? Natália?! Oque houve? Você se machucou?! - Perguntei. A menina negou com a cabeça continuando a chorar tão intensamente que me senti triste apenas olhando-a. - Então oque aconteceu?!

–Nico...? - Soluçou. A mesma estendeu a mão para mim. - Faça parar Nico.

–Fazer parar o que?! - Perguntei confuso pegando em sua mão.

Pensei que Natália iria levantar, mas a mesma não o fez. Ao invés de se apoiar em mim para se levantar, a filha de Poseidon me puxou para o chão com ela, abraçando-me fortemente. Fiquei sem reação enquanto a garota continuava a chorar, agora em meu ombro. Meu coração palpitou estranhamente enquanto um cheiro adocicado invadia minhas narinas. Deuses, oque está acontecendo?!