A Falta que Você me Faz escrita por Anya Tallis


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Esta história foi escrita para ser um Yaoi não-yaoi. Gosto mais de histórias sobre tensão sexual do que de sexo em si. Espero que gostem.



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Ele não queria atender o celular. Sabia, no entanto, que a vibração faria o aparelho dançar pela mesa, até uma possível queda no chão liso e gelado do hotel. E, se decidiu atender, foi apenas para evitar danos ao belo smartphone que acabara de comprar.

Quando percebeu se tratar de um número desconhecido, fitou a tela demoradamente. Nada importante poderia vir de um número desconhecido. Estava, no entanto, sozinho em um quarto de hotel, enquanto todos os seus companheiros de time estavam se divertindo em algum canto de Madrid. Talvez fosse uma emergência.

Disse “holla” com uma voz carregada de sono. Não reconheceu a voz rouca, com um sotaque carregado, que lhe respondeu.

– Cavil. É Ferdinand. O professor me deu esse número. Queria te pedir uma coisa.

Vince sentou-se na cama, intrigado. Não costumava falar com Ferdinand; conhecia-o apenas de vista, pois já haviam jogado juntos por três ou quatro vezes. Na última, haviam trocado camisas. Estavam hospedados no mesmo hotel, embora fossem adversários.

– Que tipo de coisa? – foi a única resposta que lhe ocorreu.

– Posso passar no seu quarto agora?

– Para que? – Vince tentou não parecer agressivo ao perguntar – O que quer?

Os poucos segundos de silêncio foram capazes de provocar a imaginação de Vince. Nenhum dos rapazes do time adversário jamais fora hostil ou grosseiro com qualquer um de seus companheiros hospedados no hotel. Estaria Ferdinand interessado em provocações e brigas? Não, não haveria motivo algum. Talvez o motivo fosse outro.

Ferdinand tinha uma fama. Não era uma fama de ser um excelente jogador, embora fosse um zagueiro excepcional, com reflexos rápidos e movimentos precisos. Sua fama era causada pela sua vaidade excessiva e pelos gestos levemente afetados, que transpareceram nas poucas entrevistas coletivas em que tivera oportunidade de se expressar. Alguém lhe dissera que ele era gay, mas era difícil ter certeza. Não era uma estrela do time e ninguém estava interessado em sua vida pessoal.

– Eu quero te pedir uma coisa – Ferdinand insistiu, com o sotaque estranho que lhe era bastante peculiar. Abra a porta se puder, estou no corredor.

Tenso, Vince desligou o celular. Ferdinand devia saber que ele estava sozinho no quarto. Ele deve estar querendo transar comigo, pensou, nervoso. Como recusaria sem ser grosseiro? Levantou-se, devagar, e deu um passo na direção da porta. Ah, mas se ele quiser apenas me chupar? Eu posso deixar, acho que não tem problema. Depois ele vai embora mesmo. Não vai contar para ninguém. O pessoal do hotel é discreto. Balançou a cabeça, para afastar os pensamentos. Estava sendo um idiota. Deu outro passo. Não tem problema nenhum. Ferdinand parece ser um cara legal. Ele sabe que não sou gay. Deve ter lido sobre mim nas revistas.

Pôs a mão na maçaneta da porta e a girou, devagar. Milhares de possíveis perguntas que poderiam ser feitas por Ferdinand passaram pela sua cabeça. Vince já tinha resposta para todas elas. Não queria transar com ele. Se quisesse tocá-lo, podia deixar. Se quisesse chupá-lo, poderia pensar no caso. Tinha que ser rápido e ir embora antes do restante do time chegar. Não podia tomar banho em seu quarto. Não tinha camisinha. Podemos trocar de camisa no final do jogo?

Quando abriu a porta, Ferdinand estava lá. Diabos, nunca havia achado nenhum homem atraente, e aquele não era uma exceção. Era boa pinta, charmoso, bem educado e forte, mas não era atraente, apenas porque Vince não se sentia realmente atraído por ele. Esperou que o adversário dissesse alguma coisa, enquanto fitava sua camisa com alguma piada em espanhol, bastante difícil de compreender.

– Qual foi, cara? – Vince cruzou os braços, olhando-o de soslaio – quer entrar?

– Quero – Ferdinand não hesitou.

Vince não saiu da frente da porta para que ele entrasse, de modo que Ferdinand precisou virar o corpo e caminhar de lado para adentrar o quarto. Tinha um perfume forte, doce, quase feminino. Diabos. Era realmente um filho da puta sedutor.

Parou ao lado do frigobar e enfiou as mãos no bolso da bermuda xadrez, que cobria praticamente metade de suas pernas muito pálidas e bem torneadas. Vince desviou o olhar das panturrilhas e encarou demoradamente o rosto do adversário, com ar interrogativo.

Só então Ferdinand explicou o que queria.

– Posso fazer uma falta em você?

– Fazer o que? – Vince não acreditou no que estava ouvindo – uma falta? Aqui?

A pergunta tola quase fez Ferdinand gargalhar.

– No jogo, Cavill. Não aqui.

Uma falta. Então ele conseguia o seu número de celular, esperara um momento em que fosse encontrá-lo sozinho, se encharcava de perfume, colocava uma camiseta apertada, passava as mãos pelos cabelos acobreados daquela forma encantadora, para pedir uma falta.

– Pode sim – Vince deixou escapar um suspiro – Desde que não me machuque com uma entrada violenta.

Ferdinand riu, mas era difícil saber se ele havia dado um duplo sentido à frase. E prosseguiu, enquanto seu sotaque parecia cada vez mais inebriante.

– Não se preocupe, não vou te machucar. Vou puxar sua camisa, você cai. O juiz me dá um cartão amarelo. Ele já está sabendo também – fez um gesto vago, como se estivesse se desculpando – É que eu tomei um amarelo ontem, preciso ser suspenso agora. Não quero ficar de fora da final. O professor disse que você é confiável, discreto, que não vai contar para ninguém.

Havia receio em sua última frase. Estaria perdido se fosse denunciado. Seria um escândalo absurdo. Vince o tranquilizou, balançando a cabeça afirmativamente. Já havia feito aquilo por diversas vezes: tomava um único cartão amarelo, e provocava ou combinava um outro, apenas para ser suspenso no começo do campeonato. Era bem melhor do que continuar jogando normalmente e correr o risco de levar outro cartão sem querer e ser suspenso de um jogo importante. Não era honesto com a torcida, mas era uma estratégia tão utilizada que ninguém se sentia antiético ao repetir aquele gesto.

– Só tem uma condição – Vince estreitou o olhar.

– O que você quiser – Ferdinand deu um passo à frente, quase sem perceber.

Era hora de admitir que sim. Sim, era atraente, aquele filho de uma mãe.

– Nada de pênalti.

– Não, não se preocupe, vai ser bem longe da área. Comecinho do segundo tempo, certo? Assim que eu puxar sua camisa...

– Eu caio – completou Vince, apenas para mostrar que já havia compreendido.

O sorriso de satisfação e alívio de Ferdinand o desconsertou. Por um breve momento, Vince sentiu-se decepcionado com a proposta. Era como se preferisse que Ferdinand tivesse vindo ali para seduzi-lo. Estava se sentindo um idiota.

– Coloco a sua parte num maço de cigarros e deixo no vestiário – Ferdinand piscou um de seus olhos muito claros, enquanto caminhava em direção à porta.

– Não precisa pagar – Vince falou, apenas para parecer simpático. Era óbvio que precisava pagar para sofrer uma maldita falta combinada – Não em dinheiro, se não quiser dar bandeira. Pode pagar de outra forma.

Surpreso, Ferdinand parou, já com a mão na maçaneta e um pé à frente da porta. Pagar de outra forma. Seus olhos pareciam formar uma grande interrogação. Vince estava arrependido da proposta, e sentia o rosto arder de vergonha, mas sustentou o olhar, encarando as consequências do que insinuava.

– Tudo bem, posso pagar de outra forma – Ferdinand desviou o olhar, constrangido – Mando entregar umas garrafas aqui no quarto. Champanhe, whisky, o que quiser.

Saiu do quarto apressadamente, sem se despedir de forma apropriada. Vince tinha raiva de si mesmo. Uma falta arranjada. Como pudera pensar que Ferdinand telefonara para propor sexo? Havia sido idiota demais. Pensou em bater a cabeça na parede, mas sua testa era preciosa demais para sofrer qualquer tipo de castigo. Em vez disso, correu para a porta e deslizou pelo chão liso do corredor, a tempo de conseguir chamar a atenção de Ferdinand com um assovio.

– Ei, cara!

Ferdinand olhou por cima do ombro. Era realmente afetado, como diziam os repórteres. Mas aquilo já não importava mais.

– Qual foi?

– Podemos trocar as camisas no final? –o pedido de Vince pareceu tolo, como o apelo de um fã.

Seu adversário sorriu.

– Claro, Cavill. A gente troca.


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Notas finais do capítulo

Observações: "professor" é o técnico do time, porque os jogadores nunca o chamam de técnico, pra quem não está acostumado a esse mundo...E quanto ao cartão amarelo, se ficou alguma dúvida sobre o motivo do pedido de Ferdinand, me avisem que eu explico! O que acharam dessa história? Ficaram tão decepcionados quanto Vince ou gostaram?

Notas editadas por motivos de um acontecimento recente: Imagina só se na hora, em vez de puxar a camisa, ele dá uma mordida?