Escolha Feita escrita por kah_aluada


Capítulo 2
Capítulo 2: Cartas na mesa


Notas iniciais do capítulo

N/A: Oun, muito obrigada pelos comentários suas lindas.
Nossa estava tão acostumada com os caps enormes de Pintura Intima que estou estranhando postar caps curtinhos.

Espero que gostem desse cap. Sem betagem, mas relido e feito com carinho.
Bjs e aproveitem.



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Ingênua de vestido assusta. Afasta-me do ego imposto. Ouvinte claro, brilho no rosto. Abandonada por falta de gosto

28 de outubro de 1973

–Agora você passa pra cá.- Dorcas assentiu e olhava atentamente as mãos de Remus dando um nó na corda. Aquilo fazia parte da decoração de Halloween. Estavam ajudando com o salão principal. A garota reparou na cicatriz da bochecha e nos fios grisalhos. Continuou encarando o garoto. Os olhos dele eram quase laranjas.

–Âmbar.

–O que?

–Seu olhos. A cor dos seus olhos. Você combina com o outono Remus.- Ele sorriu timidamente e ela corou e baixou os olhos- Desculpe.

–Você combina com a primavera.- Sorriu de canto, um sorriso que ela tomou como fofo- É delicada.- E a menina sentiu o coração palpitar. Olhou-o com carinho

–Estou com um volume novo de Sherlock Holmes.

–Já leu?

–Assim que terminar te empresto.- E sorriu de lábios fechados

–Oh, por favor. Terei algo para barganhar por esse livro logo mais.

–Espero pra ver.- Ela brincou e o rapaz estendeu a corda para ela- Sua vez de fazer o nó.

–O que não fazemos por pontos extras.

Alguns dias depois Remus chamou à amiga e lhe entregou uma fita daquelas de tocar no rádio

–O que é isso?- Ela perguntou e se levantou da poltrona macia perto da lareira. Pegou o objeto curioso da mão dele

–É uma fita, pra ouvir naqueles toca fitas que o professor mostrou na aula de estudo dos trouxas.

–Oh. Isso... Obrigada, mas não terminei de ler o livro ainda.

–É apenas...-A olhou feliz, com um sorriso que a fez sentir algo estranho e desconhecido.- Por guardar meu segredo.- Remus viu as bochechas da menina corarem e o canto dos olhos molharem. Franziu o cenho preocupado- O que houve? Falei algo ruim?

–Fico triste que coisas ruins aconteçam a pessoas boas.- Sussurrou. Ele lhe fez um cafuné. A despeito de toda a vergonha que um menino de 13 anos podia sentir foi carinhoso. Ele era diferente e ela se encantava com aquilo.

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Eu me perdi em meio às lembranças e a fala de Lily. Quando melhorei e pude levantar sem vomitar ou cair de tontura outra coisa me impediu de sair do quarto. As lágrimas desesperadas. Eu não consegui conter. Estava mais que encrencada e repetindo o mesmo erro que minha cometeu. Lily tentou me acalmar sem sucesso. Meu coração estava despedaçado. Eu não queria encarar Remus, não queria lhe dizer que teríamos um filho e perceber a culpa e a obrigação de ficar comigo. Eu conhecia Remus bem de mais. Erámos as “párias” da sociedade bruxa, com família pequena e pobreza exagerada. Eu sabia sobre o segredo dele e ele sabia sobre o meu. O licantropo e a filha bastarda do assistente do Ministro. A mãe de Remus não quis saber dele depois que foi mordido. Meu pai não quis saber de mim desde sempre. Nós buscávamos incessantemente formas de superar o sentimento inconsciente de rejeição. Ele encontrou os Marotos, eu encontrei Lily e nós nos encontramos. Agora estava prestes a perder isso.

–Sabe....-Suspirei- Eu estou com medo.

–Claro que está. Esteve apaixonada por Remus por tanto tempo que agora, quando isso é uma possibilidade real, te assusta.

–Você...- Eu tinha dificuldades de falar normalmente. Preferia à escrita e os pensamentos. Estava muito bem no meu mundo, mas eu precisava fazer isso- Lily, eu não posso dizer a ele.

–Como assim? Ele tem o direito de saber e mais que isso, tem uma responsabilidade com você.

–Eu quero o amor dele não o dever.

–Mas se você está grávida... Doe. Isso é sério, é sobre uma vida que estamos falando. Não pode deixar esse bebê crescer com o mesmo trauma que você.- Baixei os olhos

–Ele não tem onde cair morto. Que acha que vai acontecer? Somos dois pobretões sem perspectivas para o futuro nessa sociedade fascista! E não tem futuro, sabe? Nós dois. Ele corre atrás da Alice desde os 13 anos.

–E está na hora dela decidir o que quer.

–Ela não faz por mal. Ela gosta dele, mas também gosta do Frank.

–Eu sei Doe. Sei que ela não faria isso de propósito, acontece que ela sente... Amor de mais. E por isso está nessa situação e você está assim... Ah eu vou matar o Remus. Como... Eu te avisei! Desde que ele te deu aquele beijo, eu avisei!

–E eu não escutei.- Gritei. Lily parou de falar. Estava espantada. Eu nunca tinha gritado com ninguém. Eu sempre era quieta e falava baixo, sempre com vergonha.

–Dorcas. Por que você está com tanto medo?

–Eu não sei. Ele não foi claro naquela noite. Eu fiquei confusa e... Eu tenho muito medo de confrontá-lo. Também...- Suspirei sentindo a garganta fechar- Ele não fez questão de conversar sobre isso Lily. Eu tenho medo de ter sido um alivio. Eu vou deixar isso pra lá.

–Como pode dizer isso nesse momento? Grávida do seu melhor amigo! Dorcas. Ele é Remus, o menino que dividiu a carteira de poções com você no primeiro ano. O garoto que bateu em Lúcio Malfoy porque ele te ameaçou e o Malfoy era um formando! Ele é o garoto que te abraça quando você está triste. Você o conhece. Ele não vai ser um escroto com você.

–Eu... Não sei o que fazer.- Levei a mão a testa e dei de ombros.

–Acho que pode começar indo pra aula. – Eu assenti. Após um banho longo e uma escapada até a cozinha na companhia de Lily, fui para aula. Ele era minha dupla de poções desde sempre. Entrei naquele laboratório abafado, senti as pernas pesadas e o estomago apertado. Sentei ao lado dele.

–Bom dia.- Ele beijou meu rosto. Ah! Aquilo. Gesto bobo, mas... Ele fazia diferente, era um toque de quem realmente queria que você tivesse um bom dia- Alice disse que estava mal. Por isso perdeu Transfiguração?- Assenti. O cheiro dele chegando a meus sentidos. Fechei os olhos e respirei profundamente. Foi uma ideia terrível já que ao fazer isso as lembranças daquele Halloween povoaram minha mente.- Você está bem?- Assenti e abri os olhos. Olhei para a mesa. As mãos dele estavam casualmente apoiadas. Eram dedos longos e finos, com algumas cicatrizes. Lembrei novamente de um mês e meio atrás e meu coração ficou mais apertado. – Dorcas. Acho que precisa ir à enfermaria.

–Eu estou bem.- Resmunguei grosseira e ele ficou surpreso. Eu nunca tinha falado assim com ele. Em quase 7 anos de convivência, nunca o tratei de maneira ruim. Ele nunca tinha me dado motivos, mesmo que eu quisesse mata-lo por sempre voltar correndo para Alice e se ferrar depois. Senti a mão dele afastando o cabelo do meu rosto e os dedos subindo ligeiros para minha cabeça, fazendo um cafuné quase na nuca. Fiquei tensa, foi assim que tudo começou da última vez e eu não podia me dar ao luxo de lembrar daquelas coisas. Eu não queria me dar ao luxo de lembrar daquelas coisas.

–Está brava comigo.- Ele sussurrou num tom culpado. Eu quase quebrei meu pescoço ao virar e o olhei cética. Eu era Dorcas, a menina tímida e doce que tinha os olhos azuis e brilhantes, uma das últimas pessoas que olharia assim para alguém. Óbvio que ele estava surpreso- Podemos conversar mais tarde?- Eu queria gritar não, todo o silêncio desse um mês e meio e o fato dele ter se agarrado com Alice de novo, aquilo era o suficiente para mim. Não precisava de mais conversas com as atitudes dele. Remus era um rapaz gentil, amigável e cheio de compaixão, mas ele também era apenas um menino de 17 anos, apaixonado por uma garota complicada e encantadora. Eu fui apenas um desvio de conduta. O coração dele estava preso a Alice e coitado, no fim ela escolheria Frank, era óbvio. Remus era o desvio de conduta dela.- Em?

–Tudo bem.- Sussurrei sentindo aquele nó quente entalado na garganta. Meus olhos marejaram. O professor nos chamou atenção e voltou à explicação. A mão dele procurou a minha e eu me recusei a ter esperanças. Mesmo que o toque, tão típico na nossa relação amigável , me deixasse fora de órbita.

Novembro de 1975

–E agora!- Sirius gritou- James e Cereja tem 7 minutos no paraíso!- Lily ficou vermelha ao ouvir as chacotas dos garotos e os risinhos das meninas. Levantou irritada e encarou James

–Eu sabia que teria alguma armação! Sabia. Alice, eu vou te matar por me fazer participar disso.

–Cereja.- James chamou- Foi o destino.- A ruiva o encarou irritada e saiu andando

–Vamos acabar logo com isso.

–Uhhhhh.- As pessoas sentadas em roda gritaram. Remus meneou a cabeça negativamente, um sorriso tímido brincando em seus lábios. Dorcas o encarou. Ela ainda tentava entender porque estava ali. Não lembrava de ter concordado e no entanto lá estava ela, sentada numa roda no chão sujo da Casa dos Gritos. Olhou em volta. Tinha dois meninos a mais que meninas. Alguém pegaria baba de alguém. Esperava que não fosse ela. Esperava poder levantar e sair dali, mas estava travada, com vergonha e deslocada. Lily e Alice conversavam com todo mundo e ela morria de vergonha. Tinha medo de falar algo estúpido e ser motivo de piada. Ou pior, de ser deixada de lado. Como ela foi parar naquilo? Aé, Remus e seu sorriso. Sua mão deslizou no chão, tentando conter o nervoso, sentiu a farpa entrar na sua pele e fez uma careta de dor

–O que foi?-Remus sussurrou preocupado. Ela deu de ombros. James e Lily voltaram do cômodo ao lado em exatos sete minutos depois e Sirius esfregou as mãos, animado. Lily estava vermelha e com cara de poucos amigos. James tinha a marca de cinco dedos na bochecha

–Ahhh então vocês são selvagens.- Sirius debochou e Lily mostrou o dedo médio para ele

–Vá se foder Black!- James ficou calado, sentou irritado e cochichou algo com Peter. Dorcas deixou de dar atenção a eles e virou à mão, a farpa era bem pequena. Um pontinho escuro em sua mão clara. Em volta do pontinho preto uma vermelhidão se espalhava e ela sentia a palma pulsar. Estava doendo. Ted Tonks virou a garrafa. Ela observou o vidro ganhar velocidade, enquanto via a força do objeto ir embora se perguntou que tipo de brincadeira estúpida era aquela. Olhou em volta. Todos ansiosos, as expressões nitidamente tensas. Revirou os olhos, aquele casaco tinha uma etiqueta que pinicava as costas e o frio daquela casa abandonada estava começando a incomodar, do mesmo jeito que a farpa em sua mão. Franziu o cenho irritada e mudou a expressão assim que viu a garrafa parar em sua direção. Arqueou as sobrancelhas ao ver o fundo apontando para Remus. Seu coração deu um pulo quando o olhou. Ele tinha as bochechas vermelhas e parecia nervoso.

–7 minutos no paraíso. Acho que será o ponto alto da sua vida Meadowes!- Marlene debochou e Remus revirou os olhos. Ambos levantaram, ela atravessou a roda e chegou até ele. Remus sorriu amigavelmente e estendeu a mão. Ela aceitou, mas logo puxou de volta, a farpa tinha machucado. Andaram lentamente até o outro cômodo e como nas regras, Sirius os trancou lá. Não tinha nada além de um quarto vazio. Ela não conseguiu encará-lo

–Dorcas?- Ele chamou e ela tomou fôlego

–Olha...- Cutucava a mão tentando tirar a farpa, sem olhar para ele- Eu só... Estava conversando com você e de repente me vi aqui. Não era minha intensão me atracar com você numa sala vazia por causa de um jogo estúpido.- Sua voz começou a tremer e a mão também, a tarefa de retirar a farpa ficando mais complicada- E-eu só... Somos amigos desde sempre e... Eu não... Só precisamos ficar aqui até acabar o tempo e depois eu vou embora. Ai.- Reclamou ao enfiar a farpa mais para dentro

–O que fez na sua mão?- O rapaz perguntou como se ela não tivesse dito absolutamente nada. Aquilo a ofendeu. E ela não entendeu o motivo

–Farpa.- Viu a sombra dele se aproximar pelo chão e levantou o olhar

–Posso ver?- Dorcas assentiu. O garoto pegou a mão com cuidado, ela corou ao sentir a temperatura da pele dele. Era quentinha. – Você não pode forçar em cima, se não ela vai afundar. –Os dedos dele começaram a apertar em volta, onde estava vermelho- É só apertar em volta, assim ela vai sair.- O jeito baixo e calmo dele falar lhe deu um comichão no estomago. Engoliu em seco. –Está doendo?

–Um pouco.

–É só ter jeito. Viu? Saiu.- E limpou a mão dela. Concentrada em olhar a mão não percebeu que ele estava encarando-a . O dedo dele deslizou pela mão dela- Sua mão é quentinha.

–A sua também.- A garota finalmente o encarou, estavam mais próximos do que ela supôs

–Por que está me encarando assim?- O rapaz corou

–É verdade o que Sirius disse?

–Sirius diz um monte de besteiras Aluado.- E sorriu ao sentir o carinho que ele lhe fazia na mão

–Ele falou que você...- Engoliu em seco. Ela começou a desconfiar de algo e seu coração aqueceu em uma fraca esperança- Estava chorando e ele ouviu.

–Bem, eu sempre estou chorando.- Murmurou- Dá última vez foi por causa de um filhote de gato.

–Não, você sempre quase chora por algo. Aí fica com as bochechas vermelhas por segurar o choro.- Dorcas sorriu fracamente- E seus olhos ficam com os cantinhos molhados.

–É muito doce da sua parte. Reparar essas coisas. E bem, não seria mesmo um grande caso eu chorando. Provavelmente foi na semana passada, quando aquelas mudinhas de mandrágoras quase morreram. Lembra?

–Sim. Foi na semana que saí com a Alice.- A loira baixou o olhar

–Então ele te contou a conversa.- Não foi uma pergunta- Era apenas para Lily ouvir.- Sussurrou

–O que ele disse é verdade?- Ela puxou a mão da dele bruscamente e o olhou com dor

–Por que vai me forçar a dizer algo que você já sabe?

–Eu não queria te fazer sofrer. Se eu soubesse eu...

–Você o que?- O olhou com dor- Teria feito o que?

–Não teria feito você ouvir sobre minha paixão por Alice.

–Mas isso foi bom.- Ele a olhou confuso- Foi bom porque me fez cair na real. Nós somos amigos. Antes de qualquer sentimento romântico surgir, eu quis ser sua amiga. Não seremos nada além disso por mais que essa paixão idiota me consuma no momento e por mais que atualmente me doa olhar para você.

–Doe.- Ele se aproximou estendendo a mão

–Por favor. Não faça isso agora.- Sorriu fracamente e o olhou com carinho

–Por que você...? Como conseguiu sentir algo por mim?

–Eu sempre senti, da mesma forma que sempre sentiu por mim. É a tal da cumplicidade sabe? Só que no meu caso, eu pensei que se... Se fosse pra me relacionar com alguém, seria alguém que me entendesse e alguém em que eu pudesse encontrar não só um amante, mas um amigo. Então eu olhei para o lado e...-Estalou os lábios- Meu coração viu você.- Ele mordeu o canto do lábio e levou a mão ao queixo. Estava completamente deslocado. Abriu a boca algumas vezes, mas desistiu de falar

–Doe...

–Aluado.- Ela deu um sorriso triste com o canto da boca. Mais um repuxar de lábios do que um sorriso em si.- Eu sei o que sente por Alice da mesma maneira que eu sei o que sente por mim. Você não vai perder a sua amiga, da mesma maneira que eu não vou perder meu amigo por não ter o romance. Ter consciência disso me fará seguir em frente.

–Eu... Sirius disse pra mim uma vez, pra reparar no jeito que você me tratava, mas eu pensei que fosse presunção minha, que uma garota como você não se interessaria romanticamente por mim. Eu nunca aventei a possibilidade e eu realmente não queria ter feito você ouvir sobre meus sentimentos em relação à Alice desde o terceiro ano. Isso foi... Cruel com você. Eu sinto muito. Eu jamais me perdoarei por ter causado sofrimento a alguém tão importante para mim.

–Já existe sofrimento bastante em sua vida para arcar com isso Remus. As amizades devem ser a parte boa da nossa jornada. Elas servem para adoçar o amargor da vida. De que adianta se consumir por isso?

–Eu... Eu queria poder sentir o mesmo, para não ter te magoado.

–Se você pudesse você o faria. Com certeza o faria, jamais me magoaria e eu confio em você.


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Notas finais do capítulo

N/A: OH! Mas, mas... Que dó que dó que dó! Por que os garotos são tão idiotas quando tem 15 anos? Meu Merlim! É, Dorcas sendo muito madura para a idade. Remus é um fofo, não consigo ter raiva dele. Gostou? Comente! Bjs até a próxima att.



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