Polo Norte, Fora da oficina, 2016.

A magia da diversão, funcionava como um impulso de alegria e diversão, mas se resume em trazer a verdadeira diversão. Uma pessoa como Elsa não poderia sorrir de verdade enquanto as cargas de culpa pesassem sua pequena vida. A única maneira de trazer alegria a esse coração quebrantado era chorar, soltar todas as amarras do remorso. Jack era muito imprudente para conhecer toda a natureza de sua magia, e quando a jogou na rainha ficou completamente perturbado, acreditando que sua magia pela primeira vez em séculos falhara. Elsa chorava e a nevasca se intensificava, o guardião teve a oportunidade de se aproximar ignorando a expulsa da menina.

— O Frio não me machuca.

Com essas palavras Elsa fez algo impensável para o menino. Ela jogou-se em seus braços, foi tão repentino que ele sequer conseguiu se equilibrar, caindo sentado. Poderia ser loucura do pequeno guardião, mas no abraço ele pode sentir o pulsar do coração ferido dela. A dor de Elsa latejava dentro do peito do garoto nevado. O sofrimento era demasiado para ser carregado por um único ombro. Os braços frios envolveram a dor. A menina afundava nesse emaranhado de aconchego em uma ânsia de consolo, libertando toda as magoas, decepção e sofrimento, que a muito sobrecarregava sua pequena existência.

Listou as coisas que mais detestou em sua vida de Rainha e de irmã. O menino não compreendia nem metade dos significados do que ela dizia, mas a escutava e acolhia a dor pulsante em seu coração.

— Eu a matei.

As palavras que rasgaram coração de ambos, por que o coração dela era o dele também. Jack morrera a muito tempo para se quer lembrar de como era o palpitar em seu peito, porém naquele instante sentia que dividia as magoadas batidas rítmicas. Se ele ainda possuísse lagrimas, já as teria derramado. Elsa estava com Emma em tempo de tempestade. Apavorada. Agindo por impulso Jack beijou-a no alto de sua testa, na divisão dos cabelos e pele.

A sensação no coração da garota foi como as dos navegadores que perdidos em uma tempestade funesta na noite sem lua, enxergam as luzes de um farol. As batidas tranquilizavam e tornavam-se doces.

—Eu fiz o que sabia fazer de melhor... amá-la...mesmo que de meu jeito falho.

Toda a tempestade havia se acalmado, Elsa era uma humana, Frágil. Uma simples ventania poderia a quebrar. Jack decidiu protegê-la com todo seu ser, ele apertou o abraço, nada nem ninguém a machucaria. O pulsar do coração da menina tornou-se uma sinfonia majestosa de afabilidade. Jack não queria terminar aquele abraço e também não sabia se deveria. Ele poderia ficar abraçado a ela eternamente, pelo contrário, ele queria mais. Se perguntava o que poderia vir depois de um abraço.

— Obrigada Jack. – Elsa sussurrou ainda com a cabeça afundada no moletom azul.

A palavras de gratidão podia ser um sinal do fim do abraço, mas Jack ignorou, não queria solta-la, queria estar mais tempo preso a isso. Esperou que Elsa fizesse algum sinal de repudio ou expulsa, mas ela nada fez. Somente permanecia enrolada nos aconchegos gelados dos braços do jovem. O frio nunca a incomodou, pelo contrário, Elsa sempre amou o frio. Os dedos de Jack deslizaram pelos nós da trança loira, o cabelo macio cheirava geada de inverno, quase imperceptível ao olfato humanos, mas sobressaia ao nariz de um ser do inverno.

— Ai... Minha bundinha. – Subitamente uma voz cômica, interrompeu a cena.

Em movimento brusco o casal se separou. A sensação de constrangimento apareceu entre os dois, como se estivessem fizessem algo de errado, foi possível ver um leve ruborescer no rosto da moça, mas o menino somente repuxava as cordinhas de seu moletom. Ambos olharam para a direção da voz.

— Ih, atrapalhei você? – Uma criaturinha formada de três bolas de neve, os encarava com um sorriso divertido no rosto.

— Quem é você? – Jack mostrou um semblante perplexo, assistindo criaturinha branca e roliça que falava.

— Oi eu sou Olaf e gosto de abraços quentinhos. – Essa frase fez Jack soltasse um riso entre os dentes.

— Olaf?!. – A loira correu para perto do boneco. – É você mesmo?

— Bem... – O boneco girou a cabeça em 360º observando todo o corpinho. – Por enquanto sim.

— Um boneco de neve... falante. – Jack aproximou também do boneco, apoiou-se no cajado e observava tentando processar tal informação. – É oficial você venceu.

— Venci o que? – O menino nevado, somente deu com os ombros completando com um sorriso.

— Quem é o magricela? – O boneco roliço puxou a barra do vestido da rainha, na tentativa de chamar a atenção dela.

—Olaf! – Elsa o reprendeu severamente por catalogar pessoas pelo porte físico. - O rapaz se chama Jack. Jack Frost.

— Mas me referia ao galho. – Tentou se explicar.

— Me acha magricela Elsa? – Com um sorriso mais profundo e as sobrancelhas arqueadas em um tom de deboche.

— Eu?! – Novamente as bochechas de Elsa começaram a corar. – N-Não eu, digo. – Pigarrou e tomou uma postura de rainha. – Não coloque palavras em minha boca.

— Espera... Jack Frost? – O roliço esbugalhou os olhos e deixou um enorme sorriso nascer na face gélida e sem nariz. - Elsa você encontrou seu amor verdadeiro?

— Como? – A dama da neve e o espirito do caos disseram em uma unissom. – Não somos namorados.

— Mas vocês estavam agarradinhos ...

— Entendeu tudo errado, Olaf. – Elsa pensou em uma maneira de explicar a situação, porém era tão constrangedor que preferiu não dizer nada além do necessário. – Ele não é meu namorado.

— Você finalmente conseguiu um namorado. – O boneco ignorou a última fala da rainha. – Nós temos que contar para Anna e Kristoff. – Os nomes que não deveriam ser proferidos vieram tona, Jack fitou Elsa instantaneamente, ela poderia estar caindo novamente no desespero, mas para tranquilidade do menino, ela permanecia calma e cheia de ternura como quem supera uma grande perda.

— Olaf. Já se passaram centenas de anos. – Compreensiva Elsa tentava explicar ao boneco a nova realidade

— Eu sei, estava com você todo esse tempo.

“Comigo o tempo todo?” Elsa pensou e em seguida fitou seu pulso. Boquiaberta compreendera então que a pulseira azul que usava era o próprio Olaf, pois ela havia desaparecido.

— Então.... Minha irmã está viva? – Elsa foi acessa com a chama da esperança que, diferentemente do desespero, a impulsionou.

— É claro que está. – Olaf completou como se isso fosse algo óbvio.

— Então nós precisamos ir atrás deles. Jack eles vivem. – Elsa finalmente libertou o sorriso inundando de alegria e esperança. Exatamente o sorriso que Jack queria ver, se o menino fosse feito de gelo teria derretido com a intensidade do riso ardente.

— Nós iremos atrás deles.

Lado escuro da lua.

O amor pode nascer de várias circunstâncias, com um olhar, um sorriso, uma palavra, anos de convivência. E pode vir de várias formas, como um pai, uma mãe, um irmão, um namorado. Mas assim como o amor pode nascer ele também pode morrer, não de morte natural, mas um amor de verdade só pode morrer se for assassinado. As sombras desse assassinato ficam eternamente impregnados nas almas dos amantes e um coração partido pode ser mais frio que o lugar mais escuro da periferia do universo.

Em um local onde o breu era onipresente e o sofrimento tecia sua inaptidão de sentimentos de afeição, permanecia aprisionada o demônio responsável pelo genocídio das crianças e mulheres na dinastia Shang da china, criadora da peste negra e mãe das atrocidades mais funestas que ocorriam na terra. Lámia. Jamais deveria ter contato com o mundo terreno, por isso permaneceria eternamente presa a toneladas de correntes lunares. Porém sua sagacidade viboresca faziam davam–lhe as chaves para burlar as regras e fazer sua vontade pervertida. Com uma parte do espelho de Lúcifer, que repousava sobre a superfície lunar ela conseguia ver o reflexo de qualquer lugar na terra. Tudo dependia do posicionamento do espelho, se movesse três centímetros podia ver as pessoas que caminhavam freneticamente nas ruas da china e se movesse quatro centímetros abaixo as tinturarias marroquinas. Dessa vez a encarnação do mal fitava uma cena repugnante para seu estômago, um jovem casal, no nascer de um sentimento poderoso.

— Que lindo casalzinho. Seria uma pena se algo acontecesse. – Gargalhadas ruidosas ecoaram pela densa escuridão. – Para instalar o caos, basta um toque.

Polo norte, Fábrica de brinquedos

— North! – Jack adentrou a sala, antes da moça. – Precisamos levar Elsa para Arendelle novamente ela...

O menino poderia continuar sua elocução alegre, mas não era tão ignorante para não perceber o pesado clima, nenhum dos Yetis trabalhavam, e até os abobalhados Elfos, pareciam preocupados.

— Pitch está atacando. – North quebrou o silencio enquanto olhava seu globo gigante com luzes piscando loucamente em um determinado ponto.

— Boogieman. – A feição do jovem guardião mudou por completo.

— Menina. – O grandalhão falava com a rainha que acabada de entrar na sala. – Por favor empreste seus poderes.