Diego

Eu estava no meu quarto, sentado no chão de costas para a porta e com a cabeça sobre os joelhos. Não sei por quanto tempo fiquei assim. Meus pensamentos estavam confusos. Como eu diria a ela que iria embora? Que a estava deixando? Como suportaria faze-la chorar mais uma vez? Como a diria que nossos planos para as férias não seriam cumpridos.

Planos...

Levantei-me e olhei as horas. 10h. Estava atrasado. Eu não tinha escolha. Não encontrei uma solução. “Não é culpa sua. Você não pode fazer nada.” – é o que ela dirá.

Me sinto impotente. Meus olhos queimam e as lágrimas caem. Ouço batidas na porta.

– Diego? Brother? Me deixa entrar?

Eu não respondo. Troco de roupa, penteio o cabelo, pego o embrulho em cima da cômoda e saio de casa. O sol já estava quente.

– Diego! – minha mãe chama – Você não tomou seu café da manhã.

Não respondo. Me apresso a chegar ao ponto de ônibus. Gostaria de adiar o que está para acontecer, mas sei ser impossível. E mesmo que de alguma forma eu consiga adiar, é inevitável. O ônibus chega. Procuro pelas palavras certas durante o caminho, mas qualquer forma que eu encontre de dizer não muda a realidade.

“...nem o imprevisível vai nos separar...” – como fui tolo em dizer essas palavras...

Cheguei a casa dela e parei observando o lugar. Ali estava o local onde eu passava todos os dias para vê-la; onde a beijei pela primeira vez; onde brigamos, nos declaramos e fizemos promessas. Pouco tempo, muitas lembranças. Detalhes que eu nunca esqueceria.

– Diego? – ela abriu a porta – Você demorou. Por que está parado aí?

– Er,,, eu... estava só relembrando – meus olhos queimaram novamente. Ela caminhou até mim, me observando.

– Aconteceu alguma coisa? – fiz que sim.

***

Karol

Eu estava preocupada. Ele havia demorado a chegar e quando apareceu estava estranho. Seu rosto estava cansado. Tive medo, mas tentei ficar calma. O abracei não sei por quanto tempo. Ele tremia.

– Me diz o que aconteceu? – pedi quando nos afastamos.

– Primeiro, eu quero que fique com isso.

Ele me entregou um embrulho azul. Tinha um formato de um cubo e era pequeno. Quando ia abrir ele me parou segurando minha mão.

– Abra mais tarde.

– Tá bom. Mas o que aconteceu?

– Meu pai veio para casa hoje. Ele disse – ele se interrompeu e olhou para o chão. Demorou alguns segundos para voltar a falar – Ele... recebeu uma promoção – senti meu coração apertar – Eles vão abrir uma filial no Canadá e ele vai ser o administrador.

– Ca... na... dá... – fiquei em choque – Você... vai pro Canadá?

– Eu... não queria. Eu disse que não ia. Discuti com meu pai hoje. Mas ele não vai me deixar ficar.

– Ele não pode. Você é menor de idade – falei automaticamente, olhando para o nada. Não conseguia pensar. Estava sem reação. Ele caiu ajoelhado com as mãos no rosto, chorando.

– Me perdoa – ele falava com a voz embargada – Me perdoa... por favor... Eu queria poder ficar, queria poder fazer algo, queria poder cumprir nossos planos, cumprir minha promessa de ficar ao seu lado – me ajoelhei, coloquei o embrulho ao meu lado no chão e segurei suas mãos. Ele me olhou – Me perdoa...

Eu estava o perdendo. Perdendo meu amor... mais uma vez sendo bruscamente tirado de mim... Eu queria continuar segurando suas mãos para que ele não fosse embora, mas sabia que não podia.

– Você não tem culpa, Diego.

– Me sinto tão... impotente. Não posso ir contra a realidade.

– E é por isso que você não tem culpa. Você não pode fazer nada.

Ele pareceu se acalmar. Ficamos algum tempo em silencio até que ele o quebrou.

– Nos podemos continuar namorando – ele secou o rosto – Temos a internet do nosso lado.

– Por quanto tempo, Diego? – ele não respondeu. Me levantei pegando o embrulho e ele se levantou também – Da última vez você sumiu por 10 anos. Você não sabe quanto tempo ficará por lá. Talvez você nunca volte. Mesmo que dê certo no começo, depois de um tempo não fará mais sentido. A distância se tornará cada vez maior...

– Mas...

– A vida não é um conto de fadas... A vida acontece e nada pode mudar esse fato – eu estava na defensiva, agindo racionalmente para não sofrer – É melhor terminarmos agora ou vamos sofrer mais no futuro.

– Eu não queria que fosse assim...

– Eu também não...

– Um último beijo? – fiz que sim e ele me beijou. Nos separamos e ele me olhou, seus olhos verdes, sinceros e firmes, e disse – Eu vou voltar por você.

Ele me deu um beijo na testa, se virou e foi embora.

Fiquei um tempo parada, em choque. A ficha não tinha caído ainda. Pensava que a qualquer momento eu acordaria daquele pesadelo. Até que minha mãe me abraçou e eu percebi que aquilo era real. Corri para o meu quarto e me joguei na cama. Fiquei lá, olhando para o teto. Não conseguia pensar... ou chorar...

Me virei de lado e vi o embrulho. Me sentei na cama e o observei. Cabia perfeitamente em minhas mãos. Abri. Havia uma caixa de veludo cor de vinho e um cartão. Abri a caixa e dentro havia um colar dourado. O cordão era fino, delicado e o pingente, pequeno, tinha formato de um caderno. Peguei o cartão e comecei a ler.

“Não sou muito bom com as palavras como você, mas queria dizer que você é a melhor coisa que aconteceu na minha vida.

Eu queria te dar algo que representasse nós dois. Esse caderno é a sua vida de escritora e minha vida de desenhista. Esse caderno é a prova de que temos algo em comum.

O que vou te pedir pode parecer um pouco egoísta, mas quero que se lembre de mim sempre quando o usar, okay?

Te amo

Diego”

Palavras simples, porém sinceras. Finalmente chorei. Não sei por quanto tempo. Só sei que provavelmente me custou um litro de lágrimas.