Espaço, Tempo e Eu. escrita por Queen Vee


Capítulo 1
Espaço, Tempo e Eu. — Unique.


Notas iniciais do capítulo

SIM, EU MOSTREI A CARA EM UMA NOVA ONE-SHOT! ...Isso aqui era pra ser um especial do dia 12, Dia dos Namorados, mas provavelmente vou postar outras coisas. É um tipo de prosa boba, com sentidos múltiplos. Talvez vocês entendam, talvez eu não tenha passado a mensagem direito...
Mas espero que gostem e no final consigam compreender.
Beijocas e até as notas finais!



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Cronológico. Horas, minutos, segundos, milésimos. Relógios, cucos… Tique-Taque, baques e um pêndulo. Leste. Oeste. Tic. Tac. Psicológico. Naquele dia, naquela noite, ontem, antes, depois, era uma vez o agora. É uma vez, será uma vez.

Tempo.

Afinal, o que eu deveria entender com “tempo”? Se for dito assim, avulso e fora de contexto? Devo parar e sentar, encarando o relógio até que esse tal de tempo resolva ligar para dar satisfações? Ou será que ele mesmo bate na porta sem precisar passar endereço ou enviar convite? Sinceramente, onde mora ele?!

...O que significa “dar um tempo”? É uma pergunta que me causou bolsas profundas debaixo dos olhos — nenhuma delas Channel. Só arroxeadas mesmo, me deixando com uma expressão cansada o dia inteiro.

Nunca tive um relacionamento antes. Será que era bom fazer pesquisa de campo com prancheta na mão e tudo? “Dar um tempo”. O tempo é assim tão pequeno ou é grande? Dá pra empacotar e enfeitar com laços?

Se seu namorado te diz que precisa de “espaço”, provavelmente quer dizer que ele vai pedir pra “dar um tempo”. Confuso, não? Também achei, logo de cara. Precisei caçar no Dr. Google, pelos confins da Deep Web, qual era a relação de uma coisa com a outra.

Sem resposta. Fatigado, minha única opção acabou sendo deitar e orar.

Para Deus Ex-Machina, é claro. Imperador do espaço-tempo, poderoso dos relógios e tapetes com os dizeres “seja bem-vindo”, devia ser o único ser a decifrar um enigma tão bem elaborado. Um desafio jogado semanas atrás para mim, um réles mortal.

Com seus ônix vazios, mas ardentes, Machina me encarou. Os dedos mecânicos se movimentavam e tocaram o queixo ossudo, buscando a resposta em sua mente — o sistema vital de todas as coisas criadas.

Infelizmente, um parvo como eu não estaria apto para ouvir tal resposta. Antes mesmo que o deus encontrasse, finalmente, as palavras que me salvariam do firmamento, meu cérebro teve um estalo. Perdido e ainda com aquela questão nas mãos, acordei no meio da madrugada.

E ali estavam. Espaço, Tempo e eu, sentados próximos ao telefone aguardando a tal resposta que parecia não vir de canto algum. No momento, estavam bem quietinhos… Isso porque havia insistido para não ouvir uma sílaba sequer. A esperança estava ali, viva e pulsante em meu peito e louca para encontrar a resposta.

— Olha, talvez você devesse procurar em outro lugar… — Cochichou meu lado racional, o Tempo. Nem escutei! O pior presente que já tinha recebido na vida. Que tipo de namorado boboca dá de presente um Tempo em uma data próxima ao dia dos namorados?!

O meu.

Franzi o cenho, apoiei as mãos no braço do sofá e me inclinei pra frente, ainda com o olhar fixado no aparelho. Aguardando. Aguardando. Uma hora ele iria tocar! ...Era uma questão de “tempo”, literalmente falando.

Espaço bufou, cutucando meu braço impacientemente. É verdade, outro penetra na minha casa. Nunca o aceitei, nunca o entendi de verdade. Aquele, ao invés de ser um presente como Tempo, fora um pedido. Um bem estranho.

“Preciso de Espaço”. Claro que morri de ciúmes quando o escutei. Espaço?! Por que raios ele o queria, se eu era, até então, a pessoa mais importante de sua vida?! ...Porém, acabei tendo que recebê-lo, por mais incômodo que fosse — o tempo inteiro, praticamente.

— Você é chato! Vamos fazer alguma coisa divertida de uma vez! Não vou embora tão cedo mesmo… Devia me aproveitar um pouco pra fazer alguma coisa que sente falta de fazer. É um conselho de especialista!

E sabe do que mais? Mesmo com aquelas reclamações e resmungos, não ouvi. Teimosia? Estava sentada no balcão da cozinha, reclusa e silenciosa. Por que falaria alguma coisa? Não. Sua companhia era apenas o Orgulho, parado ao seu lado.

O telefone? Ainda mais mudo que os dois. Comecei a me desanimar, mas Ansiedade surgiu e pulou em meu pescoço, agitada como sempre. Me segurou, puxou do sofá e ficamos andando impacientemente pela sala, em círculos.

— Caramba, Tempo! Que tipo de presente é você, afinal?! — Bati o pé feito criança, já irritado com aquele circo montado. — Você disse “dê tempo a mim”, e já dei aos montes! Quando ele vai cansar do Espaço dele?

...Orgulho riu consigo mesmo, revirando os olhos e digitando alguma coisa no meu celular. Talvez estivesse jogando um daqueles joguinhos que meu namorado adorava; todos os recordes eram seus.

Ansiedade nem esperou. Foi me levando de um lado para o outro outra vez, quase me fazendo tropeçar e passar por cima do Tempo. Por pouco não nos machucamos eu e ele!

No fim, tombei em uma das poltronas e me ajeitei. Por acaso, bem no colo da Zona de Conforto, que afagou minhas mechas em uma serenidade quieta. Relaxei no mesmo instante, agarrando-me a ela como se fosse meu querido amante, que não parecia dar sinal de vida.

— Calma, meu bem. Ele vai aparecer uma hora ou outra, é só esperar mais. — Zona me aninhou, beijando minha testa como minha própria mãe faria. Cerrei as pálpebras… Deixei-me entregar aos teus carinhos, tornando a visitar Ex-Machina em minhas memórias.

Silêncio. Um silêncio oco.

E ao mesmo tempo, a sala do meu apartamento ia se enchendo de pessoas, fugindo completamente do meu controle. Nervosismo derrubou meu vaso caro, Ansiedade bateu a mão no meu porta-retrato, e Sociabilidade não mandou nem mesmo SMS pra dizer que ia faltar.

Então, o colo de Zona não me era mais tão confortável. Ciúme me sacudiu pelos ombros, berrando pra todo mundo ouvir que naquele momento meu namorado podia estar com aquela vizinha que adora jogar videogame ou até mesmo a piranha da colega de classe dele.

Pulei para o chão, sentindo a Raiva entrosar os dedos aos meus. Berrei para o teto que ninguém podia tirar o que era meu e saí pisando duro — até que a sola do meu pé esquerdo encontrou cacos de um certo vaso quebrado.

Os gritos de fúria se tornaram de pura dor, e Tempo suspirou. Como se ele não soubesse que acabaria acontecendo, não é? Espaço me levou para o sofá, deitando-me ali… E Tempo foi criar seu curativo, recebendo ajuda de Cuidado para retirar os pedaços do vaso dali.

Zona de Conforto se aproximou, chamando-me mais uma vez. Choramingando, não aceitei e esperei Tempo e Cuidado fazerem seu trabalho. Ali, com lágrimas nos olhos e manco, tirei Auto-Estima do caminho e puxei Tristeza e Dor para deitarem comigo.

Abracei-os. Ficamos ali, chorando juntos enquanto os outros assistiam. Orgulho ainda tentou os parar, mas não deu certo. Caiu ao nosso lado — sofreu junto. Ansiedade se aquietou. Tempo se afastou, deixando as coisas se acalmarem. Zona, de tão desconfortável com a falta de conforto, foi embora.

Não sentia mais aquela fagulha que antes chamuscava em Esperança. Me perguntava onde havia ido parar o Amor Próprio… Dor só aparecera porque ele havia faltado? Não sabia muito bem. Fechei os olhos e esperei o Tempo fazer o que tinha que ser feito.

Dessa vez eu dei tempo ao Tempo.

Mal sabia que, entre um som de choro e outro, meus companheiros iam embora sem se despedir. Espaço, pobrezinho, foi diminuindo até voltar a ser moleque. Teimosia já sabia que não tinha vez, então fez de tudo pra levar Orgulho embora.

Ouvimos a campainha. De pé enfaixado e lágrimas nos olhos, acabei tendo que levantar para abrir. Vai ver era Auto-Estima querendo voltar, pedindo uma chance? ...Só que não.

Do outro lado da porta, estava meu namorado. Foi ele surgir que Ansiedade me agarrou pela perna, Espaço fugiu pra debaixo da mesa e Nervosismo me apertou forte. Quase sem conseguir respirar direito, ainda segurei a mão de Orgulho pra que ficasse.

Sorri forçado.

—...Pensei que tivesse dito que queria “dar um tempo”. Que queria seu espaço ou coisa do tipo. O que veio fazer aqui? — Oh, Teimosia chata! Puxou Orgulho, a teimosa veio junto. A sorte? Charme estava do lado dele e Coração sussurrava no meu ouvido sem parar.

Ele sorriu de verdade.

— É Dia dos Namorados. Não consegui manter o espaço em um dia como esses. Sinto sua falta, meu bem. — Estremeci. Coração disparou palavras, quase me deixando louco de tanto berrar que estava ali.

Como se eu não estivesse sentindo, droga! Brinquei com meus próprios dedos, e Tempo parecia trabalhar a meu favor, finalmente. Espaço? Onde ele havia parado, afinal? E o do meu amante, para onde tinha ido?!

Ansiedade me apertou um tiquinho mais, fazendo Nervosismo quase dançar.

— Até parece que sente de verdade. — Manha passou no corredor com a irmã, Birra. Fingiram que não me viram, mas sorriram assim que desceram as escadas.

— Claro que sint- ...O que foi isso no seu pé? — Preocupação surgiu pelas costas dele, e rapidamente se abaixaram para inspecionar as bandagens. Ainda com a imagem de Manha na cabeça, fiz beicinho com cara de quem sente a Dor.

Choraminguei outra vez.

Então, ele entrou sem ser convidado, deixando muitos outros esperando do lado de fora. Briguinhas e Discussões ficaram no andar de baixo, arquitetando alguma coisa pro futuro. Mas, como conselho do próprio Tempo, eu preferi não adiantar nada.

Deixei Meu Bem entrar, Carinho me cuidar, Coração se encher de mordomias…

E, sem nem notar, recebi mais uma visita do Amor, que veio com Meu Bem me tratar como sua jóia mais preciosa no mundo... Porque é uma vez. Sempre é uma vez quando se trata do meu bom e velho Tempo. Um grande conselheiro!

...Sabe que até hoje me pergunto o que seria “dar um tempo”? Vou tentar crer que o de ninguém vem embrulhado com fitinhas, ou vou acabar convidando a Birra pra passar uns dias comigo e Meu Bem.


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Notas finais do capítulo

Agora somos vocês, comentários e eu. ;u; Diga o que achou, o que entendeu disso... Se achou interessante ou coisa assim. Não sei bem de onde a ideia surgiu, mas me empolguei para escrever algo pro Valentine's day e aqui estamos.
Espero que tenha agradado ao menos um pouco. Acho que na minha loucura e nas minhas piadas internas, eu gostei.
Aguardo opiniões!



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