Sobre o Amor dos Humanos escrita por EG


Capítulo 4
Noite Turbulenta


Notas iniciais do capítulo

Ittekimasu: maneira dos japoneses dizerem "estou indo". Muitas vezes usado para quando se sai de casa.
Gigai: "corpo emprestado", é como um corpo "avulso" do shinigami. Usa-se quando este tem de, por algum motivo, descer à Terra e ser visto pelos humanos.
Fukutaichou: sub-capitã ou sub-capitão.
Ojamashimasu: expressão usada quando se entra em casas de estranhos, algo como "desculpe a intromissão".



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         Na madrugada escura, acordei ainda na cama de Ichigo. Karin, deitada ao meu lado, dormia profundamente. Levantei-me silenciosamente e a cobri com o cobertor.

            Fitei-a por mais alguns minutos, então me esgueirei pela janela, fugindo do quarto.

            - Ittekimasu... - murmurei. Se estivesse acordada, ouviria, mas, graças a Deus, dormia.

            Era complicado pular telhados com o Gigai, além do mais, algum humano poderia me ver. Mas àquela altura eu tinha de ir o mais rápido possível, não queria mais ficar perto da casa de Ichigo - deixá-la sozinha, no quarto do irmão, dormindo e solitária também não era a melhor das ideias, mas foi preciso. Porque eu não gostava do que estava sentido.

            E estava sentindo a mesma coisa cada vez que me aproximava dela, o mesmo sentimento inquieto. E eu não gostava desse sentimento; era completamente novo e irreconhecível para mim. Cheguei à casa de Inoue, onde estava Matsumoto.

            Me esgueirei pela janela do quarto da garota, onde estava instalado o enorme monitor para podermos nos comunicar com a Soul Society - de preferência, com o Comandante Geral Yamamoto.

            Claro que eu não encontrei nada limpo.

            Desde que Orihime e Rukia haviam ido para a Soul Society, Matsumoto relaxou muito na limpeza da casa. “A casa não é minha, a limpeza não é comigo”, ou algo assim. Realmente me irritava - Inoue nos dera moradia de graça, comida de graça, banho, camas, o quarto para colocar o monitor - não que ela estivesse completamente ciente disso - e ainda deixou o local aos nossos cuidados sem nenhuma restrição. Algum tipo de retribuição seria bem vindo, já que ela fez tudo isso por nós.

            Mas não, Matsumoto fizera questão de deitar no chão vazio, tomar garrafas e garrafas de sake e sujar o quarto todo da menina com embalagens de comidas dos humanos - e eles vendem doces de madrugada! É um absurdo!

            - MATSUMOTO RANGIKU! - gritei da janela. Ela saltou com o berro.

            Tapei a boca, temendo ter acordado a vizinhança.

            - Que pensa que está fazendo? - comecei - Já te disse antes: a garota nos deu onde morar, nos deu comida, água, banho, roupa lavada e o que você faz? Que tal tentar mostrar um pouco de gratidão, Rangiku?!

            - E você...? - estava bêbada, claro - Que faz sem camisa e as calças ensanguentadas? Estuprou alguma menina e a matou depois?

            Não era obrigado a responder para uma bêbada sem ideais.

            - Pegue agora um saco de lixo... Não, 4 sacos, e limpe tudo isso, separando por material. Não quero ouvir reclamações, é uma ordem como seu superior.

            - Sou fukutaichou!

            - Sou seu taichou!

            Ela se calou, emburrecida. Desceu as escadas gritando para que elas parassem de se chacoalhar.

            Ótimo, estou no comando novamente.

            - Pelo menos nisso...

            - Que foi? - perguntou Matsumoto, já com os sacos de lixo nas mãos.

            Ah, nada, pensei alto demais.

            Fitei-a, ela ainda esperava uma resposta. Por Deus, eu estava tonto a ponto de não conseguir o consentimento entre pensamento e fala.

            - Desculpe, estou meio tonto... Alguma mensagem do Comandante Geral Yamamoto?

            Ela balançou a cabeça negativamente.

            - Ótimo, já vou ind--

            - Toushirou... - disse - Sabe que pode contar comigo sempre que precisar, não sabe?

            Inesperado até demais. Fitei-a - não estava bêbada, estava completamente sóbria e ciente. Desviei o olhar para o chão, então para a janela. Assenti com a cabeça e voei para o telhado ao lado, depois para o outro, e para o outro ainda.

            Em suma: fugi da obrigação de contar a verdade.

            Não queria contar a ninguém que estava apaixonado... Por uma humana.

            Eu já sabia disso, já sabia que algo de anormal estava acontecendo comigo, só não havia admitido isso para mim mesmo - eu não tinnha motivos para admitir. Até hoje. Porque, se eu pensar na maneira como Karin age perto de mim, decerto sente o mesmo... Não admitir que a amo para mim mesmo seria doloroso para ela, mais do que já é doloroso saber que o irmão pode estar morto ou até mesmo morrendo neste exato momento. Não estou me vangloriando por ter uma humana aos meus pés, pelo contrário, estou extremamente mal por isso.

            Porque, se pensar bem, o que aconteceu hoje de manhã foi um ato de pedofilia.

            Chacoalhei a cabeça, banindo os pensamentos desnecessários.

            Parei num telhado desconhecido, já cansado de tanto rodar a cidade. Curioso, espichei os olhos para dentro da janela, vendo se conhecia.

            Uma garota lia algum livro sentada na cama. Era uma amiga de Inuoe... Uma tal de Tatsuki, ou Tatsuka, não lembro bem. Decidi descer e pedir uma noite de moradia, se recusasse, iria até Urahara. Mas penso que não seria preciso.

            Por que não ficar na casa de Inoue, com Matsumoto?

            Porque ela me conhece bem e vai me pressionar até eu soltar algo comprometedor. Não a quero como culpido de aluguel - até porque, se algo desse certo, ela pediria algo em preço dobrado e iria jogar na minha cara pra vida toda que me ajudou. Eu não quero nada assim. Desci até a porta. Antes de bater, olhei o relógio - 22:17... Será que me deixaria entrar? Não... Provavelmente não. Um garoto com o cabelo cinza e espichado para cima, que você nunca viu na vida, olhos verdes, mal-encarado, sem camisa e com as mãos e bolsos ensanguentados bate na sua porta pedindo moradia por uma noite. Conclusão: um psicopata, um serial killer, a ressurreição de Jack The Ripper, o assassino da luz vermelha ou o matador da meia-noite... Esqueça a última opção, é meio cedo para isso, se é que me entende.

            Abaixei a mão e, com ela, a cabeça. Os ombros caídos. Eu ficaria sem lugar para dormir. Mas não tema, Hitsugaya Toushirou-sama, algum gato de rua estará disposto para fazá disposto para fazer-lhe companhia esta noite... Como se eu quisesse um gato - e ainda por cima um macho -.

            Subi novamente no telhado e fitei à minha volta - nada. O jeito era ir para a loja de Urahara, mesmo com o escambau de hora em hora que Ririn, Abarai, Nova e Cloud fazem juntos e a obrigação de limpar a loja inteira com o Abarai reclamando na minha orelha, eu prefiro isso do que dormir com um gato de rua ou ser interrogado por uma ruiva peituda que se gaba constantemende da medida do busto.

            Ururu e Jinta deviam estar dormindo, então me apressei e usei o shunpo, mesmo estando no mundo dos humanos. Afinal, não havia nenhum humano nas ruas, só alguns cães e gatos em becos. Suspiro.

            Cheguei rápido à loja, desci do “céu” e bati à porta.

            - Já va~i, já va~i! - claro que era Urahara e sua voz hilária.

            Abriu a porta,o leque enfiado na frente do rosto, fitou-me por baixo do chapéu - olhando para baixo, claro. Vou começar a tomar fermento e ver se consigo falar de igual para igual com pessoas de mais de 1,40 -.

            - Posso ajudar, Hitsugaya-kun? - perguntou, parecia ainda bem acordado.

            - Na verdade... - cocei a nuca, dando voltas. Quase corri em círculos. Ser direto era a melhor maneira... Então eu fui bem direto: - Eu posso dormir aqui esta noite?

            Ele riu um pouco.

            - Cla~ro que pode, Hitsugaya-kun! - sorriu - Se quiser, pode ficar aqui até voltar para a Soul Society!

            - Eu recuso, agradeço - sabia o que me esperava: a mesma vida de morador de favor Abarai, e isso me era um extremo estorvo - Obrigado por deixar.

            - Mas, antes... - começou - Que estado é esse, Hitsugaya-kun?

            Claro que ele estava falando do sangue nas calças; claro que ele estava falando da falta de roupas de cima, mas fingi não entender.

            - Como?

            - Hmmm... - ele me fitou de cima a baixo, os olhos calculistas - Não, nada, pode entrar. E, por favor, tome um banho antes de se deitar.

            - Claro, é mais ou menos disso que eu preciso.

            - Tenho algumas roupas de Jinta-kun, acho que vão servir em você.

            - E eu acho que não.

            Ele riu novamente e me deu passagem, fechando a porta atrás de mim.

            - Ojamashima~su - falei, enquanto olhava em volta e deixava os sapatos na entrada. Era um loja bem organizada, até, mas não parecia ter muito movimento.

            - É uma loja dedicada apenas aos Shinigamis?

            - É, bem... Tipo isso. Pode ficar à vontade, o banheiro fica logo ali - apontou.

            - Agradeço.

            E sumiu.

            Ótimo, sozinho novamente.

            Fui até o lugar apontado e tomei um banho rápido. As roupas de Jinta estavam dobradas em cima de um balcão no banheiro. Serviram, bem conveniente.

            Segui o barulho dos roncos de Abarai e encontrei-o num cômodo, deitado num futon bagunçado. Ao seu lado, outro futon vazio.

            Deitei-me. E dormi.

 

 

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Notas finais do capítulo

WHOAAA, esse capítulo demorou MUITO, heim? O:

Quem gostou? /õ/' Ninguém, eu sei, qqqqq
Mas ok, espero reviews, apesar de saber que esqueceram da minha fic. KKK '
Beijos, amados leitores. ♥