E se fosse na livraria. escrita por Lucy


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Aproveitando que estou de pré-férias (quase lá) queria dar uma aquecida diferente, antes de (finalmente, né?) acabar a fanfic Instinto Secreto, de Vampire Academy (que estou devendo a vocês). "E se fosse na livraria" é um conto que escrevi, praticamente todo em um caderno, e que resolvi compartilhar com vocês! Espero que curtam, e se curtirem comentem o que acharam, ok?
Boa Leitura
e até já já com o finalzinho de Instinto Secreto!



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Meu grande sonho era encontrar minha alma gêmea em uma livraria. Sei lá, encontrar aquele cara maravilhoso, alto, moreno, de óculos e que ainda gostava de ler. Sempre fiquei fantasiando isso: enquanto eu andava pela livraria viria um carinha e esbarraria em mim. Nossos olhares se cruzariam, ele pediria desculpas, mas ainda assim, continuaria olhando para mim daquele jeitinho que só personagens de livros fazem com sua amada.

Mas isso só poderia ser fantasia minha, porque fazia praticamente dois meses que eu não pisava em uma livraria, quem dirá achar um namorado na própria. Minha vida se resumia em: Terceiro ano do ensino médio + Estágio + Noite de estudos de matar. Estava sufocante, e ainda era março. Eu tinha uma pilha de livros ainda não lidos e minha mãe vetava meu próprio salário, dizendo que eu tinha que investir meu dinheiro em mim e não em livros. Mas comprar livros era um BOM investimento. Mas para ela não tinha vez; até aí tudo bem. Mentira, não estava nada bem. Eu não tinha tempo nem para respirar.

Enquanto eu fantasiava com meu homem fictício, o ônibus lotado sacolejava por conta dos buracos nas ruas. O caminho para casa sempre ficava mais longo na sexta-feira, só porque o desespero de chegar nela era maior. Eu não via a hora de tomar banho, comer algo bem gorduroso e me enfiar em minha cama com a nova série da Paula Pimenta que eu precisava acabar hoje.

Depois de me espremer horrores para sair do ônibus, arrastei-me da parada para minha casa.

-Boa noite pessoal – Disse passando direto pelos meus pais que estavam na sala.

-Ei Laura, espera! – Disse mamãe fazendo-me parar no meio do corredor e voltar para a sala.

-Oi mãe. – Disse com cara de tédio – Tô cansada, com fome, e preciso acabar de ler o livro. Ainda tenho que ter tempo para estudar hoje.

-Só ia perguntar se você queria comer alguma coisa.

-Sim, algo bem gorduroso. – Voltei pelo corredor até chegar ao meu quarto. Desfiz da mochila, das roupas e fui para o banho. Comi rapidamente o que minha mãe tinha preparado para mim, e me enfiei na cama, com o livro e o notbook. Quando entrei no facebook milhares de notificações estavam esperando para serem lidas. Ignorei todas e fui ver as mensagens. O pessoal do colégio chamando para ir ao cinema. Bem que não seria ruim, espairecer um pouco. Respondi que iria e disse o horário. Finalmente eu pisaria no shopping! Iria à livraria! Um livro novo! Perfeito! Desliguei o computador e mergulhei na leitura. Que não durou muito, pois eu estava morta de cansada e meus olhos logo começaram a ficar pesados. Tirei os óculos e o coloquei de lado junto com tudo que estava na cama. Espreguicei-me e caí na profunda inconsciência.

Acordei com o alerta de mensagem do celular, que sempre ficava do meu lado no sono. Eram exatamente 8:32 da manhã. Péssima hora para me acordar. Olhei a mensagem e era Dani dizendo que o cinema de hoje estava desmarcado. Bom, triste para eles que iriam perder o filme, porque com ou sem galera eu iria para o shopping. Dei uma resposta rápida e joguei o celular, virando-me na cama; permitindo-me mais meia horinha de sono.

A porta do meu quarto se abre.

-Bora levantar Laura! – Era minha mãe, que tinha esse lindo hábito de acordar as pessoas assim (apesar de eu já estar acordada), nada de “bom dia flor do dia”, ou “anjinho da mamãe, vamos levantar? O dia raiou”. Nada disso. Pra ela era: “Bora levantar e toma a lista de atividades do dia”. Meu sábado não era de descanso e sim de escravidão. – Vá levantando logo! Dar banho na Nymeria – Sim, o nome da minha cadela era Nymeria igual ao nome da loba da Arya de As crônicas de Gelo e Fogo – Arrumar esse quarto que tá um chiqueiro.

-Tá mãe – Virei-me cobrindo-me até a cabeça com o lençol. Mas ela puxou.

-É para levantar agora Laura!

-Tá bom! – Falei sentando na cama. Ela estava pegando as roupas para lavar. – Ah, vou ao shopping hoje, tá?

-Ótimo! Tenho umas contas ali e darei para você pagar quando for.

Sai cambaleando de sono para o banheiro e depois fui atacar algo na cozinha. Mandei um beijo para Nymeria que me olhava toda desconfiada do quintal, como se soubesse o banho que a esperava. Terminei de comer e fui me trocar para começar o duro dia de trabalho.

Já era uma da tarde quando acabei o serviço. Tomei um banho e me arrumei para ir ao shopping. Ainda no quarto, peguei a latinha do dinheiro e limpei o que tinha lá, cerca de oitenta reais. Peguei também o cartão de crédito e arrumei tudo na carteira.

-MÃE! – Gritei saindo do quarto. Ela gritou um “QUE É?” e fui até o som de sua voz, que vinha do quarto. – Estou saindo, ok? Cadê as contas?

-Pegue aí minha bolsa. – Depois de pegar as contas, que eram várias (nunca vi gente pra acumular tanta conta!), fui para a parada de ônibus, já que nem meu pai, nem meu irmão estavam em casa para me dar uma carona. Peguei o ônibus que fazia o percurso mais curto ao shopping e em menos de dez minutos eu estava lá. Fui primeiro pagar as contas da minha mãe, para me ver livre para ir onde eu quiser sem ter “compromisso”.

Depois de sair da última loja onde tinha conta pra pagar, fui encarar a fila do cinema, que para minha surpresa não estava tão grande como tinha imaginado. Comprei o ingresso para assistir o segundo filme da série Os instrumentos mortais, Cidade das cinzas (que finalmente tinha saído! Agora eu esperava ansiosamente pelo segundo de Vampire Academy), e tomei rumo para a livraria.

Quando pus os pés na Saraiva e vi aquela mesa cheia dos lançamentos que eu mais desejava, fui em cima dela e peguei os três que estavam no topo da lista, o primeiro livro da nova série da Richelle Mead, minha musa, e outros dois que eram continuação de séries. Com as quase aquisições na mão fui à área dos livros em inglês, já que o meu estava enferrujado e eu precisava treinar. Por sorte estavam em promoção e peguei um do John Green. Bom, quatro livros, sendo um em inglês... Boas compras. Mas ainda assim eu precisava de um DVD, de preferência um desenho animado. Eu sou fã, simplesmente apaixonada por animação. Meu quarto era metade livros, metade DVD, metade pôster e metade fórmulas de física. Mainha não aguentava quando eu pegava um DVD e ia para a sala assistir, pois sabia que eu cantaria todas as músicas e repetiria a fala dos personagens.
Em meio a tantas opções, peguei dois da Disney que estava em promoção.

O universo estava ao meu favor em relação às promoções.

Feliz com minhas compras, saí pelos corredores da loja rumo ao caixa, distraída olhando para as promoções e livros nas estantes. Passei direto na sessão infanto-juvenil que não vi o especial da Paula Pimenta, virei a cabeça para olhar rapidamente e quando voltei para tomar meu rumo, bato de frente com uma parede, ou melhor, com um cara muito alto que tinha derrubado todas as minhas aquisições.

-Droga! – Exclamei, abaixando-me para pegar as minhas coisas e percebi que com o impacto ele também tinha derrubado as coisas dele. Levantei-me e “uau” ele era lindo, daquele jeito meio nerd. Era alto, bastante alto. O cabelo dele era escuro e estava desarrumado, não sabia dizer se de propósito... já que estava na moda sair com os cabelos bagunçados... Acho que os óculos quadrados davam um toque, certo charme. - Desculpe-me. Eu que bati em você... É que eu estava meio distraída...

-Ah não, tudo bem, eu é que estava distraído... Desculpe-me. – Ele ajustou os óculos e olhou para mim e para minha pilha. – Hum... Acho que você está com um de meus livros... – Disse ele sorrindo. E que sorriso. – A não ser que você curta engenharia. – Olhei para os livros. Tinha um exemplar dele e faltava o da Richelle no meu.

-Acho que você tá com um dos meus também – Disse, devolvendo o livro de engenharia dele. Olhei para os livros que ele carregava. Tinha dois exemplares iguais e eles eram o da Richelle.

-Você gosta da Richelle? – Perguntou ele devolvendo meu exemplar.

-Venero essa mulher.

-Então você deve ser fã de Vampire Academy. – Disse ele sorrindo e mudando o peso dos livros pro outro braço. Virei de costas e levantei o cabelo preso em um rabo de cavalo, mostrando minha marca Molnija. – Definitivamente você é fã. – Sorri e concordei – Bom, eu tenho que ir. Irei ao cinema...

-Ah claro, eu também. Foi um prazer derrubar suas coisas, quero dizer, me desculpe por ter derrubado suas coisas – Ele sorriu e balançou a cabeça.

-Não foi nada. Tchau – Ele deu uma última olhada, um sorriso e foi embora.

Fiquei lá parada no meio da livraria com cara de idiota imaginando se meu sonho tinha finalmente se concretizado.

Depois eu acordei e me liguei que claro que não tinha se concretizado, afinal de contas o garoto tinha ido embora e eu nem sabia o nome dele. Nossa, eu precisava urgentemente melhorar o meu relacionamento com pessoas na qual eu esbarrava por aí. Saindo do transe andei até o caixa na esperança do garoto ainda estar lá, mas para meu azar de sempre, ele não estava. Agradeci pela fila estar pequena, porque eu já estava atrasada para o filme, que provavelmente estava passando o trailer já.

Andei a passos largos até o cinema e entrei na sala escura. Os trailers ainda estavam passando, ainda bem. Não deu tempo nem de comprar uma pipoquinha.

Saí procurando meu lugar marcado com a luz do celular e finalmente o achei lá em cima, a única cadeira vaga. Larguei-me na cadeira com tudo, batendo o cotovelo na pessoa que estava ao meu lado. Virei-me para pedir desculpas.

-Ai meu Deus, desculpa! – Olhei para a pessoa e não é que a sorte tinha voltado. Era o carinha da livraria, bem ali do meu lado, no cinema.

-Você tirou o dia para bater em mim? – Sorriu ele. Fiquei sem graça diante da sua piadinha, mas sorri. – Vai me dizer que você também é fã de Instrumentos Mortais?

-Não uma fã enlouquecida, mas eu curto bastante. – Nossa conversa era sussurrada, já que uma mulher da fileira abaixo da nossa fez um “shiuuu” bem sútil. – Você também gosta?

-Aham. Depois do George R. R. Martin, da Richelle, do Pittacus Lore, do Rick Riordan... A Cassandra Clare é uma das minhas favoritas. Dentre outros, claro...

Ai meu Deus, eu tinha encontrado meu marido. Ele ainda não sabia desse fato, mas caramba!

-Uau. Amo enlouquecidamente esses autores – Ele olhou pra mim com uma cara de “ai meu Deus essa garota gosta das mesmas coisas que eu”. Não deu pra falar mais nada, pois o filme propriamente dito tinha começado e eu estava ansiosa demais para falar.

Duas horas e vinte minutos depois eu ainda estava no cinema com o carinha da livraria (sim, eu ainda não sabia o nome dele), vendo os créditos do filme passar, enquanto as pessoas iam esvaziando o cinema. Virei-me para ele:

-Com certeza foi melhor que o primeiro, você não achou?

-Totalmente. O primeiro nem deu pra entender o enredo do filme, apesar dos efeitos terem sido maravilhosos. Mas nem se compara o segundo foi melhor. O terceiro será melhor ainda...

-Até porque é o melhor livro. – Eu disse entusiasmada. Levantei-me da cadeira e ele me acompanhou. Saímos do cinema e só percebi que estávamos andando lado a lado quando ele parou e eu também parei. Ficamos nos encarando o que pareceram segundos. – Hum... Bom...

-Você não quer comer? Sei lá, a gente poderia comer alguma coisa enquanto conversamos sobre o filme... – Ele ficou meio sem graça. Estava na cara dele, que tinha ficado um pouco vermelha, ou foi impressão minha? Bom, eu não tinha nada para fazer em casa, o que era uma mentira, mas obriguei minha mente a pensar que estava livre pelo resto da tarde.

-Claro, vamos sim. – Ele sorriu e voltamos a andar em direção à praça de alimentação. – Você vai me dizer seu nome, ou terei que te chamar do “carinha da livraria”?

Ele gargalhou, e foi uma risada muito gostosa.

-Nossa, eu sou muito lerdo mesmo. Desculpe. Meu nome é Diego. E aposto que o seu está relacionado a “tirar o fim de semana para bater em pessoas”.

-Há-há-há, muito engraçadinho. Meu nome é Laura.

-Bom, prazer Laura – Disse ele parando por um momento e apertando minha mão. Retribuí o aperto e continuamos a andar. – Tenho que dizer que estou louco por algo gorduroso para comer.

-Queria eu ter a consciência limpa para comer porcaria, mas sinto que passarei mal se parar em alguma burgueria. Vou à Subway, você se importa?

-Claro que não. A fila da Subway tá bem maior do que aqui. Quando pegar meu pedido passo lá e pegamos uma mesa, ok?

-Fechado. – Separei-me do Diego e fui em direção à lanchonete.

-Nossa! Já é essa hora? Minha mãe vai me matar – Catei meu celular dentro da bolsa e... 10 chamadas não atendidas. Meu caixão já devia estar aberto, só esperando por mim. Quando Diego me disse que eram exatamente oito horas da noite, fiquei desesperada e me levantei abrindo minha bolsa, pegando meu celular enquanto ia apressada para a parada de ônibus. Diego veio atrás de mim.

-Desculpa Laura, fiz você se atrasar, se quiser te dou uma carona. – Disse ele, com cara de desesperado, pensando que era o culpado pela minha lerdeza.

-Que nada Diego, você não é culpado. A conversa que estava muito boa e eu que sou meio lerda. – Disse. Já tinha chegado à parada e estava ligando para mainha – Um segundo. – Falei para Diego e ele acenou – Mãe? Descuuuuuulpa! Perdi completamente o horário. Encontrei com um amigo e a gente ficou conversando. Não, não, já estou indo para casa nem se preocupe. Ligo sim, quando chegar à parada dou um toque. Tá mãe. Tá certo. Ok. Tchau.

-Pelo menos ela não estava com uma voz assassina. Só estava preocupada.

-Tem certeza que não quer uma carona? – Perguntou ele mais uma vez.

-É melhor não. Fica para a próxima.

-Então quer dizer que vai ter uma “próxima”? – Sorriu ele, ajeitando os óculos que escorregavam pelo nariz. Olhos! Por que é que vocês não tiram fotos e revelam instantaneamente? Minha língua coçou para dar uma resposta engraçadinha, mas eu apenas disse:

-Veremos não é? – Sorri e ele me acompanhou.

-Seria mal educado pedir seu número? – Disse ele já sacando o celular do bolso. Disse meu número a ele e ele me deu o dele. – Manteremos contato? Eu adoraria ver outro filme com você, conversar, sei lá...

-É claro. – Nesse momento meu ônibus vinha, e até nessa hora essa peste vinha lotado. Afê.- Bom, vou indo. Até mais então.

-Até – Ele se aproximou e ai meu Deus. A cabeça dele se inclinou para perto da minha e os lábios dele encontraram minha bochecha, com um leve estalido ele deixou um beijo. Abracei-o rapidamente e disse:

-Foi um prazer te conhecer.

-Digo o mesmo.

O tempo se arrastava desde o momento em que Diego tinha me mandado um sms dizendo que queria marcar para irmos ao parque. Depois da nossa conversa pelo Facebook, onde nos conhecemos “melhor” e ele descobriu que sou fanática por fotografia, ele queria ter uma rodada de fotos. Então combinamos de nos encontrarmos no parque Dona Lindu, em Boa Viagem.

Eu não podia mentir e dizer que não estava nervosa. Tinha contado a mainha o que tinha acontecido no shopping no dia em que me encontrei com ele e ela tinha ficado radiante dizendo que eu “finalmente” tinha arrumado um namorado. Seria inútil dizer a ela que ele não era meu namorado. Não ainda. No dia do encontro, que era às três da tarde, eu já estava pronta às duas. Diego já tinha me mandado uma mensagem confirmando o encontro e dizendo que se eu quisesse ele iria me buscar em casa. Recusei educadamente. Se eu dissesse sim, iria alimentar as loucuras de minha mãe e seria capaz dela atacar o garoto. Melhor não.

Duas e meia arrumei minha bolsa com a câmera, que suei para comprar, meu caderno de anotações e pilhas extras, e claro uma garrafa de água. Tudo pronto coloquei o celular no bolso, mandei um beijo para minha família e saí. Assim que cheguei ao parque fiquei encantada com tanta criança brincando, sorrindo e se divertindo. Peguei a câmera e comecei a tirar umas fotos, muitas crianças posavam para elas. Quando virei à lente para fotografar os garotos na pista de skate, ele vinha. Diego estava com uma camisa, na qual a estampa era o Tony Stark de O homem de Ferro, os ombros largos se adequavam a toda estrutura de seu corpo. Não musculoso, sim saudável. Tirei uma foto do Diego chegando perto de mim, sorrindo.

-Como você tá? – Disse ele pegando a câmera de mim e vendo a foto que tinha tirado dele. Encarei ele pela ousadia, e ele sorriu, abraçando-me. – Você fica linda com essa cara.

-Muito engraçado. Eu tô bem e você? – Retribuí o abraço e peguei minha câmera, que tinha o nome de Belikova, de volta.

-Muito melhor agora. – Sorriu ele de forma boba.

Passamos a tarde clicando. Tudo no parque estava fotogênico, os vendedores de bola, de brinquedos, as crianças, os adultos com as crianças, o pessoal fazendo arte e praticando na roda de capoeira. Ao pôr do sol, sentamos na areia da praia, que estava com o mar calmo, e fomos verificar as fotos que tínhamos tirado. Algumas estavam hilárias: crianças fazendo diversas poses para a câmera, algumas caretas. Outras haviam ficado fascinantes, capturando a real emoção das pessoas. Era por isso que eu amava a fotografia espontânea.

Estava olhando para as fotos que eu tinha tirado quando levantei o olhar, e peguei Diego apontando sua câmera para mim, o usual som do “clique” em ação. Ele estava tirando fotos minhas. Descansei a câmera em meu colo e olhei para ele séria, uma falsa chateação. Ele não parou, continuou com as fotos, até que eu que o parei. Segurei sua mão e ele baixou a câmera.

-Preciso pegar um close dessa sua cara de má – Sorriu ele tentando soltar o meu aperto, mas não deixei. – Ah Laura, qual é. – Soltei e estendi a mão, para ele colocar a câmera lá. Ele revirou os olhos, mas acabou acatando ao meu “pedido”. Olhei as fotos que ele tinha tirado de mim. Até que não tinham ficado ruins, mas fiquei surpresa de quantas fotos tinham! Só minhas! Pelo momento que estávamos ali, ele tinha tirado bastante. Mas enquanto fotografávamos no parque, também tinha fotos minhas.

-Tirou o dia para me fotografar? – Perguntei devolvendo sua máquina.

-Se importa? – Perguntou ele sorrindo, e apontando a câmera para mim novamente. Sorri e neguei com um aceno.

-Não.

Já eram seis e meia da noite quando nos levantamos da areia, e resolvemos tomar uma água de coco. Não demorou muito depois disso para nos despedirmos.

-Queria muito passar o resto da noite na sua companhia – Disse ele olhando diretamente em meus olhos. Encarei por um momento, mas depois desviei, senti meu rosto ficar vermelho e sorri. – Porém, estou cheio de trabalhos da faculdade e provavelmente passarei o resto da noite na companhia dos livros, da calculadora e de uma xícara de café bem forte.

-Boa sorte para você – Bati levemente em seu ombro e saí andando, ele ao meu lado.

-Quer uma carona?

Dessa vez eu ia aceitar, porém precisei fazer uma sondagem antes.

-Não quero desviar do seu destino. Aonde é que você mora?

-Em Setúbal, é aqui perto. – Bom, era perto da minha casa então... – E você? Vai... Não deve ser tão longe, levando o tempo que você levou pra sair de casa até chegar aqui. Baseando-me na mensagem que você me mandou antes de sair...

-Moro em Boa Viagem, perto do aeroporto.

-Por favor, o carro está por ali madame – Sorriu ele oferecendo o braço para mim. Aceitei-o e fomos andando até o estacionamento do parque. Fui dando às coordenadas para ele, e em menos de dez minutos estávamos parando na frente da minha casa. – Entregue no seu castelo princesa. – Sorriu ele, deixando o carro em ponto morto e virando-se para mim. – Estou quase indo abrir a porta para você, mas acho que seria um pouco exagerado e você nunca mais falaria comigo...

-É um pouquinho, e não precisa. – Sorri tirando o cinto de segurança. – Bem, obrigada pela carona e pela tarde maravilhosa. Mando as fotos para você. Prefere as fotos editadas ou normais?

-Como você preferir mandar.

-Tá certo então, a gente se fala – Abri a porta do carro para sair, mas antes de colocar os pés para fora, Diego agarrou meu braço e me puxou para dentro. Ele se inclinou para frente e beijou minha bochecha, muito perto da minha boca. Estreitei os olhos para ele que sorriu malicioso.

-A gente se fala – Antes de me soltar, seus dedos deslizaram pelo meu braço até minhas mãos que ele as levou até seus lábios e depositou um beijo. Sorri que nem uma bocó e saí do carro. Ele esperou até eu abrir o portão, buzinou e acenei um “tchau”. Assim que pus os pés em casa minha mãe sai correndo lá de dentro aos berros.

-Ele veio te trazer em casa! Mas nem pra falar com a sogra, ele desceu do carro! Não acredito, eu queria ver ele Laura! Cadê a educação que eu te dei? Por que não convidou o garoto para entrar? – E ela começou a tagarelar sem fim. Falando de educação e tal.

-Mãe, ele só me deu uma carona. E que história é essa de sogra? Já disse a senhora que ele NÃO é meu namorado! – Dei uma ênfase no não para ela entender o recado e não insistir nisso. Mas não deu muito certo.

-Há-há-há e você acha mesmo que vou acreditar? Quando vem trazer em casa é por que a coisa está ficando séria. – Disse ela cruzando os braços e se apoiando no vão da porta do meu quarto.

-Não irei discutir com você mãe, tô cansada. Depois mostro as fotos que tirei hoje para você, ok? Irei dormir - Peguei minha toalha e fui ao banheiro tomar um banho para deitar. Deixei-a falando sozinha.

Estávamos nos últimos meses do ano e pareciam que eles estavam voando. Logo o vestibular chegou e eu estava mais ansiosa que nunca. Perguntando-me se tinha estudado o suficiente, se iria passar, se isso e se aquilo. Mainha não aguentava meu desespero e todas as noites na semana antecedente das provas ela me dava chá de camomila e um remédio natural para relaxar. Adiantava um pouco.
Eu mesma tinha vetado meus encontros com Diego. Ele insistia e dizia que podíamos nos encontrar para ele me ajudar em física e matemática (em uma das nossas conversas eu descobri que ele cursava engenharia elétrica), mas eu neguei todas às vezes. Sabia que de nada ia adiantar ele vir ajudar; eu perderia o foco. Desde aquele dia no parque nós só nos vimos umas duas vezes. E já tinha se passado um mês e alguns dias; não que eu estivesse contando.

Eu estava com saudades dele. E falar com ele todos os dias por mensagens não colaborava (eu tinha certo problema). Quanto mais nos falávamos via SMS, mais vontade eu tinha de vê-lo. De admirar seus olhos, seus lábios, seu rosto, o jeito como ele olhava para mim, a forma como sorria...

E claro que todas essas mensagens atiçaram a curiosidade da minha mãe. Um dia, meu celular tinha descarregado e eu estava desesperada procurando o carregador em meio à bagunça que era o meu quarto. Eu não me lembrava de ter dado o telefone aqui de casa para o Diego, mas dei e ele acabou ligando. E quem atendeu? Minha mãe.
E ela fez a maior festa. Ficou falando com o garoto vários minutos ao telefone! Quando eu peguei o aparelho, pedi desculpas a ele, mas o Diego só fazia rir, e dizer que estava louco para conhecer ela. Ótimo! Um cativando a loucura do outro.
Para deixar bem claro, nós não estávamos namorando. Éramos apenas amigos.

As provas chegaram, foram realizadas e pelo meu senso, eu tinha ido bem. Não aguentei e pedi para meu pai conferir minhas alternativas com o gabarito oficial, e eu tinha acertado 80% das questões! Fiquei radiante! E logo mandei uma mensagem para o Diego. Pensei que ele fosse responder, mas acabou me ligando.

-Parabéns linda! Agora só falta ser oficial! – Gritou ele ao telefone – Quero ser o primeiro a raspar sua sobrancelha!

-Como se alguém fosse chegar perto de mim com uma gilete! Nunca! – Gargalhei ao telefone – Você pode ser o primeiro a colocar um band-aid em minha sobrancelha.

-Quando é que nos veremos? Agora que você pode respirar, podemos sair.

-Finalmente! Poderíamos ir ao cinema, que tal? – Propus, estava muito a fim de assistir um filme.

-Ótimo. Quer que eu vá buscar você? Passo aí em quinze minutos. – Disse ele rapidamente. Logo o cortei.

-Não! Hoje não né, Diego! Vamos amanhã. E não precisa me pegar nos encontramos lá, às catorze horas? Ok? – Ele ficou um momento em silêncio, acho que chateado por não poder me encontrar hoje, mas é que já era tarde, oito da noite era tarde para mim, e eu estava cansada. Ele acabou concordando e desligamos, tendo tudo marcado para o dia seguinte.

Encontramo-nos na hora marcada. Ele tinha chegado primeiro que eu e deu um sorriso de orelha a orelha quando me viu. Dei uma acelerada no passo para chegar logo até ele e abraça-lo até ele pedir clemência e ar. Quem se separou do abraço fui eu, procurando ar. Diego fez questão de pagar nossos ingressos, dizendo que era um presente para mim, pelo vestibular bem feito que eu tinha realizado. Revirei os olhos, mas acabei aceitando (meio que forçadamente, mas ok). Assistimos a um desenho animado novo da Disney, e como sempre eu fiquei abestalhada com o universo animado.
Quando o filme acabou, as pessoas (a maioria criança e seus pais) foram esvaziando a sala, mas eu e Diego permanecemos lá, vendo os créditos passarem. Ele se virou para mim.

-Sabia que, por incrível que pareça é o nosso terceiro encontro? – Disse Diego.

-Nossa! É verdade! E parece que te conheço há séculos!

-Também acho – Sorriu ele – mas o que eu quero dizer, é que geralmente no terceiro encontro, tem beijo. – Disse ele me encarando com um sorriso maroto no rosto. Sorri meio nervosa, mas resolvi dar uma de Rose Hathaway e responder espertamente.

-Hum... É mesmo? – Virei-me completamente na cadeira para poder encará-lo. Aproximei-me dele, apoiando meus braços no encosto lateral da cadeira. Ele fez o mesmo, se aproximou, mas levantei um dedo e encostei em seus lábios – Acho que é meio cedo para isso – Nossos rostos estavam a centímetros. Ele segurou minha mão, afastando-a de sua boca.

-Eu não acho – Foi tudo bem rápido. Ele se aproximou ainda mais e roubou um beijo; quer dizer, um selinho. Fiquei sorrindo que nem uma idiota.

-Você é bem espertinho. – Sorri. Nossos rostos ainda estavam muito próximos e ele encostou seus lábios novamente aos meus. Mas dessa vez, ele intensificou a coisa. Suas mãos seguravam ambos os lados do meu rosto, e meio que por instinto (ou vontade mesmo. Inconsciente é uma coisa séria) separei meus lábios, e retribuí o beijo que ele tinha começado, com intensidade, paixão.
Fomos interrompidos por um pigarro. Afastamo-nos e um lanterninha estava nos encarando. Baixei a cabeça, passando a mão nos lábios, constrangida.

-Desculpe interromper, mas preciso fechar a sala. Só têm vocês dois aqui... – Percebi que ele também estava sem graça.

-Claro, desculpe por ter feito você esperar, vamos Laura – Disse Diego se levantando, pegando minha mão e levando-me para fora da sala. Quando saímos da sala ele desatou a rir. Ri também acompanhando a loucura momentânea dele, mas ele parou de repente e me encarou, ficando sério. Estávamos em um corredor deserto do shopping, na saída das salas de cinema. Diego olhou para os lados vazios do corredor e me empurrou contra a parede. Arquejei de surpresa, mas logo sorri quando seus lábios se juntaram aos meus. Quando nossas bocas se separaram, estávamos abraçados, sua cabeça apoiada em meu ombro. Ele sussurrou em meu ouvido: - Acho que estou ficando apaixonado.

Afastei-me dele, o suficiente para poder encarar seus olhos.

-É mesmo? Muito sortuda essa garota – Sorri.

-Sortudo sou eu.


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