Juntos pelo acaso. escrita por Hermione Granger


Capítulo 22
Guardando segredo




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— Céus, eu amo você. – disse Ron tombando o corpo para o lado de Hermione e a puxando para um abraço. O riso de Hermione saiu abafado pelo nariz e ela apoiou a cabeça no peito nu de Ron que subia e descia rápido com a respiração acelerada. Ela passou a mão envolta da cintura dele enquanto ele mexia em seu cabelo. – Sinto que vou explodir.

Hermione deu um longo suspiro e levantou a cabeça para olha-lo. Ron estava com os olhos fechados e tinha um sorriso sonhador no rosto.

— Eu estou feliz, Ron. – disse ela fazendo o sorriso dele se alargar ainda mais. – Às vezes me assusta gostar de você assim.

Ron abriu os olhos para olha-la e apertou mais o abraço.

— Foi... Tão ruim assim? – brincou Ron fazendo Hermione soltar uma risada e bater a palma da mão em sua barriga como reprovação.

— Não seja tolo. Você é ótimo, pode se gabar agora.

— Então, o que te assusta nisso? Quer dizer, eu me assustei no início, mas porque achei que você fosse me matar se eu dissesse que gostava de você.

— Eu não sei. Acho que é... tudo novo.

Ron deu um beijo na testa dela e encostou o queixo no topo de sua cabeça. Hermione fechou os olhos enquanto sentia o coração de Ron bater agora em um ritmo mais calmo.

— É novo para mim também. Mas sabe. – Ron afastou um pouco de Hermione para que ela o olhasse. – Eu quero ficar sério com você. Quero que as pessoas saibam que eu estou com você.

— Como acha que reagirão a isso? – perguntou ela.

— Talvez seu pai me mate.  – Hermione riu mais uma vez. – Mas com o tempo ele verá que sou um cara bem mais legal do que o Vitinho pra você.

— Meu pai... Não gostava do Vitor. – ela disse escondendo um riso.

— Eu amo o seu pai. – declarou Ron.

Hermione se sentia feliz e confortável com Ron. Ele lhe dava a certeza de que ela estava exatamente onde deveria estar, ainda que todo aquele sentimento chegasse a assusta-la. Era como se Ron e Hermione, independentemente de estarem em outra vida, tivesse sempre que se encontrar. Ela gostava de pensar assim. De pensar que se houvesse outra vida, ela gostaria de encontra-lo de novo.

 

(narrado por Hermione)

Meu lado racional e responsável me diria que eu deveria voltar ao meu quarto e dormir. Mas o lado que mais respondia por mim ultimamente era o emocional e ele só me pedia para ficar ali deitada sobre o peito de Ron. Meu corpo começava a esfriar e quando Ron notou que estremeci, tratou de me dar uma camisa de manga comprida dele para eu vestir, enquanto ele vestia apenas calças. Ele me abraçou e me senti quente novamente. Eu não soube dizer qual de nós dois adormeceu primeiro.

Nos meus sonhos só tinha Ron. Não era algo tão incomum ultimamente, mas essa noite em particular foi exclusiva dele. Era aquele tipo de sonho que você não quer que acabe, mas eu sabia agora que a realidade que me aguardava quando eu acordasse, não seria tão diferente.

Eu sentia os braços de Ron, que eu usava como travesseiro, ainda debaixo do meu pescoço. Eu me perguntei há quanto tempo eu estava sobre ele e se já não estava com o braço dormente, mas não me movi, nem abri os olhos porque não queria acabar com aquele momento. Eu já podia ver a claridade invadir o quarto através da cortina. Eu escondia a cabeça por debaixo da coberta para me proteger do frio e da luz do sol de inverno e apenas inalava o cheiro do pescoço de Ron que tocava meu nariz e estava quase adormecendo com o torpor quando senti algo nos meus pés. Eu achei que pudesse ser os pés de Ron tocando os meus, mas Ron não se mexeu. Também o toque não vinha por debaixo do cobertor, era um toque leve que começava nas pernas e ganhava peso conforme avançava pela cama. O meu coração disparou quando meu cérebro deu um start. Eu não precisava abrir os olhos para saber o que me aguardava, mas ainda assim abri e quando o fiz, vi a figura de Hugo sentado sobre os joelhos no espaço entre minhas pernas e as de Ron. Ele tinha cara de sono e os cabelos desarrumados, mas sua expressão não demonstrava surpresa ou desapontamento por eu estar deitada no lugar que deveria ser da mãe dele e eu não soube exatamente o que deveria fazer ou dizer. Meu cotovelo, involuntariamente, bateu forte entre as costelas de Ron fazendo-o pular de susto e dor.

— Aaaau. Caramba, Mione. Isso é jeito de... – ele viu Hugo antes de terminar o que falava e olhou para mim em seguida, tão sem reação quanto eu. Ensaiávamos em nossas mentes alguma coisa coerente para explicar ao Hugo aquela situação, embora ele não parecesse muito interessado em ouvir.

— Está tudo bem, querido? – perguntei o mais doce que pude.

— Estou com fome – disse esfregando os olhinhos de sono.

— Isso é hora de ter fome, campeão?

— Ron, não fale assim com o menino. – repreendi.

— Mas ainda são... – Ron se debruça sobre mim para pegar o relógio no criado-mudo. – São 8h da madrugada. Acho bom começar a acordar mais tarde ou me vingarei de você quando for adolescente.

— Não ligue para a preguiça do seu pai. Fez muito bem em nos acordar, querido.

— Você teve sonhos feios? – perguntou ele me olhando de repente como se tivesse acabado de notar que eu estava ali, Ron me deu um riso debochado.

— Ah... n-não querido.

— Por que está no quarto do papai?

Eu abri a boca para respondê-lo, mas nenhuma resposta vinha a minha mente. Ron falou por mim.

— Porque papai teve sonhos feios.

— Querido, por que não vai tirar esse pijama enquanto eu preparo um café da manhã bem gostoso pra encher essa barriguinha? – eu sugeri, colocando Hugo em meu colo e fazendo cocegas em sua barriga para fazê-lo esquecer do assunto anterior.

Hugo ria com as cocegas, mas o meu plano funcionou. Logo ele saltou da cama e correu para o quarto para mudar de roupa.

— Temos que contar a ele. – sussurrei para Ron quando notei que Hugo já saíra. Ron teve que praticamente ler meus lábios.

Ele sorriu para mim e me deu um beijo antes de se levantar.

 

(narrado por Ron)

Eu tive a melhor noite de todas. O frio nos limitava a trocar de posição durante o sono, pois qualquer movimento parecia fazer o frio aumentar. Nós passamos praticamente toda noite abraçados na mesma posição e mesmo com as dores que eu já estava ficando por estar deitado sobre o mesmo braço, acordar e saber que era ela quem estava ali, compensava.

Nós iriamos buscar os pais de Hermione na estação de King's Cross e, por alguns minutos, o meu lado egoísta quis que eles não viessem, só para que pudesse ficar naquele quarto o dia todo. Mas Hermione ficara inquieta desde que Hugo nos flagrou “juntos”. Nada tirava da cabeça dela de que precisávamos conversar com ele e o resultado dessa conversa era o que a preocupava.

— E se não for bom pra ele, Ron? Nós dois juntos, eu no lugar dela... – ela dizia enquanto preparava panquecas para o café. Hugo ainda não havia aparecido.

Eu sabia ao que ela se referia. Seu olhar parecia distante e receoso.

— Não há ninguém que ele queira mais do que você nesse lugar, confie em mim.

Ela sorriu ainda incerta do que eu dizia.

— Espero que sim, mas precisamos dizer a ele. Meus pais vão chegar hoje e não quero que eles saibam por um menino de seis anos que o pai dele e eu...

Ela parou de falar de repente.

— Você e eu...? – perguntei ao vê-la desconcertada por não saber rotular a nossa relação. Seu rosto ficou vermelho.

— Que ele nos viu juntos.

— Certo. Explicaremos a ele antes de sairmos.

— Obrigada.

Estávamos prontos para tomar um café da manhã antes de irmos buscas os pais de Hermione na estação de King's Cross. Eram 9h e o trem estava previsto para as 11h. Hermione me olhou de canto de olho enquanto tomávamos o café e eu entendi o que ela queria. Eu não sabia como falar, Hugo só tinha 6 anos, mas aprendi a não subestimar sua inteligência. Se fosse filho de Hermione, diria que seu cérebro era todo dela.

— Ahn... Filho. – Hugo levantou os olhos para me olhar enquanto colocava uma colherada de seu cereal favorito na boca, fazendo escorrer leite pelos cantos de sua boca. – Precisamos conversar.

Ele pareceu apreensivo com o que eu dissera, como se esperasse alguma bronca ou notícia ruim.

— O que eu fiz? — perguntou ele ja na defensiva.

— Você não fez nada, querido. — disse Hermione para acalma-lo.

— Na verdade, você acordou cedo demais. Mas... temos que conversar sobre outro assunto.

Hugo voltara sua atenção ao pote de cereal ao certificar-se que realmente não viria bronca a seguir.

— Bom... Acontece que... Papai não foi sincero quando disse que teve pesadelos. — comecei a explicar. — A verdade é que a Hermione estava no quarto do papai porque ela se apaixonou perdidamente pelo seu pai e pediu pra que... – Hermione ameaçou me bater essa hora, me impedindo de prosseguir para poder desviar dos tapas que ela pretendia me dar. – Ai, estou brincando. Meu Deus...

— Conte as coisas direito, Ron! – me repreendeu Hermione.

— Esta bem, está bem. – eu voltei a atenção para Hugo que parecia se divertir ao ver o pai apanhar e continuei a falar. – Talvez não tenha sido exatamente nessa ordem, mas... bom filho, o caso é que nós dois, o papai e a moça brava aqui, estamos juntos.

Houve alguns segundos de pausa enquanto Hugo parecia refletir sobre o assunto e Hermione parecia apreensiva. Hugo não pareceu surpreso. Na verdade ele não parecia nada. Vi que Hermione tinha uma cara de decepção.

— Juntos como tio Harry e a tia Gina? – perguntou ele finalmente.

— Ahn... não exatamente. – eu respondi. – O seus tios são casados.

— E como acontecem os casamentos?

— O casamento acontece quando duas pessoas se gostam muito e resolvem viver juntas. – dessa vez quem explica é Hermione.

— Mas por que não são casados se já moram juntos?

Hermione e eu nos entreolhamos confusos. Não havíamos pensado por esse lado. Quando se é adulto as vezes fechamos os olhos para algumas situações, mas a pergunta de Hugo, ainda que inocente, tinha muito sentido. Nós havíamos invertido a ordem natural das coisas.

— É que... existem etapas a serem vividas antes de se optar por um casamento. – Hermione tentou explicar novamente, mas para Hugo a sua lógica estava mais correta do que a nossa. Ele parecia pensativo sobre o assunto. Hermione se levantou e se aproximou de Hugo, se abaixando para ficar na altura da cadeira dele. – Você está bem com isso, querido?

Hugo demorou a responder, mas sorriu para aquietar o coração de Hermione.

— Então agora você é minha mãe?

Hermione sorriu, pegando o menino no colo e voltando para sua cadeira.

— Só se você quiser que eu seja. — disse ela agora contente e aliviada. — Não quero tomar o lugar de ninguem, meu anjo. Mas quero ser o que você precisar que eu seja.

A relação dos dois era melhor do que eu poderia desejar, talvez porque as coisas tenham acontecido de uma forma tão natural e repentina que Hugo, assim como eu, não saberia dizer quando começou seu apego por ela. Eu fico feliz que as coisas tenham acontecido nessa ordem.


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