Juntos pelo acaso. escrita por Hermione Granger


Capítulo 17
Confie em mim




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(narrado por Ron)

 

Eu vi a moto daquele búlgaro nojento estacionado em minha calçada logo que virei à rua de casa e logo freei o carro. Eu deveria ter acelerado até lá e acabado logo com aquela conversa, mas algo me dizia para não ir.

—Pai? Por que paramos? – me pergunta Hugo. Eu o ignoro. Ele é pequeno e, no banco de trás do carro em sua cadeirinha, o máximo que ele podia enxergar era o encosto do meu banco. – Papai?

Quando Hugo me chama pela segunda vez eu pareço despertar. Hermione e Vítor só estão conversando e eu não sei se isso é ciúme, mas não consigo tirar nada de bom dessa conversa. Ele teve a ousadia de procura-la quando eu não estava por perto, o que poderia haver de bom nisso? Eu tiro o cinto devagar como se o barulho pudesse chamar a atenção deles. Eles estavam longe, mal repararam que havia alguém ali, embora Hermione parecesse sempre alerta. Sai do carro ainda com cautela e tirei Hugo da cadeirinha. Quando ele abre a boca para me perguntar mais alguma coisa, eu coloco o dedo indicador sobre minha boca em sinal de silencio, ele obedece. Eu caminho em direção a eles, a mão segurando firme a pequena mão de Hugo que servia como um apoio. Vitor está de costa para mim e Hermione esta de frente, mas Vitor é grande e tapa toda a visão que ela teria de mim e que eu teria dela. Sei que esta de frente, pois consigo ver a posição de suas mãos cheias de sacolas. Eu não sei o que conversam. Conforme me aproximo tenho a pequena ilusão de que Vitor já iria embora e a sensação boa que sinto ao pensar nisso se vai a uma velocidade absurda quando o vejo voltar-se novamente para Hermione. Meu corpo congela quando o vejo segurar o rosto dela com as duas mãos, como se ela fosse sua. Uma avalanche de ciúmes me envolve e eu torço para ela afasta-lo, mas ele a beija.

Eu estou parado, estático atrás de Vitor. A cena pode ter sido rápida, mas para mim foi uma eternidade. Vitor se inclinou para beija-la porque Hermione era consideravelmente menor do que ele e isso permitiu que ela tivesse alguma visão por cima do ombro dele, e ela me viu. Eu não sabia o que pensar ou o que sentir muito menos o que falar. Eu sentia meu rosto queimar e a cabeça estava tão pesada que até poderia explodir. Tive a sensação de perda, perda de algo que agora desconfio que nunca tenha sido meu. Foi quando realmente percebi o quanto eu permiti que ela fizesse parte da minha vida sem me dar conta de que, talvez, eu não fizesse parte da dela.

— Ron. – foi o que ela tentou dizer. Não foi alto. Não foi como um chamado ou como quem repreendia o outro só chamando-o pelo nome. Foi um sussurro quase inaudível.

Eu apertei as mãos de Hugo como se aquilo fosse o meu único apoio e, novamente, fosse só nós dois. Vitor olhou para mim também, e de novo para ela. Eu poderia ter suspeitado que ele soubesse que eu estava ali, mas ele não sabia. Ela continuava a me olhar assustada e Vitor continuava a olhar para nós dois. Eu não disse nada. Poderia gritar com ela, bater nele, mas eu tinha Hugo. Ele é uma criança e por mais que eu suspeite que ele já tenha entendido parcialmente o que estava acontecendo, eu não queria que ele me visse como eu estava me sentindo. Eu comecei a caminhar rapidamente em direção a casa, mais rápido do que as pernas de Hugo podiam acompanhar então o peguei no colo. Ela me chamou, mas fiz como se não tivesse ouvido. Passei por suas sacolas jogadas no chão e os deixei pra trás.

 

(narrado por Hermione)

Eu só caí em mim quando o vi passar por mim sem nem ao menos parecer se importar se eu o chamava. Via os olhinhos de Hugo me olhar confuso quando entraram porta adentro e foi como um estalo. Eu comecei a pegar rapidamente as sacolas do chão para entrar quando Vítor segurou meu braço para me impedir.

Hermioni-ni...

— Vá embora, Vítor. – eu me soltei dele. Eu sentia raiva dele e tentei transparecer isso com o olhar. Sem deixa-lo falar qualquer coisa eu virei às costas e entrei tão rápido quanto Ron. Eu precisava vê-lo.

Eu sentia tanta pressa em contar a ele o que realmente acontecera que nem me preocupei em colocar as sacolas na cozinha e as deixei ao pé da escada. Eu o chamei de novo, ele não respondeu. Não estava na sala e nem na sala que fazia de escritório, mas que servia mais como uma sala de refúgio. Subi os degraus da escada de dois em dois. Eu não precisei procurar muito, estava no quarto de Hugo. Eu parei na porta com o coração acelerado. Ele estava de costa para a porta e tenho certeza de que sabia que eu estava parada ali, ainda assim não fez menção de virar.

— Ron... – Ele não respondeu. – Ron, olha para mim.

O fato de ele me ignorar como se não se importasse é o que mais me machuca. Talvez eu esperasse que ele gritasse comigo, o que não seria bom, mas seria menos doloroso que ignorar. Se ele gritasse, saberia que se importa.

— Ron! – chamei mais uma vez firme e ele virou-se para mim. Ele tirava os tênis do Hugo e colocava uma roupa mais confortável nele. Ele se virou para mim sério. O olhar semicerrado parecendo uma lamina pronta para me desfigurar. – A gente precisa conversar.

— Eu estou ocupado, como pode ver.

— Ron, por favor...

— Hermione. – ele me repreendia com o olhar. Não precisei de muito para saber que ele queria que eu saísse dali. – Eu estou ocupado com meu filho.

Ele coloca ênfase em “meu filho” e não sei se quer dizer que eu não fazia parte daquilo ou se estava tentando me dizer que na frente de Hugo ele não discutiria nada. Acho que era as duas coisas.

— Saiu se prometer que vai me ouvir.

— Você não está em posição para me pedir que te prometa algo.

— Por favor, Ron.

Ele respira fundo e assente.

— Desça. – ordena ele. – Desço em alguns minutos.

 

 

Ele deve demorar pouco mais de cinco minutos para descer que para mim pareceram cinco horas. Eu andava na sala de um lado para o outro pensando no que poderia acontecer. Eu sentia algo na garganta, parecia que eu havia comido um pedaço de carne inteiro sem mastigar e ele estava entalado. Eu engolia a saliva varias vezes tentando melhorar a sensação. Eu estava sentada no sofá com a cabeça apoiada nas duas mãos e os braços apoiados aos joelhos quando Ron entrou sem dizer nada. Eu senti a presença dele mesmo silencioso e levantei o rosto para olhar. Rosto vazio de expressão e as duas mãos nos bolsos da calça. Ele me olhava nos olhos e isso fazia meu corpo todo tremer. Eu fico em silencio por muito tempo apenas encarando Ron de volta quando ele resolve falar primeiro.

— Foi você que me chamou para conversar, não sou eu quem deve começar a falar.

— Ron...

— O que ele fazia aqui? – perguntou contradizendo o que disse antes. Ele não quis me esperar explicar.

— Ele disse que queria se despedir. – Explico fechando os olhos para evitar os olhos de Ron. Eu posso ver que há decepção nele. – Ele vai voltar para a Bulgária.

Ele não diz nada. Eu abro os olhos para olha-lo e seu rosto parece mais endurecido. Ron e eu já brigamos outras vezes, mas aquilo não parecia uma briga qualquer.

— Ron, você viu tudo errado. Eu não o beijei...

— Contou a ele? – pergunta ele me contando novamente. Parece que nem me ouve.

— O que? – pergunto confusa.

— Sobre isso. – ele apontava para mim e para ele. – Contou para ele sobre “nós”?

Ele dizia o nós como se já fossemos um casal oficializado. Ninguém sabia, no entanto. Eu balanço a cabeça em negativa e isso o decepciona mais. Eu o vejo soltar uma risada pelo nariz que sei que é irônica e me defendo.

— Eu não tive tempo pra dizer, Ron. Ele me beijou de surpresa...

— Sabe se você tivesse dito eu poderia pensar que você talvez se importasse e tudo que eu precisava era acabar com a cara daquele búlgaro nojento. Ou talvez, se você tivesse contado, ele nunca tivesse te beijado.

— Não me julgue Ron. É claro que me importo. Se eu não me importasse eu não tentaria explicar.

— Ah! Você se importa? – ele me pergunta desafiadoramente. Seu rosto começando a ficar tão vermelho que em conjunto com os cabelos laranja faz parecer que ele esta em chamas. Ele fala um pouco mais alto do que minutos atrás. – Quantas vezes você me abraçou sem que eu tivesse que abraçar você primeiro? Ou quantas vezes você me beijou sem que eu te beijasse primeiro? Quantas vezes você largou qualquer coisa que fazia pra ficar do meu lado sem eu ter que te puxar pelo braço pra isso?

Ele me bombardeava de perguntas que me deixavam tonta. O nó que eu sentia na garganta parecia me sufocar cada vez mais e parecia querer sair pela boca. Meu coração estava acelerado e eu sentia lagrimas querendo embaçar meus olhos.

— O que isso tem a ver, Ronald? É claro que eu me importo. – eu tento dizer. – Eu não teria te permitido fazer nada disso se também não quisesse.

— Talvez eu seja como Vitor. – Ele insistia em não me ouvir ou de fato não ouvia. – O idiota que abre o coração pra você, mas que não é nada além de um amiguinho.

— Eu nunca disse isso, Ron. Não de você.

— Também não disse o contrario.

—Pare de dizer como se eu não me importasse, porque eu me importo Ron. Eu gosto de você.

— Eu preciso pensar um pouco. – ele disse virando as costa para mim como se olhar para mim dificultasse seus pensamentos.

Ele definitivamente não me dava atenção, não importa o que eu dissesse e isso começava a me irritar. Se ele gosta de mim como diz, porque não pode me ouvir e confiar?

— Por que não pode simplesmente confiar em mim? Por que me julga sem nem me ouvir? Que tipo de pessoa acha que eu sou? Não me importo com Vítor, Ron. Não como me importo com você. – eu disparei. Eu queria que ele me ouvisse, que gritasse, mas que ouvisse.

— E por que não contou a ele? Mesmo depois que ele beijou você? – ele continuava de costas agora com as suas mãos na cintura.

— Pare de me acusar como se você tivesse contado isso para todo mundo Ron. 

— Mas eu contei Hermione. – Ele se virou abruptamente e eu não soube dizer se ele estava nervoso, triste, decepcionado ou tudo junto. Sua voz saiu mais alta do que ele intencionava e ele abaixou o tom. – Gina, papai, mamãe... Harry. Todos eles sabem.

Meu coração se encheu de ternura por ele, ainda que ele estivesse bravo e triste comigo.  Eu me senti mal por não ter feito o mesmo, mas eu não tinha ninguém próximo para quem contar. Ele e Hugo eram o que eu tinha de importante ali.

— Eu realmente preciso pensar. – disse ele mais uma vez. Tinha um olhar cansado. Eu apenas assenti por hora. Antes de sair ele voltou-se para mim novamente. – Eu sei que você não é assim, só preciso me livrar do que ta me assombrando agora.

— Você é muito mais importante pra mim do que pensa, Ron. Por favor, confie em mim.


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