RONY

Eu sou um homosapien macho de estrutura media e amadurecido. Tenho olhos verdes e cabelos ruivos. Sou heterossexual (não duvide disso, tá legal?). Moro no sudeste da democrática monarquia do Reino Unido, onde moram 1.006.06 pessoas, aproximadamente. A coisa que eu mais gosto é música, com alta distorção, solos, bateria, e toda a barulheira possível.

Tá, eu gosto de metal. Não Linkin Park, nem a porra do My Chemical Romance. Nenhum desses rifes industrializados que você gosta, que faz você achar que é alternativo. Eu gosto do feio, da música com raiva, coisas que você provavelmente odiará, porque você não entenderia. Existem pessoas estúpidas por ai.

Eu sempre estou certo, mesmo quando estou errado.

Eu detesto música pop, pessoas bonitas,rap, pessoas que fazem beatbox, idiotas da classe média, racismo, sexismo, Death Cab for Cutie, The Smiths, religião, Downtown Abby, RuPaul’s Drag Race, new metal, Revista VOGUE, Lady Gaga, baterias elétricas, sintetizadores, Lana Del Rey, demonstrações publicas de afeto, centro da cidade em dia de semana. Psy trance, techno, qualquer coisa eletronica, feita por pessoas bonitas, magras e brancas em um computador, Kanye West, qualquer porra de programa culinário.

Maria vai com as outras, a música “Drunk in Love”, o segundo solo de “Muster of Puppets”, John Green, qualquer filme que tenha vampiro ou zumbi depois de 1986, Glee, Glee, Glee, Glee, Glee. Mas tudo bem, porque nenhuma dessas coisas gostam de mim também.

É recíproco.

HERMIONE

Meu nome é Hermione Jane Granger (é um nome francês!)... Já fiz teatro, piano, francês, alemão, russo, violino e teclado e hoje em dia faço balé, pintura, meditação, japonês, mandarim, nada demais... Eu costumava freqüentar o Colégio Opulence para jovens moças, mas agora eu farei o primeiro ano no Colégio de Hogwarts. É muito surreal, parcialmente porque eu estarei na mesma sala que ambas as minhas amigas desde sempre, Gina Weasley e Luna Lovegood, mas principalmente porque eu nunca freqüentei uma escola assim antes, é majoritariamente diferente.

Uma das principais coisas que eu amo em Hogwarts é que lá não precisarei usar um uniforme escolar mais; embora eu tenha usado um como fantasia para o Halloween esse ano. Eu era a Lolita do Nabokov. Eu amo o Halloween. Quero dizer, é a única data no ano que por uma noite você pode se transformar em quem você quiser e todo mundo tem que aceitar isso.

Orgulho e Preconceito, O morro dos ventos uivantes, Alice no espelho, O Leão, a Feiticeira e o Guarda Roupa, O Mágico de Oz, Contos dos Irmãos Grimm, Matilda, As aventuras de Alice no pais das maravilhas e Romeu e Julieta são meus livros preferidos... Mesmo os livros infantis, eles são tão simples...

Her é o filme mais bonito que eu já vi nada vida... Ele me faz chorar. Adoro assistir Grey’s Anatomy e Desperate Housewives. Sonho em ser escalada como Odette em “O Lago Dos Cines”, mas agora tenho que me preocupar com a minha peça “Blackbird”, dos Beatles.

I’M NOT LIVING

— Mas que... Porra! Droga, Harry, mas que droga! — resmunguei me olhando no espelho do Carcaça. Não é bem uma pessoa, na verdade é o carro velho que o tio de Harry “deu” (na verdade Harry “roubou”, isso mesmo, tudo com aspas) para ele quando comprou um novo. Eu e Harry passávamos altas horas viajando no Carcaça, ele era um bom menino. — CARALHO!

— Calma, cara! Para de mexer, assim todo mundo vai notar! — Quatro-olhos, era o meu melhor amigo desde a quinta série. E-R-A, porque agora ele não é mais. Cínico, ele prendeu o riso enquanto admirava meu cabelo novo. Eu sabia que nunca deveria ter confiado em Harry.

Ele é um safado da pior espécie. Você sente pena daquele menino branquelo, magrela de olhos verdes e óculos fundo de garrafa, mas não se engane, precisa ver esse tirano em ação. Semana passada, antes do começo das aulas, ele veio com uma historinha descarada, a mesma coisa de sempre.

“Hora de mudar o visual, Rony”, “Vão pensar que você é uma mulher se não cortar esse cabelão”, “Não minto quando digo que já te confundi com Gina...”. Ele me convenceu a ir em um salão ultra moderno onde arrumariam meu tão amado cabelo ruivo e desgrenhado, que batia até o ombro. Essa foi minha última lembrança.

— Impossível não notar a merda que você me fez fazer! — desesperei-me, puxando o cabelo com força, querendo ficar careca. — Eu estou parecendo... Parecendo...

— Justin Bieber. — respondeu Harry soltando um ronco logo em seguida. Matei Harry mentalmente enquanto ele se contorcia no banco do motorista de tanto rir.

— Eu vou matar você.

— Ei, é o Justin Bieber! — gritou Malfoy passando com os amigos. Mostrei o dedo do meio para o albino enquanto ele ria com os macaquinhos dele. Quando me virei para pegar a mochila, Harry enxugava algumas lágrimas na bochecha. Descemos do carro e caminhamos pelo estacionamento. Mais um maldito dia de aula. A cada dia que se passa mais eu me arrependo de ter repetido o ano. Eu odiava aquele lugar repleto de gente idiota e sim cérebro. Um bando de cópias, robôs escarrados pela mídia asquerosa e manipuladora.

Enquanto minhas botas de exército afundavam o chão, um barulhinho irritante de salto vinha atrás de nós dois. Harry se virou e foi esmagado, quer dizer, abraçado violentamente por uma menina morena, que eu nunca vi na vida. Mas ao ver a roupa, desviei o olhar.

— Harry! Que barbaridade! Estou tão feliz em lhe rever! — que vocabulário é esse? Caralho... Que dizer... Barbaridade!

— Mione, uau! Tudo bem com você? — sorriu Harry simpático. Só com ela. Os dois conversaram por minutos intermináveis e me ignoraram completamente como se eu fosse apenas um poste ruivo. Até que a tal da “Mione” me notou.

— E esse é...? — perguntou Hermione. Quando ela se virou para mim, pude vê-la melhor. Ela era uma patricinha das piores. Um salto alto rosa, acompanhado de um vestidinho branco bem estilho princesinha, o cabelo preso em um coque esquisito, que dava destaque aos seus cachos castanhos.

— Just... Quer dizer, Rony Weasley. — brincou Harry. Ignorei Harry e apertei a mão de Hermione, era tão pequena e lisa que quase desapareceu sobre a minha.

— Quanto preto! — isso foi um elogio? Analisei minhas botas, a calça desbotada e detonada, a camisa do Oasis e a jaqueta de couro. Estou normal!

— É... — Ficamos em um silêncio terrível até uma loirinha pior que ela aparecer e chamá-la para dentro da escola. Encarei Harry com a minha melhor cara de “Quem é essa criatura?”

— Hermione. Ela morava na minha rua quando eu era pequeno. Seja legal com ela, ok? Quase tive um AVC com medo de você começar um discurso moralista sobre a roupa dela!

— Até parece que eu iria perder meu tempo. Ela já foi sugada. — retruquei contrariado. Harry suspirou. Ele não gostava muito quando eu falava que a pessoa foi sugada. Eu me refiro a maldita mídia manipuladora, sugadora de almas. Fabricando cópias de Mileys sem nenhum pudor. Entramos no Salão Principal da escola, onde as pessoas gritavam e conversavam alto. Avistei minha irmã com Hermione e a loirinha, conversando e admirando o ambiente. Notei que Harry também olhava.

— Ei! — cutuquei-o bruscamente.

— Não estava olhando pra Gina! Enfim... Hermione não é esse tipo de menina, ok? E outra, se você continuar tão seletivo desse jeito, vai acabar sozinho.

— Não tenho tempo para me preocupar com vacas tipo Ariana Grande. — retruquei enojado. Harry me dava desgosto.

— Meu Deus, cala a boca! — mandou Harry, socando meu ombro. Subimos as escadas, em direção da sala.

• • •

E lá estávamos nós outra vez. Era minha segunda vez no primeiro ano. Eu sei, isso é uma vergonha, mas fazer o que, nunca fui santo. Harry também havia repetido o ano, mas eu sei que ele fez isso mais para não me deixar para trás. Esse safado é um bom amigo.

Eu estava interessado em qualquer coisa, menos na Revolução Francesa. Coloquei os fones de ouvidos discretos, para o professor Binns nunca me pegar, mas eu esqueci que agora eu estava de cabelo curto graças ao retardado que chamo de amigo. Olhei para o lado e vi que todo mundo estava babando nos livros. “Caraca, nem no primeiro dia de aula esse Binns consegue ser interessante”, continuei analisando a sala até saltar da cadeira.

Meu coração foi na porta e voltou disparado. A menina mais linda que eu já vi na minha vida, trocando de música discretamente com o iPod debaixo da mesa. Ela vestia uma camiseta dos Sex Pistols, uma calça preta totalmente detonada e uma bota de exército, seu cabelo era loiro, mas e daí? Era lindo! Ela virou-se rapidamente como se soubesse que eu estava a despindo com os olhos. Seu rosto era melhor ainda! Os olhos verdes e esfumaçados de preto e um leve batom vermelho.

De onde essa garota surgiu? Será que ela está na sala há décadas e eu nunca notei por estar basicamente sempre dormindo ou matando aula? Droga!

“Ela é um anjo da morte! Estou apaixonado!”, gritei mentalmente. Tirei os fones e cutuquei Harry que roncava ao meu lado.

— Harry! Harry, eu achei minha esposa! — sussurrei para o quatro-olhos, que ainda babava.

— Que ótimo.

— É sério, Harry. Você precisa me ajudar!

— Cala a boca, isso seria legal. — babou Harry.

— EU GOSTARIA que vocês formassem duplas e respondessem essas dez questões nesses vinte minutos. — berrou o professor Binns. Harry e eu havíamos bolado um plano digno de um cafetão golpista. Eu iria calmamente pedir para me juntar com Anjo da Morte, pois já havia acabado todas as duplas, iria elogiar a camiseta e conversaríamos sobre as músicas do Sex Pistols e talvez, quem sabe, sobre Sid e Nancy.

Harry arrastou sua cadeira rapidamente para o lado de Gina e ele fez uma cara do tipo: “Só pra te ajudar, amigão”, acalmei meus pulsos nervosos que estavam pedindo para “acariciar” o rostinho de Harry desde a semana passada e atravessei a sala em direção da loira.

— EI, LILÁ! — gritou Simas lá no fundo. — Vamos fazer juntos?

E aqui acaba a história de amor que eu poderia ter construído com aquela Anjo da Morte.

— Rony, será que você poderia fazer comigo? — perguntou uma voz infantil e doce, porém, autoritária. Virei-me e dei de cara com a nariz arrebitado. Hermione. Em um dia, eu estava pagando por todos os meus pecados. Lilá Weasley (gosto de brincar com meus próprios sentimentos) se fora mais cedo do que combinado e me aparece a Barbie morena para substituí-la.

Harry conversava animadamente com minha irmã, e nem percebeu minha desgraça.

Oh Deus, me ajude a não ter o cérebro sugado pelo vácuo só de ficar perto dessa garota.