Asleep escrita por Deadly Fortune


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

ÊTA. Que demora é essa pra postar o segundo capítulo? D: Hahaha, estou sem tempo pra nada pra essa vida. mas pra MakoHaru a gente sempre arranja um jeito -v-



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Ele ficou estático. Seus olhos fixaram-se no chão e ele permaneceu sem piscar por quase um minuto inteiro. Sentia que o ar ficara subitamente rarefeito e que o coração arrebentaria suas costelas. Será que a mente estava a lhe pregar peças? Aquele não poderia ser Haru, certo? Talvez ele estivesse vendo coisas, o sonho da noite anterior deve o ter transtornado a esse ponto.

Makoto disse a si mesmo para se acalmar, se continuasse assim começaria a chorar ali mesmo. Todos no corredor olhavam para ele depois do grito acidental que encheu o lugar. Tachibana provavelmente seria punido se aquilo chegasse aos ouvidos de seus chefes, um enfermeiro gritar em um hospital era tão cômico quanto improvável. Mas ele não poderia fingir que nada estivesse acontecido. Precisava voltar ao trabalho, porém precisava ter certeza de que viu a coisa errada. Poderia ser alguém apenas parecido com Haru, a maca passou tão rápido que praticamente qualquer um com o cabelo preto poderia ser confundido com ele.

Mako ajeitou seus óculos que ameaçavam a cair. Quando levantou a cabeça, todos os curiosos desviaram seus olhos e pacientes e funcionários voltaram a fazer o que estavam fazendo antes daquela cena tão atípica. Tachibana respirou fundo e segurou a prancheta em suas mãos suadas. A sala de emergência era no final do corredor e foi para lá que levaram o suposto Haruka.

Os sapatos brancos do enfermeiro percorreram o chão sujo do corredor até a sua última porta. Enquanto andava aquele caminho que não devia ter mais de 10 metros — e que pareceu quilômetros para Makoto —, ele notou mais enfermeiros entrando na sala de emergência e fez com que seu medo triplicasse. Ele não ousou entrar, limitando-se a observar a cena através do pequeno visor de vidro na porta. Tinha muitas pessoas na sua frente para conseguir identificar o paciente de imediato e ele não parecia ter sofrido nenhum acidente já que não viu nenhum rastro de sangue ou lesões. Isso preocupou ainda mais o enfermeiro, pois mesmo que não pareça estar ferido, poderia existir probabilidade que o moreno tenha sofrido algo sério como um ataque cardíaco ou AVC. Makoto prensou os lábios e rezou pelo melhor.

Quando, enfim, conseguiu ter um deslumbre completo do paciente, Makoto quase caiu de joelhos no chão. Era mesmo Haru. Haruka Nanase, o único homem que já amou enquanto viveu, estava ali. Inconsistente.

Ele não passava de um sonho e pareceu não ter envelhecido um dia desde aquele fatídico fim de tarde há seis anos. Seu rosto delicado parecia mergulhado em um sono pacífico, com os longos cílios negros roçando suas maçãs do rosto e os finos lábios quebradiços entreabertos, escondidos debaixo do plástico branco do respirador. Seus cabelos escuros caíam sobre sua testa e espalhavam-se pelo travesseiro; Makoto não recordava de um momento em que o cabelo de Haru estivesse diferente, sempre do mesmo comprimento e penteado do mesmo jeito. Exceto a pele menos bronzeada, Haruka parecia exatamente como se tivesse dezessete anos de novo. Mako queria entrar naquela sala e acordar o rapaz ele mesmo, para que pudesse fugir com ele em seus braços para um lugar onde ninguém os achasse e que ninguém conseguisse arrancar Haruka de sua vida novamente.

Depois de seis longos anos, ver o seu rosto era uma sensação no mínimo estranha. Se fosse em qualquer outra condição, Tachibana sentiria um misto de mágoa e fúria. Mas, mesmo sem admitir, as lágrimas que cairiam por suas bochechas seriam da mais pura felicidade. As coisas que aconteceram entre eles já não importariam: As noites em que Makoto passou em claro ou chorando à procura de notícias sobre o amado; a sensação de imenso vazio; o tempo em que o rapaz passou mentindo à si mesmo dizendo que já tinha superado Haruka. Tudo aquilo não importaria se ele pudesse abraçá-lo mais uma vez.

Mako estava perdido em pensamentos angustiosos quando o monitor de batimentos cardíacos mostrou uma linha tênue cortando a tela preta seguido de um som constante e agudo. Makoto sentiu como se o seu próprio coração tivesse parado. Os profissionais dentro da sala se movimentaram rapidamente, pegando todos os equipamentos necessários. O doutor pediu para que todos se afastassem e as pás do desfibrilador estouraram no peito do paciente. Haruka ainda parecia dormir tranquilamente mesmo com o forte choque, porém seus batimentos cardíacos logo voltaram a se mover na tela do monitor. Toda a ação ocorreu muito rápido, impedindo que Tachibana entrasse na sala no alto do seu desespero.

Aquilo era demais para Makoto, não merecia ver cenas como aquela. Ele virou de costas para a sala de emergência e para Haru, voltando a caminhar pelo corredor. Sua mente estava agitada como nunca antes e toda aquela confusão era refletida em seus olhos verdes inconstantes, com lágrimas presas que se recusavam a cair. Ele andou sem rumo pelos corredores e quando menos percebeu, já estava bem longe daquela sala de emergência. Obrigou suas pernas a pararem e tentou acalmar seu fôlego. Fungou e tirou seus óculos, limpando as lágrimas com a manga do seu uniforme.

Ele fitou a prancheta que ainda segurava e colocou seus óculos para lê-la, molhando suas lentes. No meio de sua mente tortuosa, ele conseguiu perceber que era impossível continuar ali daquele jeito: Seus olhos estavam vermelhos e inchados, não conseguia respirar e soluçava desesperadamente. Sua garganta ardia como o inferno e sentia toda a força deixando seu corpo. Não conseguiria ficar naquele hospital, sua mente dava voltas com a ideia de encontrar Haru novamente — e com a ideia de que poderia ser a última vez.

Makoto girou nos calcanhares e correu, algo extremamente proibido naqueles corredores. Felizmente não tinha ninguém ali para reprendê-lo. Correu até a sala dos enfermeiros por onde entrou, abrindo a porta com um empurrão e largando a prancheta em qualquer lugar. Uma enfermeira que tinha acabado de chegar se assustou com o barulho do objeto estalando subitamente no chão.

— Makoto-kun? — perguntou a jovem enfermeira enquanto guardava seu casaco. Ela fitou o rosto do rapaz com preocupação legítima. — Está tudo bem?

Mako sequer se preocupou em respondê-la, não por falta de educação — Makoto poderia ser tudo menos mal-educado —, mas sim por não tê-la notado. Era como se o mundo tivesse parado para o rapaz e tal não fazia a mínima questão de ser parte dele, não enquanto sua mente girava daquele jeito. Tachibana pegou seu casaco verde-oliva e saiu em disparada, sem nenhum destino aparente.

Ele correu entre o mar de pessoas apressadas nas calçadas de Chiyoda. Acotovelou algumas e outras o xingaram palavrões que nem ele conhecia, porém Makoto não escutou nada. Quando finalmente foi obrigado a parar, esperando o sinal de pedestres abrir, ele conseguiu raciocinar mesmo por um curto período de tempo. Sinalizou para um táxi que estava parado no sinal e demorou mais tempo do que deveria para dizer seu endereço para o taxista. No banco de trás, tentou reorganizar os pensamentos. Encostava a cabeça no banco de couro e passava a mão na face subitamente sem cor e com lágrimas secas na bochecha. Ele olhou pela janela e viu vários letreiros, carros e todos os tipos de pessoas passarem como borrões. Sentiu como se a vida estivesse passando por ele e deixando-o para trás.

Quando finalmente o táxi chegou à frente de seu velho prédio, Makoto despejou notas aleatórias em cima do pobre motorista esperando que algumas pudessem pagar pela corrida, gastando seu escasso dinheiro em um percurso caríssimo. Passou pela portaria e subiu três andares de escada sem sequer se importar. Girou a chave do apartamento 25 e entrou abruptamente. Nagisa estava sentado no sofá velho quando foi surpreendido.

— Mako-chan?! — ele amassou o mangá shoujo que estava em suas mãos devido o susto que levou. O loiro usava pijamas e sua franja estava presa em um penteado estranho. — E-E-Eu ia pra uma entrevista de emprego, mas furaram comigo no último instante! Eu juro!

Makoto não se importou com as desculpas esfarrapadas do amigo, ele apenas despiu-se do seu casaco e tirou seus sapatos brancos imediatamente. Andou depressa pela pequena sala enquanto o colega o bombardeava com histórias falsas que Makoto não poderia se importar menos.

— Mako-chan...? Aconteceu alguma coisa? — perguntou Nagisa, levantando-se do sofá e seguindo o mais alto. Makoto entrou em seu quarto. — Mako-ch....

Sem que pudesse terminar de falar, Makoto bateu a porta do quarto, deixando o loiro sem ação. Assim que se trancou ali, Mako arrastou as costas pela madeira e caiu sentado no chão frio. Finalmente conseguiu paz, seu quarto apertado o sufocava às vezes, mas era o único lugar para qual fugia em situações como aquela.

Ele abraçou as pernas e chorou como se quisesse arrancar tudo que se emaranhava cada vez mais em seu peito. Chorou como se tivesse oito anos outra vez. Seus óculos caíram no chão assim que ele abaixou a cabeça e as lágrimas desciam por suas bochechas em velocidade alarmante, assim como o volume de seus gemidos e soluços que só aumentava. Ainda não conseguia acreditar no que acontecia com ele, desejou que estivesse preso em um dos seus muitos sonhos que envolviam Haruka. Mas nem em seus piores pesadelos poderia pensar algo como aquilo. Passou os últimos seis anos imaginando se e como reencontraria seu amado, imaginou cenários como um reencontro rápido em um dos vagões lotados do metrô ou como o dia que Haru apareceria em sua porta com flores e um pedido de desculpas. Todos bastante improváveis. Contudo, vê-lo lutando pela vida em uma cama de hospital era desesperador e muito além de sua imaginação. Ali deitava o homem para quem dedicou todas suas ações e pensamentos durante tantos anos, encontrar Haruka naquele estado era pior do que não reencontrá-lo em absoluto. Makoto amaldiçoava sua vida e qualquer ser divino e sobrenatural que poderia estar responsável pelo seu desgraçado destino.

O rapaz esfregou o nariz avermelhado na extensão da sua manga, ignorando as batidas na porta feitas por Nagisa assim que escutou os gritos do amigo. Analisou rapidamente seu quarto e finalmente deduziu o óbvio: Ele não tinha superado Haruka.

Achou relíquias que passavam despercebidas no dia a dia, mas que naquele momento faziam todo o sentido. Tesouros da sua antiga vida que Makoto guardou, mesmo inconscientemente. Nas prateleiras de madeira, conseguia ver porta-retratos com fotos de seus pais e irmãos, assim como uma escultura de vidro em miniatura de um golfinho. Foi um souvenir da primeira vez que Makoto e Haruka foram juntos ao recém-inaugurado Aquário em Iwatobi. Na mesma prateleira, a maioria dos livros em sua coleção ou pertenciam a Haruka ou o faziam lembrar do moreno. Na sua cama, encontrou um travesseiro infantil em forma de gato, presente de aniversário dado pelo ex-namorado. Se abrisse o armário, encontraria sua camisa favorita amarela e laranja, que só ganhou esse título porque Haruka gostava de usá-la de vez em quando. E dentro de algumas gavetas encontraria lembranças como antigas fotos e cartas. Essas machucavam bem mais.

Até seus casos de uma noite só ou relacionamentos sem compromisso, todos os homens com que teve uma ligação eram parecidos com Haruka em algum sentido. Homens de cabelos negros e olhos azuis ou com uma personalidade fria, até nadadores ou artistas talentosos. Qualquer coisa que o fizesse lembrar de seu único amor, e Makoto entregava-se àqueles relacionamentos vazios como se fosse o próprio Nanase que estivesse consigo. Ao perceber tudo aquilo, Makoto sentiu-se estúpido como nunca.

Quase instantaneamente, Mako foi bombardeado com diversas memórias.

Você ficou tão pouco tempo dessa vez, Haru. — Falou com um sorriso triste, entregando a mochila um tanto pesada para o rapaz.

Haruka pegou sua mochila e colocou sobre os ombros.

Eu sei. — Respondeu quase indiferente.

Os dois estavam por volta dos dezoito anos, parados no meio da estação de trem de Iwatobi. Era um dos invernos mais rigorosos que já caiu sobre aquela pequena cidade litorânea e ambos os rapazes usavam roupas apropriadas para o clima.

É por causa daquilo que lhe falei. — Continuou Haruka.

Sim, eu sei disso — respondeu o de cabelos castanhos, enquanto ajeitava o cachecol vermelho. — É que eu fico triste de não passar tanto tempo com você, só isso.

Haru explicou para Makoto que passaria bastante tempo sem voltar para a cidade já que seus pais não tinham mais negócios na região e o obrigavam a estudar bastante para que passasse em uma boa universidade.

Bom — Makoto sorriu, esperançoso. — O semestre está quase acabando. Já lhe disse que vou prestar exames para Tóquio. Assim posso ir morar lá com você!

Haruka assentiu silenciosamente.

Senhores passageiros, o trem U-6678 com destino a Tóquio está prestes a partir. Por favor, dirijam–se a seus assentos. — A voz feminina ecoou pela estação.

Ah, é melhor se apressar, Haru!

Makoto inclinou-se e deu um abraço apertado no namorado.

Me liga quando chegar, tá bom? — O mais alto deu um discreto beijo na testa do amado.

Haruka lhe entregou uma resposta monossilábica, assim como um abraço curto e quase frio. Mako estranhou, porém entendeu já que ele estava atrasado para embarcar.

O moreno entrou no trem e dirigiu-se até seu assento ao lado da janela. Makoto ainda conseguia vê-lo e o fitava com um sorriso gentil. Assim que as portas do trem se fecharam e os sinais foram soados, Mako acenou amorosamente para Haru. O menor o encarou com olhos indiferentes e não deu nenhuma resposta, nem sequer um pequeno sorriso. Apenas direcionou o olhar para frente e o trem partiu.

Aquela foi a última vez que Makoto o encontrou.

Ao relembrar daquele dia frio de inverno que parecia tão vivo em sua mente, Makoto não teve outra opção além de chorar ainda mais.

Quando foi que eles deram errado?


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Notas finais do capítulo

Não foi lá grandes coisas, porém espero desenvolver mais as coisas que aconteceram entre eles no próximo capítulo :3
Obrigada por ler!