No dia seguinte, Naruto acordou mais cedo do que de costume. Não conseguindo dormir outra vez, ele saiu de dentro da pequena casa. Ainda estava escuro, e os primeiros raios de sol começavam a nascer no horizonte.

– O que era aquele túmulo? Não pode ser de verdade... – ele suspirou.

– Aquela vez... – suas memórias voltaram para um dia em especial muitos anos atrás.

Flashback

Naruto caminhou pelo amplo corredor escuro até encontrar uma imensa sala, onde apenas um cristal laranja brilhava intensamente.

Um pouco incerto, Naruto deu um passo para frente. Então outro, e mais outro, até que estava a centímetros de tocar o cristal. Repentinamente, o lacrima brilhou. No instante que se seguiu, o cristal ficou tão pequeno que poderia caber na palma da mão do menino. Um imenso portão de grades se formou onde antes havia uma parede e, por detrás dele, uma coisa incrivelmente poderosa estava presa.

– Eu vou lhe emprestar o meu poder... – sussurrou algo de dentro do portão. – Dessa vez. – a voz era carregada de ódio e intenções malignas, de tal forma que apenas ouvi-la criava no pequeno loiro uma imensa sede de sangue. – Mate todos! Destrua-os! – rugiu, fazendo o portão e todo o corredor tremerem violentamente.

Então, ele pegou o cristal. Imediatamente, uma onda de energia demoníaca preencheu seu corpo e sua mente.

Fim do Flashback

– Eu tinha esquecido aquela vez... mas eu tenho certeza que a coisa atrás do portão é a origem daquela energia demoníaca... – ele murmurou. Tantas perguntas percorriam sua mente nesse momento. – Se eu tentar entrar naquele local outra vez?

Ele fechou os olhos e tentou focar outra vez seus pensamentos em algo que trouxesse um sentimento negativo. Uma pontada de energia demoníaca parecia tentar puxá-lo, mas não era forte o bastante. Apenas o suficiente para lhe fazer sentir uma nova onda de poder mágico preenchendo seu corpo. Imediatamente, seus ferimentos da luta contra Orochimaru desapareceram.

– Isso... – ele olhou para suas mãos. Suas unhas tinham se tornado semelhante a garras. – É energia demais...

Rapidamente, Naruto sacou a pistola mágica em sua cintura e canalizou aquela energia mágica para ela. Ele apontou-a para o céu e apertou o gatilho, disparando uma gigantesca torrente de poder mágico laranja pulsante.

O feixe percorreu mais de um quilômetro em alguns segundos e explodiu no céu com tanta intensidade que imediatamente desmanchou as nuvens, provocando um imenso vendaval. A terra tremeu um pouco. Por segundos, o céu foi tingido com uma cor laranja antes da energia se dissipar.

– Caramba... melhor não usar isso toda hora... – com esse único ataque, sua respiração acelerou. Naruto cambaleou para trás, caindo sentado sobre a terra.

Ele ouviu a porta abrir e desviou o olhar, um pouco surpreso ao ver que era Erza.

– Ah, você já consegue andar?

– É claro. É um pouco difícil porque dói, mas eu consigo. – respondeu ela. – O que foi essa explosão?

– Desculpe por isso, eu não imaginei que ia fazer tanto barulho. Só estava testando uma coisa. – ele parou. – Sasuke e Sakura não acordaram?

Ela acenou negativamente com a cabeça.

– Acho que Sakura está cansada por causa de ontem. Ela deve ter cansado curando eu, você e Sasuke, e depois me carregando. E Sasuke, eu sempre soube que ele era um preguiçoso...

– Haha, isso é verdade. – Naruto colocou novamente a pistola no coldre. – Sabe, eu não tinha pensado nisso que você falou sobre a Sakura. Você pode voltar a dormir se você quiser, sabe.

– Não, eu não estou mais com sono.

Eles ficaram em silêncio. Naruto sentado na terra, enquanto Erza estava sobre varanda da casa de madeira.

– Me desculpe. – Erza quebrou o silêncio.

– Hã? Pelo quê?

Ela olhou para o chão.

– Por antes, sabe. O mal entendido. – ela suspirou. – Eu nem deixei você explicar.

– Ah, tudo bem. Mas eu ainda não entendo por que você parece tão familiar.

– Nem eu.

Ela saltou da pequena varanda, apertando os olhos por causa da dor.

– Ghh... aquele ataque foi o mais forte que eu já tomei. Parece que um trem atingiu a minha barriga.

– Desculpe. Eu não podia me segurar contra ele.

– Não se preocupe, foi culpa minha. – ela suspirou.

– Agora que você falou, foi mesmo. Não faça mais aquilo.

Ela assentiu com a cabeça.

– Tanto faz, depois de sentir como é, eu nem pensaria em fazer aquilo outra vez.

– Ainda dói?

– Um pouco... – Erza esfregou um pouco o local atingido. – Podia ter sido pior. Dói mais quando eu ando.

– Escolha curiosa de armadura, a propósito. Nunca vi uma armadura de oncinha.

– E-Ei, não é minha culpa! – ela corou. – Não sou eu quem fabrica elas.

– Tanto faz, ainda acho essas suas armaduras indecentes.

Nesse momento, a porta da casa se abriu e Sasuke saiu do interior.

– Aaah... que surpresa, o preguiçoso acordou antes dela. Ela deve mesmo estar cansada.

– Falou quem dormiu ontem a manhã inteira, ainda por cima sendo carregada. – retrucou Sasuke.

Erza corou com a resposta do Uchiha.

– N-Não foi por escolha! – ela gritou.

– Aposto que você quer que a Sakura acorde pra te carregar outra vez.

– Ugh, cala a boca, você é mais irritante que a Mira!

– Dá pra vocês dois calarem a boca? – Naruto suspirou. – Ou falarem mais baixo, tanto faz. Vocês vão acordar Sakura.

– Agora é um pouco tarde pra isso... – Sakura falou, saindo de dentro da porta aberta. Ela bocejou. – Que hora nós vamos sair?

– Daqui a pouco. Vamos tomar café, e depois saímos em dez minutos.

Ela assentiu com a cabeça, ainda um pouco sonolenta.

– Erza, por que você está aí em pé?

– Ah, eu já não estou sentindo tanta dor. – respondeu Erza.

– Não interessa, senta. Você não pode ficar se movendo. – Sakura cruzou os braços.

– Mas eu já estou me sentindo bem.

– Senta. Agora.

Erza olhou para cima. Ela empalideceu um pouco com lembrar de como a garota mais velha tinha lançado Natsu com um chute.

– H-Hai Porlyus-... Sakura.

– Ok. – disse Naruto. – Vamos comer algo e depois continuar viajando, eu quero chegar a Crocus ainda hoje.

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– Oh meu Deus, eu já disse que eu consigo andar. – Erza protestou inutilmente, outra vez sendo carregada pelo caminho.

– Fique quieta, criancinhas precisam ser carregadas assim. – disse Sasuke.

A garota olhou para ele com raiva, corando.

– Quando eu descer daqui, você me paga.

– Quer que eu esquente o seu leitinho?

– Olha, calem a boca. – disse Naruto.

– Naruto, você não precisa fazer isso. – Erza suspirou.

– Não importa. Sakura já carregou você ontem o dia todo. Sou eu ou Sasuke, você escolhe.

Quando eles saíram, Naruto tinha insistido em carregar Erza no lugar de Sakura. No início, as duas tinham sido completamente contra a ideia, mas discutir com ele era completamente inútil.

– Eu jogo ela no primeiro rio que acharmos. – falou Sasuke.

Erza fez uma careta.

– Eu não ia escolher você nem que você fosse a última pessoa na face da Terra.

– Se eu e você fossemos as últimas pessoas na face da Terra, eu preferiria me matar e deixar você ser a última. – retrucou Sasuke.

– Se eu não te matasse antes.

– Você usa uma espada da mesma forma que um panda usaria uma vara de bambu.

– Sakura, você já consegue usar a superforça? – perguntou Naruto, suspirando.

– Acho que já, por quê?

– Pra calar a boca desses dois idiotas.

Erza empalideceu com a ideia de receber um soco de Sakura. Sasuke simplesmente desviou o olhar, fingindo não se importar com a ameaça.

– Eu não entendo o que vocês dois tem um contra o outro. – disse Naruto.

– Ele me irrita. – respondeu Erza.

– Tanto faz. Eu tenho uma coisa pra contar pra vocês. – repentinamente, o tom de Naruto ficou mais sério.

– O que é? – perguntou Sasuke, um pouco curioso.

– Lembram ontem a noite, quando eu saí pra ver uma coisa?

Eles assentiram com a cabeça.

– Eu fui até o cemitério de Konoha. Está tudo destruído, é claro, mas tinha algumas lápides que dava pra ler. Uma delas me chamou a atenção.

– Por quê?

Naruto suspirou antes de falar.

– Porque dizia “Naruto Uzumaki, Herói da Folha. X308 a X338”.

Por alguns segundos, ninguém falou nada.

– Você tem trinta anos? – perguntou Erza.

– Claro que não! – gritou Naruto. – Eu tenho dezoito.

– Naruto, como diabos você pode ter morrido com trinta anos, se você foi enviado pro futuro com dezoito? – perguntou Sakura.

– Não sei. Talvez eu tenha voltado pro passado?

– Nós teríamos voltado também. – disse Sasuke.

– Eu não sei, eu não procurei mais. Depois disso apareceram os bandidos, e eu acabei esquecendo.

– Orochimaru falou algo estranho pra mim durante a luta. Não lembro bem o que era. Talvez ele saiba de algo... Mas não temos como encontrá-lo.

– Pra começar, quem é Orochimaru? – perguntou Erza, completamente perdida no meio da conversa.

– É aquele homem que te puxou na frente do meu ataque. – respondeu Naruto.

– Disso eu sei. Quem ele é exatamente?

– Um shin... digo, um mago criminoso potencialmente tão forte quanto um dos dez magos santos. Ele é extremamente perigoso, e realiza experimentos com cobaias humanas há cerca de quatrocentos anos.

– Como diabos eu nunca ouvi falar dele?

Naruto olhou discretamente para Sasuke e Sakura.

– Erza, deixe eu explicar de uma forma simples. Quatrocentos anos atrás, não existiam magos como você conhece hoje. Eram chamados shinobis. Ou ninjas. – disse Sakura. – Orochimaru ficou escondido das cinco grandes nações ninjas por mais de cem anos, não é muito difícil pra ele ficar despercebido hoje em dia.

– Então... vocês são “ninjas”?

– Sim. – respondeu Naruto. – Er... mais ou menos. Nós fugimos da nossa vila há muitos anos.

– Por quê?

– Eu prefiro não falar sobre isso.

– Nem nós. – disse Sasuke.

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Depois daquela conversa, eles viajaram em silêncio pelas próximas horas. Com o tempo passando, Erza cochilou. Naruto estava perdido em pensamentos sobre seu próprio túmulo, a viagem no tempo, as palavras de Orochimaru e sua estranha ligação com Erza. De algum jeito, ele sabia que tudo isso estava interligado.

– Naruto! Ei, Naruto!

Ele piscou uma vez e sacudiu a cabeça, como se saindo de uma espécie de transe.

– Sim?

– Eu só estava pensando, o que vamos fazer em Crocus?

Ele olhou fixamente para Sakura.

– Eu... não sei.

– Oh meu Deus... você é idiota? – gritou Sasuke.

– Cala a boca idiota, você vai acordar ela.

– E eu com isso? – Sasuke zombou. – Aliás, por que você se preocupa tanto com essa garota?

– Porque... – Naruto fez uma pausa. – Eu... eu não sei porque, eu só me preocupo. Eu sinto como se eu e ela estivéssemos ligados.

– Besteira, como você pode estar ligado com alguém 404 anos mais novo que você?

– Bem... – disse Sakura. – Se ela for da família dele, isso seria possível. Eu sinto nela uma energia muito parecida com a de Naruto.

– Mas como isso é possível? Eu não tinha parentes, não tinha clã, e não tem como eu ter tido nenhum filho porque eu viajei pro futuro. Então o que é?

– Não sei responder isso, Naruto. Aposto que Orochimaru sabe de algo, mas não tem como encontrarmos ele, como você disse.

– Às vezes, eu só queria que as coisas fossem um pouco normais com a gente.

– É, nós também.

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– Meu Deus, que horas são?! – Naruto gritou.

– Ugh, não grite. – Erza murmurou, ainda um pouco sonolenta.

– Cuidado Naruto, vai assustar a bebezinha. – disse Sasuke.

– Maldito, você me... – a garota bocejou. – me paga...

– Por que você não volta a dormir? Quer que eu busque o seu pijaminha?

– Ei, – Sakura os chamou – Parece que tem uma vila daqui a meio quilômetro.

– Que bom, podemos descansar um pouco antes de continuar...

– Cof, porque alguém não descansou o bastante. – comentou Sasuke.

Erza corou, mas evitou retrucar.

– Que merda, eu simplesmente não sei o que nós vamos fazer... – disse Naruto. – O que tem pra se fazer hoje em dia?

A garota ruiva olhou brevemente para o rosto do loiro.

– Ei, vocês não tem mesmo pra onde ir?

Eles olharam para ela. Sasuke estava prestes a fazer um dos comentários engraçados, mas Sakura foi mais rápida que ele.

– É. Não é como se tivéssemos planejado viajar no tempo.

– Então, vocês... uh... – ela parou. – Vocês não são de uma guilda, né?

Por alguns segundos, eles se entreolharam. Eles tinham a impressão de que sabiam o que ela queria.

– Não. – disse Naruto.

– Vocês querem, uh...

– Não. – respondeu Sasuke.

– Mas você nem me deixou terminar, oh seu idiota.

– Me deixe adivinhar. – murmurou o Uchiha. – Você ia nos convidar pra sua guilda. Aquela sua amiguinha também fez isso.

– Ah? Que amiguinha?

– Mirajane. – respondeu Naruto.

– E de onde você tirou que ela é minha “amiguinha”? – Erza estreitou os olhos para Sasuke, que mal parecia se importar com isso. – Aliás, quando ela convidou vocês?

– Ainda ontem de manhã, nós a encontramos numa outra vila.

– Ela deve ter ido fazer a missão lá... – ela murmurou. – Por que vocês não querem entrar na guilda?

– Nós... não estamos muito acostumados em ficar juntos com grandes grupos.

– Mas a Fairy Tail é diferente. Seria bom ter vocês lá... tirando ele... – Erza desviou o olhar para Sasuke. – Tentem dar uma chance, vocês mesmos falaram que não têm pra onde ir.

– Sabe, o que ela falou tem sentido. – disse Naruto.

– Talvez nós façamos isso, quem sabe? – murmurou Sakura.

– Acho que... chegamos... – disse Sasuke.

Eles desviaram o olhar para o grande portão de metal negro que dizia “Bem-vindos a Draynor”. Pequenas casas estavam bem distribuídas pela aldeia. A estrada era feita de tijolos, e havia uma pequena praça onde alguns vendedores armavam tendas e anunciavam seus produtos.

Mas era como se os moradores estivessem com medo de algo. Os poucos que saíam às ruas andavam às pressas de um lado para o outro, com um capuz de couro ocultando seus rostos. Suas peles eram pálidas e as roupas rasgadas.

– Parece que tem algo de errado acontecendo aqui.

– Por que não pedimos pra alguém? – sugeriu Naruto.

– Acho que não faz mal perguntar.

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Outro local,

– Milorde, perde a intromissão. – disse uma voz rouca. – Temos o novo membro.

– Excelente. Em breve, nós iniciaremos o plano. Fique alerta.

– Como queira.

A projeção de imagem do velho desapareceu, deixando mais uma vez sozinho o homem oculto nas sombras.