Separate Ways - Requiem escrita por WofWinchester


Capítulo 7
Fogo enjaulado




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Duas horas depois.
Eu estava apoiada no capô do Impala, observando um antigo sanatório abandonado. O prédio de tijolos a vista era cercado por grades e cercas elétricas desabilitadas, o mato a sua volta dava quase nos meus joelhos. Visualizei no celular a página da internet que falava sobre o local.
– Aqui diz que o sanatório El momentum , foi fundado por William Carter, um psiquiatra renomado, em 1865 e desabilitado em 1877. Ninguém sabe o motivo real, mas especulações dizem que eles faziam experiências com os pacientes e foram descobertos. No dia 23 de agosto de 1877 houve um incêndio que matou todos, inclusive as supostas provas que a policia precisaria pra prender o cara. O corpo de William nunca foi achado, e algumas pessoas dizem que ele se mudou pra outro lugar, onde continuou suas pesquisas – resumi o texto enquanto o lia.
– A cara do Crowley – murmurou Dean.
– Ninguém quer saber disso – retrucou Meg logo atrás de mim. Dei de ombros, preferindo ignorá-la.
– Parece bem quieto – comentou Sam, ao meu lado. Estávamos observando o prédio há uns vinte minutos e nada parecia fora do normal, apenas meu corpo se arrepiava ao pensar em entrar num lugar sinistro destes.
– Não é. Eu sinto – murmurou Castiel, aproximando-se da grade. Ele se virou para nos encarar. – A gente se encontra na porta lateral à oeste. – dizendo isso ele desapareceu. Típico.

Entramos no carro e Dean dirigiu até o outro lado do prédio, estacionando num lugar escondido. Fomos até o portão dos fundos, onde Sam jogou a mala e depois escalou a grade pra pular do outro lado, em seguida foi a vez de Meg, que pulou graciosamente no chão, sem fazer barulho. Os dois demônios foram logo atrás. Dean e eu nos encaramos, eu nunca havia pulado nem uma cerca na minha vida. Ele colocou a arma na cintura e juntou as mãos na altura do joelho.
– Senhorita – ofereceu. Coloquei um pé, depois o outro. Ele me impulsionou pra cima e eu me empoleirei no alto do portão, pulando desajeitada e caindo com o joelho direito no chão de concreto.
– Argh – gemi, minha calça jeans rasgou e um filete de sangue manchou o tecido.
– Você está bem? – perguntou Dean, já ao meu lado. Meg batia o pé na parte onde era terra e revirava os olhos.
– Quem sabe você chama a equipe médica?
– Não foi nada – respondi ao loiro, me levantando. Encarei Meg por dois segundos. Minha expressão dizia exatamente “Não me interessa se seus olhos são negros e você veio do inferno, está começando a me irritar”.

Seguimos por um corredor estreito e depois dobramos, havia uma porta de metal no fim com uma placa escrito “Só pra funcionários”. A maçaneta girou e Castiel a abriu.
– Não está parecendo muito fácil? – perguntou o Winchester mais velho.
– Fácil demais – concordou o caçula.

Entramos na porta estreita. Lá dentro era escuro, Puxei três lanternas da mala e entreguei uma pra Sam e outra pra Dean, ficando com uma pra mim. Subimos uma escada e em seguida estávamos num corredor espaçoso. O chão repleto de folhas secas crepitava a cada passo. Uma janela quase do tamanho da parede estava quebrada, a luz da lua fazia sombras fantasmagóricas. Eu sentia minha pele arrepiar a cada segundo, e uma sensação de pânico começou a tomar conta de mim. Eu respirava com dificuldade.
– Você está bem? – perguntou Castiel, pegando a lanterna da minha mão e colocando a luz na minha cara. Eu fechei os olhos e tirei o objeto da mão dele.
– Estou. Vamos – disse, seguindo logo atrás de Dean.

Várias portas de metal enferrujadas tinham barras de ferro e cadeados novos, sinais de que estavam usando esse lugar recentemente. Fitei uma porta e por um momento eu pude jurar ter ouvido o choro de uma garotinha, minha visão tremeu.
– Tem alguém aí? – perguntou uma voz feminina, parecia vir de mais a frente. – Por favor me ajude, por favor – segui a voz, parando em frente a uma das portas que tinha apenas as grades de ferro. Aproximei a lanterna e uma garota de cabelos negros e pele morena estava presa pelo pescoço e pulsos a correntes. Notei que seu braço tinha uma tatuagem do ombro até perto da mão.
– Vocês têm que me tirar daqui – suplicou num fio de voz – Por favor.
– Vamos Esther, nós temos que ir – sussurrou Sam, puxando o meu braço com um pouco de rispidez.
– Vamos simplesmente deixá-la pra trás? – perguntei.
– Não temos tempo, azar o dela – falou o irmão mais novo, friamente, caminhando em frente.
– Empatia Sam, Empatia – murmurou Dean, repreensivo. Em seguida se voltando para mim – É uma prisão de monstros. Crowley os está torturando. A garota é uma Djin. Inclusive já tentou me matar.
– Mesmo assim... – tentei protestar, mas ele me encarou sério. Embora meu bom senso gritasse comigo, eu decidi seguir em frente. Não tínhamos tempo.

Passamos por outras celas, vários corpos mutilados estavam espalhados por elas, corpos não humanos, mas nem por isso eles deixavam de sentir dor, de sofrer. Senti uma fisgada no peito que me fez parar por um momento, um dos demônios passou por mim, esbarrando no meu ombro e me olhando de cara feia.

Continuei andando, ao lado de Dean. No final do corredor, entramos por outra porta estreita que dava para outra ala de portas. Um lustre pequeno pendia no teto, a luz fraca iluminava um pouco mais o caminho. Senti minhas mãos começarem a suar frio.
– Esperem – Castiel parou abruptamente, estendendo o braço a minha frente num gesto protetor, impedindo a passagem.
– O que é?

Sons estranhos vinham de onde havíamos passado. Tentei apurar a audição. Pareciam... Cachorros correndo.
– Droga, lá vem os guardas – falou Meg, olhando em direção a porta.
– Cães do inferno – murmurou Dean, o olhar assustado. – Corram!

Saímos correndo em direção a uma porta dupla ao final do corredor, olhei pra trás tempo o suficiente pra ver os dois demônios serem arrastados pelos pés por algo invisível. Sam chutou a entrada e depois tirou uma estaca de madeira, colocando entre as duas aberturas para impedir que ela se abrisse.

Dean tirou sal da mala e fez uma barreira em frente à porta. Sangue esguichou nas janelas redondas da mesma e os cães se jogavam contra ela, fazendo estrondos. Castiel estava logo a minha frente entre eu e a passagem trancada, e Dean um pouco mais atrás, junto com Sam e Meg.
– Eu sabia que era uma cilada! – chiou Dean, trincando os dentes.
– O que você queria? Bolinho? – perguntou Meg, irônica.
– Tudo bem, isso vai deixá-los de fora – tranquilizou Sam.
– Não por muito tempo. Quantos são?
– Muitos. – respondeu a garota. – Eu vejo vocês lá em Cleveland. – Me virei para olhá-la, juntamente com Sam e Dean.
– Como é?
– Eu não sabia que isso ia acontecer. O lado bom: Enquanto eles mastigam esta casca vocês ganham tempo pra cair fora.

Ela levantou a cabeça e abriu a boca, parecia que ia deixar alguma coisa entrar, ou sair. Mas nada aconteceu. Os cães deram outra investida na porta, a madeira que a prendia lascou. Castiel se aproximou mais de mim, tive a impressão de que ele se preparava pra pular nos cachorros caso eles viessem na minha direção.
– É um feitiço. Acho que é obra do Crowley – disse o anjo – Dentro destas paredes você fica trancado em seu corpo.
– O carma é uma droga, vadia – debochou Dean. Sam puxou a faca.
– O que você vai fazer? Golpear no escuro até atingir alguma coisa? – sibilou o mais velho.
– Você pode vê-los – disse entregando a faca pra Meg – Pegue isto. É nossa melhor chance.
Ela ponderou por um momento.
– Use isto com Crowley. Vá, você mata o idiota e eu seguro os cães – falou decidida.
– E como você vai fazer isso? – perguntou Dean. Ela veio em minha direção me empurrando pro lado grotescamente.
– Ei – protestei. Meg foi até Castiel e o beijou delicadamente, colocando as mãos por dentro do seu sobretudo. Eu fiquei pasma, assim como Sam e Dean. Eles se encararam por um segundo, e quando eu pensei que já estava desnecessário o bastante, ele segurou-a pela cintura e prensou contra a parede, dando um beijo tipo aqueles de final de filme.

Eu engasguei, mas que porcaria é essa? Nós estávamos quase sendo mastigados vivos por cachorros invisíveis e esses dois de agarramento. A minha vontade era de jogar os dois pela janela e depois os cães do inferno atrás.
– O que foi isso? – perguntou Meg com um sorriso safado estampado na cara.
– Eu aprendi com o cara da pizza – respondeu Castiel pacificamente.
– Nota dez pra você. Eu me sinto tão limpa...
Com licença, mas estamos prestes a virar petisco de vira-lata. Podemos voltar ao que interessa? – interrompi, me metendo no meio dos dois. Meg fez cara feia pra mim. Dean e Sam estavam meio pasmos ainda.
– Tudo bem – disse ela segurando a lâmina prateada que havia pegado de Castiel em algum momento da pouco vergonha alheia – Vamos lá.
– Isso vai dar certo com o cão do inferno? – perguntou Dean, se recompondo.
– Ora, é o que vamos descobrir. Vão!

Corremos e entramos em uma porta que dava pra várias escadas. Descemos todos os lances até chegar numa espécie de depósito escuro. Havia marcas nas paredes e muito pó. Dava a impressão de que esse lugar, em especial, havia sido queimado. Talvez tenha sido a parte que foi totalmente consumida pelo fogo no incêndio de 1877.

Uma sensação estranha passou por mim, e quando eu respirei, era como se o ar estivesse quente e repleto de cinzas. Deslizei a mão pelo apoio da escada, senti minha pele se rasgar. Gemi vendo o sangue sair de um pequeno corte perto do indicador.
– O que é isso? Como você se cortou? – perguntou Dean, parando alguns passos a minha frente.

De repente as paredes começaram a se mexer diabolicamente, eu ouvia sons de vozes, choro, sons de gritos de pessoas. Meu corpo tremia e eu não conseguia respirar, estava sufocando.
– Esther! Esther! – a voz do loiro estava distante. Eu estava no chão, engatinhando pra longe das vozes. Um homem de branco entrou, segurando um aparelho de injeção, seu rosto estava tampado.
– Minha paciente zero – falou ele, vindo em minha direção.
– Não! Não! – tentei gritar, mas a voz não saia. Parecia que havia pedras na minha garganta, e nenhum ar. O pavor tomou conta de mim, eu arranhava o chão tentando me arrastar pra longe dele. Ele ia me pegar, e de algum modo eu sabia que esse homem ia me torturar, me causar muita dor.
– Esther! – chamava Dean, eu conseguia vê-lo logo acima de mim. O rosto retorcido de desespero e confusão, mas estava ficando transparente, como um fantasma.

O lugar se iluminou, e havia enfermeiros na minha volta, uns dez. As paredes queimadas agora estavam brancas, macas com lençóis impecavelmente limpos esperavam por seus pacientes. – O que está havendo com ela?!
– Ninguém vai te machucar – a voz de Dean e do homem de branco se misturaram.

Eu não sabia o que era real. Senti algo quente me puxar de dentro pra fora, como uma mão invisível, e então eu fui tragada de volta.

Castiel estava me segurando apoiada contra seu peito. Encarei minhas mãos, respirando rápido. Tudo havia voltado ao normal, mas o sentimento de pavor persistia. Eu estava atônita e confusa.
– O que você viu? – perguntou o anjo, apreensivo.
– Eu não sei. Era muita coisa – comecei a falar rapidamente – Tinha um médico, e tinha enfermeiros. Eles queriam me pegar, e tinha tantas pessoas sofrendo, tinha tanta dor... – engasguei com minhas palavras. Castiel arregalou os olhos, a expressão incrédula.
– Você também pode senti-los? – perguntou num sussurro. – Todas essas almas que sofreram nesse lugar... Estão aprisionadas aqui, gritando por ajuda. Você pôde vê-los?
Assenti com a cabeça. Dean e Sam estavam se olhando, tão incrédulos quanto Castiel.
– Isso não é possível. Apenas anjos muito poderosos podem ter contato com esse tipo de almas – sussurrou ele novamente. – Esther... – seus olhos estavam surpresos e confusos. Meu coração desacelerava aos poucos, se recompondo da dose de adrenalina recebida com o pavor.

De repente Castiel se iluminou, me cegando por alguns segundos, quando abri os olhos ele havia sumido. Samuel estava próximo a parede, retirando a mão de um símbolo feito com sangue, o mesmo que Dean havia usado na estação de trem.
– Você nos entregou? – perguntou Dean, irado. Três demônios apareceram pelas nossas costas, nos segurando pelos braços. Reconheci o homem negro e o outro que estavam no carro quando os Winchester os encontraram na fábrica mais cedo. O demônio me arrastou, prendendo minhas mãos. Tentei me debater, mas ele era muito forte e apertava cada vez mais.
– Droga, Samuel! – rosnou o loiro.
– É – um homem saiu de uma porta logo ao lado de Samuel. Ele aparentava ter quase uns quarenta anos, e usava terno. Um típico inglês. – E eu tenho que dizer que foi o melhor negócio que eu fiz desde Dick Cheney.
– Oi Crowley, como vão os truques? – debochou Dean. Então esse era Crowley, o rei do inferno. Eu esperava alguém mais assustador, não que o fato de estarmos encurralados por demônios não fosse assustador o bastante. Minha visão ainda tremia um pouco de vez em quando, mas pelo menos eu não estava mais vendo coisas.
– Muito acima do seu nível. Estou trabalhando com coisa grande. Pena que estarão mortos para participar.
– Sério? – perguntou Dean, novamente sarcástico.
– Pena eu ter que descartar vocês dois. Eu bem que gostei da sua escravidão por contrato – ele se vira pra mim – Ah, desculpe a minha falta de educação. E você quem é, coisinha?
– Não chegue perto dela! – rosnou o Winchester. Eu encolhi os ombros. Nessa hora eu gostaria de ser do tamanho de um chiuaua, e assim talvez Crowley não me notasse.
– Xiu. Não se meta. – rebateu o demônio – Tirem eles daqui.
Os dois demônios levaram Sam e Dean por uma porta.
– Esther! – gritou o loiro, sendo arrastado.
– Oh, Esther? Que nome bonito – elogiou Crowley. – Eu até podia mandar esse brutamontes soltar você, mas eu sei que você vai sair correndo, gritar, espernear e chamar pela mamãe. Vamos evitar isso então.
– Crowley, a garota não fez nada. Aliás, eu nem sei por que Sam e Dean a trouxeram – falou Samuel, obviamente intercedendo ao meu favor. O demônio fez sinal pra ele se calar.
– Isso que decide sou eu. Leve-a para minha sala particular – ordenou para o capacho que me prendia – E aí vamos descobrir o que você tem de especial.


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