Separate Ways - Requiem escrita por WofWinchester


Capítulo 44
Quem disse que você não pode voltar para casa?


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores e leitoras! Mais um capítulo e nele tudo que se sucedeu após o final eletrizante do último. Então antes que eu começasse a receber ameaças de morte, resolvi postar o mais rápido possível.
Não tenho nada para dizer antecipadamente sobre ele. E no final a música que eu vou pedir para tocar é “Who says you can’t go home?” do nosso lindíssimo e divo Jon Bon Jovi (Bon Jovi).

Sem mais delongas, espero que gostem.

PS: Atenção nas notas finais.



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Adeus é o escambal.

Ouvi passos apressados baterem contra o piso logo atrás de mim, e no segundo seguinte Sam e Dean estavam ao meu lado, o loiro segurando a Browning fortemente contra o peito e a expressão atônita.

— O que está acontecendo aqui?! — questionou o Winchester caçula, segurando meu braço para me afastar do vidro e olhar rapidamente lá dentro. E mais rápido do que uma batida de coração, eu puxei a arma da mão de Dean e apontei para a porta, dando dois tiros certeiros, um em cada dobradiça. Em seguida a derrubei apressadamente com um chute desajeitado, quase caindo por cima da mesma.

O anjo estava com uma das mãos prestes a tocar o centro do símbolo que girava com labaredas negras de fogo. As paredes já estavam completamente consumidas pelas grandes manchas escuras que mais pareciam grandes infecções apodrecidas.

— Castiel! — gritei enraivecida e o mesmo me encarou com os olhos arregalados enquanto eu apontava na sua direção e puxava o gatilho sem dó. Eu sabia que não conseguiria vencer o curto espaço que nos separava antes que pudesse atravessar o portal, então tive que improvisar qualquer coisa que o parasse. No mesmo instante ele caiu no chão desacordado e eu joguei a Browning de lado, correndo até lá.

— Ela... Ela atirou nele?! — perguntou o Winchester mais velho, incrédulo enquanto me seguia, agarrando-se aos objetos para não ser levado para dentro do purgatório. Agachei-me por cima de Castiel, lutando contra o vento que tragava tudo para dentro do portal e fazia meus cabelos voarem contra o meu rosto. Somente impedi-lo de atravessar não era o suficiente, enquanto a Graça de Lúcifer estivesse em sua casca, não somente ele quanto metade do planeta corria um risco mortal de ser explodido.

— Nós temos que fechar isso! — exclamou Sam enquanto perdia uma pistola que saíra voando na direção do desconhecido.

— Mas como? — questionou o irmão, derrubando a mesa para fazer uma espécie de barricada entre nós e o portal que engolia tudo ao nosso redor.

Minha mente estava revirada do avesso, a adrenalina enviando ferozes descargas de pânico enquanto o nosso tempo se esvaía. Mas nós não tínhamos minutos suficientes para gastar, eu só tinha uma coisa para tentar agora.

Puxei o moreno pela perna até pegar a faca em sua cintura, cortando meu pulso com tanta força que sabia que poderia morrer de hemorragia. Deixei o sangue escorrer livremente fazendo uma poça no chão, sob os olhos atentos dos irmãos que não deviam estar entendendo nada. Eu lembrava perfeitamente o símbolo que Castiel havia feito na minha barriga, e esperava realmente que o fato de eu ser o verdadeiro receptáculo da Graça de Lúcifer contasse para que eu não precisasse de ervas e nem feitiços em enoquiano. Molhei os dedos enquanto puxava a camisa branca do anjo para cima, deixando seu abdômen a mostra e reproduzindo o símbolo. Logo constatei com pavor que não estava surtindo efeito algum.

— Vamos! — gritei sacudindo-o e notando que o mesmo estava mais pálido e debilitado do que antes, filetes de sangue começavam a escorrer pelo seu nariz — Você não vai me deixar desse jeito, eu não admito isso! — exclamei inclinando-me sobre ele para segurar seu rosto e percebendo que a imagem estava embaçando conforme eu sentia que o estava perdendo para a morte. — Por favor, volta pra mim. Eu te amo tanto, por favor... Por favor... — comecei a murmurar incansavelmente as palavras com a voz falhando. Mãos envolveram meus braços, tentando me arrastar dali, então eu percebi que Dean tentava me puxar em direção à porta conforme o portal estava expandindo-se violentamente do tamanho total da parede.

— Nós temos que sair daqui antes que sejamos tragados! — sentenciou duramente, encarando-me com a expressão derrotada.

— Eu não posso deixá-lo!

— Esther! — o loiro me puxou pelos braços bruscamente para me lançar o olhar mais triste que eu já vi em seu rosto, a voz rouca e embargada denotava que ele estava lutando para mostrar-se forte naquele momento — O Cass se foi.

Meu mundo caiu, literalmente. Senti como se eu estivesse despencando em queda livre e quando atingia o solo, voltava para a mesma posição paralisada que estava agora. Passei os olhos de Dean para Sam, que tinha os lábios entreabertos e a testa franzida, desolado e sem palavras, constatando aquilo que eu não podia admitir. Desvencilhei-me do Winchester e me joguei na direção onde o anjo estava tão imóvel quanto um cadáver, sendo barrada e amparada pelo moreno antes que pudesse chegar.

— Eu sinto muito. — murmurou o Winchester caçula, usando da sua força e altura significativamente maiores para me arrastar do modo mais gentil possível para fora. A essa altura tudo que eu conseguia fazer era me debater e chorar compulsivamente. Por que eu tinha que perder tudo? Por que eu tinha que regar os malditos cactos do meu caminho com lágrimas amargas? Esse era o destino que eu devia trilhar eternamente?

Não, não era. Eu nunca acreditei em destino e não me daria por vencida agora, não sem lutar até o fim.

Passei por baixo do braço de Sam em um gesto rápido, porém no primeiro passo eu senti algo dentro do meu corpo começar a ferver, então a mesma luz acinzentada que havia surgido no apartamento iluminou tudo ao meu redor, projetando-se em uma bola gigantesca no meio do cômodo e vindo contra mim a uma velocidade insana, acertando meu peito como se fosse um tiro. E doeu tanto quanto se fosse. Ela penetrou na minha pele queimando minhas entranhas como ácido enquanto escavava mais fundo até chegar ao centro, onde se grudou emitindo um choque violento que me fez cair para trás com um grito. Minha cabeça rodava e a imagem de Sam e Dean falando comigo ficava cada vez mais embaçada, as expressões apavoradas e suas vozes se distanciando cada vez mais.

Porém eu sabia que havia conseguido transferir a Graça para mim, pois Lúcifer estava de frente para a parede onde o portal do purgatório estava aberto, encarando-me com um sorriso mordaz e os cabelos bagunçados ao vento.

Eu estava perdida em algum lugar escuro da inconsciência, a única coisa que via eram as minhas mãos pálidas se mexendo em frente ao meu rosto.

— Você podia ter tido pelo menos uma vida humana e saudável, mas preferiu o anjo ao invés disso. — pronunciou-se alguém desconhecido, o timbre calmo e tão perto como se estivesse ao meu lado. Procurei ao redor, arriscando tatear com os dedos o que eu não conseguia ver, constatando que não havia ninguém ali.

— Quem é você? — indaguei confusa, inclinando meu corpo para me sentar, porém ao fazer isso foi como se o chão sólido que eu estava deitada diminuísse de tamanho e eu pude sentir que estava no alto. — Onde eu estou? — emendei estática, incapaz de me mover pelo medo de despencar de onde quer que estivesse.

— Uma pergunta de cada vez, baby. — pediu o mesmo — Eu sou alguém especial e que você adora. E nós estamos nas profundidades mais obscuras da sua mente, só assim eu posso me comunicar com você nesse plano. — respondeu e eu abri a boca, processando a informação que as profundezas da minha mente eram um buraco negro e vazio.

— Como eu posso te adorar sem saber quem você é? — franzi a testa com desdém, então me lembrei de onde estava antes de vir parar aqui — Deu certo? Eu consegui? — questionei quase dando um pulo para me erguer.

A voz emitiu uma risada animada.

— O soldadinho do papai vai ficar bem e sim, você é novamente o receptáculo da Graça de Lucy. — falou calmamente.

— Lucy? — repeti, perguntando-me internamente se isso era algum apelido para Lúcifer e quem teria um senso de humor tão peculiar para colocá-lo. Mas ninguém conhecido me veio à mente.

— Nós podemos ficar nisso o dia inteiro, mas acontece que eu não tenho tanto tempo assim. — interrompeu apressado, então deu um suspiro — Ouça, você tem que... — A voz foi substituída por um chiado terrível que cutucou fundo o meu cérebro, fazendo com que eu levasse as mãos até meus ouvidos na tentativa de amenizar o ruído. Então antes que pudesse me dar conta, eu estava caindo.

Abri os olhos, sentindo um gosto amargo preencher a minha boca. Remexi-me e constatei que estava sob uma superfície estreita, imediatamente reconhecendo o sofá coberto por roupas sujas de Chuck. Virei-me para o lado e dei de cara com uma samba-canção que não tinha aparência de estar lavada. Minha mente estava atordoada pelo sonho estranho com a pessoa misteriosa que queria se comunicar comigo e pela sensação brusca de queda que parecia ter me desestabilizado completamente.

— Graças a Deus você acordou! — comemorou Sam assim que passou por mim, agachando-se ao meu lado com uma careta preocupada. — Como se sente?

— O que houve? — indaguei me sentando e esfregando o rosto com as mãos, uma pontada leve na têmpora esquerda indicava que fora o lugar que havia impactado com o chão quando cai, no momento em que a energia me acertou. Também senti uma fisgada no meu pulso e logo que me pus a encará-lo, notei uma faixa enrolada no local onde eu havia cortado.

— Você não lembra? — perguntou franzindo de leve a testa. — Nós tivemos que suturar, estava muito feio. — acrescentou, apontando de leve ao perceber que eu havia notado o ferimento.

— Eu lembro que nós estávamos em uma escola e o portal do purgatório estava aberto. Castiel ia entrar lá dentro com a Graça de Lúcifer e eu o impedi. — listei os acontecimentos na minha cabeça, e mesmo que o estranho no meu sonho tivesse dito que tudo estava bem, não custava nada confirmar. — Ele está bem? O portal foi fechado? — emendei rapidamente.

— A porta do purgatório fechou logo depois que você desmaiou. — contou Dean, saindo da cozinha com uma xícara de café com leite fumegando nas mãos, em seguida sentando-se no braço do sofá e a estendendo para mim — E o Cass está bem, se recuperando do tiro que você deu nele. Eu ainda não acredito que você realmente atirou nele, me lembre de nunca irritar você. — enfatizou divertido enquanto eu me ajeitava para segurar o recipiente quente e experimentava um gole, que estava na medida certa de açúcar.

— Aparentemente os poderes de cura dele estão enfraquecidos, mas já está bem melhor que ontem e hoje de manhã. — esclareceu o Winchester caçula enquanto eu virava a bebida, descobrindo-me com mais fome do que parecia estar. O loiro arqueou uma sobrancelha com um sorrisinho triunfante de lado.

— Viu Sammy, alguém gosta do meu café com leite. — gabou-se gesticulando para mim e o irmão apenas deu um grunhido de desdém.

— Você adoça demais. — comentou colocando a língua para fora como quem faz ânsia de vômito. Rolei os olhos automaticamente diante das pirraças dos dois e coloquei a xícara vazia no meu colo.

— Onde ele está? — perguntei alisando a superfície de porcelana verde da mesma.

— Lá em cima, no seu quarto. — falou o moreno gesticulando para a escada.

— Ah, certo. Eu acho que eu vou... — coloquei os pés para fora, sentindo o tapete áspero quando alcancei o chão. — Ao banheiro. — disse e logo senti os olhares dos irmãos me analisarem com curiosidade e surpresa.

Dirigi-me até a porta que ficava logo ao lado da cozinha e a tranquei, recostando-me na mesma e deslizando para o chão frio. Um misto de sensações tomava conta de mim aos poucos. Parte de mim queria estar subindo a escada mais rápido do que a velocidade da luz, já a outra parte — a que estava ganhando, no momento — queria estar o mais distante possível por medo do que poderia encontrar. Era infantil me sentir assim, mas eu tinha medo de me decepcionar, de descobrir que aquele gesto desesperado de Castiel fora apenas influenciado pela Ligação do Guardião, que não era para valer. Acho que depois de aprender que não fomos feitos para ficar juntos em nenhum tipo de condição, eu ficava procurando falhas e jeitos que indicassem que eu estava me iludindo de novo, e assim evitando que eu pudesse sofrer mais uma vez.

Por que quanto mais você se decepciona, mais aprende a não acreditar em contos de fada.

E apesar dos apesares, o que estava acontecendo era tudo que eu queria — tirando a parte de ele querer morrer —, ele havia dito que me amava, com todas as letras. Agora eu me sentia uma garotinha constrangida diante do primeiro amor recíproco, mas era exatamente isso que eu era. E eu tinha medo que minha fantasia desmoronasse novamente como um castelo de areia diante do vento. Arrastei as mãos pelo rosto e percebi que minha pele estava quente, as bochechas vermelhas. Sem contar que eu estava rindo feito uma palhaça para a parede a não sei quantos minutos, pois minhas mandíbulas já doíam como o inferno. Balancei a cabeça para os lados e levantei, abrindo a torneira e jogando alguma água gelada na cara, o que pareceu aliviar um pouco.

Após fazer a minha higiene e necessidades matinais, sai pela porta silenciosamente, notando os irmãos entretidos no notebook, e me dirigi para a cozinha procurando uma coisa que com certeza me daria mais coragem e disposição. Aproximei-me da máquina fumegante, inspirando profundamente o aroma para dentro dos meus pulmões.

— O que você está fazendo? — perguntou Dean de supetão, a voz soando logo as minhas costas e me pegando desprevenida. Dei um pulo para trás, o odiando por alguns segundos por ser tão sorrateiro.

— Pegando um café? — arrisquei enquanto segurava um dos copos em cima da pia e o enchia com a bebida até a borda.

— Um café? — questionou arqueando as sobrancelhas, os braços cruzados contra o peito.

— Uhum. — assenti e sai da cozinha com o loiro andando atrás de mim como cachorro esperando o osso. Eu sabia o motivo daquela atitude, e também sabia que nem ele e nem Sam iria largar do meu pé tão cedo. Então a coisa mais indicada a fazer no momento era... Disfarçar.

Passei pela mesa e percebi Chuck atirado no sofá onde minutos atrás eu estava dormindo. Deslizei os dedos na superfície bagunçada e repleta de livros, levantando a capa de um por curiosidade e revelando uma fita cassete.

— Chuck, você gosta de fazer filmes? Eu não fazia ideia. — comentei segurando a mesma e então o profeta me lançou uma careta entediada, levantando preguiçosamente e colocando-se a minha frente.

— É um hobbie. — esclareceu pegando o objeto na mão e jogando dentro do armário mais próximo com total displicência — E não toque nas minhas fitas, por favor. — pediu voltando-se para o sofá novamente.

— Você realmente não gosta de mim, não é? — rolei os olhos, bufando diante da atitude infantil, embora eu não fosse a melhor pessoa para falar de infantilidade por aqui.

— Não é nada pessoal. — gesticulou dando de ombros.

— E por falar nisso, nós vamos voltar para Sioux Falls. — avisou Sam, que agora estava perto da escada com os braços cruzados, como se também esperasse algo — Agora que Raphael está morto, não há muitos motivos para nós nos preocuparmos. Por enquanto.

— Eu nem acredito que Raphael está morto. — suspirei com uma leve pontadinha de culpa por me sentir feliz com essa notícia. Bom, pelo menos isso nos dava um pouco mais de tranquilidade — Parece surreal demais.

— Então, o que você vai fazer agora? — questionou Dean, aproximando-se por um lado da mesa e eu sai pelo outro.

— No momento? — pisquei nervosa quando o Winchester caçula andou até o meu encontro para barrar meu caminho — Tomar outro café. — me voltei para a cozinha, mas o loiro estendeu o braço no ar e me barrou no meio dos dois.

— Eu acho que você está precisando conversar com alguém. — apontou o irmão. O que virou isso aqui agora? Um complô?

— Eu estou bem, Sam. É sério, não se preocupe comigo. — tranquilizei, me fazendo de desentendida e ele estreitou os olhos com uma risada.

— Não foi isso que eu quis dizer. — ralhou o moreno tirando a xícara vazia da minha mão — Dá isso aqui. Vai falar com ele.

— Com quem? — questionei novamente.

— Com o Castiel. — disseram os dois em uníssono.

— Ele deve estar cansado, se recuperando. Prefiro não incomodá-lo agora. — dei de ombros do melhor jeito que pude, imediatamente trocando de assunto — Meu irmão deu notícias? E Maison? Nossa, ela deve ter ficado preocupada pela gente ter saído de lá daquela forma...

— Jimmy não ligou e nós já falamos com Maison por telefone. — cortou o loiro.

— Não pode ficar adiando isso. — continuou Sam, colocando mais lenha na fogueira que já estava pegando fogo.

— E se você não subir essa escada para esses dois calarem a boca, eu juro por Deus que vou chutar seu traseiro lá pra cima na marra. — protestou Chuck, com os olhos fechados e tampando os ouvidos.

— Ok, eu vou — sibilei derrotada, a sensação de medo ficando mais forte no momento em que as palavras saíram pelos meus lábios — Mas só me dá... — tentei ir novamente até a cozinha, porém os dois se colocaram no caminho com caretas enfadonhas.

— Sem mais café. — sentenciou o Winchester caçula, me empurrando para o primeiro degrau. Inspirei algumas vezes e olhei para trás com a expressão suplicante.

— Sobe logo. — grunhiu Dean, já ficando irritado com o meu adiamento, avançando na minha direção como quem dizia “Se você não ir, eu te coloco no ombro e arrasto”.

— Eu já to indo! — balancei as mãos pedindo calma enquanto subia. Eu preferia manter a minha dignidade de não ser carregada a força.

Andei devagar, chegando ao final da escada e gastando vários segundos para calcular quantos metros eu tinha até o final do corredor. Era tão idiota eu me sentir dessa forma, porém era algo que eu não podia controlar. Apertei ligeiramente as mãos que suavam frio e tentei manter a minha respiração no ritmo certo, ao mesmo tempo em que percebia as batidas do meu coração se acelerarem gradualmente conforme eu chegava mais perto do quarto.

Respirei fundo e segurei a maçaneta, travando por segundos até conseguir "despetrificar" meus músculos para girá-la e abrir a porta lentamente.

Que seja o que for para ser.

A luz do sol que passava através da janela estendia-se preguiçosamente por cima da cama, alcançando o anjo que estava sentado sobre o colchão, o sobretudo bege e o terno jogados de lado próximos ao travesseiro. Quando o mesmo percebeu minha presença, me encarou com os olhos azuis tão claros quanto os raios de sol podiam deixar, um sorriso lindo se formando em seu rosto. Nessa hora eu me perguntei se ainda estava de pé ou se já tinha derretido pelo chão.

— Oi. — disse timidamente, o cumprimento soando mais ridículo do que eu havia imaginado quando saiu pela minha boca.

— Oi. — respondeu o mesmo e nós ficamos alguns segundos em silêncio. Senti que já não estava conseguindo respirar que nem gente decente, como se meus pulmões não tragassem o ar necessário para que eu obtivesse todo o oxigênio que precisava. Eu não podia fazer isso.

— Você quer alguma coisa? — questionei recuando para sair pela porta o mais rápido que podia, Castiel fez menção de se levantar, mas então parou levando uma das mãos até o ombro esquerdo com uma careta de dor. Ali devia ser o local onde, no meu completo desespero, eu havia acertado o tiro. Comprimi os lábios, constrangida.

— Você pode me fazer companhia um pouco? — pediu puxando os cantos da boca para baixo de um jeito meigo, batendo com os dedos no colchão para que eu fosse me sentar ao seu lado. Fiquei parada na entrada feito idiota por mais alguns segundos e em seguida a fechei, indo ocupar o lugar que ele havia estipulado, a cama rangendo ao receber o meu peso.

— Então... Raphael está morto? — comecei tentando puxar algum assunto, minhas mãos atiradas sobre o meu colo.

— A Graça elevou meus poderes de uma maneira absurda, foi fácil atraí-lo para lá. — explicou calmamente.

— Não teria sido mais fácil que deixasse Raphael usar a Graça como você fez e esperar que ele explodisse?

— Eu duvido que ele não soubesse dos efeitos dela em um anjo, Raphael a usaria para manipular todo esse poder.

— Mas agora ele está morto e não precisamos mais nos preocupar com isso. — descartei com uma risada sem graça — E o purgatório?

— Fechado até o próximo eclipse, que deve acontecer em... — ele abriu a boca de maneira divertida — Mil anos.

— Você tem mil anos de intervalo para tentar se explodir de novo. — brinquei, porém minha voz saiu trêmula ao imaginar a cena.

— Aparentemente. — assentiu abaixando o rosto para fitar o chão.

Ficamos em silêncio por mais alguns minutos, o ar parecia mais denso do que o normal, o que dificultava a respiração. Talvez isso se devesse ao fato de eu ter tanta coisa para falar e perguntar, mas no momento em que tentava formular as palavras, tudo se dissipava completamente. Nós podíamos ficar até amanhã falando sobre Raphael, sobre o que aconteceu ou qualquer outra coisa, mas o fato era que não a pergunta relevante não estava sendo feita.

Mas já que estávamos aqui...

— E o que vai ser agora? — soltei com um suspiro.

— Eu não faço a menor ideia. Se tiver alguma sugestão, pode dizer. — falou. Dei um sorriso de canto.

— Nós podemos fugir para o Caribe, roubar um navio e virar piratas, igual no filme. Eu sempre quis usar um chapéu e ter uma espada. — disse usando o tom divertido para disfarçar meu nervosismo — Como em Piratas do Caribe, eu posso viver assim.

— Parece divertido, você ficaria linda vestida de marujo. — constatou o anjo, imitando meu tom descontraído, então deu um suspiro baixo — Suponho que você não subiu aqui só para me contar que gosta de Piratas do Caribe. Você quer saber porquê. — apontou.

— Tem razão, eu quero saber o porquê. — afirmei e o encarei, pela primeira vez desde que entrei no cômodo.

Castiel me fitou seriamente por cerca de cinco segundos.

— Eu acho que viver entre os humanos por tanto tempo me tornou egoísta e a ideia do amor universal e fraternal não me é mais suficiente. Descobri isso quando percebi que não suportava a ideia de que você tivesse qualquer tipo de relação sentimental com outro mortal. — ele franziu a testa, levemente frustrado — E é confuso o sentimento de querer exercer domínio sobre algo que não se pode possuir. — seus dedos se moveram delicadamente para o meu pulso enfaixado, acariciando de leve o local — Mas acontece que eu não posso ser egoísta com você, Esther. Por que o que eu sinto por você é tão forte que eu nunca me perdoaria se não fizesse as escolhas certas para que você seja feliz, mesmo que isso custe tudo de mim.

— E isso quer dizer? — questionei.

— Se isso é o que os humanos chamam de amor, então eu amo você.

Meu coração pulou uma batida e de repente eu não sabia mais como se respirava. Aquelas palavras haviam me acertado como uma pedra, só que ao contrário da sensação dolorosa de quando você é acertado por um objeto pesado desses, eu estava me sentindo completamente feliz.

— Você acha que a escolha certa é me deixar para que eu seja feliz? — indaguei enquanto puxava o ar para dentro dos meus pulmões — Estaria correto se eu não me importasse com você, se eu não te amasse também. Por que o amor nos faz ser altruístas dessa forma, e eu no seu lugar teria feito a mesma coisa. — assenti verdadeiramente — Só que eu não estou no seu lugar e sou teimosa, então se tentar alguma coisa estúpida dessas de novo, eu vou te encher de tiros.

O anjo deu um sorriso breve, sua expressão ficando tensa e preocupada de repente.

— Só de imaginar você fazendo uma loucura dessas, já tenho vontade de te trancar nesse quarto a sete chaves. — disse comprimindo os lábios ligeiramente.

— Agora sabe como eu me senti. — expirei devagar, minha garganta trancando com uma bola de emoções que eu ainda não conseguia decifrar direito — E se por acaso você tivesse conseguido, eu quero que saiba que eu nunca seria realmente feliz. Enquanto eu tivesse uma única lembrança sua, enquanto pudesse me lembrar do som da sua voz ou de como eu me sinto em seus braços, eu estaria presa a você e te amaria até o fim dos meus dias, através da eternidade.

— Por que você está chorando? — perguntou passando o polegar para refazer a linha que a lágrima havia traçado na minha bochecha e secá-la.

— Eu estou chorando porque odeio da ideia de perder você. — sussurrei em um fio de voz, em seguida sorrindo — E por que eu estou feliz.

Castiel inclinou-se para dar um beijo na minha testa enquanto afagava delicadamente meu rosto. Apertei as pálpebras instantaneamente ao sentir o toque morno contra a minha pele lançar ondas magnéticas que me acalmavam e eletrizavam ao mesmo tempo.

— Eu prometo que nunca mais vou te deixar de novo. — murmurou fixando os olhos nos meus, o azul poderoso tão profundo que era como se eu pudesse sentir a brisa do mar. Ele aproximou-se devagar e eu sabia o que viria a seguir, minhas bochechas queimavam como duas brasas e parecia haver borboletas praticando aula de voo dentro do meu estômago. Não era como se fosse a primeira vez que nos beijávamos, mas era a primeira vez que isso viria de uma forma tão espontânea e não em momentos onde nossa vida praticamente dependia disso. O anjo desviava o olhar para a minha boca enquanto eu esperava quase eufórica que ele terminasse de encurtar aqueles poucos centímetros de distância entre nós. Senti sua respiração contra a minha pele e de repente não podia esperar mais, porém me obriguei a permanecer imóvel para aproveitar cada milésimo daquele momento.

O anjo deslizou os dedos pelo meu queixo, subindo até traçar o contorno dos meus lábios com deleite, como se fosse a primeira vez que os estivesse descobrindo. Nós nos fitávamos cada vez mais perto, seu olhar encontrava o meu pedindo uma permissão silenciosa para o próximo passo. Então os poucos centímetros que nos separavam finalmente se extinguiram e foi como se fogos de artifícios explodissem dentro do meu peito. O encontro dos lábios dele com os meus teve uma simetria tímida e perfeita, liberando aos poucos uma crescente emoção que fazia com que um frio congelante passasse pela minha barriga. Então subi minhas mãos por seus ombros até enfiar os dedos por seus cabelos macios enquanto nos beijávamos. Senti-o estremecer ligeiramente quando mordisquei o canto da sua boca de leve, a essa altura nós já estávamos nos afogando em um breve e terrível absorver simultâneo de fôlego. Porém seria a morte mais instantânea e bela que duas pessoas poderiam ter.

Recuei espaço suficiente para respirar e Castiel inclinou a cabeça de lado, fazendo uma pequena trilha de beijos do meu pescoço até o meu queixo — o contato dos seus lábios e barba por fazer, que arranhava gentilmente minha pele, me fez fechar os olhos —, meu corpo estremecendo involuntariamente como a imagem de uma lua sob a água. Sorri e ele fez o mesmo quando eu o puxei pela gravata para que continuássemos de onde havíamos parado, porém o anjo fez uma careta divertida e olhou de soslaio para a porta.

— Acho que temos companhia. — murmurou perto do meu ouvido, liberando a mão que estava firme na minha cintura para movê-la no ar. E no segundo seguinte a maçaneta girou e Chuck foi o primeiro a cair de quatro para dentro do quarto. Encarei o profeta e os irmãos Winchester jogados no piso com as típicas expressões de quem foi pego com a boca na botija, os mesmos imediatamente levantando-se constrangidos.

— Nós só... — começou Sam, completamente sem jeito, passando as mãos várias vezes pela roupa.

— Nós só estávamos checando a maçaneta, se estava bem firme. — esclareceu Dean, segurando o objeto com força para enfatizar, dando um sorriso sem graça.

— Até você, Chuck? — questionei em meio a uma risada, minhas bochechas pegando fogo imaginando o que eles teriam visto ou ouvido enquanto espiavam. O profeta ruborizou ligeiramente.

— Em minha defesa... — começou gaguejando, olhando para os lados e em seguida apontou para os irmãos — Eles me obrigaram. — disparou, levando alguns cutucões dos mesmos. Comecei a rir para valer e até mesmo Castiel apoiava o rosto no meu ombro enquanto ria. Sam encarava o teto e Dean passava a mão na nuca de um jeito desconfortável, mas de qualquer modo a cena era hilária.

Acho que quando você está feliz, tudo ao seu redor é motivo para ser mais feliz ainda.

Dois dias depois, a última bolsa de armas estava sendo colocada no porta-malas do Impala. O Winchester mais velho saia de dentro da casa devorando um pão doce como se fosse à última comida da Terra e Chuck vinha logo atrás dele com as mãos enfiadas nos bolsos do roupão azul marinho. Encarei o sol que estava no pico do meio-dia, enviando seus raios fracos que mal conseguiam aquecer perante o vento frio que começava a ficar mais forte com a chegada do Inverno. Meus cabelos se moviam de maneira bagunçada para todos os lados enquanto eu tinha as mãos segurando meus braços que estavam cobertos apenas por uma blusa leve. O único motivo de eu não pegar um casaco era porque Castiel estava abraçado a mim, e como ele era absurdamente — e até então, inexplicavelmente — quente, eu não sentia necessidade de um.

— Cuidem-se. — desejou o profeta, curvando os lábios para cima de leve. Em seguida sua expressão tornando-se sarcástica — E tentem não explodir o planeta ou ficar matando os Arcanjos que vão me proteger.

— Se cuida também, Chuck. — disse Sam e logo Dean tagarelou alguma coisa de boca cheia, provavelmente repetindo o que o irmão havia dito.

— Vai continuar escrevendo “Supernatural”? — questionei apertando os olhos contra o sol.

— Agora que você apareceu para mudar toda a minha história eu até desanimei, mas acho que vou continuar do jeito que puder. — ele deu de ombros com uma careta derrotada.

— Você surtou quando descobriu que estava escrevendo coisas que realmente estavam acontecendo, e agora surta porque elas não estão acontecendo exatamente como você escreve. — comentou o Winchester mais velho, puxando as chaves do Chevy do bolso e as jogando para cima — Cadê a lógica?

— Tem razão, Dean. — o mesmo deu uma risada, suspirando em seguida enquanto me fitava diretamente — Mas de uma maneira ou de outra, tudo acaba entrando nos eixos. Mesmo que não seja exatamente como queremos. — murmurou e eu franzi a testa, sentindo uma pontada de empatia nascendo ali.

— Ainda não gosta de mim? — perguntei divertida.

— Não. — declarou o mesmo, voltando a cara mal humorada de sempre. Então se virou e entrou em casa, batendo a porta.

— Vou sentir sua falta também. — rolei os olhos e me voltei para Castiel, sarcástica — Ele é um amor, né.

— Isso porque você não conheceu Maomé. — falou o anjo, colocando o outro braço em volta de mim para me abraçar de frente, os polegares fazendo círculos imaginários nas minhas costas.

— Você conheceu Maomé? — arqueei as sobrancelhas.

— Ele tinha sérios problemas com bebidas e algumas infestações de ratos. — contou casualmente, me dando um beijo suave.

— Agora eu me sinto namorando um Matusalém do início da criação. — comentei e ele deu uma risada — Eca. — brinquei com um sorriso, ficando nas pontas dos pés para encostar os lábios nos dele novamente.

Ouvi um pigarro sonoro nos interromper.

— O casal do ano quer, por favor, entrar no carro? — ralhou Dean com os braços estendidos por cima do capô do Impala, a porta do motorista já aberta — A viagem é longa e eu ainda quero parar para comprar um cheesburguer.

— Você acabou de comer. — apontei enquanto caminhávamos para o Chevy.

— E daí? — ele deu de ombros — Se ficar reclamando como mais. — decretou com um sorriso pertinente. Balancei a cabeça para os lados, prestes a abrir a porta, porém senti uma vibração no bolso da calça e logo puxei o celular, constatando que se tratava de um número desconhecido.

— Alô? — atendi, gesticulando manualmente para que o loiro esperasse alguns instantes.

— Oi, mana. Tudo bem? — pronunciou-se a voz do outro lado da linha e eu logo reconheci o timbre de Jimmy.

— Jimmy! — cantarolei dando um suspiro aliviado — Onde você está? Tudo bem com você? Fiquei tão preocupada.

— Eu estou bem, no momento estou no Japão. Parece que tem uma infestação de Okami por aqui. — contou — Fiquei sabendo do que houve, você não sabe o quanto eu fiquei preocupado, sério.

— Mas estamos todos bem agora. — tranquilizei — Quando você volta? Estamos indo para Sioux Falls.

— Acho que vai demorar um pouco ainda.

— Mas você vem para o Natal, certo? — pedi esperançosa, mordendo o lábio inferior.

— Eu não posso prometer, Esther. Desculpa. — lamentou-se.

— O trabalho vem primeiro, certo? — suspirei inconformada.

— Não fica brava, ok? — pediu com o tom manhoso.

— A Maison está aí? — indaguei — Queria falar com ela, mas por algum motivo ela só liga para o Dean. — subi a voz enquanto me virava para o mesmo que fazia uma careta confusa.

— Na verdade ela está no Egito.

— Por que será que eu acho que isso tá estranho demais, Jimmy? — apoiei-me no capô intrigada. Primeiro Maison aparece sozinha, depois some. Ela só liga para o Dean, ninguém me deixa perguntar nada. Com certeza onde há fumaça, há fogo.

— Não começa, mana. — grunhiu o nefilim — Olha, preciso desligar. Quando der, falo com você de novo. Te amo. — disse rapidamente e desligou. Encarei o aparelho de boca aberta.

— Jimmy! — rosnei, não acreditando que ele havia desligado na minha cara.

— Ele é um nefilim, sabe se cuidar. — tranquilizou Castiel ao meu lado.

— Mas ainda é meu irmão. — protestei entrando no Impala. Sam já estava acomodado no banco do passageiro quando Dean me deu uma breve olhada pelo espelho retrovisor antes de sua expressão formar um sorriso encorajador. Em seguida moveu a mão para o rádio e o ligou, aumentando o volume. [Play Who says you can’t go home?]

A viagem não foi tão longa quanto eu achei que poderia ser. Nós paramos cerca de três vezes pela estrada, duas para comprar lanches e outra fora um retorno que o Winchester mais velho cismou em fazer para pegar o telefone de uma garçonete que ele havia paquerado. Já o irmão caçula ficou mais interessado na garota que estava com um livro sobre Mitologia que sentara perto de nós na primeira parada, inclusive pegou o número dela. Piadas e brincadeiras não faltaram, e eu me sentia extremamente bem os vendo tão despreocupados e descontraídos. Acho que parte disso devia por estarmos voltando para Sioux Falls.

Eu devia dizer que também estava animada por estar voltando, já que nos últimos meses aquele lugar havia se tornado um lar para mim. Sentia falta das paredes com pequenas manchas de mofo, o cheiro de óleo e gasolina que vinha da oficina, do café, do sal, do ferro e da água benta que misturados davam uma fragrância única que era a marca registrada daquela casa. Eu já estava habituada a levantar de manhã, preparar o café e ficar olhando os rapazes mexerem nos motores dos carros. De ver Bobby cercado por livros e bebida na sua mesa, as armas e artefatos peculiares — como ossos usados em feitiços — espalhados por todos os cômodos como se fossem apenas pares de meias sujas.


Quem disse que você não pode ir para casa?
Há apenas um lugar a qual pertenço

Apenas um garoto da cidade natal, nascido um nômade
Quem disse que você não pode ir para casa?
Quem disse que você não pode voltar?
Já estive em todo canto do mundo, e na verdade há apenas um lugar que quero ir.
Quem disse que você não pode ir para casa?
Está tudo certo.


Fui o mais longe que pude, tentei encontrar um novo rosto
Não há uma ruga que eu apagaria
Vivi milhares de milhas de memórias na estrada

Em cada passo que dou, sei que não estou sozinho
Você tira a casa do garoto
Mas não tira o garoto de seu lar
Estas são minhas ruas, a única vida que conheço
Quem disse que você não pode ir para casa?


Assim que entramos nos limites de Sioux Falls, não pude deixar de abrir a janela e me debruçar pela mesma. O vento cortava o meu rosto e a sensação de ter os cabelos jogados para trás era ótima. Dean inclinou-se no banco do motorista de modo que conseguia dirigir e imitar a minha posição, e até mesmo Sam fez o mesmo. Parecíamos um bando de crianças na excursão da escola. Ouvi um baque no capô do Impala e quando olhei para cima, percebi que Castiel havia se materializado ali, equilibrando-se de pé como se estivesse surfando. Era muita sorte nossa que não tinha muitas pessoas na rua para verem essa demonstração de insanidade, e as poucas que tinham nos encaravam embasbacadas.

— Estamos de volta! — gritou o Winchester mais velho, batendo sonoramente com uma mão na lateral do Chevy, então nós exclamamos em comemoração, o gesto seguido por risadas enquanto dobrávamos uma esquina.

Não importa onde esteja, não importa para onde for
Se é a milhares de milhas de distância, ou somente a dez milhas à frente.
Entenda, leve consigo aonde for.

O sol estava começando a se pôr quando chegamos à frente da oficina Singer, o Impala estacionou no seu lugar de sempre — demarcado por suas próprias manchas escuras de óleo — enquanto nós saíamos animados e Castiel pulava graciosamente de cima do carro. A porta da casa se abriu devagar e a primeira coisa que eu vi foi o boné surrado aparecendo para fora, Bobby parou na soleira com um sorriso de quem tem os braços abertos para receber os filhos de volta ao lar. Encaramos-nos por alguns instantes e o mesmo puxou os cantos da boca levemente para cima.

— Bem vindos de volta, bando de idiotas. — falou tentando não demonstrar o tom um tanto emocionado na voz. Esse seria o momento que, em uma família normal, todos correriam para abraçá-lo. Porém nós não éramos uma família normal e nosso jeito de demonstrar que estávamos felizes era assim, meio tosco, meio sarcástico, meio rabugento.

Mas isso não diminuía o sentimento que sentíamos uns pelos outros, muito pelo contrário, acho que até o aumentava.


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Notas finais do capítulo

ALELUIA, ESTHIEL, ALELUIA! Depois de tanta embromação, finalmente esses dois tomaram vergonha na cara e decidiram ficar juntos. Admito que fiquei super indecisa com essa parte (assim como fico em todas as partes mais “românticas”, pois o meu forte não é o romance, e sim o homicídio geral e inescrupuloso de personagens –q), porém acho que ficou bonitinho. E agora tenho um comunicado a fazer:

Separate Ways entrou na reta final.

Tudo chega ao fim, não é mesmo? Acho que vocês já estão um pouquinho enjoadas dessa saga de tantos capítulos, mas tenham paciência, pois já estamos nos últimos. São cerca de cinco ou sete, fora o epílogo (e talvez um filler). Vou tentar postá-los rapidamente, pois a maioria já está escrito. E bem, é isso :’)
Um beijão, babies! Até o próximo! ♥



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