Separate Ways - Requiem escrita por WofWinchester


Capítulo 32
A mulher de barro


Notas iniciais do capítulo

Hi, babies! Mais um capítulo (esse de bônus, já que eu demorei tanto para postar) e nele o desfecho da treta que surgiu anteriormente.
Sobre o capítulo: Ele é mais explicativo, porém se não entenderem tudo de primeira, não se preocupem, tudo será abordado de novo nos próximos.
Espero que gostem.



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Antes que qualquer um pudesse fazer alguma coisa, Sam foi o primeiro a se pronunciar e marchar até Castiel, sacudindo-o até que o mesmo saísse do torpor que se encontrava.

— Nós temos que sair agora! — exclamou o moreno. As paredes rachadas tremiam fortemente, e grandes nuvens negras eram visíveis pelas janelas estilhaçadas. Com um movimento rápido o anjo retirou o sobretudo e colocou por cima da garota nua a sua frente, se desmaterializando com ela e instantes depois reaparecendo atrás de mim e me erguendo do chão com pressa.

— Esse lugar vai ser invadido por demônios! — avisou apreensivo, apontando para a janela e caminhando até os caçadores atônitos, me arrastando de qualquer jeito consigo.

— E essa é a minha deixa, boa sorte — disparou Meg, o rosto sujo de sangue e os olhos tão surpresos quanto o resto de nós, desaparecendo em seguida.

— Por que tinha um clone da Esther aqui e para onde você o levou? — indagou Dean, voltando os olhos para Castiel com alarde.

— Não é um clone, é Elisabeth. — esclareceu o anjo, fazendo os irmãos se encararem com pânico. Ouvi o farfalhar de asas e então desaparecemos dali.

Um segundo depois, nós estávamos em Sioux Falls. Bobby tinha uma espingarda de caça bem segura contra um lado do corpo, enquanto observava a garota trêmula e apavorada encolhida no sofá. O mesmo tinha uma expressão confusa.

— Alguém pode me explicar porque a Esther... — começou, mas ao voltar os olhos para nós, eles ficaram descrentes — Certo. Quem é aquela garota e porque ela apareceu do nada no meio da minha sala?

Recostei-me contra a parede, colocando a mão sob o corte na barriga, que começava a pingar sangue coagulado. Todos estavam tão desconcertados que não perceberam o meu estado, e nem eu havia percebido o quão grave era até notar que a minha visão estava embaçada.

Senti que alguém me apoiou no momento que meus joelhos cederam, e logo reconheci o rosto preocupado de Sam, que colocou minha cabeça sob seu braço e apertava fortemente a ferida.

— Ela tá perdendo muito sangue! — disparou e imediatamente eu vi Dean se ajoelhar ao meu lado, passando a mão pela minha testa e tirando as mechas de cabelo do meu rosto.

— Esther! Consegue me ouvir? — perguntou o loiro, a voz se distanciando cada vez mais. — Castiel! Droga, onde ele foi? — chiou alterado, e então eu perdi os sentidos.

Acordei na minha cama, a luz apagada e a escuridão me indicavam que já era noite fechada. Apertei os olhos, as lembranças voltando vagamente até minha cabeça. O feitiço, os demônios, Elisabeth Bathory. Aquilo deveria ter sido uma alucinação, só pode ter sido. Não é possível que ela tenha voltado! Deslizei a mão para minha barriga e notei que não havia nada, nem mesmo um arranhão. Sentei na cama, observando o pedaço de pele por baixo da camiseta por mais alguns instantes.

Deveria ter um corte aqui, e a falta dele reforça mais ainda a teoria anterior, ou então Castiel havia me curado. Eu precisava descobrir logo o que tinha acontecido. Com a audição alerta, pude ouvir um burburinho de vozes que vinham lá de baixo. Caminhei devagar e sonolenta, e a primeira pessoa que entrou no meu campo de visão foi Dean, que estava em frente à mesa de Bobby gesticulando nervosamente para todos os lados.

— Como isso é possível?! — exclamava completamente atônito em meio à sala. Desci mais alguns passos, olhando a cena completa. Sam estava com os braços cruzados, andando pensativo de um lado para o outro enquanto Balthazar estava escorado nas costas do sofá num intenso silêncio. Castiel estava sentado no móvel, ao lado de uma garota idêntica a mim, porém os cabelos eram perfeitamente cacheados. A mesma usava um moletom do capitão América, jeans e all star preto, que eu logo reconheci serem peças do meu vestuário e isso me fez dar um grunhido baixo.

— Vejamos... — começou o velho Singer, abrindo um livro grosso de capa vermelha, ele estava tão desconcertado quanto o resto de nós, porém mantinha a calma. Alguém aqui tinha que manter. — Alguns necromantes são capazes de prender os mortos a objetos ligados a eles, ainda mais se forem bruxos poderosos.

— Ele disse ser descendente de Darvúlia antes de fugir, quando eu voltei para buscar a placa da revelação — acrescentou Castiel. Eu me lembrava perfeitamente do homem, o tal Alfred, responsável por toda aquela bagunça. E lembrava também que a placa da revelação estava lá, e seria usada para terminar o ritual, uma espécie de feitiço enoquiano.

— E essa mulher era muito poderosa, a Madonna da bruxaria na época. — reiterou Balthazar.

— Então nós estamos presos com uma morta e não temos o cara que trouxe ela de volta. Quanto progresso! — disparou Dean, colocando a mão na ponte do nariz.

— Ei! — protestou Elisabeth, o timbre de voz um tanto mais delicado que o meu, porém era quase imperceptível a mudança.

— Nada pessoal... — começou — Espera, porque eu estou me desculpando com uma morta?!

— Dean, calma. — pediu Sam, gesticulando para o irmão.

— Pelo que eu pude entender do ritual, parece que eles iam prender Elisabeth no corpo de Esther e depois fundi-la com a alma, onde está a graça. Mas como Esther se livrou do amuleto, que era o que estava tragando a memória de Elisabeth, ela interrompeu o processo pela metade. — esclareceu Bobby, dando alguns segundos para todos absorverem a informação e então continuou — Uma alma não pode ser multiplicada nem dividida, nada do tipo, então a garota ali não passa de um corpo de barro e ossos com lembranças.

— Tá dizendo que ela não tem alma? Tipo o Sam quando voltou do inferno? — questionou o Winchester mais velho com surpresa.

— Imagine uma versão de você do passado, só com lembranças, mas a essência continua com o “você” do presente. — falou o velho Singer, tentando clarear nossas mentes que ainda estavam turbulentas.

— E o que a prende aqui? — perguntou o Winchester caçula.

— O amuleto de rubi. — disse Balthazar, desencostando do sofá e virando-se para a garota — Eu posso não ser um expert, mas acho que ele está em algum lugar dentro do corpo dela.

— Podemos verificar isso agora mesmo — sugeriu Sam, dando uma olhada rápida para Castiel. O anjo abaixou os olhos de uma maneira desconfortável enquanto colocava as mangas para cima, então segurou delicadamente Elisabeth pela cintura, apoiando-a por trás enquanto espalmava a mão sob a sua barriga. Ela fez uma careta quando a luz branca começou a brilhar em contato com seu corpo, e segundos depois ficou vermelha.

— Sem dúvida, está aqui. — afirmou Castiel, puxando a manga do sobretudo para baixo.

— Me corrija se eu estiver errado, mas isso aí deveria doer bastante — comentou o Winchester caçula, gesticulando com a mão.

— Partindo do princípio que ela não tem um corpo humano, também não deve ter sensações físicas como dor, frio ou fome. — esclareceu o anjo com uma careta confusa.

— Ótimo, Frankstein nos seus melhores dias. — debochou Dean — Temos a placa da revelação completa e o octeto de rubi. — continuou, virando-se para Castiel — E como a mandamos a noiva cadáver aí de volta?

— Ninguém vai mandá-la de volta. — sentenciou seriamente.

— Cass, você tá falando sério? — o loiro perguntou surpreso, encarando-o por segundos — É. Ele tá falando sério. Você enlouqueceu?!

— Isso não está sob discussão, Dean. — falou novamente.

— Mas é claro que está! — exclamou o Winchester mais velho, jogando as mãos para cima — Você quer segurar uma pessoa morta num corpo de barro e acha que isso é sensato?

— Nos dê motivos plausíveis para deixar que faça isso. — disparou Bobby, cruzando os braços e se recostando na cadeira com uma expressão desafiadora.

— Ela pode nos ajudar. — respondeu o anjo depois de dois segundos.

— Eu posso? — murmurou Elisabeth, arqueando uma sobrancelha irônica.

— Como? — insistiu Sam.

— Eu ainda não sei. — esclareceu revirando as mãos e levantando-se do sofá para ficar de frente para os irmãos.

— Você não está sendo racional, está sendo emotivo. — sentenciou o velho Singer.

— Nisso eu preciso concordar com o velho beberrão, isso não está certo — afirmou Balthazar.

— E você está esquecendo que seus poderes estão pifando, e Esther precisa do octeto que está no corpo dela. Nós quase a perdemos hoje e quem teve que curá-la foi Balthazar porque você está quase incapacitado de fazer isso! — continuou o loiro, exaltando, fazendo o anjo abaixar a cabeça por um instante.

— Talvez com a aproximação... — Castiel tentou falar novamente, mas foi bruscamente interrompido por Dean.

— Você não está pensando direito, ela foi trazida de volta por demônios! — disse apontando um dedo na direção dele, e com a outra mão pegou a faca que estava presa na cintura, desviando os olhos para Elisabeth e caminhando até ela — E nós não confiamos em demônios!

— O que está fazendo? — exclamou o anjo, colocando-se na frente do caçador e segurando-o com uma mão em seu peito.

— O que você não tem coragem de fazer, alguém precisa mandar ela de volta. — revelou o Winchester mais velho, tentando passar por ele. Comecei a descer as escadas, sendo percebida apenas por Balthazar e Bobby, eu não ia deixar aqueles dois se atracarem no meio da sala.

— Não se atreva. — grunhiu em resposta, os olhos faiscando brevemente entre branco e azul.

— Parem todos vocês! — gritou Elisabeth, se colocando em meio aos dois antes que eu mesma fizesse isso — Eu posso não ter alma, mas ainda tenho sentimentos, ou ao menos a lembrança deles. É sobre mim que vocês estão falando, e eu acho que tenho o direito de opinar.

— Nem viva você está. Você ao menos respira? — indaguei com os dentes trincados, parando ao pé da escada e fazendo todos os olhos se voltarem para mim. Ela me encarou por segundos, observando da cabeça aos pés com curiosidade e surpresa, então deu um suspiro derrotado.

— Num momento eu caí do penhasco e no outro apareci no meio daquele lugar cheio de gente morta com uma garota idêntica a mim bem na minha frente. — começou gesticulando ao redor e para mim — Aí vocês me dizem que estamos no século XXI, que eu morri, ela sou eu e que eu fui trazida de volta graças à magia negra. Eu não pedi por nada disso, parem de me tratar como se eu tivesse culpa!

— Não é por isso que você tem culpa, mas por tudo que fez antes. Condessa de sangue. — falou o Winchester mais velho, o tom seco enfatizando o apelido “carinhoso” que a mesma havia recebido enquanto ainda era viva.

— Você está me julgando por algo que eu fiz séculos atrás quando você nem era nascido, é isso mesmo? — desafiou com descrença — Mesmo que seja assim, eu estava sob influência, agora estou limpa.

— Como é? — questionou Sam.

— O único motivo da corrupção é a graça presa a alma — explicou Castiel calmamente — Elisabeth não a tem mais, logo ela está limpa.

— Claro! Você mata meio mundo e coloca a culpa nisso? É demais para mim — debochou Dean, virando-se de costas e pegando a garrafa de uísque em cima da mesa.

— Se quer se preocupar com alguém, se preocupe com a minha cópia antes que ela comece a esfaquear pessoas. — devolveu Elisabeth, gesticulando brevemente para mim com sarcasmo.

— E a primeira vai ser você, mas acho que bonecas de barro não contam como pessoas. — rosnei imitando seu tom e a mesma estreitou os olhos.

— Quer saber? Eu vou embora. — decretou virando as costas — Não acredito que me ressuscitaram para isso!

— Ei, ei, ei! — protestou Sam, se colocando a frente da garota que marchava para fora da casa — Não podemos deixá-la ir assim, digo, não sabemos direito como essa coisa funciona.

— Coisa? Vocês são bem criativos quanto a apelidos por aqui, hein — ironizou Elisabeth.

— Se você puder me assegurar que ela não é perigosa, pode ficar aqui. — falou Bobby, virando-se para Castiel seriamente.

— Bobby! — protestou Dean, deixando o copo escorregar e bater contra a mesa, e por alguma sorte não quebrou.

— Eu vou ficar de olho nela. — assegurou o anjo, olhando fixamente para a garota que agora tinha os braços cruzados em frente ao peito.

— Todos nós iremos — afirmei contragosto e então a fitei traçar o caminho até Castiel com passos rápidos e delicados, parando ao seu lado e agarrando-se a ele de uma maneira que parecia exigir proteção, como uma criança que tem medo de algo e se agarra à saia da mãe.

— Ótimo, só espero que as gêmeas apocalipse não se matem na minha sala. — resmungou o caçador, enquanto o anjo colocava o braço em volta da garota e beijava delicadamente o topo da sua cabeça. Senti uma onda de raiva ferver o meu sangue, mas a única coisa que demonstrei foi um breve rolar de olhos, abrindo espaço entre todos e indo em direção a porta.

Caminhei até o Impala, levando as mãos à cabeça e deslizando-as pelo cabelo com força. Eu não conseguia acreditar no que estava acontecendo, e quanto mais a ficha caía, mais irritada com aquela situação eu ficava. Lembrei da cena que eu presenciei segundos atrás e dei um grunhido, chutando a primeira coisa a minha frente e acertando a lateral do pobre Chevy que não tinha nada a ver com aquilo.

— Calma, Esther! — pediu Dean, aparecendo as minhas costas e me puxando pelo braço para que ficasse frente a frente. — Não desconta na baby, ela não tem culpa.

— Desculpa, eu não queria... — murmurei arrastando as mãos pelo rosto.

— Não se preocupe, todos nós estamos uma pilha de nervos com isso. Não é todo dia que um morto sai da cova e senta pra tomar café na nossa mesa de jantar, não é mesmo? — falou o loiro, tentando fazer o tom de voz sair descontraído, mas ele estava tenso demais para obter sucesso.

— Por que isso foi acontecer? — indaguei retórica, me recostando contra o carro e abraçando meus braços. O ar frio da noite fazia meus pelos se arrepiarem e alguns arrepios percorrerem meu corpo gradativamente.

— Nós vamos dar um jeito nisso, é questão de tempo até convencermos o Castiel que não é prudente tê-la aqui. — assegurou imitando a minha posição — Ele está cego, e não é para menos, era apaixonado por ela e de repente ela volta e... — olhei para o lado, permanecendo em silêncio e puxando a respiração vagarosamente. — Eu falei alguma coisa errada?

— Toda vez que eu olho para ela eu vejo tudo o que eu não quero ser, e isso me dá raiva! — disse com o tom baixo e alterado — E quando eu os vejo juntos eu tenho vontade de...

— Quando você diz “eles”... — começou Dean, mas parou logo que eu o encarei. Minha expressão, embora eu não pudesse vê-la, mostrava toda a derrota e a profundidade do sentimento não correspondido. E mesmo sem proferir qualquer palavra, eu sabia que ele havia entendido o que eu queria dizer. Eu amava algo tão impossível quanto ficar sem respirar, e se já era assim antes de Elisabeth retornar dos mortos, agora então estava mais inalcançável quanto nunca.

Eu desejava um anjo, um ser de extrema santidade e pureza cujos sentimentos assim nunca deveriam ser despertados e só o fato de eu admiti-los para mim mesma, já devia me reservar uma vaga no inferno.

O loiro me encarou atônito por instantes, e então seus olhos verdes se suavizaram em compaixão. Em seguida me puxou, colocando os braços ao meu redor e apoiando o queixo no meu ombro. Não havia mais nenhum som além do vento nas copas das árvores e a voz de Dean, que murmurava três palavras pequenas, mas com enorme significado. — Eu sinto muito.

Ele sentia muito porque sabia o quão condenado esse sentimento estava e simplesmente era incapaz de mentir. Ficamos lá fora por aproximadamente uma hora, até que eu conseguisse me recompor interiormente, e quando finalmente consegui, decidimos que era hora de entrar. Tracei o caminho até a casa e parei em frente à porta, respirando fundo ao girar a maçaneta. Eu precisava encarar meus pesadelos, reais ou não. Entrei pela mesma com Dean logo atrás de mim, mas antes tivesse passado reto para as escadas sem olhar para a sala. Sam estava com um livro, sentado a mesa de Bobby enquanto Balthazar circulava para lá e para cá falando alguma coisa e fazendo gestos. Mas a cena que capturava totalmente minha atenção era outra.

Castiel estava sentado no sofá e ao seu lado, aninhada em seu colo, Elisabeth dormia tranquilamente enquanto o anjo deslizava os dedos pelo cabelo da garota, emoldurando os cachos suavemente. Não sei quanto tempo fiquei encarando-os, o que pareceu não incomodá-lo nenhum pouco, pois estava tão distraído observando-a dormir que não devia nem notar que eu tinha entrado pela porta.

— Esther? — chamou Sam, me fazendo focá-lo. Sacudi a cabeça e o moreno me encarava confuso, com o livro estendido sobre a mesa. Notei que Dean estava com o nariz torcido quando o mesmo marchou pela sala e agarrou a garrafa de uísque que já estava menos da metade — Você está aí?

— Só estava distraída — dei de ombros, cruzando os braços e procurando algum lugar longe para focar enquanto eu tivesse que permanecer ali.

— Eu perguntei se as suas alucinações pararam — reiterou o Winchester caçula.

— Não tive nenhuma desde que voltei — afirmei, e antes que ele pudesse falar mais alguma coisa, ouvi o barulho do telefone tocar — Eu atendo — disparei dando uma volta de 180 graus em direção a cozinha. Agarrei o aparelho estridente com demasiada força e coloquei-o na orelha.

— Dean? — perguntou uma voz chiada, abafada por uma cacofonia alta de gritos e ruídos.

— É a Esther, quem gostaria? — indaguei franzindo a testa.

— Aqui é a Maison. O que aconteceu? — perguntou a garota.

— Como assim o que aconteceu? — repeti confusa.

— Os demônios estão eufóricos, há centenas deles em Chicago fazendo o maior estrago e disseram que os Winchester estavam aqui mais cedo! — revelou Maison, me fazendo recostar na parede e suspirar. Eu lembrava da grande nuvem negra que estava fazendo as paredes tremerem, uma massa de demônios. — O que vocês fizeram?

— É complicado de explicar por telefone, e perigoso também. Vocês podem vir até aqui?

— Amanhã estaremos aí. — afirmou a garota.

— E Maison, como está o Jimmy? — questionei, sentindo uma súbita falta do meu irmão.

— Se divertindo dando banho de água benta em alguns olhos pretos — brincou a loira com uma risada cansada — Ele mandou um abraço, e agora sem mais melação, por favor.

— Certo, e... — comecei, prestes a perguntar como ela estava, porém o telefone foi desligado. Fiquei encarando o aparelho com descrença por alguns segundos. Voltei para a sala e Balthazar estava cantando algo terrivelmente desafinado enquanto Sam tampava os ouvidos. Recostei-me ao pé da escada observando a cena com certo divertimento até que o anjo se voltou para mim.

— Quer dançar? Sacudir o esqueleto? — ofereceu, estendendo a mão na minha direção.

— Eu passo. — descartei educadamente, olhando para os irmãos que me encaravam — Maison ligou e parece que deu uma espécie de tumulto de demônios em Chicago assim que nós fomos embora.

— Nenhum deles viu que o feitiço deu errado, devem estar achando que Elisabeth foi revivida no corpo de Esther — ponderou Sam.

— E isso pode ser bom ou ruim, talvez possamos pegá-los numa armadilha e mandar centenas de demônios de uma vez só direto para o inferno. — falou o Winchester mais velho, com um meio sorriso de satisfação.

— Eles vão passar aqui amanhã.

— Essa vida de caçador não tá rendendo, a gente sai de uma e entra em outra. Vou te contar, viu. — reclamou Dean, virando o resto da bebida e largando o copo na mesa. Então encarou Castiel e Elisabeth, completamente avulsos ao assunto e deu um grunhido irritado. E movida pelo mesmo sentimento, eu caminhei tranquilamente até o aparelho de som, firmando a mão no botão do volume antes de ligá-lo.

Na mesma hora a garota deu um pulo do sofá, encarando o Winchester que sacudia a cabeça ao som de Sulfur, da banda Slipknot e em seguida para mim, que tocava uma guitarra imaginária. Já Castiel, apenas de sobressaltou brevemente, lançando um olhar confuso para nós.

— Qual é o seu problema?! — chiou por cima do som.

— Não estou ouvindo, tá muito alto! — gritei, mordendo os lábios enquanto curtia a música por mais alguns instantes e me divertia ao vê-la furiosa. Em seguida abaixei o volume com a expressão séria — Tem uma revolta demoníaca em Chicago, só para vocês saberem.

— Eu estava dormindo — protestou Elisabeth.

— Sofá não é lugar de dormir. — devolvi.

— Onde você quer que eu durma então? — retrucou a mesma com sarcasmo.

— Na casa da...

— Pode ficar com o meu quarto e eu fico aqui, temporariamente — interrompeu Sam antes que a coisa baixasse totalmente o nível, dando ênfase na palavra final.

— Ótimo. — finalizou Elisabeth, ironicamente.

— Ótimo. — imitei seu tom, estreitando os olhos. Então virei às costas e subi as escadas, marchando até o quarto e fechando a porta com um chute. Tirei as roupas, jogando uma peça para cada lado e vestindo uma camiseta surrada para dormir. Engatinhei sobre a cama, afofando o travesseiro a socos, e nada parecia extravasar a raiva que eu sentia.

Mas então algo chamou a minha atenção. Próximo a janela, as sombras das árvores começavam a tomar forma humana, subindo lentamente no ar e vindo em minha direção. Tampei a boca com as mãos antes que o grito preso na garganta pudesse escapar. Aquilo obviamente era uma alucinação e eu preferia tentar qualquer coisa antes de chamar por Castiel.

A coisa se aproximava gradativamente e uma sensação de frio começava a fazer meu corpo estremecer, fechei os olhos repetindo mentalmente que aquilo não era real. Eu precisava ter o controle da minha mente. Senti a alucinação ficar a centímetros do meu rosto, respirando forte contra mim, em seguida era como se dedos invisíveis segurassem uma mecha do meu cabelo e a retirassem do meu rosto. E então a coisa desapareceu, como num sopro.

Demorei cerca de cinco segundos para abrir os olhos e constatar que não havia mais nada ali. Observei o cômodo escuro, procurando em todos os cantos quaisquer possíveis sinais de que algo estava fora do normal, e para alívio imediato não tive sucesso.

Despertei com os raios de sol tocando minha pele, e assim que abri os olhos pulei da cama ao ver a cara do Jason, o assassino em série do filme sexta-feira treze, a centímetros do meu rosto. Escorei-me contra o guarda-roupas em choque e logo a criatura começou a rir descaradamente, então retirou a máscara, revelando-se Jimmy.

— Você devia ter visto a sua cara — falou o mesmo entre risadas, dobrando-se sob a cama.

— Seu pestinha! — chiei puxando um travesseiro e jogando por cima do mesmo, estupefata. Porém logo a irritação se dissipou, era só uma brincadeira sem graça afinal de contas. — Chegou quando? — indaguei jogando os braços para cima a fim de me espreguiçar.

— Logo ao amanhecer, mas não queria te acordar. Você teve um dia difícil ontem. — revelou colocando a máscara de lado e sentando-se na beirada da cama. O nefilim usava uma camiseta azul marinho desbotada, jeans e um all star.

— Você já... — comecei, querendo saber se ele já tinha conhecimento do meu clone malvado que dormia no quarto ao lado.

— Eu já soube. — afirmou o garoto, passando a mão pela nuca — Deve ser estranho ter uma versão sua do passado andando por aí.

— Nem me fale. Eu esperava acordar e isso ter sido apenas um pesadelo. — suspirei pesadamente, sentando-me na cama — Você já a viu?

— Não, ela não saiu do quarto desde que eu cheguei. — respondeu Jimmy.

— Como estavam as coisas em Chicago? — questionei.

— Terríveis. — o nefilim fez uma careta de espanto — Muitas vítimas, um caos total.

— Nós temos que fazer alguma coisa. — comentei. Eu me sentia diretamente responsável por aquilo, e o mínimo que poderia fazer seria tentar o máximo de mim para reverter a situação.

— Maison tem um plano. — revelou o garoto, me encarando com um meio sorriso.

— Maison e seus planos... — rolei os olhos — Eu não vou vestir nada, só para deixar bem claro.

— Acho que dessa vez não inclui nenhum tipo de vestido de Lolita — brincou Jimmy com uma risada — É arriscado, porém genial. — continuou, então uma curiosidade me passou pela mente.

— É só uma pergunta, mas por acaso vocês dois estão... Você sabe. — balancei a cabeça para os lados, insinuando o que eu queria dizer.

— O quê? — o nefilim franziu a testa, confuso, mas logo entendeu sobre o que eu falava — Ah! Não, somos só amigos. Ela deve ter vários séculos, e isso é meio... Nojento. E que ela não me escute dizer isso. — terminou olhando para os lados com preocupação. Comecei a rir, dobrando-me sobre a barriga e segundos depois Jimmy me acompanhou. Ficamos assim por vários minutos até ouvir a voz de Sam nos chamando para descer.

— Eu só vou trocar de roupa e passar no banheiro, e aí quero saber esse plano genial. — avisei para o nefilim enquanto ia até meu guarda-roupas e ele traçava seu caminho até a porta.


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Notas finais do capítulo

Esther vs Elisabeth: Quem ganha? Castiel, ô Castiel, não dá uma dentro, hein... Vai perder a menina desse jeito. E como a vida de caçador não tira férias, no próximo teremos o grande plano da Maison (o que será que vem por aí? Minhas anteninhas de vinil que captam a presença de tretas estão eufóricas -q). Um beijo, suas lindas! Próximo em breve!



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