Separate Ways - Requiem escrita por WofWinchester


Capítulo 29
Meu coração vai seguir


Notas iniciais do capítulo

MIL DESCULPAS PELA DEMORA! Eu tive que reescrever esse capítulo porque meu word bugou e acabei perdendo a primeira parte de SPW (porém estava toda postada já, só faltava esse). Queria, novamente, agradecer aos favoritos e comentários divos.
Sobre o capítulo: É uma demarcação, e representa o episódio "My heart will go on" da sexta temporada. Espero que gostem.



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— Vai lá e pergunta alguma coisa. — dizia Sam, olhando de soslaio através da porta da cozinha, onde dava para ver Bobby sentado à mesa com a cara enterrada nos livros e um copo de uísque ao seu lado.

— Da última vez que eu falei algo, achei que ele fosse me morder — retrucou Dean, baixinho e com uma expressão assustada — Vai lá, Esther.

— Não obrigada, não virei suicida ainda — descartei imediatamente a possibilidade em tom sarcástico. De uns dias para cá, Bobby havia ficado extremamente rabugento, mal comia ou dormia. Segundos os rapazes, talvez fosse a morte de Rufus que o caçador ainda não havia superado totalmente.

— Vocês vão ficar aí cochichando igual três moças feias no baile ou vão vir aqui falar na minha cara? — latiu o velho Singer em alto e bom tom. Nos entreolhamos com uma careta, então foi o Winchester caçula que se pronunciou primeiro.

— Bobby, você não dorme há dias... — sugeriu Sam, se aproximando como quem não quer nada.

— Virou minha mulher agora? — desdenhou o caçador, enquanto nos colocávamos logo a sua frente — Eu durmo.

— Sabe, foi difícil para todos nós, o Rufus ir daquele jeito. — continuou o moreno.

— Você acha que... — começou exaltado, mas logo se recompôs — Isso não tem nada a ver com o Rufus.

— Ele não era só um conhecido. — murmurei, sendo drasticamente interrompida.

— Eu estou bem, droga! — enfatizou com um rosnado, colocando alguns papéis do nosso lado da mesa — Parem de cuidar da minha vida e vão trabalhar, essa Eve, ou mãe, ou seja lá o que for, não vai se matar sozinha. — disse recostando-se para trás.

— Um caso? — questionou Dean, pegando a folha e lendo por cima.

— Várias pessoas estão morrendo. — começou Bobby.

— Pessoas morrem todos os dias. — o loiro deu de ombros.

— Não da mesma família e de formas estranhas. — acrescentou o velho Singer.

— Defina estranho. — pediu Sam, franzindo a testa com curiosidade.

— Ser decapitado por uma porta de garagem está bom para você? — o caçador levantou a sobrancelha.

— É, definitivamente é um caso. — concordou Dean, depois de uma pausa.

— Vão logo e saiam da minha casa, vocês estão me deixando maluco.

— Vou pegar minhas coisas — avisei prontamente, mas o Winchester mais velho deu um passo para o lado, barrando meu caminho com um sorriso divertido.

— Quem disse que você vai?

— Ah, Dean, qual é, já falamos sobre isso. — rolei os olhos, e então procurei algum apoio no Winchester caçula. — Sam?

— Parece ser um caso simples, não há necessidade de você ir. — falou o moreno calmamente.

— Vamos chamar uma babá para você e outra para o Bobby, se não quando voltarmos ele vai estar nadando em meio a bebida — disse o loiro, aumentando o tom de voz propositalmente em direção ao velho Singer, que bufou com raiva, então foi em direção a cozinha.

— Não ouse!— disparei indo atrás do mesmo, que logo puxou o telefone.

— Vou chamar a Jô e a Ellen. — comunicou discando os números.

— Jô e Ellen? — questionei em dúvida por um momento. Era como se o meu cérebro tivesse tido um lapso momentâneo e eu tivesse esquecido as duas. Como não me lembrar da garota loira que sempre acompanhava Dean nas caçadas, e da esposa de Bobby? Jô e Ellen Harvelle. Mas por algum estranho motivo, as memórias estavam vindo lentamente, como na cena em que a garota e os irmãos entravam correndo na estação de trem abandonada e faziam Raphael desaparecer com o símbolo anti anjos.

Senti minha memória escanear por mais, como se tivesse um espaço em branco faltando, e com isso uma dor de cabeça começou a latejar com ferocidade nas paredes do meu cérebro.

— Esther, você está bem? — indagou Sam, arqueando as costas para frente, fitando melhor meu rosto.

— Não é nada, só uma enxaqueca. — disse rapidamente, franzindo a testa.

Algumas horas depois, elas chegaram com várias bolsas. Ellen estacionou o carro e Jô imediatamente saltou para fora, recebendo um abraço e um beijo de Dean, que estava todo sorridente, como um cachorro babão. A loira tinha os cabelos presos num rabo de cavalo e usava uma camiseta xadrez de mangas curtas com botas de cano longo. Observei a cena com certa confusão, eu lembrava perfeitamente da garota, desde a primeira vez que coloquei os pés na oficina B&E, junção das iniciais de Bobby e Ellen, só que uma sensação estranha borbulhava no meu peito quando olhava para as duas.

— Onde está aquele velho rabugento? Vou chutar o traseiro dele de volta para a saúde e a felicidade. — começou a mulher, se aproximando de nós com um sorriso radiante. Ela usava uma jaqueta verde camurça e uma calça jeans escuro, o cabelo castanho avermelhado pendia delicadamente abaixo dos ombros.

— Boa sorte, a coisa tá grave. — comentou Sam, ela deu uma risada e então entrou pela porta.

— Esther! — cantarolou Jô, vindo atirar os braços no meu pescoço, me dando um abraço de urso que tirou meus pés do chão por alguns segundos.

— Veja isso, minha namorada me trocou por outra garota. — brincou o Winchester mais velho, forçando um tom ciumento e arrancando risos de nós.

— Como foi lá no Oregon? — perguntei assim que ela me soltou.

— Foi tranquilo. Wendigos são feios, mas são burros. — respondeu a loira.

— Por que a Jô pode caçar e eu não? — questionei, tendo plena convicção do meu tom de criança emburrada.

— Por que ela é mais treinada. — salientou Sam, gesticulando para nós duas.

— Não se preocupe, assim que os ditadores aqui saírem, nós vamos fazer uma festinha para compensar. — comentou ela, me cutucando de leve com o ombro e dando um sorriso conspiratório.

— Isso soou assustador — brincou o loiro novamente, puxando Jô para outro abraço apertado, seguido de um beijo na testa — Certo, estamos indo — avisou, se soltando da mesma e seguindo em direção ao carro.

— Comportem-se. — advertiu o moreno, indo atrás do irmão e entrando na porta do carona. Dean deu a partida no Mustang, que logo desapareceu da oficina. Fiquei observando o caminho empoeirado que o veículo traçou com olhos apertados, e novamente aquela sensação de desconforto encheu meu peito.

— Você está bem, Esther? — questionou Jô, colocando a mão sob meu ombro com o olhar preocupado.

— É só... — comecei, mas logo perdi as palavras. Eu não sabia explicar aquilo. — estou cansada.

— Bobby Singer! Levante dessa mesa imediatamente e vá tomar um banho ou eu vou usar sua cara para lavar o chão! — exclamava Ellen dentro da casa.

— Não me diga o que fazer, droga! — devolveu o caçador com o tom ranzinza, mas logo ouvi seus passos se arrastarem para o banheiro e fecharem a porta. Jô e eu nos entreolhamos com caretas divertidas e logo caímos na gargalhada com aquela situação.

Já era de tarde e eu estava no meu quarto, deitada na cama enquanto encarava o teto. Algo não fazia sentido, algo não parecia estar certo. Era aquela típica sensação de quando você esquece algo importante para trás e fica tentando se lembrar o que era. Mas sempre que eu tentava buscar alguma coisa a mais na minha mente, enormes muros de contenção me barravam, impedindo que qualquer coisa fosse vista. E aquilo estava me deixando cada vez mais nervosa.

Observei a janela aberta por alguns instantes, o dia ensolarado lá fora me convidava para uma caminhada, e talvez fosse isso que eu estava precisando, aliviar um pouco a cabeça.

— Me ajude — sussurrou uma voz na minha mente, com o susto eu me levantei da cama, ficando sentada na beirada da mesma. Olhei para os lados, tendo a certeza de que estava sozinha. Era a mesma voz que eu havia ouvido dias atrás, momentos antes de... Antes do que mesmo? Bati novamente contra uma parede em branco.

— Quem está falando? — questionei me aproximando da janela com relutância.

— Avenida Grimwood, 361 — falou novamente, dessa vez mais baixo.

— Ei! Fale comigo! — disparei, não recebendo resposta — Que inferno!

Diante de tal situação, qualquer pessoa normal ficaria apavorada. Ouvir vozes, mesmo que no mundo sobrenatural no qual estávamos, não era algo bom. Mas eu estava intrigada demais para deixar isso passar, então catei meu casaco jeans e desci as escadas, decidida a descobrir aquele mistério.

— Você ainda está com cheiro de bar — brincava Ellen, recostada em frente a pia enquanto tirava algumas verduras e legumes de uma sacola de papel. Parei em frente à porta da cozinha, ainda indecisa se deveria interromper a conversa e avisar que iria sair, ou simplesmente não dizer absolutamente nada. A última opção seria mais rápida, porém eu tinha certeza de que Ellen iria arrancar minhas orelhas quando voltasse.

— Você também não está com cheiro de rosas — devolveu Bobby ironicamente, logo ao seu lado com as mãos apoiadas no móvel.

— Eu estava caçando com a Jô, e qual a sua desculpa? — questionou a mulher, sem perder o tom provocativo e descontraído na voz.

— Se eu precisar tenho uma bem boa — murmurou o caçador com um suspiro cansado. Ellen parou o que estava fazendo, e então fitou o velho Singer com ternura.

— Eu sei, eu gostava muito dele também. — disse calmamente, fazendo o caçador dar um sorriso cabisbaixo. Se Bobby já era daquele jeito com ela, imagina sem? Acho que ele não suportaria.

— Para onde você vai? — questionou Jô, aparecendo por trás de mim e me fazendo dar um pulo.

— Por que acha que eu vou para algum lugar? — disparei me recompondo, e a loira então apontou para o meu casaco jeans que pendia sob meu braço. — Vou comprar algo para comer. — menti rapidamente. Eu não poderia dizer para eles que ia seguir a voz da minha cabeça que dizia para eu ir até um lugar que nem sabia que existia, isso seria insano e provavelmente iam me trancar no quarto até os irmãos voltarem.

— Mas o jantar vai ficar pronto em minutos. — comentou Ellen, virando-se para mim enquanto despejava meia garrafa de cerveja na panela de molho de tomate.

— Me deu vontade de comer alguma coisa boba para abrir o apetite, sabe como é. Um pedaço de torta, talvez. — falei balançando a cabeça. Eles então me fitaram por alguns segundos, até que Bobby jogou a chave de seu carro na minha direção.

— Não demore. — advertiu o caçador.

— Traga hambúrguer, ninguém merece o molho alcoólico da minha mãe. — brincou a garota se voltando para a sala novamente, assenti e sai rumo ao veículo.

Minutos depois, eu estava em frente a um galpão abandonado. A cerca enferrujada de arame farpado ao redor do terreno havia sido cortada várias vezes, e o chão de terra estava visivelmente lamacento devido a última chuva, dias atrás. Observei a placa da rua mais uma vez para ter certeza, e embora estivesse um pouco apagada, o endereço era aquele. Avenida Grimwood, 361.

Dei um suspiro longo, ainda incerta sobre aquilo. Olhei para os lados e me enfiei por um dos buracos na cerca, entrando rapidamente e empurrando a grande porta de metal o suficiente para conseguir passar. Dentro do galpão, o cheiro de feno e terra molhada enchia o local, juntamente com algumas ferramentas de trabalho rural e um pequeno trator. Andei alguns passos, ouvindo apenas o som das minhas botas ecoarem alto pelo lugar.

Não havia nada ali, então porque aquela voz me mandaria para cá? Não fazia sentido. Nada estava fazendo sentido aqui. Franzi a testa e então um ponto brilhante próximo a roda do trator chamou minha atenção. Agachei-me para pegar uma espécie de fiapo dourado, analisando-o minuciosamente entre os dedos, parecia ser feio de ouro.

— Alguém anda brincando de detetive. — falou uma voz sarcástica. Levantei-me imediatamente para dar de cara com Balthazar.

— Você? — questionei com um tom de desapontamento que eu não sabia de onde vinha.

— Em carne, osso e graça. — brincou o anjo, sorridente.

— Por que me trouxe aqui?

— Eu não te trouxe. — ele deu de ombros, dando alguns passos pelo local.

— Então o que está fazendo aí? — desconfiei, observando seus movimentos.

— Vim estragar sua brincadeira, antes que você comece a fuçar demais onde não deve. — revelou Balthazar, apontando um dedo levemente na minha direção. De fato havia alguma coisa, eu sabia.

— Explique. — ordenei apertando os olhos.

— Vou te dizer o mesmo que disse para o Tom e Jerry minutos atrás: Eu salvei o Titanic. — disse o anjo seriamente, me fazendo ficar com cara de paisagem. Do que ele estava falando?

Titanic? — repeti confusa.

— Sim, aquele navio que se choca com um iceberg e todos morrem. Aí anos depois eles inventam de fazer um filme sobre isso, e eu odiei a música. — esclareceu com a expressão sarcástica.

— Espera, você fez isso por causa de uma música? — enfatizei incrédula.

— Era irritante. E vocês deveriam ficar agradecidos, um filme do Billy Zane a menos, e eu salvei milhares de pessoas. — falou Balthazar, abrindo os braços.

— Mas agora essas pessoas estão morrendo — se pronunciou outra voz no local, me virei para a entrada e Jô estava escorada na porta, com uma expressão séria e os braços cruzados.

— Como você...

— “Vou comprar algo para comer”, sério? Há desculpas melhores. — ela rolou os olhos para mim — Todas as pessoas que estavam naquele navio, deveriam estar mortas, mas como esse idiota o salvou, agora elas estão tendo mortes terríveis por estarem atrapalhando a ordem natural.

— Esse é o caso que Dean e Sam estão investigando? — arrisquei, mordendo a boca.

— Exatamente. — assentiu a loira.

— Aí já não é problema meu. — se defendeu o anjo, levantando as palmas e parando logo ao meu lado.

— Mas claro que é! De lá para cá são cerca de cinquenta mil pessoas que não deveriam existir! — chiou a garota.

— Pessoas que não deveriam existir... — sussurrei para mim mesma enquanto fitava seu rosto. E de repente uma teoria se formava na minha cabeça: Jô e Ellen não deveriam existir. De alguma forma eu sabia, uma sensação completamente fora do normal me alertava a todo segundo sobre isso. Mas como seria possível?

— Ah, você sacou, não é? — questionou Balthazar, que estava próximo o bastante para ouvir, gesticulando na minha direção — Anjos não podem ser completamente confundidos por esse tipo de magia temporal, e como você tem a graça de um aí dentro, é de se esperar que ao menos ficasse com a pulga atrás da orelha.

Sacar o quê? — perguntou Jô com uma careta confusa.

— Se não foi você, quem praticamente me arrastou para cá? — desconversei imediatamente, não queria ter que ser eu a contar para Jô que ela não deveria existir. Pelo menos não nas circunstâncias reais, que eu não sabia quais eram. Como um simples naufrágio de um navio podia afetar tantas vidas assim?

— Isso eu já não posso responder. Por que não pergunta ao anjo de sobretudo sujo que você ama? — disparou Balthazar com um sorriso malicioso.

— O quê? — indaguei franzindo a testa, não entendendo a quem ele estava se referindo.

— Você... Ah, entendi! — começou surpreso, então começou a rir — Era de se esperar que ele fizesse isso, um truquezinho bem baixo eu diria. — acrescentou com um sussurro.

— Quem fizesse o quê?! — questionei com raiva, marchando na direção do mesmo, decidida a fazê-lo contar tudo que sabia nem que fosse a base da porrada. Eu já estava cansada de todo aquele joguinho de “esconder a verdade”.

— E essa é a minha deixa. — falou o anjo, desaparecendo no ar com um farfalhar de asas.

— Balthazar! — gritei para o nada logo a minha frente.

— Esther? — chamou Jô, ainda próxima à porta, com uma expressão confusa — Do que ele estava falando?

— De qual parte? — perguntei arrastando as mãos pelo rosto e suspirando derrotada — Eu estou bem perdida quanto a tudo isso.

— O que aparentemente você “sacou”? — indagou a loira, me pegando de jeito. Eu não podia falar a verdade, não naquele momento, pelo menos.

— Eu estou ouvindo vozes, elas me trouxeram até aqui. — contei, omitindo o fato mais importante.

— Ouvir vozes não é algo bom. — comentou ela, balançando a cabeça algumas vezes.

— Acho que devíamos falar com Bobby e Ellen sobre tudo isso — disse, me virando para a mesma, que assentiu rapidamente.

— Vamos voltar. — concordou, gesticulando para que saíssemos do galpão.

Entrei no carro de Bobby e Jô me seguiu de perto com uma caminhonete laranja. Meus pensamentos estavam a mil por hora, um verdadeiro turbilhão. Embora eu já soubesse que havia algo errado quanto à existência de Jô e Ellen, outra coisa ainda parecia perdida para mim. E a frase que Balthazar havia dito logo antes de desaparecer ficava ecoando na minha cabeça, embora não fizesse sentido nenhum. Quem era o tal anjo de sobretudo que ele fizera referência? Talvez salvar o navio podia ter mudado o destino de forma que me fizesse esquecer alguém? Não era impossível, nada era impossível hoje. E quanto mais eu forçava minha mente a se lembrar, mais paredes brancas se formavam ao meu redor, sufocando meus pensamentos e fazendo minha cabeça latejar de dor.

Assim que entramos pela porta, Bobby e Ellen estavam sentados na mesa da cozinha, ambos com cervejas nas mãos e expressões derrotadas. Apertei os olhos para o caçador, que estava bem arrumado, penteado e exalando perfume de lavanda pelo ar.

— Quem morreu? — questionou Jô em tom de brincadeira, indo até a pia e servindo um copo de água.

— Acabei de falar com Sam e Dean de novo e... — começou o velho Singer, mas foi interrompido pela garota.

— Balthazar salvou um navio que deveria ter afundado, e com isso salvou mais de cinquenta mil pessoas que estão atrapalhando a ordem natural. — disse a loira rapidamente — Dean me disse pelo telefone e o anjo nos confirmou há minutos.

— Vocês falaram com Balthazar? — perguntou Ellen, se voltando para a filha com preocupação.

— É meio complicado. — desconversei, caminhando até a mesa e puxando uma cadeira ao lado dos dois — Mas o que mais eles disseram?

— Estamos lidando com mitologia grega aqui. — explicou Bobby — Já ouviram falar das irmãs do destino?

— História não é bem meu forte. — revelou Jô com uma careta.

— Essas damas são responsáveis pela sua partida. Literalmente, se você for decapitado por uma porta de garagem ou esmagado por uma copiadora, são elas que bolam os detalhes da sua morte. Tecem seu destino num fio de ouro puro, e uma delas anota tudo em seu caderno. Coisa de auto nível. Agora que sabemos o que o anjo fez, parece que a Moira está tentando limpar a bagunça.

— Um fio de ouro, tipo esse aqui? — tirei o fiapo dourado do bolso do casaco e coloquei sob a mesa. Ellen pegou o objeto com os dedos, analisando e assentindo para Bobby.

— E como acabamos com ela? — perguntou Jô, se aproximando de nós com a expressão séria.

— Como matar o destino? — enfatizou o caçador, jogando levemente as mãos para cima — É quase impossível, eu não achei nada que chegasse perto em nenhum dos livros.

— Mas precisamos fazer alguma coisa, são cinquenta mil pessoas. — insistiu a garota com preocupação.

— A solução mais sensata seria afundar o navio. — falou Ellen seriamente.

— Mas estamos falando de gente. — discordou o velho Singer, fitando a mulher com os olhos alarmados. — Gente que é amada, e sua falta será sentida.

— Morrer dessa forma horrorosa é bem diferente de nunca ter nascido. — devolveu.

— Não, Ellen. Ninguém vai afundar o navio. — sentenciou Bobby duramente. E a julgar pelas suas reações, eu tinha quase certeza de que ele sabia o que aquilo iria significar.

— Tem algo mais que vocês não estão contando? — questionou Jô, largando o copo na beirada da pia e franzindo a testa.

— Parece que nós duas morremos numa explosão, e o Titanic mudou isso. — começou Ellen em tom baixo — Se o barco afundar...

— Vocês não vão mais existir. — completei num sussurro. Então um silêncio mortal se estabeleceu no ambiente, a garota ficou atônita por instantes, até que pareceu finalmente encontrar as palavras de novo.

— Eu acho que preciso de um tempo. — disse, andando devagar até as escadas e subindo dois degraus por vez.

— Não bastasse só eu, a Jô também? Acho que não se pode mudar o destino, não é mesmo? — indagou Ellen retórica, com os olhos marejados.

— Nós só estamos juntos por um capricho de um anjo. Você não percebe? Nós escolhemos nosso próprio destino, e os garotos não vão afundar aquele barco. — começou Bobby — Nós precisamos de vocês. Eu preciso de você, muito. — sussurrou num fio de voz. Observei com tristeza Ellen enterrar o rosto entre as mãos e o caçador se agachar ao seu lado para abraçá-la de forma carinhosa. Imagino o quão difícil deve de ser lidar com o fato de que sua vida depende de algo que não deveria ter acontecido, e que pode se acabar a qualquer momento.

Subi para o quarto, girando a maçaneta e vendo Jô chutar os móveis com raiva e socar as paredes.

— Eu não consigo acreditar nisso! — exclamava a loira, arrastando as mãos pelos cabelos com força, os punhos vermelhos e com alguns cortes pingando sangue.

— Acalme-se! — pedi imediatamente, andando até ela e segurando seus braços para que não se machucasse mais.

— Não me peça para ter calma! — urrou, se desvencilhando e recuando vários passos para trás — Sabe o que é você descobrir que na ordem natural das coisas você vai estar morta? Não é legal!

— Eu tenho uma ideia. — disse em tom seco, tentando esconder qualquer indício de morbidez na minha expressão. Porém não devo ter tido sucesso, pois seu rosto se suavizou de maneira constrangida. É claro que eu sabia perfeitamente como era ter de estar morta para tudo fluir corretamente, por causa da profecia, eu também teria de estar daqui há algum tempo, que eu não fazia ideia de quanto era. Quando eu me tornasse uma sanguinária assassina, igual Elisabeth, então... Então o quê? Bati contra a parede branca de novo.

— Desculpa. Eu só... — começou balançando a cabeça negativamente, então lágrimas começaram a descer em linhas finas pelas bochechas da garota. — Eu sei o que é correto a se fazer. Mas por que é correto eu estar morta?

— Ninguém vai afundar o navio. — prometi, sacudindo a cabeça para meus problemas internos e me aproximando de Jô, segurando suas mãos — Nós vamos dar um jeito.

— E como? — indagou com a voz trancada devido ao choro.

— Deve ter alguma maneira, Balthazar deve saber de algo, ou algum outro anjo, ou um demônio. Você é minha amiga, e você não vai morrer. — falei com firmeza.

— Obrigada. — murmurou a garota, passando as costas das mãos no rosto para retirar as lágrimas. — Esther, se alguma coisa acontecer comigo...

— Não vai — cortei-a antes que terminasse a frase.

— Se alguma coisa acontecer, diga ao Dean que eu o amo. Com barco ou sem barco, eu sempre vou amá-lo. Pode me prometer isso? — reiterou a garota.

— Eu prometo. — assenti fixamente. E no momento em que eu abri a boca para falar novamente, tudo aconteceu rápido demais.

Num segundo nós estávamos ali, conversando, e no outro eu senti um braço em volta da minha cintura, enquanto meus olhos fitavam uma nuvem alta de fumaça negra e pedaços caindo para os lados. Coloquei as mãos nos ouvidos para abafar o barulho da explosão, e com pânico percebi que estava em frente à oficina B&E, que agora ruía ao chão. Demorei cerca de cinco segundos para conseguir me mover novamente, me virei para o lado e Jô estava de joelhos, murmurando coisas desconexas enquanto chorava compulsivamente.

Do meu outro lado havia um homem de sobretudo, me fitando alarmado com os olhos incrivelmente azuis. Bastou apenas uma fração de instantes, ou mesmo duas batidas de coração para que tudo se encaixasse perfeitamente, todas as paredes brancas caíram e todas as lacunas foram preenchidas.

— O que você fez?! — exclamei com raiva, enquanto me agachava ao lado da loira e a abraçava, tentando acalmá-la de alguma forma. O que seria difícil, a julgar pela vontade de pular no pescoço de Castiel e estrangulá-lo até a morte.

— Eu apaguei sua mente, e a de todos a sua volta. Você me pediu para desaparecer. — esclareceu o anjo rapidamente, desviando os olhos várias vezes para a casa em chamas.

— Você apag... — rosnei com ódio e com uma expressão assassina no rosto, não conseguindo terminar a frase. Ele havia entrado na minha cabeça e mexido com as minhas memórias? Era isso mesmo? Ele havia apagado todas as lembranças que eu tinha dele? Por isso eu não conseguia me lembrar da cena do trem, por isso eu não conseguia me lembrar do restante da profecia. Apertei os punhos com força, tentando manter a calma e contando até dez. Levantei do chão, puxando Jô comigo. — O que está acontecendo aqui?

— A Moira está caçando todos os que deveriam estar mortos. — explicou, gesticulando para a oficina.

— Caçados pelo destino, que animador. — chiei com sarcasmo — Onde você colocou Ellen e Bobby? — questionei, olhando para os lados e não notando a presença de nenhum dos dois. Castiel balançou a cabeça negativamente com olhos baixos, então Jô começou a chorar mais alto sob o meu ombro.

— Só tive tempo de tirar vocês duas de lá, me desculpem. — acrescentou com tristeza. Deixei meu queixo cair, colocando uma mão em frente ao rosto. Eu não conseguia acreditar que Ellen e Bobby estavam mortos.

— Mas você disse que a Moira está caçando só os que estão ligados ao barco! — comecei com certa esperança, sentindo meus olhos arderem — Bobby não faz parte dessa lista, talvez possa ter escapado... Talvez eles...

— Todos que deveriam estar, e todos que atravessam o seu caminho. Ela não vai hesitar em acabar com meio mundo para atingir seus planos. — interrompeu Castiel, me lançando um olhar de pena que só conseguiu me irritar mais ainda.

— E o que fazemos agora? — questionou Jô com os dentes trincados — Se ela está indo atrás de todos que atravessam seu caminho, Sam e Dean estão em perigo!

— Eu terei de matá-la, antes que faça isso. — revelou o anjo, se aproximando de nós — Vou tirar as duas daqui e colocá-las sob a guarda de Balthazar.

— Você vai matar o destino? Como? — desdenhei.

— Balthazar tem uma arma. — o anjo deu de ombros e então parou bruscamente, imóvel por alguns segundos, os olhos arregalados. — Droga! Ela está indo atrás deles!

E antes que eu pudesse sequer piscar, Castiel colocou a mão sob nossos ombros e nós aparecemos em meio a uma rua, no exato momento em que um piano caía diretamente em cima dos irmãos, parando centímetros antes de tocar suas cabeças. Tudo parecia congelado, as pessoas, o tempo, os carros e inclusive o vento.

— Dean! — gritou Jô, tentando correr até o local onde estavam, mas eu a segurei pelos braços para que não se aproximasse. A garota começou a se debater com força, tentando se desvencilhar. Eu estava perplexa no mesmo lugar, meus músculos pareciam ser feitos de pedra perante aquela cena. Aquilo não podia ser verdade, aquilo era um pesadelo.

— Castiel. — se pronunciou uma voz feminina, juntamente com um som de palmas. Virei o corpo em direção a uma garota loira de cabelos lisos, a mesma usava um terno cinza, um óculos com armação preta e tinha um pequeno caderno em mãos.

— Atropos. — cumprimento o anjo seriamente, de frente para a garota que mais parecia uma bibliotecária de quinta categoria, então aquela era a Moira. — Você está bem.

— Eu estou arrasada, graças a você. — chiou, apontando um dedo acusador.

— Vamos falar sobre isso.

— Falar? Sobre o quê? — indagou retórica — Talvez como você e aqueles dois palhaços destruíram o meu trabalho. Vocês arruinaram a minha vida!

— Não vamos ficar emotivos. — pediu Castiel, gesticulando com uma mão para que a mesma se acalmasse.

— Não ficar emotiva? Eu tinha um trabalho, um roteiro. Eu era boa no que fazia. Até o dia da grande luta. — a Moira deu uma pausa, com uma carranca enfurecida no rosto — E aí o que aconteceu? Você joga o livro fora!

— Bem, sinto muito, mas liberdade é preferível — falou o anjo, olhando pelo canto do olho para mim e Jô, que permanecíamos estáticas.

— Liberdade? Isso é o caos. — desdenhou ela, apontando para os lados com ironia — Eu até fui para o céu para perguntar o que fazer. E adivinha? Ninguém falou comigo.

— Há coisas mais importantes acontecendo.

— Mas eu não sei o que está acontecendo! — gritou com raiva, jogando as mãos para cima — E eu preciso saber. É o que eu faço!

— Sinto muito, seus serviços não são mais necessários. — sentenciou o anjo, começando a andar lentamente para o lado da garota, que recuava para o a esquerda, fazendo-os andar em círculos.

— Quer saber? Eu fiquei de boca fechada. Podia ter reclamado, feito confusão e não fiz. — disse calmamente, alterando o tom de voz — Mas sabe qual foi à gota d’água? Vocês terem salvado o Titanic!

— É Balthazar. Ele está instável...

Conversa fiada. — interrompeu a Moira com rispidez — Isso não se trata de um filme idiota. Ele recebe ordens suas. Você o mandou de volta para aquele barco. — revelou a garota, apertei os olhos, fitando-o de costas.

— Não, não mandei. — retrucou o anjo, depois de alguns segundos. — Por que faria isso?

— Talvez por que você está no meio de uma guerra e está desesperado. — arriscou com convicção — Vamos. É sobre as almas.

— Você não sabe do que está falando. — rosnou Castiel imediatamente, olhando de soslaio para mim.

— Aquele anjo criou cinquenta mil novas almas para a sua máquina de guerra.

— Você está confusa. — disparou novamente.

— Você não pode fabricar gente, Castiel. É perigoso. É errado. — falou a Moira, balançando a cabeça em desaprovação — E eu não vou deixar que faça.

O anjo permaneceu em silêncio durante quase um minuto, então fechou os olhos por um momento, dando um suspiro rápido.

— Você não tem escolha. — disse simplesmente, abrindo o jogo. Deixei meu queixo cair, então fora ele quem mandara Balthazar salvar o Titanic? E tudo para conseguir novas almas para uma espécie de arma para ser usada na guerra dos céus? Aquilo era inacreditável. Ele me encarou por um breve segundo, e eu fitei seu rosto, sabendo que a minha expressão demonstrava total desaprovação.

— Talvez não tenha, mas se você não voltar lá e afundar aquele barco, eu vou matar os seus bichinhos de estimação. — ameaçou a garota, apontando para os irmãos congelados embaixo do piano e em seguida para mim, me olhando pela primeira vez desde que chegara — Começando por ela.

— Eu não vou deixar. — falou Castiel com a voz grave e baixa, deixando a lâmina prateada escorregar visivelmente para sua mão direita.

— Ah, é? O que vai fazer? — provocou a Moira, então o anjo se materializou a centímetros dela, com o objeto afiado apontado ligeiramente para sua garganta.

— Você quer mesmo me testar? — indagou com os olhos apertados e o tom autoritário.

— Certo, tudo bem. — a garota deu dois passos para trás, sem perder a expressão triunfante — Mas pense nisso: Eu tenho duas irmãs, e elas são maiores, de todas as formas. Mate-me, e Esther será o primeiro alvo, só por vingança. — sentenciou com um sorriso ferino, e no mesmo instante, Balthazar se materializou silenciosamente atrás dela, com uma adaga de bronze — Você não está numa guerra? Não pode observá-la cada milissegundo de cada dia. Por que talvez já tenha ouvido falar, que o destino acontece quando você menos espera.

— Balthazar, pare. — ordenou Castiel, no momento em que o anjo estava levantando o braço para acertar a Moira, que se virou imediatamente.

— Ops... Constrangedor. — o loiro deu um sorriso sarcástico.

— Faça a coisa certa antes que eu mesma a atire de um penhasco! — se voltou furiosa para Castiel.

— Certo então... — Balthazar olhou para Castiel, que assentiu uma vez — Vamos afundar o Titanic.

Foi numa fração de segundos que o anjo desapareceu no ar, juntamente com a Moira, que tinha um sorriso vitorioso na expressão. Olhei para Jô ao meu lado, sabendo que ela estava ciente do que iria acontecer a seguir, logo atrás da garota estavam os irmãos, imóveis, e dando uma última olhada por cima do ombro, ela sorriu para mim, assentindo com a cabeça, enquanto uma luz dourada e morna nos cercava.

Acordei dentro de um carro com o rádio ligado, e no mesmo estava tocando o refrão de “My heart Will go on”. Abri a porta e desci do Peugeot, apoiando os cotovelos no teto do mesmo e arrastando as mãos pelo rosto. Olhei ao redor por um breve instante, e percebi que estava naquela mesma rua, só que agora tudo estava normal, a não ser por aquele carro que eu não sabia de onde havia saído.

— Esther. — ouvi a voz de Castiel logo ao meu lado, virei a cabeça para encontrá-lo apoiado no veículo.

— Dean e Sam, eles... — comecei, e o anjo me interrompeu calmamente.

— Estão bem e não vão se lembrar de nada disso.

— E Jô e Ellen? — insisti com o mínimo de esperança, ele olhou para baixo, sibilando.

— Sinto muito. — murmurou. Toda a linha do tempo havia sido apagada, e era lógico que elas não estariam mais conosco. E agora apenas iria restar para trás a saudade de momentos, que tecnicamente, nunca foram vividos.

— Você matou cinquenta mil pessoas para nos salvar? — perguntei depois de alguns segundos.

— Não, não matei. — respondeu o anjo, desviando os olhos para o céu e então para mim novamente — Elas nunca nasceram. É bem diferente de serem mortas, não acha?

— Se todos esqueceram, por que eu me lembro de tudo?

— Por que eu quis que lembrasse como a Moira é. Ela é excêntrica e caprichosa. — disse Castiel solenemente.

— Pra mim é uma vagabunda. — retruquei com raiva, fazendo-o sorrir de lado. E então outra coisa me veio à mente — Aquilo que ela falou sobre as almas...

— Isso não é da sua conta. — cortou o anjo rapidamente.

— Eu não acho que seja bem por aí. — encarei o anjo seriamente.

— Almas são uma das únicas coisas que fortalecem um anjo num curto período de tempo — explicou — A cada dia que passa, eu perco mais meus poderes e Raphael ganha mais seguidores. Eu preciso ser forte o suficiente para proteger esse planeta e você, Esther.

— Eu entendo seu ponto de vista, mas é errado. — afirmei novamente, ele bufou contrariado e contornou a lateral do Peugeot até a frente.

— Às vezes precisamos fazer coisas extremas, e eu achei que seria mais fácil para você se esquecesse de mim, mas parece que ia acabar descobrindo mais cedo ou mais tarde. — falou por fim, e eu senti a raiva voltar quando ele mencionou o assunto.

— Eu ouvi vozes que me levaram até aquele galpão. — esclareci.

— Vozes? Talvez sejam os espíritos das pessoas que estavam morrendo, pedindo por ajuda. E isso quer dizer que o octeto está enfraquecendo. — revelou Castiel.

— Que bela hora para brincar de esconder a verdade. — debochei sarcástica, recebendo um olhar de reprovação.

— Ainda vou descobrir um jeito de te fazer esquecer de vez, será mais fácil — murmurou o anjo calmamente, me olhando com os olhos fixos. Respirei fundo, contando até dez e me colocando a sua frente com cerca de três passos rápidos.

Castiel. — pronunciei devagar e com um sorriso no rosto.

— Sim? — questionou confuso, então eu fechei o punho e acertei seu rosto com força, dessa vez fazendo-o se apoiar sob o capô do carro com uma expressão surpresa.

— Isso é por ter mexido com a minha mente! Nunca mais faça isso, nunca! Entendeu? — vociferei, segurando-o pelo sobretudo — Você não pode me fazer esquecer de você, seu estúpido! Se fizer isso de novo, eu te dou uns tiros, não mata, mas deve doer!

— Você sabe quando um humano acerta um anjo fisicamente é a mesma coisa que uma mosca pousando em um elefante, não é? — indagou Castiel com o tom provocativo.

— Mesmo assim eu me sinto muito melhor. — sorri debochada, me afastando do anjo que me encarava intrigado.

— Não demore a voltar para a oficina, eles devem estar preocupados. — disse por fim, desviando o olhar para o lado e desaparecendo com um farfalhar de asas.

— E que desculpa eu deveria dar para estar num carro roubado no meio da Pennsylvania? — gritei abrindo os braços para cima — Podia ter me dado uma carona para Sioux Falls! Seu imbecil alado!

Marchei com raiva para o Peugeot, ligando os fios e saindo daquela rua. Liguei o rádio para tentar distrair um pouco meus pensamentos, que estavam a mil por hora. Eu deveria contar para os Winchester sobre o lance das almas? Provavelmente era o correto a fazer, eles iam saber convencer Castiel de que aquilo era errado, devia haver outra forma de deter Raphael. Outra coisa que estava me perturbando era o fato do octeto estar enfraquecendo, vozes já conseguiam entrar em contato comigo, e isso me deixava em pânico.

Parei o carro na primeira sinaleira, no meio de um cruzamento quase deserto, e assim que o sinal ficou verde, eu acelerei. Mas então, em vez de ir para frente, eu estava indo para o lado. Quando dei por mim, um carro vermelho havia batido contra a lateral do Peugeot, que estava sendo arrastado no asfalto. Antes que pudesse sequer pensar em alguma coisa, senti o veículo descendo uma espécie de barranco, meu corpo sacudia freneticamente para todos os lados, e quando a direção veio de encontro a minha testa, tudo se apagou.

Eu estava zonza, e não conseguia distinguir nada direito. Ouvia o som do rádio chiando baixinho enquanto mãos firmes agarravam meus braços, me arrastando por entre um chão de terra úmido e mato. Tudo parecia acontecer em câmera lenta, e a minha visão escurecia gradativamente de novo, até que eu finalmente não senti mais nada.

Acordei com uma dor forte na cabeça e gosto de sangue na boca, senti que estava sentada em uma espécie de cadeira, os pulsos e canelas amarrados fortemente ao móvel. Abri os olhos, e de imediato reconheci uma silhueta andando logo a minha frente. Minha visão estava embaçada, mas logo pude focar um garoto loiro e magricela, com os olhos vidrados em mim, de um jeito admirado. Atrás dele havia cerca de seis demônios de terno e com seus olhos negros, os braços para trás, na típica posição de soldado.

— Scott Danvers — pronunciei lentamente, adivinhando o nome do meu sequestrador e fazendo o mesmo curvar os lábios num sorriso ferino.


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Notas finais do capítulo

Que saudades que eu tava da Jo e da Ellen, e vocês? Castiel envolvido com almas... Hm, será que isso vai seguir o mesmo rumo da série? E o que será que o Scott quer com a Esther? Não deve ser nada bom...
Próximo capítulo em breve. Um beijo!



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