Separate Ways - Requiem escrita por WofWinchester


Capítulo 28
Filler Julho de 1573


Notas iniciais do capítulo

Olá, babies! Finalmente a "surpresinha" que eu prometi (pelo nome já tá bem óbvio o que é, algumas podem tentar me matar, mas... Vamos lá.) Quero novamente agradecer aos comentários lindos e maravilhosos que recebi recentemente, sério, vocês estão se superando em fazer a tia aqui chorar.
Sobre o capítulo: Primeiramente, o que é um filler? Fillers são aqueles episódios - ou até mesmo arcos inteiros - que não fazem parte da história original da série e são usados geralmente para encher linguiça. Mas agora, o que são os MEUS fillers? Como boa parte já percebeu que eu adoro colocar músicas no meio dos capítulos, meus fillers serão pequenas songfics, que não fazem parte da estória em si, narradas em terceira pessoa (serão explicações, sentimentos, pequenas cenas que envolvem os personagens, lembranças, enfim).
Esse primeiro é apenas uma experiência, se vocês gostarem, eu continuo, se não, eu paro. E claro, os fillers serão independentes dos capítulos, ou seja, eu posto o capítulo de cinco em cinco dias e os fillers (quando tiver, pois serão poucos, uns cinco ou sete até o fim, no máximo) no meio, independentes.
Para esse, eu vou pedir a música Superman (it's not easy to be me), o cover da banda Boyce avenue.
Link da música: http://www.youtube.com/watch?v=yxNDiks-VA4
Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/508774/chapter/28

Era apenas um dia qualquer, numa cidade qualquer, num parque local qualquer. As crianças corriam, pulando de um brinquedo para o outro, inventando novas brincadeiras com a criatividade infantil a flor da pele. O vento morno de final de tarde começava a ficar refrescante com a chegada da noite, as folhas das árvores balançavam silenciosamente.

Castiel estava de pé na beirada de um prédio próximo, invisível aos olhos humanos, ele observava a mais perfeita criação de Deus com uma mistura de admiração e confusão, pois não entendia ao certo o porquê de os pequenos inventarem histórias para se divertirem. A imaginação era algo tão complexo e tão inconstante, capaz de te fazer viver e reviver incontáveis histórias e lembranças sem sequer mover um músculo.

Lembrava-se perfeitamente de uma época semelhante, em que se sentia tão perdido nas emoções humanas que podia facilmente passar horas em total conflito consigo mesmo. E lembrava-se também do exato momento em que percebeu toda aquela armadura de soldado do céu ruir perante a uma simples garota humana. O dia, ele não conseguia saber ao certo, mas o mês era julho de 1573.

O dia estava cálido, como qualquer outro naquela estação. Os camponeses húngaros faziam seu trabalho rotineiro e as crianças aproveitavam para correr pela beirada do rio que banhava a encosta do castelo Nadásdy. Ninguém podia perceber o estranho homem em vestes formais ali, observando tudo e invisível aos olhos humanos. E tirando-o de sua distração para com os humanos, um alvoroço tomou conta do grande portão que separava o vilarejo e o castelo. Vários camponeses, principalmente crianças, correram em direção à garota de vestido verde e sorriso estonteante, pulando na mesma que erguia alguns dos pequenos no ar e rodava, caindo sentada na grama seca.

– Você disse que queria tomar ar fresco, não falou nada sobre se esfregar nos camponeses imundos, Elisabeth! – latiu um garoto magricela, com vestes de oficial do exército, marchando até a garota e levantando-a do chão com um puxão forte no braço. Imediatamente as pessoas se afastaram, lançando olhares de medo para ele.

– Você podia ser um pouco mais gentil, Ferenc – comentou ela, limpando o tecido do vestido com as mãos. Castiel apertou os olhos para a cena, sentindo uma estranha vontade de acertar um soco naquele garoto que o deixasse inconsciente. E o anjo não sabia de onde vinha aquela sensação, devia ser outro sentimento humano.

– Deu para me desafiar perante os empregados agora? – questionou Ferenc com o semblante autoritário – Acho que já se esqueceu das consequências que isso pode te trazer.

E vendo que a mesma ficara sem resposta, ele deu um sorriso vitorioso e a empurrou em direção ao vilarejo, virando as costas e indo para dentro do castelo. Elisabeth cruzou o lugar, sorrindo para os camponeses que retribuíam à distância, assim evitando possíveis castigos por se aproximar da Condessa. A garota subiu um pequeno barranco, com a ajuda de algumas pedras, passando por Castiel e se colocando logo a sua frente, de costas. O vento morno jogava os cabelos negros e cacheados da mesma de encontro a ele, que num gesto involuntário, ergueu a mão para tocá-los de leve.

– Eu sei que você está aí, Cass. – falou Elisabeth, sem se virar. O anjo pareceu desconcertado, mas logo percebeu que a garota segurava o octeto de rubi na mão esquerda, e sem usar aquele objeto, ela facilmente podia sentir sua presença. A garota deu mais alguns passos, abrindo espaço entre as folhagens atrás de si e entrando nos arbustos, indo por entre uma trilha em meio à floresta.

– Eu não deveria aparecer para você – murmurou Castiel, se materializando ao lado da Condessa e acompanhando seus passos.

– Então porque apareceu? – perguntou Elisabeth com o tom divertido. Ele ficou sem resposta, não negaria que havia se afeiçoado a garota. Até seus seis anos de idade era ele quem a colocava para dormir, lhe contava histórias, a acalmava em noites de tormenta, mas agora, tantos anos depois, o sentimento que deveria diminuir acabou apenas aumentando. O que ele queria? Conversar? Observá-la? Protegê-la? Talvez fosse tudo isso, e mais alguma coisa.

– Como você consegue ficar sem usar o amuleto num lutar tão repleto de pessoas? – questionou o anjo, mudando o foco da conversa.

– Eu percebi que o octeto traga apenas energias negativas e as amplifica – esclareceu a garota – E quando eu estou fora do castelo, raramente uso. As pessoas da aldeia podem ser sofridas, mas são boas de coração. Felizes, ao seu modo.

– Você é feliz, Elisabeth? – indagou Castiel depois de uma pausa. A Condessa virou-se na direção dele, próxima ao seu rosto, fitando-o com olhos baixos.

– Eu pareço feliz para você, Cass? – murmurou interrogativa – Estou condenada a viver nesse castelo mórbido, me casar com aquele garoto cruel que obviamente não me ama, e para completar, tem esse segredo sobre a minha vida que você não me conta.

– Não é uma coisa agradável – disse ele. E como poderia ser? Como contar que ela era parte do mal e que em determinado momento ele teria que matá-la? Aquilo era tão insano, que Castiel começava a se perguntar se realmente aconteceria. Uma garota tão pura e meiga como Elisabeth não era capaz de ferir nem um inseto, não havia como ela ter ligação com Lúcifer, era impossível.

– Acho que isso quem deve decidir sou eu. – a Condessa deu de ombros e passou de costas por baixo de um galho grosso de árvore, andando em direção a uma clareira aberta. – Mas nem tudo aqui é ruim, pelo menos para quem consegue ver o lado bom das coisas. – falou olhando ao redor, momentaneamente deslumbrada pela paisagem.

O gramado era verde e fofo, com várias espécies de flores espalhadas pelos seus cantos. Logo a frente havia um pedaço do rio, que deixava o local fresco e úmido. E em volta tinham as árvores, que subiam alto e juntavam as copas, deixando grande parte de sombra na clareira. Era um lugar lindo de se apreciar.

– Acho que estou começando a entender “o lado bom da coisa” – enfatizou o anjo, fazendo a garota dar uma risada e sentar-se no gramado.

– Tem muita coisa nesse lugar que eu odeio – começou, assim que Castiel arrumou um lugar ao seu lado – mas também tem muitas coisas que eu amo.

Amor – pronunciou vagarosamente, em um tom de confusão – Eu não consigo compreender esse sentimento.

– Não é tão difícil, na verdade é bem simples – esclareceu Elisabeth, olhando para cima e sentindo o vendo fresco tocar seu rosto, fechando os olhos – Amor é aquilo que inflama o coração e dá paz ao espírito. É a sua doença e a sua cura, é a sua vida e a sua morte.

– E o que você ama, Elisabeth? – perguntou o anjo com curiosidade, deslumbrado com a explicação a garota. Aquele sentimento era tão bonito de se falar, senti-lo deveria ser magnífico.

– Eu amo o brilho nos olhos das crianças quando eu lhe conto histórias, eu amo o modo como as pessoas daqui conseguem ter esperança apesar dos tempos difíceis, eu amo a paisagem que vejo agora, eu amo a brisa gélida das noites de inverno – então a garota deu uma pausa, abrindo as pálpebras e encarando Castiel profundamente – Eu amo o azul intenso que ficam os seus olhos quando o sol os atinge, eu amo o jeito como inclina a cabeça para o lado quando fica confuso, eu amo como me protege e como cuida de mim. Eu amo você, mais do que eu deveria.

– Elisabeth, eu sou um anjo. – murmurou Castiel depois de um momento, enquanto fitava a garota extremamente perto de si e não conseguia resistir à vontade de tocar seu rosto com as pontas dos dedos.

– Anjos não amam? – perguntou ela, segurando a mão dele de modo com que encaixasse perfeitamente em sua face, fechando os olhos por um momento ao sentir o toque morno. Como se fosse um gesto involuntário, Castiel se aproximou até encostar os lábios nos de Elisabeth, permanecendo assim por segundos até a garota aprofundar o beijo, tocando seu rosto.

– Eu tenho que ir – sussurrou o anjo, afastando-se gentilmente.

– Você quer ir? – indagou a garota com uma careta triste. Ele então a observou por instantes, não queria ir embora, queria continuar ali, explorando aquele sentimento que lhe fazia cócegas no estômago e calor em lugares que jamais imaginou ser possível sentir.

– Não, eu quero ficar aqui com você. – disse, segurando o rosto dela com as duas mãos e beijando-a novamente. E aos poucos ela foi deitando-se para trás, conforme a noite caía e o sol se escondia intenso e brilhante atrás do horizonte.

Então ele foi arrancado das lembranças doces e tortuosas daquela tarde de julho. Por que lembrar? Por que se torturar dessa maneira? Talvez fosse mais um daqueles sentimentos humanos que ele não compreendia para que serviam, afinal.

O anjo apertou os olhos para fitar um garotinho com uma capa vermelha que subia com determinação um brinquedo alto do parque, a mãe estava tagarelando e gesticulando com outra mulher, quando ele chegou ao topo do brinquedo e levantou as mãos, encarando o chão.

– Eu posso voar! – gritou, conseguindo chamar a atenção de algumas poucas crianças a sua volta, e em seguida pulou. Não foi preciso mais do que alguns milésimos de segundo, ou duas batidas de coração para que Castiel se materializasse ali, segurando o garoto nos braços antes que se machucasse.

– Você não pode voar. – repreendeu-o calmamente, enquanto o mesmo era colocado no chão e encarava o anjo com os olhos arregalados e a boca aberta.

– Você é o super homem? – perguntou o menino. Castiel franziu a testa e observou a camiseta dele: Um homem voando no céu com uma capa vermelha e a cueca por cima da calça. Até mesmo para ele isso soava um pouco ridículo.

– Não. – respondeu. O garoto sorriu.

– Tudo bem, eu sei que não pode revelar sua identidade – sussurrou colocando uma mão ao lado da boca. – Mas eu gostei mais do sobretudo.

Castiel deu um sorriso, o pequeno se virou para buscar alguma coisa que estava largada no meio da areia, e quando voltou trazia um boneco do super homem nas mãos. Mas o anjo já havia ficado invisível aos seus olhos novamente. [Tocar It’s not easy to be me]

Eu não suporto voar

Eu não sou tão ingênuo

Eu só não consigo encontrar a melhor parte de mim.

O sol estava se pondo preguiçosamente quando ele se materializou novamente para cima do prédio alto. Castiel sentia-se confuso, não como a maioria das vezes quando não entendia alguma piada que Dean insistia em contar, ou quando Esther o comparava com algum nome estranho, provavelmente de filmes de ficção que ele nunca tinha visto, ou haveria de ver. Era diferente.

Eu gostaria de poder chorar

Até cair sobre meus joelhos

Encontrar um meio de mentir

Sobre um lar que eu nunca vou ver

Isso pode soar ridículo

Mas não seja ingênuo

Até os herois têm o direito de sangrar.

Eu posso estar perturbado

Mas você não irá perceber

Que até os herois têm o direito de sonhar

E não é fácil ser eu.

Era como se tivessem colocado tudo que ele acreditava, tudo que achava acreditar, num triturador. O anjo não sabia ao certo seus propósitos naquele momento, ou se algum dia teve algum, apenas sentia estranhos sentimentos que não deveriam estar ali. Quando decidiu se rebelar, ele aprendeu o que era livre arbítrio e junto com ele vieram dezenas de sentimentos humanos, muitos ainda sem nome. Aquela sensação era assustadora, era como estar em queda livre e não saber se ia ou não dar tempo de se salvar antes de chocar-se ao solo.

Ele estava perdido, e esperava se encontrar. Esperava aprender mais sobre esses estranhos humanos e seus sentimentos confusos. Esperava não perder sua fé em si mesmo e no que achava ser o correto.

Eu sou apenas um homem

Em uma idiota capa vermelha

Cavando por Kryptonita

Neste caminho na rua

Apenas um homem

Em uma falsa capa vermelha

Procurando por coisas especiais

Dentro de mim.

As sombras escuras da noite já estavam encobrindo a cidade, e quando as mesmas estavam próximas o suficiente para tocá-lo, o anjo desapareceu. Assim que se materializou novamente, percebeu que Esther estava debruçada contra a janela aberta do seu quarto. O vento abafado de final de tarde jogava seus cabelos negros para trás, e a garota tinha uma expressão calma e olhos perdidos em pensamentos. Castiel caminhou silenciosamente até a parede, invisível e silencioso, recostando a cabeça contra a cortina da janela, observando-a.

Hoje mais cedo tinha quase perdido a cabeça, tinha quase dito a ela que não importava o que aconteceria dali para frente, continuaria ao seu lado, lutaria para mudar aquele destino. Não podia negar para si mesmo que eles tinham um vínculo de gerações, um vínculo de alma que não poderia ser quebrado facilmente. Sim, eles poderiam ser amigos. Era isso que Castiel queria ter dito, mas no fim Esther estava absolutamente certa, eles deveriam se afastar. Pois aqueles sentimentos eram tão difíceis de controlar, e o anjo não se permitiria cometer o mesmo erro novamente.

De todos os humanos que Deus havia criado, Esther era a criatura mais linda que ele já vira, podia passar horas ali, apenas admirando. Assim como acontecera com Elisabeth, e assim como aconteceria todas as vezes que a mesma reencarnasse novamente. Era uma sensação tão confusa que Castiel se perguntava se aquilo não seria um terrível pecado, mas desde quando era pecado adorar as obras perfeitas de Deus, afinal?

Não é fácil ser eu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Preciso falar: Eu fiquei toda emocionada ao escrever esse filler, sei lá, mexeu com meus sentimentos. E nele nós conseguimos ver um pouco mais sobre como é o Castiel, de um jeito bem profundo, e como ele mantêm essa essência que é ingênua e ao mesmo tempo não é, dentro dele. Então... espero que tenham gostado. Um beijão!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Separate Ways - Requiem" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.