Separate Ways - Requiem escrita por WofWinchester


Capítulo 27
Confusão no Shopping central


Notas iniciais do capítulo

Sobre o capítulo: Numa certa parte eu vou mencionar a música "Last nite" da banda "The Strokes", ela faz parte da cena, mas é opcional colocar ou não para dar aquele "up". A imagem de capa é a Maison com o tão aclamado vestido de lolita das garçonetes do bar. E no final, bem, lencinho novamente -q.
Espero que gostem, e nos vemos nas notas finais.



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Aquilo não podia estar acontecendo comigo.

Olhei pela décima vez o meu reflexo no espelho, tentando abaixar um pouco a saia do vestido que mal cobria minhas coxas e amaldiçoando Maison mentalmente. Logo eu, que tinha horror a roupas curtas ou coladas demais, estava vestida igual uma “Alice nos pais das maravilhas”, só que na versão pornográfica. Vendo que as tentativas de fazer o tecido descer eram inúteis, eu ajeitei a blusa branca de mangas caídas e o meu crachá de “funcionária” do local, coloquei a arma camuflada na parte inferior do vestido, suspirei e sai pela porta.

Os rapazes estavam em um semi círculo, discutindo alguma coisa referente aos explosivos espalhados pelo shopping. Aproximei-me silenciosamente, esperando que eles apenas olhassem e não falassem nada, o que seria impossível sendo que Dean estava ali.

— Temos cinco pontos com bombas, e todos devem estar fortemente protegidos por nefilins. Acho que o do segundo e o do terceiro andar não serão problema, difícil devem ser os três do térreo, que é onde estão a maioria das pessoas — falava Sam, sentado no mesmo lugar e apontando para a tela do notebook.

— Nós podemos desarmar os dois mais fáceis e deixar os outros por último, só que aí corremos risco de Anna descobrir nosso plano — rebateu Jimmy, que já estava ali ao lado do moreno e de braços cruzados. O nefilim encarou todos no local, que fizeram uma expressão de dúvida quanto ao plano.

— Nós podemos nos separar, assim desarmamos todas as bombas quase ao mesmo tempo — palpitei, encarando a mesa.

— Ótima ideia, mas como... — começou Dean, mas então me fitou, arqueando uma sobrancelha com a boca aberta — Uau, que isso gatinha, assim você mata o papai aqui. — exclamou, fazendo todos os olhos se voltarem para mim. Senti meu rosto corar imediatamente, eu odiava ser o foco da atenção. Puxei o vestido mais uma vez para baixo e percebi que até mesmo Castiel me olhava da cabeça aos pés.

— É mesmo necessário a Esther usar uma roupa tão curta? — perguntou Sam, notando o meu desconforto.

— São os uniformes das garçonetes desse bar, faz parte do plano — esclareceu Maison com um sorriso sarcástico.

— Eu não posso deixar isso passar... — falou o Winchester mais velho, tirando o celular do bolso e começando a rir — Olha para cá, Esther.

— Não, nem pensar, pode ir guardando essa coisa! — devolvi trincando os dentes e colocando a mão em frente a câmera do aparelho enquanto o loiro tentava desviar.

— Dá para você se controlar, Dean? — disse Castiel com um suspiro irritado, encarando o Winchester de lado.

— Que foi, Cass? Tá com ciuminho, é? — ironizou num tom debochado, fazendo com que o anjo revidasse com um olhar mortal.

— Saiam vocês dois de perto da minha irmã! — chiou Jimmy, entrando no meio e me puxando para perto dele — Parecem dois cachorros brigando por um osso, que inferno!

— Eu sou o osso? — indaguei com os olhos apertados, não gostando da comparação, mas logo me senti agradecida por ele ter intervido naquela situação constrangedora.

— Temos um irmão nervoso aqui — comentou Maison com uma risada, ela parecia se divertir com aquilo.

— Vamos focar no plano, certo? — falei abanando as mãos, tentando chamar atenção para algo que não fosse o meu vestido indecente ali.

— Eu concordo plenamente com isso — assentiu Sam.

— Ok, então vamos lá — começou a loira — O bar tem uma sala de segurança com várias telas, que eu sei que o grandão — ela apontou para o Winchester caçula — pode facilmente colocar nas câmeras principais do shopping. Então Esther e eu ficaríamos aqui e vocês quatro desarmariam as bombas enquanto nós cuidaríamos do movimento dos nefilins, dando coordenadas para vocês através dos celulares.

— Esse é o seu plano B? — perguntou Dean em tom de dúvida.

— Tem alguma objeção? — devolveu a garota com um tom ameaçador.

— Não senhora. Nenhuma, senhora — respondeu o loiro rapidamente, com os olhos arregalados.

— Me parece bem objetivo, e um tanto arriscado — ponderou Jimmy.

— Mas estamos em quatro, então podemos dar conta — completou Castiel.

— Certo, vamos colocar isso em prática, temos menos de meia hora — disse Sam, apontando para o notebook.

— Só vou trocar de roupa, e você arrume as telas — avisou Maison, se dirigindo para o Winchester caçula que assentiu prontamente.

— Eu me pergunto por que nós estamos circulando por esse lugar como se trabalhássemos aqui e ninguém está falando nada — comentei baixo enquanto colocava cinco sanduíches e um refrigerante de dois litros numa bandeja grande.

— Por que eu tenho meus truques — a loira sorriu, dando uma piscadela e ajeitando o crachá escrito “Madeleine”. Sam estava na sala de segurança, e Jimmy havia saído para testar a imagem de todas as câmeras. Dean aproveitou para arrumar um lugar no balcão e devorar quantas tortas conseguisse engolir, e Castiel estava sentado numa mesa de centro, enquanto olhava para um ponto fixo a sua frente sem realmente ver.

Fitei o anjo por alguns breves instantes, e era estranho vê-lo sem o sobretudo, mas de algum modo, o terno preto fazia com que seus olhos azuis se destacassem mais ainda. Eu não conseguia entender plenamente porque eu havia ficado tão assustada com o modo como o nefilim morreu, não era como se eu nunca tivesse visto Castiel matar alguém, ou alguma coisa. Parte de mim queria acreditar que foi algo precipitado pela adrenalina do momento, mas lá no fundo eu sabia que era algo mais, tinha a ver com a profecia. De alguma maneira eu confiava que, talvez, nós poderíamos mudar aquele final sádico a que estávamos predestinados, mas ao ver o modo como o anjo não hesitou em nenhum momento perante o nefilim, algo em mim mudou.

Ele pararia, pelo menos por um segundo, antes de enfiar a lâmina no meu peito? Aquela era a pergunta a qual eu não tinha mais certeza.

Contornei o balcão, caminhando entre alguns casais e grupos de amigos que lotavam o lugar, barulho alto de conversas e risadas enchia o ambiente. Coloquei a bandeja numa mesa com cerca de seis adolescentes amontoados, e uma garota loira levantou, indo em direção ao junkebox. Ela vasculhou os bolsos e logo retirou uma moeda, colocando no local indicado e em seguida uma música começou a tocar num volume absurdo, de início eu não reconheci a melodia, mas logo pude ler na tela da máquina o nome “Last nite” da banda “The Strokes”.

Vire-me de costas para os adolescentes, passando por Castiel que continuava imóvel na cadeira. Tive uma leve impressão que seus olhos se moveram assim que eu cheguei ao seu lado, e ao olhar para trás, ele rapidamente se virou para frente de novo. Dei uma risada, achando a situação peculiar.

Tinha alguém olhando para a sua bunda, disse Maison na minha mente, enquanto girava um pano de prato no ar com um sorriso malicioso.

— Cala a boca. — falei começando a rir, sabia que ela não poderia me ouvir pelo barulho da música, mas provavelmente leria meus lábios. Fui até o balcão, e Dean estava enfiando o último pedaço de uma sequência de sete tortas goela abaixo.

— Tem certeza que isso vai funcionar? — gritei acima do som, próximo ao ouvido da loira.

— Não tenho — respondeu a garota, e se aquilo era uma tentativa de me deixar menos nervosa, não havia adiantado. — Mas mantenha a calma.

— E como eu deveria fazer isso? — questionei sarcástica. Então vi Maison revirar os olhos e puxar um copo e uma garrafa de vodka da prateleira atrás do balcão, servindo uma dose. A loira virou o líquido na boca e engoliu rapidamente, fazendo uma careta.

— Beba. — disse simplesmente, colocando outra dose e deixando sob a superfície, enquanto ia até uma mesa. Apoiei os braços ao lado da garrafa e segurei o rosto com as mãos, preferindo o meu modo de me acalmar. Massageei as têmporas, respirando fundo algumas vezes, e aquilo, de fato, conseguiu me tranquilizar um pouco.

Levantei a cabeça e percebi um par de olhos azuis me fitando à distância, mas no momento em que fizeram contato com os meus, se viraram novamente para frente. Mas que inferno! Por que ele ficava me olhando desse jeito? Parecia um adolescente tímido.

— Quer saber? Vou beber. — rosnei para mim mesma enquanto enchia o copo com uma dose tripla e virava garganta abaixo, deixando um pouco do líquido escorrer pelos cantos da boca e depois descer queimando.

— A mãe de quem? — perguntou Dean, confuso com o que eu havia falado devido ao barulho. Revirei os olhos e então vi Sam sair da sala e assentir para nós.

— Estamos prontos. — disse o moreno, assim que se aproximou. Senti o nervosismo voltar novamente, a flor da pele. Coloquei mais duas doses da bebida e virei rapidamente, batendo o copo e contornando o balcão, enquanto Maison e Castiel vinham se colocar ao nosso lado, formando um círculo.

— Todos sabem o que fazer, certo? — questionou a loira, segurando a bandeja em frente ao corpo.

— Desativar as bombas, procurar por Anna e não fazer alarde. — falou Dean seriamente, ainda sentado e escorado de lado.

— Ótimo, vão. — sentenciou a garota, mas antes que os mesmos pudessem fazer qualquer movimento, uma voz ecoou mais alto que o barulho na minha cabeça.

Eles nos descobriram! Gritou Jimmy na minha mente, me virei e encontrei o garoto em frente a porta, nos encarando com o olhar de pânico. Criem uma distração, agora! Acrescentou.

— Mudança de planos, façam alarde! — exclamou Maison, atônita.

Então a garota jogou a bandeja para o alto, e escalou o colo de Dean rapidamente, sentando e puxando o caçador para um beijo. Encarei a cena boquiaberta, juntamente com Sam e várias outras pessoas que giravam suas cabeças para olhar. E antes que eu pudesse pensar em qualquer outra coisa, senti mãos fortes me agarrarem pela cintura e me levantarem, me colocando sentada em cima do balcão enquanto selava os lábios nos meus com urgência e delicadeza.

Com o susto eu me separei instantaneamente, e só aí pude ver quem era o ser que estava a minha frente. A surpresa foi absurda ao dar de cara com Castiel, que tinha uma expressão constrangida, assustada e ao mesmo tempo “Que droga eu estou fazendo aqui?”. E envolvida pela adrenalina do momento, eu o puxei novamente pela gravata, colocando as pernas em volta da sua cintura e aprofundando o beijo, sentindo ele me apertar de encontro a si como se eu pudesse evaporar no ar. Dane-se o o depois, coloco a culpa na bebida se for preciso.

Quando nos separamos, estávamos ambos ofegantes, a música já havia parado e todas as pessoas do local olhavam com curiosidade, inclusive Maison e Dean. Uma garota no meio da multidão se moveu, e com uma jogada de braços, agarrou o garoto ao seu lado. E nisso vários adolescentes começaram a fazer o mesmo, e o resto aplaudia e assoviava freneticamente.

— Eu disse “causem uma distração” e não “transem em cima do balcão vocês quatro!” — protestou Jimmy marchando de encontro a nós com uma careta furiosa, e então se virou para Castiel, apontando um dedo com um olhar de ódio — E você agarrou a minha irmã, depois conversamos.

— Ah... — começou o anjo, olhando do nefilim para mim, sem saber o que dizer e completamente constrangido. Bem, eu deveria estar tentando me enfiar num buraco na terra agora, mas felizmente a bebida tem seus efeitos bons para esse tipo de situação.

— Vamos sair daqui. — falou Maison, gesticulando para a porta.

Abri espaço entre as pessoas, passando pela porta de encontro ao corredor principal do segundo andar. Eu não achava que estava bêbada, mas as coisas estavam passando por mim com certa brilhosidade anormal, nada que me impedisse de caminhar sem tropeçar nos meus próprios pés, ainda.

— Certo, plano C! — disse a loira já do lado de fora.

— Você tem um plano C? — duvidei com ironia.

— Não, mas me dê alguns segundos.

— Maison, é melhor se apressar — pediu Sam, apontando discretamente para as costas da mesma, onde haviam três homens parados, nos encarando seriamente. Ambos robustos e vestidos de terno

— Já pensei: Corram! — exclamou a garota, e nós prontamente obedecemos — Esther e Jimmy vão para o terceiro andar, Dean e Castiel aqui no segundo, Sam e eu vamos para o térreo. Desarmem as bombas, vão! — gritou a mesma, enquanto meu irmão me puxava para dobrar entre uma loja e roupas e subir a escada rolante correndo. Como o terceiro estava interditado, nós não precisávamos nos preocupar em não chamar atenção, mas o lado ruim é que os nefilins também não precisariam.

Ouvi passos baterem apressados atrás de nós, e percebi que um dos seguranças vinha em nossa perseguição. Ele era alto e com ombros bem largos, os cabelos grisalhos e o maxilar proeminente dava um ar de superioridade.

— Eu seguro ele, você desarma a bomba — disse Jimmy, segurando meu cotovelo e me empurrando para trás de si.

— O quê? — chiei, sem fôlego — Eu não sei desarmar isso, e nem sei onde está!

— Segundo o mapa de Sam, loja de roupas Vinci.

— Mas Jimmy... — tentei protestar, mas ele partiu para cima do segurança que estava há menos de dois metros de nós, derrubando-o no chão com um estrondo. Droga! Corri pelo andar, olhando as placas dos lugares e logo encontrei uma vermelha com letras pretas. Era essa.

Peguei um vaso de pedra que decorava a frente da loja e joguei contra as portas de vidro, o que fez soar um alarme baixo. Entrei, sentindo os cacos crepitarem sob meus pés, tentando pensar onde eles poderiam ter escondido a maldita bomba. Por sorte o lugar era pequeno, então eu derrubei algumas estantes, vasculhei os provadores, e por fim chequei o balcão, revelando uma caixa de papelão abaixo do mesmo.

Abri e lá estava ela, eram seis bananas de dinamite de aproximadamente trinta centímetros, envoltas por fita isolante preta. Haviam três fios na parte superior e um mais grosso na parte de baixo, onde interligava com o visor do contador, que para meu pavor, dizia que faltava menos de dez minutos para a detonação. Coloquei o objeto em frente a porta e me agachei, com medo até de respirar errado e acabar detonando aquilo.

— Corta o fio vermelho! O fio vermelho! — gritava Jimmy, do final do corredor, enquanto rolava com o nefilim no chão. O homem logo o segurou pela camiseta e jogou contra a vitrine de uma loja, disparando outro alarme e vindo em minha direção, mas foi interceptado no segundo passo, quando meu irmão se atirou por cima dele novamente. Fui até as estantes que havia derrubado, catando pelo chão qualquer objeto cortante que pudesse vir a encontrar. Os sons da luta se tornavam cada vez mais próximos quando eu finalmente consegui achar um pequeno alicate de unha numa caixinha.

— Não detona bombinha. Não detona, por favor. — murmurei, segurando o fio vermelho e apertando o objeto afiado, dividindo o mesmo em duas partes. A bomba emitiu uma espécie de clique e os números no visor congelaram. Suspirei aliviada, mas para meu terror a contagem regressiva começou a retroceder rapidamente. Observei sem saber o que fazer, e quando os números chegaram em um digito eu coloquei as mãos em frente ao rosto, me preparando para a explosão.

— Castiel, eu te amo. — falei em alto e bom tom. Que se dane a dignidade agora, eu não me permitiria morrer com isso engasgado, precisava colocar para fora, nem que fosse apenas para mim mesma. Ouvi os últimos cinco cliques e então segurei a respiração.

— O que você está fazendo? — perguntou a voz de Jimmy, logo acima de mim. Abri um olho de cada vez, confusa e percebendo que o visor estava apagado.

— Começou a retroceder, eu achei que ia... — comecei, fitando o garoto que tinha os braços sujos de sangue.

— Esse tipo de bomba retrocede até o zero quando é desarmada — explicou o nefilim, com uma sobrancelha arqueada — E aquilo que você falou...

— Não falei nada! — cortei rapidamente, me levantando do chão. As coisas que você é capaz de fazer quando está à beira da morte são lamentáveis.

— Falou sim, acho que foi...

— Eu estou bêbada, não sou responsável pelas minhas palavras! — disparei a primeira coisa que me veio à mente, apontando um dedo para ele. Jimmy deu um sorriso divertido e então abanou as mãos em frente ao corpo, desistindo.

— Vamos procurar os outros. — falou, me puxando para sair dali.

Passamos pela vitrine estilhaçada, e eu logo vi um roupão azul marinho cobrindo o corpo do segurança, deixando apenas as pernas para fora.

— Você...

— Sim. — o nefilim respondeu rapidamente a pergunta que eu não havia terminado de fazer. Desviei os olhos e então ouvi um som de passos atrás de mim, me virei instantaneamente e encontrei um par de olhos castanhos me encarando fixamente com um sorriso ferino. Os cabelos ruivos desciam lisos até abaixo dos ombros, emoldurando o rosto quase angelical. Era Anna.

Senti um calor repentino na pele, e logo o chão aos meus pés começou a cair, pedaço por pedaço, na minha direção. Fitei apavorada, tentando equilibrar meu corpo que balançava com os tremores no prédio.

— Dê um passo e eu faço ela arrancar a própria garganta. — prometeu a garota, olhando para Jimmy.

— Esther, isso é uma alucinação, nada do que você estiver vendo agora é real. — começou ele — Nós podemos entrar na sua mente, buscar as suas lembranças e usá-las contra você. Não acredite em nada que vir.

Antes que pudesse responder qualquer coisa, o chão aos meus pés caiu, me tragando para baixo em uma espécie de cama de espinhos. Senti a dor afiada do metal pontudo contra as minhas costelas me tirar o fôlego. Se aquilo era uma alucinação, como a sensação podia ser tão real?

Rolei de lado com dificuldade e procurei meu irmão ou mesmo Anna, mas tudo que eu via era um cômodo escuro, e um som de água pingando de uma forma irritante.

— Esther — se pronunciou uma voz feminina, e o timbre com que ela falara meu nome me causou nostalgia. Virei em sua direção e encontrei uma mulher pálida, de cabelos e olhos castanhos, me encarando com um sorriso. Imediatamente as lembranças vieram à tona, e eu precisei de alguns segundos para conseguir formular as palavras novamente.

— Mãe? — indaguei para a imagem de Marina, e por um instante esqueci que aquilo não era real. Sacudi a cabeça com raiva — Não, você não é ela, é só uma alucinação.

— Posso não ser real, mas sei como você se sente — devolveu ela, caminhando lentamente até mim — Sabe, se não fosse por você, seu irmão poderia ter uma família. Se não fosse pro você, muita gente não teria morrido. Se não fosse por você...

— Calada, vadia. Você não é minha mãe, não preciso te escutar — cuspi as palavras com ódio, tentando me concentrar para sair daquele pesadelo. A imagem de Marina começou a gargalhar alto.

— E pensar que eu caí para isso, aturar uma pirralhinha melequenta e ainda por cima ser morta — ela revirou os olhos, trincando os dentes — Mas pelo menos uma coisa me deixa feliz, saber que você vai morrer no final de tudo isso, e bem, estripar seus amigos antes.

— Esther! — gritou a voz de Jimmy, fazendo o local inteiro vacilar por um momento. Apertei os olhos com força, sentindo Marina parar logo a minha frente e retirar algumas mechas de cabelo do meu rosto de uma forma irônica.

— Não se iluda achando que finais felizes existem, isso não é um filme nem um livro, é vida real, garotinha. — sussurrou, e com um flash de luz, tudo desapareceu.

Pisquei rapidamente, percebendo que eu estava no segundo andar do prédio de novo. Jimmy prensava Anna no chão, enquanto aproximava uma adaga do seu pescoço e a mesma segurava suas mãos. Seus olhos encontraram os meus novamente, e eu pude sentir toda a raiva com apenas aquele gesto, a garota estava furiosa.

— Saia daqui! — ordenou o nefilim para mim. Imediatamente eu dei as costas, sabendo que era questão de tempo até meu irmão conseguir vencer Anna, que só era forte quando cercada por seus capangas. Corri em direção a escada rolante e tudo começou a tremer de novo, o chão caia para baixo em direção a um lago de fogo assustador. Respirei fundo, decidida a não deixar aquela vadia entrar na minha mente mais uma vez.

Dei mais alguns passos e passei por uma grande vitrine espelhada, por um momento fitei meu reflexo e deixei meu queixo cair no chão. A imagem que refletia ali não era a minha, era a de Elisabeth Bathory.

— Isso não é real. — murmurei para mim mesma, continuando a caminhar.

— Sabe, você podia se matar — comentou uma voz suave, logo ao meu lado. Virei-me e dei de cara com a Condessa ali, me encarando com sarcasmo. — Tirar a própria vida é uma sábia opção, ninguém se machuca — sugeriu, dando de ombros.

— Você não é real! — gritei para a garota.

— Certo, eu não sou real, blá blá blá — a mesma revirou os olhos e pegou na minha mão, colocando-a na minha cintura e apertando meus dedos no revólver — Então como você consegue me sentir?

— Saia da minha cabeça! — vociferei, retirando a arma e fechando os olhos. Andei para trás, até começar a ouvir um barulho de ondas. Imediatamente me virei e percebi que eu estava em cima de um penhasco.

— Vamos lá, eu já morri uma vez, não dói tanto assim. E olha que a minha morte foi mais lenta, com um revólver é mais prático. — incentivou Elisabeth — Destrave, engatilhe e atire — falou imitando os movimentos com uma arma imaginária. Olhei para baixo, vendo o mar revoltar-se contra as grandes pedras, e então Castiel se materializou ali, me encarando com uma expressão confusa.

— O que você está fazendo? — gritou preocupado. Ele fazia parte da alucinação? Andei para frente, esquecendo por um segundo da altura que eu estava, e logo parei ao sentir meu pé deslizar para baixo.

— Anna entrou na minha mente! — respondi hesitante, colocando as mãos na cabeça. Elisabeth se aproximou, ficando logo às minhas costas e colocando a arma na altura da minha bochecha.

— Estou te ajudando, é só puxar o gatilho. — murmurou a garota, fazendo meu dedo deslizar até o mesmo e a ponta fria do revólver encostar na minha pele.

— Por que você não some, sua vaca? — devolvi com raiva, fazendo força para largar o objeto, mas Elisabeth prendia minha mão com força a ele.

— Não deixe Anna te controlar, revide! — disparou Castiel lá de baixo.

— Não consigo! — respondi, sentindo meu corpo começar a suar frio e o vento úmido do mar jogar meu cabelo para frente e me impulsionar mais para a beirada do penhasco.

— Então pule! Eu te seguro. — gritou o anjo.

— É mentira, ele vai te deixar cair. Ele me deixou cair. — sussurrou a Condessa no meu ouvido, e mesmo de olhos fechados, eu sabia que ela estava dando aquele maldito sorriso debochado.

— Não. — falei, olhando para baixo e percebendo a altura daquele precipício, uma queda diretamente para o chão significaria a morte. Elisabeth apertou meu dedo contra o gatilho, fazendo-o se mover devagar, e então tudo parecia acontecer em câmera lenta.

Confie em mim. — pediu Castiel, os olhos apavorados ao perceber o movimento. E como se eu recobrasse o controle da realidade por um momento, larguei a arma e deixei que meu corpo caísse para frente.

Foi uma fração de segundos e então eu estava em terra firme de novo, o anjo me segurou e imediatamente deslizou os dedos pela minha testa, e como num passe de mágica, eu voltei a mim.

— Você está bem? — perguntou, me sentando no chão e se abaixando para me fitar a altura. Olhei para cima, e constatei que não havia nenhuma morta que não deveria estar ali, assentindo brevemente.

— Estou. Foi intenso, mas eu estou bem — murmurei confusa.

— O que você viu? — indagou Castiel, apertando os olhos com preocupação. Fiquei em silêncio, eu não sabia se deveria contar que alucinei que a namorada morta dele voltava para me assombrar e queria me converter para os suicidas anônimos.

— Não importa — dei de ombros e então me lembrei que meu irmão estava lutando com Anna lá em cima. — Jimmy! — disparei, levantando ao mesmo instante que o garoto apareceu descendo a escada rolante, a adaga suja de sangue mostrava que a nefilim deveria estar morta.

— Você está bem? — perguntou ele, vindo de encontro a nós.

— Sim, e Anna? — devolvi.

— Morta. — respondeu rapidamente, se virando para Castiel — E o resto das bombas?

— O segundo andar está limpo, Dean, Maison e Sam estavam no térreo, terminando a última quando eu vim buscar vocês — revelou o anjo.

— E os outros nefilins?

— Mortos, e um fugiu. — respondeu novamente.

— Cara, eu tenho que vir para mais convenções. É muito divertido — dizia Dean, surgindo no corredor, o rosto respingado de sangue. Maison e Sam vinham logo atrás dele, com caretas preocupadas.

— Ninguém percebeu nada? — questionou Jimmy.

— Só um gordinho enxerido, mas Maison meio que limpou a mente dele. — respondeu Sam, cutucando o ombro da garota de leve.

— E agora que a manda chuva está morta, o que acontece? — quis saber o Winchester mais velho.

— Não teremos que nos preocupar com um caos entre anjos caídos e nefilins, para começar. — falou a loira.

— Isso é suficiente. — assentiu Dean, franzindo a boca para baixo e balançando a cabeça em afirmação.

— Deveríamos ir embora, algumas lojas acionaram os alarmes, e a policia com certeza sabe diferenciar armas falsas de verdadeiras — sugeriu o Winchester caçula.

— E tem cadáveres aqui, por todo o lado. — gesticulei ao redor, então me virei para os dois — Vocês vem com a gente?

— Acho que vamos deixar vocês daqui, mas qualquer coisa entramos em contato. — respondeu Maison com um sorriso de canto.

— E em breve passamos lá para fazer uma visita. — acrescentou Jimmy, sorrindo para mim e lançando uma carranca mortal para Dean e Castiel — E cuidado com a minha irmã. — rosnou ao passar por eles.

— Pode deixar, não vou engravidar, viciar ou ensinar a Esther a assaltar bancos — revidou o loiro com sarcasmo, recebendo um olhar de ódio como resposta.

Saímos pelo estacionamento, onde nos despedimos de Maison e Jimmy, que decidiram levar um dos carros dali como brinde. Entrei no Impala, me acomodando no banco de trás, e logo os irmãos ocuparam seus respectivos lugares à frente. Castiel permaneceu ao lado da porta, segurando-a aberta.

— Meus poderes ainda não estão completos, mas eu preciso voltar para o céu agora. — anunciou.

— Você está sempre tão sério, Cass. Deveria relaxar mais com os amigos, curtir, sacou? — comentou Dean, com uma piscada.

— Estou tentando salvar os que eu tenho, Dean — retrucou o anjo com um suspiro cansado. Então me deu uma última olhada de canto e fechou a porta, desaparecendo dali.

Anjos — o Winchester mais velho revirou os olhos — Nós poderíamos passar numa boate, estou no clima de festa. O que acham?

— Sem festas, Dean. — falou Sam, se recostando para trás no banco do carona.

— Ah, é, esqueci que meu irmão é uma velha. — provocou o loiro com ar de tédio, então se virou para mim com um sorriso safado — E antes que eu me esqueça... Anjos beijam bem? — questionou, me fazendo engasgar com a pergunta.

— Que legal, Dean, você acabou de estragar a viagem de volta inteira. — devolvi com sarcasmo.

— É só uma curiosidade — ele deu de ombros — Eu já peguei uma, e aquela ruiva beijava bem, fazia cada coisa com a boca que...

— Dean! — exclamamos Sam e eu em uníssono, eu não precisava saber daquilo.

— E inclusive foi aí onde você está sentada — comentou apontando para mim, que imediatamente me espremi mais em direção à janela — E no banco do passageiro também.

— Eu não precisava saber disso! — murmurou o Winchester caçula com um grunhido desconfortável.

— E foram cinco vezes — acrescentou com um sorriso malicioso.

— Dean! — dissemos novamente, e o mesmo começou a rir e se virou para frente.

— Eu sei, eu sou demais. — disse com o tom sarcástico e então manobrou o Impala para sair dali, deslizando os dedos pelo painel e ligando o rádio.

Chegamos na oficina Singer em alguns minutos, Bobby não estava e os irmãos decidiram tomar uma cerveja lá fora e fuçar no motor do carro. Peguei uma toalha e fui para o banheiro, tirando aquele vestido que poderia facilmente se passar por um pano de prato com rendas e ligando o chuveiro. Tomei um banho demorado, que mais da metade do tempo foi usada para colocar meus pensamentos em ordem.

Eu não me conformava o quão baixo Anna havia chegado para mexer com a minha mente. Usar Marina e Elisabeth? Ela devia ganhar um oscar se não estivesse morta. Mas como Jimmy havia falado, os nefilins são capazes de entrar na nossa cabeça e usar nossos piores pesadelos contra nós. E aquilo era verdade, eu me sentia culpada pela morte da minha mãe, e tinha medo de acabar naquele penhasco novamente. Só que ter as coisas jogadas na cara daquela forma, doía quase como levar um tiro.

Mas o que ganhou o dia foi Castiel. Em menos de 24h ele havia me salvado, me jogado contra uma parede, me ameaçado, me salvado de novo e me beijado. O que foi aquilo? Ao que parecia, anjos também sentiam impulsos, mas a maneira como ele me olhou naquele momento foi tão intensa que me fez corresponder imediatamente. Era inegável que eu me sentia atraída por ele, mas aquilo era algo que não deveria acontecer.

Era estranho os sentimentos que começavam a pular dentro de mim quando eu me lembrava de Castiel, muitos diferentes uns dos outros, puxando cada um para uma direção, me deixando perdida. A frase que eu havia dito quando achei que a bomba fosse detonar ecoava na minha mente cada vez mais alto, o que foi aquilo? Eu o amava? Não, não podia amar, não queria. Seria mórbido demais me apaixonar pelo meu salvador, que ao mesmo tempo era o meu carrasco.

Terminei o banho e me enrolei na toalha, subindo as escadas e deixando algumas pegadas molhadas pelo chão. Entrei no quarto, a procura de peças limpas de roupa, mas a janela aberta me fez parar imediatamente.

— Me ajude. — sussurrou uma voz aguda que parecia ser trazida pelo vento. Apurei os ouvidos, me aproximando lentamente, e eu podia jurar que estava começando a ouvir uma melodia baixa de piano. — Por favor, me ajude.

— Quem está falando? — perguntei hesitante, chegando em frente à janela e olhando o céu acinzentado sob o ferro velho.

— Só você pode me ajudar, Esther. — disse a voz invisível novamente. Então no mesmo instante a janela se fechou com um baque, me fazendo dar um pulo para trás e esbarrar em algo, ou melhor, alguém. Girei nos meus pés, perdendo o equilíbrio por um momento, mas antes que eu pudesse cair no chão, ele me segurou, me encostando na parede logo atrás de mim.

— Caralho, Castiel! Isso é jeito de aparecer? — xinguei sem fôlego, percebendo que o anjo estava novamente com o sobretudo, e as roupas impecavelmente limpas.

— Desculpe — murmurou, os olhos fixos abaixo do meu pescoço. Tudo bem que eu estava apenas com uma toalha, mas ele poderia ser mais sutil. Soltei um pigarro sonoro, chamando sua atenção.

— O que você quer? — indaguei, encarando-o seriamente.

— Esclarecer uma coisa — começou o anjo, com o tom calmo.

— Não temos nada para esclarecer, você deixou as coisas bem claras da última vez — gesticulei sarcástica, dando um passo para o lado a fim de encerrar aquela conversa, mas Castiel segurou meus ombros e me prensou contra a parede gentilmente.

— Espera...

— Tire as mãos de mim, agora — rosnei, e ele me fitou por alguns segundos antes de abaixar os braços. Se eu aprendi alguma coisa nessas 24h, foi que Castiel estava absolutamente certo, nós deveríamos nos afastar. Não faria bem essa aproximação, não seria saudável.

— Você pode me deixar falar? — pediu o anjo, me encarando fixamente. Desviei o olhar e dei alguns passos até me distanciar dele.

— Você estava certo — comecei seriamente — Devemos nos afastar, será mais fácil no final.

— Não foi sobre isso que eu vim conversar — descartou imediatamente, comprimindo os lábios.

— Não me interessa, eu não quero mais falar sobre nada. Eu entendi, ok? Não podemos ser amigos, ponto final, sem vírgula, sem nada — disse friamente, observando sua expressão se tornar dura — Você não significa nada para mim de qualquer forma, só estava tentando ser educada. — completei com uma mentira, o que fez o anjo desviar os olhos para a parede.

— Ainda bem que compreende isso. — devolveu Castiel, imóvel e com a voz grave.

— Não quero mais te ver, até chegar a hora. — falei observando-o girar a cabeça para mim, inexpressivo.

— Se é o que você quer — assentiu uma vez, apertando os olhos e adquirindo um tom levemente sarcástico — Mais algum desejo?

— Desapareça. — sentenciei duramente, e no mesmo segundo o anjo sumiu com um ruído de asas. Observei o espaço vazio por um momento, sentindo meus olhos arderem com a decisão que eu havia tomado. Troquei de roupa rapidamente, colocando uma skinny preta e uma flanela azul, e desci para comer alguma coisa.

Afastar-me dele era a última coisa que eu realmente queria, porém era necessário. Muitas pessoas não entendem que é mil vezes preferível o gosto amargo de um remédio do que a dor de uma morte agonizante. A vida não é um livro ou um filme, para mim não havia nenhum final feliz à espera, e quanto menos sentimentos bons que eu pudesse ter para me despedir no final, melhor.


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Notas finais do capítulo

Quantas emoções para um único capítulo, não? Acho que a bipolaridade do Cass tá passando para mim -q. A partir de agora estaremos na contagem regressiva para o "clímax" da fanfic, que deverá ocorrer daqui há uns três ou quatro capítulos. Hmm, o que será?

Ah propósito, o próximo será um bem especial, e deve ser postado mais rapidamente.
Um beijão!



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