Separate Ways - Requiem escrita por WofWinchester


Capítulo 26
Resident Evil


Notas iniciais do capítulo

Pelo título do capítulo já dá para imaginar mais ou menos como vai ser, não é? Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/508774/chapter/26

Não sei quanto tempo permaneci ali, em total estado de inércia pela cena que se antecedeu. Mas eu não podia me dar ao luxo de sentar e lamentar a minha vida, e como se eu mesma me desse um chute, me obriguei a levantar e sair do quarto. Se é isso que ele quer, ser um idiota estúpido, eu posso mostrar que esse jogo pode ser jogado por duas pessoas.

Desci as escadas com passos pesados e entrei no banheiro, tomando um banho rápido e fazendo minha higiene matinal. Bem, “matinal” era modo de falar, já que eram quase duas horas da tarde. Lavei a ferida mal cicatrizada, que doía irritantemente, e troquei o curativo do meu abdômen. Vesti uma camiseta vermelha, uma calça jeans escuro, o habitual all star preto e sai do banheiro. Sam e Dean estavam passando pela porta do porão com um facão sujo de sangue nas mãos, fitei a arma com receio.

— E a vampira? — perguntei, já sabendo a resposta antes que eles respondessem.

— Perdeu a cabeça. — brincou o loiro, limpando o objeto num pano qualquer. A princípio me senti desconfortável ao saber que havia um corpo sem cabeça jazindo lá embaixo, mas o sentimento logo se dissipou por completo. Encarei os irmãos que estavam com caras ótimas e revigoradas, acho que não fui só eu quem dormiu por dois dias por aqui.

— Cadê o Bobby? — questionei olhando ao redor e constatando que o mesmo não se encontrava por ali.

— Foi ver um caso numa cidade vizinha — respondeu Sam, dando alguns passos até a cozinha e abrindo a geladeira. — Alguém quer um sanduíche?

— Acho que vou aceitar um — disse sentindo que meu estômago se revirava, como se tivesse ouvido a palavra “sanduíche”.

— O meu sem alface ou esses matos que você gosta de colocar — advertiu Dean, indo até a mesa e pegando um copo de uísque. O moreno revirou os olhos para o irmão, e continuou.

— Nós interrogamos a vampira, e ao que parece, o que o verme disse era verdade. Eve está induzindo os monstros a caçarem você. — revelou o Winchester caçula, respondendo à pergunta que eu não tive tempo de fazer.

— Ótimo, mais criaturas sobrenaturais me querendo — comentei com sarcasmo, pegando três pratos na pia e colocando próximos ao moreno.

— Quem mandou ser gostosa — devolveu Dean com uma piscadela, recebendo um olhar reprovador de Sam. Fiz uma careta e dei de ombros, me virando para o mesmo.

— O que faremos? — indaguei. Não era como se Eve fosse qualquer bicho que eles estavam acostumados a caçar, ela era a “mãe” de todos eles, ou seja, deveria ser muito perigosa.

— Vamos caçá-la e acabar com a raça dela — respondeu o Winchester mais velho calmamente.

— Simples assim?

— Todas as criaturas podem ser mortas, basta saber onde procurar — falou o moreno enquanto distribuía fatias iguais de queijo e presunto nos pães, concordando com o irmão.

A porta se abriu e Maison entrou rapidamente, seguida por Jimmy. Os dois marcharam pelo cômodo em direção à mesa de Bobby, passando as mãos rapidamente pela bolsa de armas que haviam trazido.

— Onde é o incêndio? — questionei, arqueando uma sobrancelha. Eu não tinha os visto desde que acordei, mas sabia que teria sido estripada pela vampira caso eles não tivessem aparecido e dopado a mesma com sangue de homem morto.

— Anna está armando — disparou o nefilim.

— Como assim? — indagou Dean, largando o copo e cruzando os braços com uma careta confusa.

— Ela vai explodir um shopping center no meio de uma convenção de fãs em Chicago, o lugar vai estar lotado — explicou o garoto, alterado.

— Ok, isso não é nada bom. — murmurou o loiro.

— Isso é péssimo! — corrigiu Maison.

— O que vocês vão fazer? — questionou Sam, terminando os sanduíches e os largando em cima dos respectivos pratos. Então contornou a mesa, vindo até a porta da cozinha — Não podem ir até lá, Anna quer a cabeça de vocês numa bandeja, é óbvio que é uma armadilha.

— Se não formos as pessoas vão morrer. — Jimmy apontou um dedo, decidido. Os irmãos se entreolharam brevemente, e então o Winchester mais velho assentiu uma vez com a cabeça.

— Nós vamos com vocês, e Esther... — começou, mas eu o interrompi na hora.

— Não, eu vou. — assegurei determinada.

— É perigoso. — disseram Sam e Jimmy em uníssono.

Eu vou — repeti seriamente, dando as costas e subindo as escadas para colocar um casaco. Eu não era mais a garotinha indefesa, eu precisava começar a fazer alguma coisa por aqui, estava na hora de começar a ajudar um pouco sendo útil, para variar. E além do mais, eu não queria ficar aqui sozinha, e muito menos que alguém tivesse a ideia brilhante de chamar aquele anjo idiota para ficar me vigiando.

— Ei, mocinha! — chamou Dean — Não me dê as costas, volte aqui agora mesmo!

— Espera um pouco, isso não é da conta de vocês! Por que estão se metendo? — chiou Maison.

— Salvar pessoas é da nossa conta, nós vamos e acabou o assunto. — afirmou Dean, fazendo a loira soltar um grunhido contrariado, e então eu ouvi passos atrás de mim. Revirei os olhos, sabendo que teria uma longa conversa para convencer o “irmão do ano” a me deixar ir com eles.

O Impala estava estacionado em frente ao shopping, enquanto nós nos preparávamos para entrar. Lá dentro estava acontecendo uma convenção de fãs dos jogos e filmes da série Resident Evil, e o local estava lotado de pessoas vestidas a caráter. Eu estava no banco de trás, entre Maison e Jimmy. Sam no banco do passageiro e Dean no do motorista, o último com uma carranca das mais sérias. Demorei cerca de meia hora para convencê-lo a me deixar vir, e depois de muita insistência, ele acabou cedendo.

Eu sabia que os dois maiores motivos para Dean não me querer envolvida nas caçadas eram o fato de eu sempre me tornar um alvo fácil, e também por ele não querer essa vida para mim. Mas ultimamente eu estava sendo praticamente empurrada para isso, não tinha outro caminho a escolher. Era caçar ou ser caçada, então é melhor aprender a me virar.

Observei melhor a entrada pela janela, e segundo meu irmão, havia nefilins misturados com os civis, o que era muito perigoso. Nós não podíamos entrar lá chamando atenção, então o plano era ficar na espreita e tentar atacar Anna quando estivesse sozinha. Maison chacoalhou uma sacola em frente ao meu rosto, me tirando das minhas constatações, e largou-a no meu colo. Abri-a e dei de cara com uma malha preta com detalhes em couro, um corpete jeans, botas, um cinto e um coldre.

— O que diabos é isso? — questionei, sentindo minha voz subir algumas oitavas.

— Oi Alice, tudo bom? Como vai? — falou a loira com sarcasmo, apontando para as vestes da personagem dos filmes, Alice, que ao que parecia era como eu iria me vestir. E em seguida jogou uma sacola para Jimmy, e outras duas para Dean e Sam.

— Eu não vou usar isso! — protestei, imaginando o quão coladas deveriam ser aquelas roupas.

— Vai sim, é um convenção e tem tanta gente com arma falsa lá dentro que eles não vão nem perceber que estamos com verdadeiras graças a isso. — disse a garota, balançando o revólver no ar — Nós não podemos chamar atenção.

— Olha, eu sou o Leon — Dean mostrou as roupas com um sorriso divertido, deixando a carranca de lado por um momento.

— Chris? Eu não tenho nada a ver com o Chris! — comentou Sam, desapontado.

— Eu não tenho nada a ver com Claire, mas vou botar essa coisa ridícula! — devolveu Maison, revirando os olhos.

— Por que eu tenho que ser um zumbi? — bufou Jimmy com tristeza.

— Por que não tinha mais roupa de homem — esclareceu a loira.

— Quer trocar comigo? — sugeri retórica, gesticulando para minha sacola.

— Ah, acho que não.

— Ótimo, menos papo e mais ação. — a garota juntou as mãos e abriu a porta do Impala, apontando para que eu saísse junto. — Primeiro os rapazes, nós esperamos lá fora.

Depois de uns dez minutos em que o carro ficou sacudindo vergonhosamente com três marmanjos dentro, eles desceram vestidos a caráter. Dean usava uma camiseta preta e calças jeans, com um casaco marrom por cima e luvas com dedos a mostra. Sam vestia uma camisa verde com o símbolo da S.T.A.R.S e uma calça do exército, e Jimmy usava um terno manchado de sangue falso e rasgado.

— Ficar num carro cheio de homem pelado é muito desconfortável — comentou o Winchester mais velho, ajeitando as mangas do casaco.

— Eu concordo — o Winchester caçula balançou a cabeça.

— Isso é conversa de homossexual enrustido — Jimmy revirou os olhos.

— Se tem algum homossexual aqui é você — Dean apontou para ele.

— Mas quem ficou me olhando foi você — retrucou o nefilim.

— E quem tá usando maquiagem da zumbilândia aqui é você — devolveu o loiro.

— Calados! — dissemos Maison e eu em uníssono. Eles pareciam duas crianças, só faltava começarem a se estapear no meio da rua. Bufei, e entrei no Impala, seguida pela garota. Tirei a minha roupa, colocando-a dobrada em cima do banco e comecei a vestir meu disfarce. Coloquei a blusa e a calça, fazendo um esforço para ajeitar tudo, pois era apertado. Vesti a malha preta e o corpete jeans, o cinto, o coldre e a bota. Maison ainda estava lutando com a calça quando eu abri a porta do Impala, respirando aliviada enquanto saia do veículo.

— Esther está parecendo uma stripper gótica. — Dean assoviou com um sorriso travesso — Cadê a minha câmera?

— Menos, Dean, menos — pedi, revirando as mãos para ele. O caçador me estendeu duas pistolas que eu coloquei no coldre, para completar meu visual. A porta do carro abriu novamente e Maison saiu vestindo uma blusa cinza com um colete de couro bordô por cima e uma calça jeans. Era injusto como todos ali estavam bem simples comparados comigo.

— Eu me mato por não ter trazido a minha câmera... — comentou o Winchester mais velho, meio boquiaberto, recebendo um olhar fuzilador de Jimmy. A garota deu uma risada sarcástica e então nos fitou.

— Trocaram as armas? — perguntou, mostrando a faca na perna e o revólver na cintura, ambos verdadeiros.

— Trocamos, vai ser fácil passar pela segurança. Eles não devem revistar todos os fãs que entram com armas lá dentro. — Sam assentiu, apontando para a Browning suspensa sob o peito — Vamos repassar o plano?

— Nos infiltrar em meio aos civis, vigiar os passos de Anna e pegá-la sozinha. Não matar ninguém sem ter certeza se é um nefilim e não causar alarde — enumerou Jimmy, mostrando um dedo para cada ação.

— E como vamos ter certeza quem é e quem não é? — indagou Dean.

— Você vai descobrir — ele piscou irônico. — Nefilins são mais fortes e mais rápidos. E o mais importante: Eles podem causar alucinações, tenham cuidado.

— Alucinações? — questionei em dúvida. Então o garoto fitou um de cada vez, fixamente, e logo o Impala atrás de si começou a sacudir e pegar fogo.

— Meu bebê! — Dean correu em direção ao veículo, mas Sam o segurou antes que encostasse nas chamas quentes — O que você fez com meu carro desgraçado?!

— Não fiz nada, idiota. Olhe de novo — disse Jimmy apontando para o Impala que agora estava normal novamente. Balancei a cabeça atônita, junto com os irmãos que estavam perplexos — Certo, no começo é meio confuso, mas tentem prestar bem a atenção no que virem quando estiverem perto de um nefilim. Nem tudo pode ser real.

— Acho que eu vou vomitar... — comentou o loiro, ainda horrorizado pela cena do carro pegando fogo.

E tanto nefilins quantos anjos caídos podem usar a telecinese, fiquem com as mentes receptivas para nós conseguirmos nos comunicar com vocês lá dentro se for preciso. A voz de Maison ecoou na minha cabeça, enquanto a garota sorria irônica. Fitei Sam e Dean e percebi, pelas suas expressões, que eles também haviam ouvido.

— Vamos entrar pelo estacionamento — falou Sam depois de uma pausa para digerir as informações, gesticulando com as mãos — Lá tem menos chances de ter algum guarda com o detector de metais.

— Vamos lá — assenti, fitando a escada que descia com os olhos apertados.

Passar pela segurança foi muito fácil, sendo que todos estavam bem displicentes quanto ao movimento de fãs com armas falsas circulando dentro do shopping. Andamos por alguns corredores repletos de pessoas e logo seguimos a multidão que se concentrava na grande praça de alimentação, onde estava acontecendo uma espécie de RPG, no qual eles encenavam algumas cenas dos filmes.

— Vamos nos separar, assim podemos procurar mais rápido — sugeriu Maison — Quem achar alguma coisa suspeita manda uma mensagem de texto para todos e nós nos reagrupamos aqui — sentenciou a loira, apontando para baixo, enquanto todos nós assentíamos.

— Eu vou para lá. — disse Dean, enquanto piscava para algumas fãs que sorriam e mexiam nos cabelos.

— Nem pensar, você vem comigo — retrucou a loira, puxando-o pelo braço para o elevador — Esther e Jimmy ficam com o térreo, nós com o segundo andar e Sam com o terceiro. O Winchester mais velho bufou e seguiu a garota, contragosto.

— Tenham cuidado — pediu o Winchester caçula, indo em direção ao elevador. Jimmy e eu circulamos pelo primeiro andar, atentos ao movimento das pessoas, que constantemente nos paravam para tirar fotos ou algo do tipo. Observando melhor, eu estava um pouco mais tranquila quanto a minha roupa, pois percebi que haviam muitas “Alices” ali, e algumas bem mais chamativas que eu.

— Onde ela pode estar? — questionei, olhando ao redor discretamente. Observei que haviam algumas fitas de contenção no terceiro andar, ao que parece estava interditado.

— Anna é esperta, ela pode estar onde nós menos esperarmos. — devolveu Jimmy — Mas nós vamos encontrá-la, nem que eu tenha que vasculhar cada metro quadrado desse prédio.

— Isso se ela não nos encontrar antes... — sibilei, passando por um grupo de fãs que tentavam atirar num bando de zumbis. — Por que ela está caçando vocês afinal? Ela já não tem a liderança nefilim?

— Enquanto eu estiver vivo, sou uma concorrência para ela. Eu sou o herdeiro legítimo da aliança.

— Por causa do seu pai? — arrisquei, e logo formulei uma pergunta — Como um humano pode liderar um exército destes?

— É complicado de explicar, mas depois de conhecer Marina, minha... — ele deu uma pausa, corrigindo a palavra — nossa mãe e saber da sua morte, ele ficou obcecado por vingança.

— Aos anjos. — completei com a resposta óbvia.

— Sim, e caídos também. No começo ele se tornou caçador, mas isso não era suficiente, então acabou conhecendo um homem, e o mesmo passou a aliança para ele.

— Como isso é possível? — questionei, franzindo a testa.

— Ele o transformou num nefilim através de uma transfusão de sangue completa, isso depois de meu pai jurar que lideraria o seu exército. — explicou o garoto calmamente.

— Isso é loucura... — murmurei. — Certo, e como você entrou nisso tudo?

— Depois que meus pais adotivos foram mortos pelo demônio, e Maison me salvou, ele me procurou e me contou essa história, e também o nome do anjo que havia matado nossa mãe. — revelou Jimmy, pendendo a cabeça para o lado com uma careta. Até parecia mentira que Balthazar, o anjo que matou nossa mãe, havia nos ajudado bastante ultimamente.

— E onde ele está agora? — perguntei, adivinhando a resposta antes que o nefilim pudesse abrir a boca.

— Meu pai foi morto por um demônio logo depois de me contar, ele estava sendo caçado.

— Sinto muito — falei baixinho. Mesmo que eles não tivesse contato, acho que deve ser difícil você conhecer seu pai e não ter a chance de conhecê-lo direito, mesmo que em situações tão bizarras.

— Não sinta, eu não o conhecia — Jimmy deu de ombros, fitando o chão com um suspiro.

— Ei, você pode tirar uma foto? — ouvi a voz afinada de uma garota asiática se aproximar de mim. Girei o corpo na direção da mesma, enquanto ela balançava a câmera em frente ao meu rosto de uma maneira irritante.

— Claro — disse contragosto, não querendo ser rude e nem descontar meu mau humor numa desconhecida. Ela puxou Jimmy e mais quatro garotos vestidos de zumbis para um canto iluminado da praça de alimentação, próximo à uma mesa. Liguei o aparelho e coloquei em frente aos meus olhos, dando zoom até enquadrar a foto do melhor jeito possível, o que era difícil, com tanta gente espaçosa fazendo poses idiotas.

Foi então que percebi dois seguranças conversando perto da porta giratória, enquanto olhavam sutilmente para a nossa direção. Um deles moreno e bronzeado, típico latino, e o outro com cabelos ruivos e molhados de gel. Ambos eram grandes e robustos, porém o primeiro era o mais alto. Acompanhei os passos do ruivo até a entrada do shopping e notei que ele estava trancando a mesma sutilmente. Bati a foto de qualquer jeito e corri até Jimmy, jogando a câmera nas mãos da garota e arrastando meu irmão dali, ouvindo a voz da mesma me xingar pelas costas.

— Eles estão trancando as entradas — sussurrei nervosa, segurando em seu braço. — Os dois seguranças, acho que eles são nefilins.

— É bem possível, eles tem porte para serem. — comentou o garoto, dando uma olhada discreta na direção dos mesmos.

— Você acha que eles perceberam que estamos no shopping?

— Se tivessem descoberto, nós já estaríamos mortos — revelou o nefilim, me fazendo engolir em seco — Fique aqui, eu vou checar as outras portas. Só vai levar um minuto. — falou, saindo rapidamente enquanto eu me via sozinha no meio da multidão, desconfiada e achando que todo mundo que me olhava era um nefilim prestes a arrancar a minha cabeça.

Caminhei em círculos em volta das pessoas, fitando algumas vitrines sem realmente ver. Com o canto do olho, eu procurava a aproximação do meu irmão, mas o que vi foi que um dos seguranças, o moreno, passou pelas minhas costas. Mas o que me deixou atônita foi o fato dele estar conduzindo um garotinho pela mão, ele aparentava ter cerca de oito anos, e usava um uniforme azul, característico do personagem Leon. Acompanhei os passos deles enquanto subiam a escada rolante, intrigada e receosa, decidir segui-los de longe. O segurança parou no terceiro andar, que estava interditado, e então o menino seguiu sozinho.

Notei com pavor que ele andava diretamente para a beirada e se inclinava sobre ela, fitei o homem que mantinha os olhos fixos na criança há metros seguros de distância. Ao perceber sua intenção, comecei a andar rapidamente entre a multidão até onde o menino deveria cair, e no momento em que ele colocou metade do corpo para fora e deslizou para baixo, eu corri, me jogando no chão e o aparando com os braços, segundos antes do mesmo atingir o térreo.

O impacto pesado me fez grunhir de dor, senti uma fisgada forte no meu abdômen que me tirou o fôlego. Respirei fundo e me apoiei no chão, sentando o garoto e passando as mãos por ele, procurando qualquer machucado.

— Você está bem? — perguntei e o mesmo apenas me encarava confuso. Algumas pessoas começaram a se aproximar, curiosas, mas elas não pareciam ter percebido que ele havia se jogado lá de cima.

— Eu achei que tinha uma piscina aqui embaixo... — respondeu com a voz baixa. Olhei para o ponto onde ele havia se debruçado, e encontrei os olhos do segurança me encarando, e pela sua expressão de raiva, eu sabia que ele havia descoberto quem eu era.

— Cadê sua mãe? — questionei para o menino, e ele apontou para uma mesa na praça, onde uma mulher loira estava sentada com o notebook despreocupadamente. Que responsabilidade, largar o filho por aí num shopping lotado, essa merece o nobel de mãe do ano. — Ótimo, vá até lá e fique com ela, entendeu? — empurrei-o suavemente em direção a mesa e sai para o outro lado, tentando me misturar na multidão.

Coloquei a mão no abdômen e senti que o tecido do corpete estava molhado, encarei meus dedos e constatei que estavam sujos de sangue, a ferida deveria ter aberto novamente. Que hora apropriada para isso acontecer, o mundo está conspirando contra mim hoje. Olhei para trás e vi que o homem estava me perseguindo com os olhos fixos. Tirei o celular do bolso, tentando digitar uma mensagem para Maison e os rapazes, mas as pessoas passavam por mim esbarrando, e então o aparelho caiu no chão, abrindo-se em pedaços. Pensei seriamente em catá-los, mas seria perda de tempo. Subi a escada rolante quase correndo, alarmada pelo fato de estar perdida e sendo perseguida por um cara daquele tamanho e com aquela cara feia de dar medo.

— Alice! — gritou uma voz masculina, enquanto surgia na minha frente, colocando as mãos nos meus ombros. Parei bruscamente, analisando a figura. Um garoto de estatura mediana, com óculos e uma camiseta preta da Umbrela Inc, me encarava encantado.

— Oi, olha só, eu estou com um pouquinho de pressa agora... — tentei dar um passo para o lado, mas o mesmo me segurou. Olhei para trás e percebi o segurança subindo a escada.

— Eu amo você, Alice! Sou apaixonado por você! Me dá um autógrafo? — exclamava ele, mexendo o corpo em alguns pulinhos. Várias outras pessoas estavam atrás o mesmo, observando a cena com curiosidade.

— Olha só... — comecei, tentando dar um desculpa qualquer para sair dali o mais rápido que pudesse. E então tive uma ideia brilhante.

— Ned. — apresentou-se o garoto.

Ned — repeti, assentindo brevemente. — Tá vendo aquele cara lá? — apontei para o segurança — Está rolando um jogo oficial no shopping, e ele é o Wesker, ele quer me matar. Mande os seus zumbis pegarem ele enquanto eu fujo, ok?

— Ninguém vai matar a Alice! — exclamou decidido e então gesticulou para os amigos a sua volta — Peguem aquele cara!

Olhei a confusão se formar em volta do segurança por um segundo, com um sorriso triunfante, e então sai correndo dali. Esbarrei em algumas pessoas e entrei no banheiro feminino, olhando rapidamente por baixo de todas as cabines para constatar de que não havia ninguém e tranquei a porta. Respirei fundo, me apoiando em frente a pia.

— Essa foi por pouco — comentei comigo mesma, fitando meu reflexo, os cabelos negros bagunçados e a testa com um leve brilho de suor. Deslizei os dedos para o meu abdômen, tateando devagar por cima da ferida que doía e espalhava a mancha vermelha pela minha roupa.

Num baque porta foi arrombada com um encontrão, me fazendo dar um pulo. O outro segurança, o ruivo, colocou um pé para dentro, limpando a manga do terno. Droga, eu havia esquecido que eram dois.

— Você é a Esther? — indagou o homem com um sorriso — Não me parece tão importante como dizem, mas vai dar uma ótima isca para o seu irmão — e dizendo isso ele partiu para cima de mim. Eu me abaixei, passando pelo meio das suas pernas com agilidade, mas o mesmo segurou o meu pé no último momento, me erguendo no ar e me jogando de encontro a uma das cabines com força.

— Calma, vamos conversar — pedi, colocando a mão num ponto dolorido na cabeça e sentindo minhas costas latejarem com a pancada de encontro a porta.

— É uma pena que eu não possa te matar — revelou o nefilim, ignorando minha sugestão pacífica e apertando meu maxilar com os dedos fortes, enquanto aproximava um estilete da minha bochecha — Mas acho que posso cortar esse seu rostinho lindo um pouco.

— Não no meu turno — falou uma voz grave, puxando o homem de cima de mim e o atirando no espelho, que rachou completamente. Castiel o segurou pela camiseta e o jogou por cima da pia, fazendo a mesma se partir em duas metades de mármore, o nefilim tentou revidar, mas o anjo foi mais rápido e o bloqueou, chutando de encontro a porta de uma cabine que se quebrou com o impacto.

Levantei do chão enquanto Castiel retirava a lâmina angelical de dentro do sobretudo e ia para cima do nefilim. Ouvi sons secos e agoniantes, enquanto decidia se ia ou não até lá para ver a cena. Optei veemente por não me aproximar quando notei grandes quantidades de sangue escorrendo pelo piso espelhado do banheiro.

O anjo saiu da cabine e seu sobretudo estava lavado de vermelho. Não era a primeira vez que eu via uma morte, não nesses últimos meses, mas era a primeira vez que eu o via nesse estado. De um jeito tão brutal que me fazia sentir náuseas.

— Você... — comecei, não conseguindo terminar a frase. Eu sabia o que ele tinha feito, era o único jeito de matar um nefilim. Castiel me fitou com os lábios comprimidos ao perceber a minha expressão de horror e retirou a peça de roupa suja, jogando-a no chão e ficando apenas de terno.

— Eu não queria que você tivesse visto isso — murmurou encarando a lâmina que pingava sangue. Nem eu queria ter visto aquilo, eu não o julgava incapaz de matar, mas eu não conseguia vê-lo daquele jeito tão bárbaro, e pela primeira vez, eu senti medo dele. — Você está ferida? — perguntou o anjo, se aproximando enquanto fitava minha roupa manchada de sangue. Instintivamente eu recuei alguns passos, me apoiando contra a outra cabine, então Castiel parou, percebendo minha reação com um misto de constrangimento e surpresa nos olhos.

— Esther! — Jimmy entrou correndo pela porta, seguido por Dean e Maison. Ambos pararam bruscamente ao perceber o banheiro destruído. — O que aconteceu?

— Eles sabem que estamos aqui — revelei, girando a cabeça para fitá-los — Consegui despistar um deles, mas o outro me seguiu, e o Castiel meio que...

— Arrancou a cabeça dele? — Maison arqueou uma sobrancelha. Que romântico, ela acrescentou em minha mente, me fazendo fuzilá-la com o olhar.

— Você está bem? — questionou Dean, abrindo espaço entre os dois e olhando alarmado para o meu abdômen. — Droga. Temos que sair daqui, vamos evacuar esse prédio agora!

— Não tem como, as entradas e saídas estão todas trancadas. Eu verifiquei — disse Jimmy.

— Ah, que ótimo — falou o loiro com sarcasmo.

— Cadê o Sam? — indaguei, notando que o moreno não estava presente.

— Num dos bares do shopping, ele disse que achou uma coisa. Nós estávamos te procurando para ir para lá. — explicou Maison, juntando a porta e colocando-a no lugar.

— Esther precisa ir para um hospital, e Castiel, que papo é esse que você não consegue mais curá-la direito? — questionou Dean impaciente, analisando a ferida por cima da roupa.

— O único jeito de sairmos agora é pegando Anna e eliminando os nefilins, eles não vão nos deixar ir embora. — comentou Jimmy, me fitando com um olhar preocupado.

— Conforme o poder dela começa a fluir mais livremente pelo corpo, ele anula minha capacidade curar. Até é possível, mas exige grande esforço e talvez várias tentativas — explicou o anjo, e então sua voz adquiriu uma nota de irritação — E vocês não deviam tê-la trazido para cá, têm nefilins aqui, e ela não significa nada para essa raça, eles a matariam sem pestanejar!

— Ótimo, tanto faz — Dean deu de ombros — Faça sua mágica — sentenciou, dando dois passos para o lado. Castiel se aproximou e eu tive que fazer um grande esforço para não recuar, o modo como aquela cena havia mexido com as minhas emoções fez com que um sentimento de pânico fluísse pelo meu corpo conforme ele chegava mais perto, algo que nunca ocorrera antes. Apertei os olhos com força ao sentir seus dedos tocarem a minha bochecha, e um formigamento percorrer a minha pele.

Foram cerca de dez segundos até a ferida parar de latejar, então a mesma havia se fechado novamente. O anjo apoiou o braço contra a porta da cabine, visivelmente exausto.

— Acho que funcionou — comentei, apertando o abdômen e constatando que não doía mais como antes.

— Certo, agora você leva ela de volta, nós temos que matar uma vadia — disse o Winchester mais velho, suspirando de alívio.

— Não posso — murmurou Castiel — Meus poderes enfraqueceram demais, vou precisar de uma ou duas horas até ficarem fortes novamente.

— Você está começando a ser cortado da matriz. É o primeiro processo da queda — observou Maison com um sorriso satisfeito. O anjo a fitou com os olhos apertados e então desviou, encarando o espelho.

— Eu não gosto nada disso... — falou Dean, arrastando as mãos pelo rosto. E então parou bruscamente, fazendo uma careta sarcástica — Tem um corpo aqui, no meio do banheiro feminino. Só eu acho que isso vai dar merda?

— Vamos achar Sam para colocarmos o plano B em prática — falou a loira, ignorando o Winchester.

— Você tem um plano B? — indaguei.

— Não, mas estou pensando em um — ela deu de ombros, colocando a cabeça para fora do banheiro e vendo se tinha alguém passando por ali.

— Eu vou esconder o corpo e limpar um pouco essa bagunça — avisou Jimmy, gesticulando ao redor — Saiam daqui.

Passamos pela porta e Maison rapidamente no guiou para o segundo andar, caminhando entre a multidão, desconfiada. Entramos dentro de um bar com música ao vivo, indo diretamente para os fundos do mesmo, passando pela cozinha e parando no almoxarifado. Observei o cômodo empoeirado e com cheiro de ervilhas, e logo atrás de uma estante de mantimentos, estava Sam com um notebook no colo.

— Eu consegui invadir o sistema da segurança — começou, assim que percebeu nossa presença — E vejam isso — ele virou o aparelho na nossa direção, e na tela mostrava uma planta do prédio com vários pontos vermelhos piscando.

— Essa bolinhas não devem ser coisa boa. — comentou Dean, apontado para os mesmos.

— São bombas, Dean — explicou o Winchester caçula.

— Bombas? — repeti, incrédula.

— Eles vão explodir esse prédio lotado em menos de quarenta minutos — esclareceu, olhando para cada um de nós com uma expressão séria.

— Certo, temos menos de uma hora para matar uma nefilim e impedir uma explosão. Alguém tem algum plano mirabolante para fazer isso acontecer? — questionou o Winchester mais velho, sarcástico.

— Vamos usar a isca viva e partir para o ataque, é o único jeito — falou Maison seriamente.

— Você quer começar uma luta dentro do shopping lotado, é isso mesmo? — duvidou Castiel.

— Não, isso seria loucura. — devolveu revirando os olhos — Eu tenho um plano melhor.

— E qual seria esse? — perguntou Sam com curiosidade.

— Primeiro vamos nos dividir em duplas: Dean e eu, Jimmy e Sam...

— Se você não se importa eu prefiro ir com o Sam — interrompi a garota antes que pudesse terminar de falar, indo rapidamente para o lado do moreno. Ela arqueou a sobrancelha, me encarando juntamente com o Winchester caçula e Castiel, que me lançou uma expressão indecifrável.

— Certo. Então troque de roupa e eu já te sigo para explicar o resto.

— Que roupa? — indaguei.

— No banheiro do bar, atrás da porta — explicou ela. Comecei a andar para fora do almoxarifado e então ouvi a loira se pronunciar novamente, dessa vez para o anjo ao seu lado — Que foi? Não faz essa cara de pastel para mim não. Você arrancou a cabeça de um cara na frente da garota, é óbvio que ela está com medo de você.

Levei a mão à boca, achando graça no modo como ela falara. Mas de fato era verdade, nunca pensei que sentiria medo de Castiel, mas eu estava. Talvez fosse apenas o choque do momento que ainda não havia passado, não faço ideia. Atravessei o bar e entrei no banheiro, trancando a porta e arregalando os olhos para a roupa a minha frente: Um vestido vermelho de lolita curtíssimo com detalhes em branco e um crachá escrito “Josie”.

— Maison, eu vou te matar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Como será que vai se desenrolar essa treta?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Separate Ways - Requiem" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.