Separate Ways - Requiem escrita por WofWinchester


Capítulo 21
Sanguinária


Notas iniciais do capítulo

Olá, princesas! Finalmente o capítulo vinte e um, e eu não tenho nada para falar antecipadamente sobre ele. Gostaria, mais uma vez, de agradecer pelos comentários lindos e pelos favoritos, muito obrigada!
Espero que gostem, e nos vemos lá embaixo.



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Senti braços me envolverem por trás, e logo percebi que Sam estava me juntando do chão e me escorando junto a ele. A televisão de Bobby tinha o vidro da tela estilhaçado e uma fumaça cinzenta saia do aparelho, deixando um cheiro forte de queimado no ar. Todos estavam boquiabertos, e até mesmo Balthazar que sempre fora o mais avulso permanecia estático.

– Eu vi coisas que não podem ser desvistas... – murmurou Dean, tentando fazer sua voz sair engraçada, mas ela soou assustada ao invés disso.

– Alguém pode explicar o que está acontecendo? – perguntou Jimmy, colocando as mãos em frente ao corpo e andando até o meio do cômodo – O que eu vi naquela televisão realmente aconteceu? Digo, de verdade?

Todos se entreolharam e então se voltaram para Castiel, que estava perplexo e imóvel no centro da sala. Ele tinha o olhar vago e a mandíbula contraída.

– Cass? – chamou o Winchester mais velho, e vendo que o anjo continuava petrificado como uma estátua, ele caminhou até o mesmo, tocando seu ombro com receio – Castiel?

Ele estava distante, mas ao ouvir seu nome virou a cabeça devagar em direção ao loiro. Um gesto automático e inexpressivo, e então me observou com um olhar frio.

– Ela é a perdição – disse simplesmente, me fazendo encará-lo com surpresa e incredulidade.

– Como é? – proferi engasgando com as palavras.

– Olha só, você vai ter que explicar por que eu não estou entendendo nada! – exclamou Bobby atônito.

– Houve então uma guerra nos céus, Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão, e o dragão e os seus anjos revidaram. Mas estes não foram suficientemente fortes, e assim perderam o seu lugar nos céus – começou o anjo, andando a passos rápidos pelo espaço da sala e gesticulando nervosamente – O grande dragão foi lançado fora, ele e os seus anjos foram lançados na terra...

– Apocalipse capítulo doze, versículo sete a nove – completei, sabendo de cor aquelas palavras. Já que meus tios eram religiosos, eu tinha a bíblia quase toda decorada em minha mente. Mas eu não entendia o porquê dele estar recitando aquilo, o que eu tinha a ver com a revolta dos anjos?

– Traduz isso! – grunhiu Dean, cada vez mais afoito.

– O grande dragão era Lúcifer – esclareceu Sam, logo atrás de mim, ainda me segurando com as mãos fortemente pela cintura. Por cima do ombro, eu vi sua expressão alarmada.

– E quando um anjo cai da forma como Lúcifer caiu – pronunciou-se Balthazar com o tom de voz controlado – Ele perde mais da metade de seus poderes.

– Eu ainda não estou pegando nada – comentou Bobby.

– Eu também não – concordou Jimmy irritado – Fale na nossa língua, droga!

– O poder que ela guarda dentro de si é a graça que Lúcifer perdeu ao cair – revelou Castiel, olhando para todos no recinto, menos para mim. Abri a boca, mais incrédula do que eu já estava.

– Você está dizendo que... – comecei alterada, perdendo as palavras em meio ao turbilhão de pensamentos – Eu tenho parte com o diabo?!

– Não, você é parte dele – respondeu com desgosto, fitando a parede ao meu lado.

– Mas isso... Isso... – refletia Sam, encarando o chão com certo pânico.

– Como isso é possível?! – exclamou Dean, totalmente cético.

– Agora tudo faz sentido – disse Castiel, com a voz calma e calculada – Agora eu me lembro de tudo.

– Cass, explica isso pelo amor de Deus! – pediu o loiro.

– Quando Lúcifer caiu, a graça foi parar em algum lugar na terra – começou ele.

– Assim como aconteceu com a Ana – comentou o Winchester caçula, fazendo Castiel assentir brevemente e então continuar.

– Mas Deus sabia que era perigoso que um poder tão imenso ficasse ao alcance de qualquer um, então ele selou a graça numa alma que a guardaria para sempre. Assim mantendo-a afastada de qualquer ameaça, e inclusive do próprio Lúcifer – ele dava alguns passos pelo espaço limitado da sala enquanto falava.

– Tão poderoso quanto? – perguntei num sussurro, fazendo-o parar repentinamente, mas foi Maison quem respondeu.

– A história que contam pra vocês é mentira – disse a loira com escárnio – Lúcifer foi pego desprevenido por Miguel, de costas, caso contrário nunca teria sido expulso. Ele era quase tão poderoso quanto Deus.

– E o que aconteceu depois? – indagou Jimmy.

– Para proteger a graça, Deus designou quatro anjos para cada geração, conforme eles morriam, outros eram eleitos. – continuou Castiel – Mas não para por aí...

– Sempre tem mais coisa... – murmurou Dean com uma risada baixa e sem graça, esfregando o rosto com as mãos.

– Um anjo e sua graça são ligados, então Esther é diretamente ligada com Lúcifer. – revelou com o tom carregado de repulsa, me encarando pela primeira vez, e seus olhos eram frios e distantes. Como se já não bastasse aquele tiroteio de verdades horrorosas sobre a minha vida, o modo como Castiel me encarava fazia com que meu coração se espremesse dentro do peito. – Diz a profecia da revelação que em todas suas vindas a terra, a alma irá se corromper para lembrar a humanidade do maior pecado cometido contra Deus.

– Elisabeth se tornou uma assassina sanguinária por que estava escrito que deveria ser? – perguntou Bobby, a expressão mostrando total descrença.

– Exatamente – concordou o anjo.

– E onde você entra nisso tudo? – questionou Sam.

– Eu a mato – ele respondeu friamente, fazendo com que os irmãos se encarassem com uma dúvida explícita no olhar – No momento em que ela começar a se corromper.

– E o que aconteceu naquela época? – indagou Balthazar, gesticulando para o anjo e para mim – Por que você não se lembrava disso?

– Quando ela morre, a marca some e nossas memórias são apagadas, é como se nunca tivesse acontecido – explicou ele – Tudo é instintivo quando se é marcado como guardião, não é como se você lesse um manual. Você simplesmente sabe o que tem que fazer e a hora em que deve fazer.

– Mas agora é diferente, você sabe o final e podemos dar um jeito – falou Dean, recebendo um olhar cético e autoritário como resposta.

– Eu não deveria ter visto isso, não é desse jeito que funciona! – rebateu Castiel – Mas mesmo assim, nada pode interferir na profecia, ela é inquebrável e vai acontecer como está escrito.

– O apocalipse também não poderia ser impedido e nós o paramos – retrucou Sam revoltado.

– No momento em que ela se corromper totalmente, estará pronta – continuou o anjo, ignorando o argumento e olhando para o Winchester caçula com os olhos apertados.

– Pronta para quê? – indagou Jimmy confuso, dando alguns passos até ficar ao lado de Castiel.

– Para tirar Lúcifer do inferno e se unir a ele. E então a terra estará condenada, pois nem Miguel e todos os anjos do céu serão capazes de impedir o rebelde na sua verdadeira forma e poder – respondeu deixando todos abismados e silenciosos. Procurei os rostos de cada um no cômodo, e todo pareciam derrotados, a não ser por Maison e Balthazar que se mantinham calmos e com os braços cruzados em frente ao peito.

– Esther não vai se tornar uma sádica – afirmou o Winchester mais velho depois de alguns segundos, balançando a cabeça para os lados. O mesmo encarou Sam, que era o espelho da sua expressão, e então seus olhos vacilaram em total confusão. Dean realmente acreditava naquilo que estava falando?

– Eu achei que Elisabeth também não se tornaria – devolveu o anjo com a voz baixa e grave, e então se virou para me lançar um olhar inexpressivo – Mas dessa eu não vou falhar na minha missão, ela vai morrer quando chegar a hora – e dizendo isso, Castiel desapareceu no ar. Deixando para trás apenas o silêncio e a dúvida.

Tudo aquilo que foi dito parecia ter me acertado como uma dose de morfina, me anestesiando por completo. Eu me sentia como uma pedra de gelo por dentro e por fora, e só algumas horas depois que tudo começou finalmente a descongelar e a fazer sentido. Recostada contra a porta do Impala, observei o céu com olhos apertados, o sol estava no pico, me atingindo com seus raios sinuosos. Sam, Dean e Bobby haviam se trancado no quarto do pânico, provavelmente pensando no que fazer com a garota monstro que pode ou não matar centenas de pessoas daqui a alguns meses.

Você já sentiu como se estivesse preso em uma caixa imaginária que vai te sufocando aos poucos? Já teve a sensação de que não tinha as rédeas da sua própria vida? Era assim que eu me sentia agora. Pequena, incapaz e com raiva de mim mesma. Por mais que eu quisesse negar, não havia como fugir da verdade, eu fui um monstro cruel e sanguinário chamado Elisabeth Bathory. Eu era apenas uma arma, um receptáculo criado por um Deus sádico para prender o real poder do filho rebelde que ele fora incapaz de conter por si mesmo. E isso me soava tão insano que eu começava a rir com incredulidade cada vez que essas verdades passavam pela minha cabeça. Não era como se eu apenas tivesse parte com o diabo, era muito pior, eu era parte dele.

E partindo desse princípio, algo dentro de mim começava a se perguntar se eu realmente seria capaz de machucar alguém. Por mais que a resposta agora fosse “não, eu jamais faria isso”, eu temia que ela pudesse mudar com o tempo, assim como mudou para Elisabeth. E então todas as cenas que eu tinha presenciado eram jogadas como tijolos na minha cara, pavorosas e repulsivas, mas a que mais me doía por dentro era a que a Condessa matava seu próprio filho, um recém nascido que possuía os olhos azuis tão inconfundíveis quanto um farfalhar de asas.

Embora tudo estivesse um furacão confuso e turbulento dentro da minha mente, pequenas coisas se encaixavam, como peças num quebra cabeças. Agora eu entendia o porquê daquela sensação de nostalgia que eu sentia quando Castiel estava por perto, era como se ele puxasse as memórias daquilo que eu não conseguia lembrar, se é que isso faz algum sentido.

Era inegável que algo dentro de mim sempre soube que a presença dele fazia algo forte despertar, Elisabeth o amava e não era o tipo de amor que apenas desaparece, ele venceu o tempo e reviveu através de mim, me influenciando de alguma forma. Estava tudo tão misturado que eu não sabia diferenciar os meus sentimentos dos de Elisabeth, e os meus pensamentos dos dela. E isso era aterrorizante.

Como eu queria sentar e chorar nesse exato momento, me encolher como uma bola num canto escuro até tudo entrar nos eixos. Mas eu era orgulhosa e forte demais para fazer isso, ao ponto de fingir para mim mesma que estava tudo bem, embora estivesse tudo desmoronando no meu coração e mente.

Eu não sabia ao certo o que Sam e Dean estavam pensando sobre tudo isso, mas eu não tinha muitas esperanças. Eles salvam pessoas de monstros como Elisabeth, ou seja, eu. O modo como seus olhos vacilaram mais cedo era quase uma facada para mim, eu sabia que por mais que eles gostassem da garota órfã e problemática que habitava sua casa, nada era bom o suficiente para passar por cima de um apocalipse iminente. Dean deixou o próprio irmão pular num buraco direto para o inferno apenas para impedir que acontecesse, o que ele faria comigo então? Eu era apenas uma estranha.

A porta da casa de abriu devagar, e então Jimmy saiu. O nefilim parou por um momento, me observando e então se aproximou de mim, recostando-se ao meu lado e imitando minha posição com os braços cruzados em frente ao peito.

– Graça do capeta, é? – questionou, apertando os olhos contra o sol. Eu o olhei com seriedade, se aquilo era uma tentativa de puxar assunto, ele estava se saindo realmente péssimo – Desculpe, eu não sei fazer esse tipo de coisa.

Ficamos vários minutos num silêncio constrangedor. Suspirei tentando buscar qualquer coisa que pudesse falar, mas nada me vinha à mente.

– Sabe, podia ser pior... Você também podia ter alguma doença transmissível ou algo do tipo – começou o garoto, mas logo foi interrompido por mais um olhar sério.

– Por favor, fale de qualquer outra coisa que não seja isso – pedi, mexendo nervosamente nas mangas da minha blusa. Ele pensou um pouco.

– Cheesburguer, isso é bom e sempre me anima – Jimmy deu um sorriso tímido. Encarei-o e tentei forçar um, mas tenho plena convicção de que não saiu nenhum pouco sincero. De certa forma eu estava feliz por ele estar ali, tentando me dar algum apoio, mas nesse momento eu estava tão abalada que mal conseguia ouvir meus próprios pensamentos. Era tudo sangue, nostalgia e confusão.

– Jimmy – chamou Maison enquanto caminhava em nossa direção – Eu achei uma pista sobre o garoto, acho que devíamos averiguar.

Ela se prostrou ao meu lado esquerdo, formando um circulo aberto entre nós. Observei a garota por um instante, seus cabelos loiros estavam desgrenhados e percebi que ela trocava olhares preocupados com o nefilim.

– Eu não sou bom com isso, mas fique bem, ok? – disse ele relutante, ficando logo a minha frente. Eu apenas assenti brevemente e então Jimmy me fitou por um momento, em seguida se inclinou na minha direção, colocando a mão por trás da minha cabeça e me dando um beijo na testa.

Sorri com o gesto, e com uma última olhada ele se afastou, indo até uma moto vermelha. Maison colocou a mão sob meu ombro e murmurou algo como “eu sinto muito”, mas eu não pude ouvir direito por causa do barulho do motor do veículo. A loira montou numa outra que estava mais distante, e logo eles saíram da oficina.

Fiquei observando a nuvem de poeira que levantou, formando um rastro por onde as motos haviam passado, e a mesma era logo dissipada pelo vento. E alguns poucos minutos depois eu vi Sam sair da casa e caminhar até mim a passos receosos.

– Está meio frio aqui fora, não acha? – falou forçando um sorriso e abaixando um pouco a cabeça para me fitar. – Você não quer entrar? Nós queríamos, sabe... Conversar.

– Certo – murmurei quase num sussurro, fazendo a trilha até a porta da frente, que parecia menor do que eu gostaria que fosse. Entrei dentro da casa e Bobby estava sentado no sofá, com um livro grosso no colo, enquanto Dean estava imóvel numa cadeira. Não vi sinal nenhum de Balthazar, então suponho que o mesmo deva ter ido embora.

Observei as expressões desagradáveis por um momento, e então eu já sabia do que se tratava aquele assunto. Quando o loiro foi abrir a boca, eu o interrompi:

– Não precisamos ter essa conversa, ok? Eu já sei o que vocês vão dizer – comecei, sentindo minha garganta se fechar – Eu estou condenada a ser um monstro e vocês não me querem aqui, eu vou embora agora mesmo – sentenciei e dei um passo em direção à porta. Eu ia ir embora apenas com a roupa do corpo, assim como eu viera, nada deste lugar me pertencia, apenas as boas lembranças que eu levaria comigo. Então eu senti uma mão segurar meu pulso, me fazendo virar ao seu encontro. Dean me encarou por um breve momento e então me abraçou apertado contra ele, me deixando sem reação com aquele gesto.

– Você é família – ele murmurou contra o meu cabelo, deixando o queixo recostar-se sobre o meu ombro – E a gente não deixa a família ir embora assim.

– Mas...

– Você não é um monstro – reiterou Sam calmamente com um sorriso doce – Você não é Elisabeth Bathory. Você é Esther Middtown, uma garota maravilhosa.

– Então pare de dizer asneiras e ouça o que nós temos para falar, idiota – retrucou Bobby enquanto revirava os olhos e levantava do sofá, deixando o livro cair sob o assento. Dean me soltou e então fitou meu rosto, curvando os lábios para cima e passando os dedos por baixo dos meus olhos.

– Olhe só pra você, parece uma menininha chorona – debochou me fazendo sorrir constrangida por estar realmente chorando igual uma garotinha de quatro anos.

– Obrigada – falei sentindo as palavras trancarem na garganta – Eu não sei o que eu faria sem vocês – murmurei olhando para cada um, e nessa hora até mesmo Bobby deu um sorriso involuntário.

– Você não pode ser culpada por uma coisa que aconteceu numa vida passada, nós seríamos hipócritas se fizéssemos isso – disse o Winchester caçula.

– Mas vocês ouviram o que o Castiel falou...

– O Cass é uma maldita criança de sobretudo – interrompeu Dean – Nós já mostramos que ele estava errado uma vez e vamos mostrar de novo. – o loiro olhou para o irmão com uma careta divertida – Não é Sammy?

– Pode ter certeza – o moreno assentiu revirando os olhos para o apelido que não gostava, e então pegou a minha mão, me puxando para um abraço – E mesmo se tudo der errado, nós vamos dar um jeito nisso.

– Parem com esse sentimentalismo antes que eu chore – comentou Bobby, irônico, fazendo Sam me soltar.– Nós te chamamos pra falar de um caso ao longo da rodovia – continuou o velho.

– Aquele que vocês estavam pesquisando no mapa? – perguntei, respirando fundo e passando as mãos por baixo dos olhos para limpar qualquer resquício de choro que pudesse ter ficado por ali.

– Exatamente – respondeu Dean.

– Nós pensamos em dar uma olhada, e queríamos que você fosse conosco – disse Sam, me fazendo arquear uma sobrancelha.

– Achei que fossem contra me levar em caçadas – contestei, olhando para os três homens no recinto.

– É que esse é complicado – revelou o Winchester mais velho.

– Uma mãe assassinou a família inteira numa noite. Ela foi ao mercado, parou pra abastecer, e quando voltou quebrou a cabeça deles com o rolo de amassar pão – contou Bobby, suspirando com raiva.

– Ela tinha gêmeos de três anos e uma garotinha de onze que sobreviveu – completou o Winchester caçula, e então eu finalmente percebi o que eles queriam me levando em uma caçada.

– Vocês querem que eu fale com a garota.

– Ela está num hospital psiquiátrico e você sendo mulher, toda gentil e tudo mais, poderia tirar algo dela – continuou com a expressão um pouco desconfortável.

– Tudo bem se não quiser ir, foi só uma sugestão – gesticulou Dean.

– Não, eu vou – falei com determinação, assentindo com a cabeça. Se eu pudesse ajudar em qualquer coisa que exterminasse monstros, eu o faria. Talvez isso ajudasse a redimir um pouco da culpa que estava explodindo no meu peito.

Horas depois, eu havia me trancado no Impala, tudo que eu queria era ficar sozinha por um tempo e colocar minhas ideias em ordem. Queria absorver minha nova condição e digerir toda essa coisa de graça do capeta, antes que isso me enlouquecesse.

Desci o banco para trás, me recostando ao máximo e observei o céu totalmente escuro por longos minutos, sem realmente pensar em nada. Logo pude ouvir batidas no vidro do Impala e então vi que era Dean, destranquei as portas e ele entrou, segurando um prato nas mãos.

– É a minha preferida, acho que você vai gostar – disse estendendo uma fatia generosa de torta de maçã para mim. Olhei para o doce, e ele parecia delicioso, mas meu estômago protestou com um aviso prévio de que se eu o colocasse na boca, voltaria na mesma hora.

– Obrigada, mas eu estou sem fome – recusei educadamente.

– Você não comeu o dia todo, Esther – argumentou o loiro.

– Não consigo, sinto como se eu fosse vomitar até se tomasse um copo de água – protestei com uma careta.

– Só um pouquinho, vai – ele insistiu e então me lançou um sorriso travesso – Se não eu vou te infernizar.

– Você é impossível – revirei os olhos e decidi pelo menos tentar comer, lançando as mãos para o prato, mas Dean desviou e então pegou a colher cheia e levou até meu rosto. Franzi a testa e o fitei surpresa – Ah, qual é.

Olha o aviãozinho – brincou ele, aproximando o talher da minha boca, eu desviei e então comecei a rir.

– Eu ainda posso comer por conta própria, Dean – disse, tirando o prato das mãos dele e colocando sob o meu colo. O loiro levantou as mãos e começou a tatear pelo porta-luvas – E Sam e Bobby?

– Lá dentro pesquisando sobre a criatura que influência os outros a estourar miolos – respondeu divertido, colocando uma fita no rádio do Impala e apertando um botão. Imediatamente reconheci a melodia da banda Metallica – Se importa?

– Não, eu adoro essa música – comentei, recebendo um sorriso como resposta. Enchi uma colher com um pedaço de torta e coloquei na boca, sentindo o gosto adocicado da maçã. Meu estômago se contorceu um pouco, mas logo se aquietou quando eu consegui engolir. Eu nunca havia parado para saborear esse doce, mas agora eu entendia o amor de Dean por tortas, elas eram fantásticas.

– Se importa se eu ficar aqui? – questionou o loiro, se recostando no banco do carona e ajeitando as mãos atrás da cabeça – E antes de recusar, lembre que o carro é meu.

– Pode ficar, mas acho que eu não sou a melhor pessoa para conversar nesse momento – disse com um suspiro derrotado.

– Não quero conversar, apenas observar.

– Não há o que observar, o céu está totalmente escuro – constatei, percebendo que ele fitava o horizonte fixamente. Larguei meu prato vazio perto do câmbio e me ajeitei no banco do motorista, imitando a posição do Winchester.

– Não falei que queria olhar o céu – ele deu de ombros – Quando as coisas ficam difíceis, eu gosto de sentar no meu carro, ligar uma música e olhar para o nada. São nessas horas que tudo vem à mente.

Encarei o horizonte escuro e eu sabia exatamente do que ele estava falando. Era incrível como olhar para um ponto no nada me fazia vaguear pelos mais profundos pensamentos. E isso era tudo que eu precisava agora. No final, Dean e eu compartilhávamos da mesma mania terapêutica para momentos difíceis.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo é bem explicativo, vendo de fora ele realmente é um pouco confuso, mas calma aí, tudo isso vai ser debatido várias vezes durante os próximos capítulos até acabar com todas as possíveis dúvidas.
Esther é a graça de Lúcifer... Será que o tio Lú vai fazer alguma aparição na estória ou eles vão impedir essa profecia maluca? Castiel parece bem decidido a fazer de tudo para impedir esse futuro apocalipse, até que ponto ele vai?



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