Separate Ways - Requiem escrita por WofWinchester


Capítulo 20
O passado que condena o futuro


Notas iniciais do capítulo

Olá garotas! Queria pedir desculpas pelo atraso, é que eu estive ocupada e não queria largar o capítulo sem revisá-lo muito bem, pois ele é muito importante. E quando eu digo muito, é muito mesmo. Finalmente os grandes segredos serão revelados, e a partir de agora a coisa vai ferver!
Muito obrigada a todas as leitoras e leitores lindos e maravilhosos que acompanham a fanfic, vocês realmente me fazem muito feliz.
E agora, que rufem os tambores...
Espero que gostem.

PS: Gostaria de acrescentar que não faço apologia a nenhum tipo de violência, sendo que as opiniões expressas aqui são meramente ficcionais.



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Acordei com um par de olhos cinzentos próximo ao meu rosto, era Balthazar. Com o susto, eu me arrastei para o lado rapidamente, caindo sentada no chão e com os pés ainda sobre a cama. O que infernos ele estava fazendo aqui?

– Bom dia! – falou o anjo animado.

– Que droga, Balthazar. – chiei baixinho enquanto me levantava com cara de sono, olhei meu celular e constatei que eram sete horas. Fiquei com mais raiva – O que você quer a essa hora da manhã?

– Eu encontrei seu manual, meu bem – revelou calmamente e apontou para a porta entre aberta. Logo considerei que todos já deveriam estar lá embaixo esperando por mim, então suspirei e assenti com a cabeça.

– Ok, eu já desço.

Arrumei-me rapidamente e desci as escadas, sentindo meu estômago se contorcer de ansiedade e preocupação. Dean, e Sam estavam na sala enquanto Balthazar andava e falava sobre alguma coisa irrelevante. Castiel fitava apreensivo um objeto em suas mãos, observei-o por um momento e percebi que se tratava de um pedaço de pedra disforme.

– Vocês precisam experimentar tomar champanhe no umbigo de um soprano, é incrível... – dizia o anjo maravilhado com um sorriso enquanto eu me aproximava.

– Certo Balthazar, comece a falar sobre o que interessa – pediu Dean gesticulando com a mão, assim que me cumprimentou de leve.

– Essa é a placa da revelação – explicou ele, depois de uma pausa.

– Aqui só tem metade – falou Castiel, ainda olhando para a mesma com uma expressão tensa.

– Eu só tenho metade dela – expôs o anjo revirando os olhos.

– Como é? – indagou Sam.

– Eu disse que tinha a placa, não que eu tinha inteira – ele apontou um dedo para o moreno, com um sorriso irônico.

– Então isso não serve pra nada – Bobby apareceu na sala com os braços carregados de livros, colocando-os sobre a mesa. Então se recostou na mesma e cruzou os braços.

– Claro que serve, têm algumas coisas bem relevantes que eu pude ler – Balthazar tirou a placa das mãos de Castiel e começou a lê-la em voz alta – Como o feitiço de sangue com a casca do guardião.

– Deixa eu ver... – Sam estendeu a mão para o objeto, mas o anjo desapareceu antes que o Winchester caçula pudesse tocá-lo, se materializando atrás de mim.

– Não precisa nem tentar, só um anjo consegue ler isso aqui – ele balançou a pedra – É enoquiano.

– E o que mais está escrito nos dez mandamentos aí? Como vamos ajudar a garota com isso? – perguntou Bobby, com seu sarcasmo afiado. Balthazar encarou Castiel e o mesmo deu um passo à frente, olhando para todos e por último para mim.

– Um feitiço de retrocessão – expôs ele.

– Exato – concordou o outro anjo.

– E o que é isso? – indaguei confusa.

– É como um transe em que a pessoa é induzida a se lembrar das suas outras vidas – interrompeu Sam, com a expressão reflexiva. Dean lançou um olhar tenso para ele, murmurando algo como “nerd” e então se voltou para nós.

– Uma cidade foi praticamente destruída e a Esther quase morreu afogada em ectoplasma numa sessão feita por uma médium e agora vocês, anjos, querem fazer o mesmo? – questionou incrédulo, alterando a voz.

– Acalme-se, Dean – Castiel gesticulou com as mãos em frente ao corpo.

– É, calminha aí princesa – ironizou Balthazar, andando pela sala enquanto procurava alguma coisa.

– O feitiço só é possível se o anjo guardião for junto com ela, no caso, eu – continuou apontando para si mesmo – Nada vai acontecer com a Esther.

Dean deu um grunhido de escárnio e então eu ouvi uma batida na porta. Quando me virei para ir até lá, Sam já estava cruzando a sala para abri-la. Maison e Jimmy entraram pela mesma, a garota usava uma jaqueta de motoqueiro e o nefilim estava com uma camisa social branca e o cabelo bagunçado.

– Olha só quem resolveu mostrar o rabo – falou o loiro, irônico, se aproximando dos nossos visitantes de última hora. Jimmy me lançou um olhar, acenando a cabeça levemente antes de responder.

– Não vim falar com você, vim falar com a Esther – devolveu o garoto, revirando os olhos.

– Ah, é? Lembrou que tem família agora?

– Essa é a placa da revelação? – interrompeu Maison, abrindo espaço entre os dois e dando passos largos até a pedra, observando-a nas mãos de Balthazar. – Eu achei que fosse só um mito. Ninguém nunca a viu, apenas as outras.

– Espera, que outras? – perguntou o Winchester caçula.

– Várias outras. – respondeu Castiel, fitando o moreno – Para cada espécie distinta existe uma placa diferente, inclusive para anjos e demônios.

– Eu adoraria colocar as mãos na dos demônios, aposto que deve ter vários segredinhos lá – confessou Bobby, alisando o queixo, pensativo.

– Certo, vamos ficar de papinho ou vocês querem resolver isso logo? – indagou Balthazar, olhando para todos no recinto. Logo senti seus olhares pararem em mim, então eu respirei calmamente e me virei para o anjo com determinação:

– Faça o feitiço.

Alguns minutos depois, ele estava agachado no chão, tirando os dedos sujos de sangue de um círculo enoquiano específico. O mesmo era repetido no teto e nas paredes, formando uma caixa ao redor, e no centro dela, estava Castiel, alguns centímetros à minha frente.

– Explica de novo – pedi nervosa ao anjo, que se levantava e limpava as mãos num pano qualquer.

– O feitiço consiste em fazer com que você volte ao passado e se lembre do que aconteceu lá, você verá as cenas como se fosse um filme em 3D da sua última encarnação – dizia Balthazar enquanto todos no cômodo prestavam total atenção – Os símbolos e as palavras que eu vou dizer vão abrir uma porta, mas é necessário que você use o poder através da marca, Cassie vai ajudá-la a atravessar.

– E o que é esse símbolo distinto pintado com tinta preta? – Sam apontou para o chão, desconfiado.

– É um feitiço de visualização. – explicou ele – Eu pintei outro ao lado do aparelho de televisão, assim nós veremos o mesmo que eles. Não é fantástico? – Balthazar juntou as mãos, forçando uma animação histérica – Vai fazer pipoca, Dean.

– Hoje não – o loiro deu um sorriso sarcástico e então nos encarou com receio – Esther, tem certeza?

– Não – sibilei rapidamente, dando uma pausa e então fitei Castiel – Mas é necessário. O que eu devo fazer?

– Beija ele – quem respondeu foi Balthazar. Arregalei os olhos na direção dele, engasgando com a minha respiração. – É brincadeira – o anjo gesticulou divertido – Aliás, não era necessário aquele beijo lá no hotel, um aperto de mão seria suficiente, mas eu adorei ver a cara de vocês dois.

– Eu vou matar você – enfatizei sarcástica, lançando-lhe um olhar mortal.

– Eu apoio a ideia – concordou Jimmy com um sorriso.

– Eu também – se meteu Maison.

– Ninguém mata o anjo – interveio Sam – Não ainda, pelo menos.

Não ainda – enfatizou Dean, levantando um dedo.

– Idiotas – retrucou Bobby.

– Como eu me sinto amado – ele revirou os olhos e então se voltou para mim – Mas agora se concentrem no feitiço, e o resto cala a boca.

Castiel segurou as minhas mãos e sussurrou para que eu fechasse os olhos. Balthazar começou a recitar algumas palavras, e no começo eu não sentia nada de diferente, mas logo uma onda de energia começou a pulsar dentro do meu corpo. Meus sentidos foram entrando em estado de torpor, e a voz do anjo foi se afastando, o único som que eu ouvia era o pulsar daquela energia cada vez mais alto. Não demorou muito para que ela tomasse proporções maiores, e de repente era como se explodisse em mil cacos.

Quando pude ver novamente, tudo estava escuro, e então havia alguém caminhando num grande pátio em frente a um castelo. As árvores balançavam com o vento da noite, jogando os cabelos negros e cacheados da garota para trás. Era como estar de frente para um espelho gigantesco, mas a expressão melancólica que meu reflexo trazia era diferente da minha, que era de curiosidade nesse momento. Mexi minhas mãos em frente ao rosto e notei que não era eu, mas sim alguém igual a mim. Andei até a garota, sentindo a grama molhada guinchar sob meus pés e o vento frio passar pela minha pele.

– Elisabeth? – indaguei enquanto tentava tocar seu corpo, mas meus dedos passaram reto. Balthazar havia dito que era apenas lembranças, então obviamente eu não poderia interagir com elas. Ela parou em meio ao local e começou a olhar para os lados suspirando.

– Castiel! – gritou para o nada, enquanto segurava o vestido para que não arrastasse no chão. Ela fechou os olhos por um momento e alguns segundos depois eu ouvi um farfalhar de asas e então me virei. Perto do grande muro do castelo havia um homem alto e com vestimentas formais de época, seu cabelo era preto e pele totalmente pálida. Não o reconheci imediatamente, mas o modo como ele estava imóvel e como seus olhos eram incrivelmente azuis logo me fez constatar que era Castiel.

– Cass! – cantarolou ela alegremente, correndo até ele e o abraçando. Sua expressão que estava dura, logo se suavizou, enquanto ele envolvia a garota nos braços, enrolando os dedos pelos cachos negros.

– Eu pedi para que não me chamasse mais – repreendeu o anjo, se afastando para lançar um olhar sério para ela – Não posso mais descer até aqui.

– Faz tanto tempo que eu queria te ver de novo – Elisabeth deu de ombros – Por que fugiu de mim? Por que me deixou sozinha?

– Você não está sozinha, você tem sua família – lembrou suavemente.

– Não Cass, eu não tenho – murmurou, virando-se de costas e fitando o nada – Nesse tempo que você esteve longe aconteceram várias coisas... Eu perdi minhas irmãs enquanto sediávamos a guerra entre os turcos e austríacos. – ela suspirou, ficando em silêncio por um momento, então vendo que o anjo continuava sem falar nada, a garota continuou – Lembro-me que eu tinha acabado de dormir quando eles invadiram o castelo da nossa família, em Ecsed, com o barulho eu me escondi embaixo da cama e vi quando uns quatro homens arrastaram as duas pelo corredor – Elisabeth parou, franzindo a testa e eu percebi que ela se segurava para não chorar – Eles as estupraram, um de cada vez, e então as mataram. E sabe... Nessa hora eu rezei por você.

– Eu sinto muito, Elisabeth – disse Castiel pesadamente ainda imóvel e inexpressivo.

– Depois disso, meu pai enlouqueceu. Ele não superou muito bem a morte das duas. – ela deu uma risada sem graça – Ele se tornou uma pessoa fria e irada, aplicava castigos em todos os nossos empregados por coisas banais. Quando eu tinha oito anos, eu queria muito aprender a montar a cavalo. Eu tinha dois amigos, filhos de um cigano que aparava o jardim do castelo em troca de comida. Eles disseram que se eu quisesse, o pai deles me ensinaria, pois ele tinha um pangaré que usava para fazer algumas viagens e trabalhos nas aldeias. Então eu fugi do castelo uma tarde, embora meu pai tivesse dito que eu não deveria fazer isso.

“E quando ele descobriu, ele mandou que aprisionassem o cigano dentro da barriga do bicho, apenas com a cabeça para fora, até que morresse. Todo momento ele se virava para mim com um sorriso sádico e dizia: Isso é pra você nunca mais me desobedecer, Elisabeth. – ela encarou Castiel, mas o mesmo desviou o olhar para o chão – Meses depois eu soube que meus amigos morreram de fome, e nesse dia eu rezei por você.”

– Sinto muito por eles – murmurou o anjo, ainda sem fitá-la. Elisabeth fechou os olhos, respirando fundo e então continuou:

– Com onze anos, fui obrigada a ficar noiva do filho da família Nadásdy, passando a morar nesse castelo desde então – ela apontou pro grande monumento imponente de pedra atrás de mim. O castelo Nadásdy, em Sárvar. – O pai de Ferenc, meu noivo, está criando-o para ser um oficial do exército. E sabe o que esse garoto imbecil e cruel faz para se divertir? Mente para o pai que os empregados fizeram coisas erradas e então os açoita durante horas. – a garota gesticulou com a mão, fazendo uma careta de desgosto – Meu casamento está próximo, e eu não quero viver condenada nessa prisão de horror para o resto da minha vida. Então eu rezei por você.

– Eu preciso ir – falou Castiel, a mesma deu um sorriso irritado e então caminhou até ele com raiva, segurando-o pela camiseta.

– Você não vai a lugar algum até eu falar tudo que eu tenho pra falar. Sabe por quê? Por que não teve uma noite em oito anos que eu não rezasse por você! – vociferou ela – Você me prometeu, lembra? Prometeu que nunca ia me abandonar, que sempre estaríamos juntos e quando eu mais precisei você fugiu, Castiel!

– Você não entenderia, Elisabeth. – murmurou, apertando os olhos.

– Tente explicar!

– Vai está predestinada a uma coisa, e vai chegar uma hora... – ele a fitou fixamente – Que eu vou ter que matar você.

Nesse momento a minha expressão foi o espelho do rosto de Elisabeth, incrédulo e confuso.

– O que você está dizendo? – sussurrou a garota.

– Você sabe do que eu estou falando – Castiel deslizou a mão delicadamente pelo rosto dela, parando próximo ao pescoço e puxou o octeto de rubi – Você sempre foi uma garota doente, Elisabeth, mas depois que começou a usar isso, nunca mais aconteceu.

– Isso é herança de família! – retrucou.

– A joia é, o encantamento não.

– Como é? – indagou, se afastando dele sem quebrar o contato visual.

– Esse amuleto tem um encantamento demoníaco poderoso que afasta todas as energias negativas que a sua alma atrai, é uma barreira protetora. – revelou Castiel.

– Você fez isso?

– Eu não sou um demônio, mas acho que sua mãe deveria conhecer algum – ele deu de ombros.

– O que eu sou? – questionou a garota num fio de voz.

– Não posso te dizer, ainda não – o anjo fitou o horizonte, onde as árvores balançavam com o vento, suspirando baixinho – Eu preciso ir.

– Por favor, não vá embora – pediu ela, caminhando na direção dele até ficar com apenas alguns centímetros de distância. Castiel a encarou e então recuou rispidamente para o lado. – Por que você é tão rude comigo? O que eu fiz a você?

– Elisabeth... – ele ia começar, mas a garota o interrompeu.

– Castiel, olha pra mim – Elisabeth o pegou pelos braços, fazendo-o se virar para ela e então o fitou intensamente. – Você não vai me matar. Você é o meu melhor amigo desde sempre, aquele que cuidava de mim e me contava histórias pra dormir. Eu confio em você de um jeito que eu não sei explicar e eu sei que você não vai me machucar.

– Eu não teria tanta certeza – sussurrou o anjo.

– Você quer me machucar, Cass? – indagou, fazendo-o se desvencilhar dela.

– Não posso interferir no seu destino, nos planos de Deus – gesticulou.

– Você é a única coisa que eu tenho agora, desapareça e eu não terei um destino – sentenciou a garota.

– Está me chantageando? – questionou Castiel, apertando os olhos com a expressão surpresa.

– Não... Bem, estou. – ela caminhou até ele, suavizando o tom de voz e percebendo que o anjo dava alguns passos para trás. Elisabeth segurou-o novamente, passando a mão pelo seu rosto – Não fuja de mim, e por que não me olha nos olhos? Olha pra mim, Cass.

– Elisabeth, eu não posso...

– Você sabe que não quer ir – murmurou a garota.

– Elisabeth! – gritou uma voz grave e forte, me fazendo estremecer de medo. Virei rapidamente na direção dela e a luz de uma tocha acesa vindo na minha direção.

– É o Conde Nadásdy! – disse ela nervosa, enquanto se afastava e fitava a entrada do castelo com os olhos arregalados – Eu preciso entrar, e não desapareça.

– Eu não... – a garota olhou para a direção da voz e então olhou para Castiel novamente. Num movimento rápido ela o puxou pela camiseta, beijando-o com intensidade. Segundos depois, eles se separaram, e o anjo a olhava confuso.

– O que foi isso? – perguntou ele, inclinando a cabeça de lado.

– Isso... É pra se você for embora, aí eu não tenho que me arrepender de não ter feito o que eu queria – respondeu Elisabeth ofegante e com um sorriso tímido nos lábios. O Conde a chamou novamente, agora mais perto, e então a garota correu para a entrada do castelo.

Fui atrás dela, conseguindo rapidamente acompanhar seus passos. Assim que passamos pelo grande muro de pedra, senti minhas pernas vacilarem e era como se o chão estivesse tremendo, novamente eu vi flashes de luz em frente aos meus olhos, sentindo um torpor momentâneo.

E então eu estava num lugar diferente, uma cabana. Elisabeth estava deitada na cama com suas vestes brancas cheias de sangue da cintura para baixo, ela estava suada e ofegante, enquanto uma mulher negra levantava um bebê recém nascido nos braços.

– É um menino – disse a mesma alegremente, olhando com carinho para a criança que chorava para a nova vida sem nem mesmo ter aberto os olhos ainda. Fitei a cena confusa, enquanto me aproximava mais da cama. Elisabeth riu com desgosto, algo na sua expressão me incomodava profundamente. Ela sentou, afirmando os pés no chão com uma careta de dor.

– Você não devia se levantar senhorita Elisabeth, acabou de dar a luz – pediu a mulher, lançando um olhar preocupado enquanto ajeitava a criança nos braços.

– Calada Blair – ordenou a garota e então caminhou até a janela. A parteira levou o bebê até um recipiente com água, em cima de uma estante com objetos de costura, começando a banhá-lo e deixando o líquido sujo de sangue.

– Já escolheu um nome? – perguntou distraída, enquanto sorria para o menino que agora havia se acalmado. Parei ao lado dele e por um breve momento encontrei seus olhos pequenos e incrivelmente azuis. Meu coração se apertou com uma dúvida cruel.

– Não me interessa dar nome para esse bastardo! – exclamou Elisabeth ferozmente – Ele só desonra o meu nome, minha família me olha como se eu fosse uma meretriz por causa dele!

– Não devia falar desse jeito, com todo o respeito senhorita, se trata apenas de um bebê – murmurou Blair. A garota se virou para ela caminhando em sua direção devagar, lançando uma expressão de puro ódio para a criança.

– Nem ao menos humano ele é – falou com rispidez, fazendo a mulher ficar confusa.

– Desculpe – sussurrou a parteira, abaixando os olhos.

– Já ouviu falar de anjos, Blair? – ela arqueou uma sobrancelha, fitando o rosto cético da mesma – Há nove meses eu me deitei com um e desde aquela noite ele desapareceu me deixando essa coisa como fardo e vergonha.

– Senhorita... – a criada balançou a cabeça para os lados, provavelmente medindo os níveis de sanidade de Elisabeth.

– Mas quer saber? – ela se aproximou da mulher, acariciando seus cabelos. A outra mão tateava perto do recipiente, passando os dedos por uma tesoura de corte – Não me importa! – dizendo isso a Condessa puxou o objeto metálico e cravou no pescoço de Blair, fazendo-o jorrar grandes quantidades de sangue. A garota ria, se divertindo com a cena, enquanto a parteira se engasgava e agonizava no chão. Ela limpou a tesoura nas vestes e então fitou o bebê, que se debatia na água, dando alguns passos na direção dele.

Elisabeth o retirou da banheira e colocou em cima da cama, enrolado numa manta carmim. Logo depois ela pegou um livro da estante velha e abriu numa página amarelada, lendo-o por alguns instantes e então foi até Blair, que jazia morta no chão, molhando os dedos no seu sangue e desenhando um símbolo parecido com uma cruz invertida no peito da criança.

Schlafendes kind, mein subes kind. Schlaf den schlaf, die kommt, ist Papa gegangen und Mama ist nicht mehr hier – ela começou a cantarolar com ternura enquanto empunhava a tesoura para cima, o bebê tinha a expressão calma enquanto olhava para a mãe com um sorriso inocente. Mas como se percebesse o perigo iminente, imediatamente ele começou a chorar alto e esganiçado. De imediato eu reconheci aquela música, a mesma que eu havia ouvido aquela noite no cemitério meses atrás – Schlafendes kind, kommt der ewigen Schlaf erwartet feuer im dunkeln. (Dorme criança, minha doce criança. Dorme que o sono já vem, papai foi embora e mamãe já não está aqui. Dorme criança, que o sono eterno já vem, o fogo te espera dentro da escuridão.)

Elisabeth repetiu aquelas palavras cerca de três vezes com um olhar sádico e mortal no rosto, aquilo me causava uma sensação de pânico e nostalgia. Eu rezava para que ela não fizesse aquilo que eu temia, e então ao recitar o último verso, suas mãos deram um impulso forte e rápido para baixo. Eu me joguei em direção ao bebê, impotente, passando reto pela cama.

O choro parou, restando apenas o horror e o medo. Levei as mãos ao rosto e não pude conter o grito de pavor ao ver aquela cena, eu queria sair daquela cabana, aquilo não poderia ser uma memória, aquilo não poderia ser eu.

– O que você fez?! – exclamou a voz exaltada de Castiel, aparecendo de repente e dando passos pesados em direção à garota. Ele encarou o bebê incrédulo e então desviou o olhar com repulsa.

– Eu não queria essa criança – disse Elisabeth calmamente – Então eu fiz um ritual para que nem mesmo você possa trazê-la de volta.

O anjo a encarava com horror e melancolia, embora eu não pudesse ler mentes, eu sabia que ele estava se perguntando que espécie de monstro era aquela garota. Já no meu caso, eu estava negando veemente qualquer tipo de laço com ela, aquilo definitivamente não poderia ser eu, eu me recuso a aceitar isso.

– Quando você ficou assim? – perguntou Castiel num sussurro baixo, fitando-a com os olhos apertados, como se tentasse reconhecer aquela pessoa a sua frente – O que você fez aqui foi uma atrocidade!

Blá blá blá – disse ela displicente, enquanto jogava a tesoura suja de sangue em cima da cama – Eu não me importo. É matar ou morrer, e no fim somos todos animais. Eu apenas não sou hipócrita e fico tentando arrumar desculpas para os meus atos. Eu podia ter abortado, ou eu podia ter dado para alguma família miserável que mal tem o que comer. Ele não era humano, quando crescesse ia ser queimado na fogueira, você sabe. – ela deu de ombros, caminhando pelo cômodo – De qualquer jeito ele estava condenado à morte, eu só poupei seu sofrimento.

– Você está indo por um caminho perigoso. – falou o anjo, com o tom grave e ameaçador.

– De novo a história do “eu vou matar você”? – desdenhou Elisabeth com uma risada alta – Você não vai fazer isso, você me ama demais pra fazer isso – ela gesticulou com a mão, dando um sorriso maléfico.

Novamente eu senti tudo tremer, as paredes começaram a se descascar e descolorir rapidamente. Como se fosse uma espécie de tinta caindo sob uma superfície vertical, eu fui colocada em outra cena.

Agora eu estava num quarto luxuoso e grande, virada para uma janela com cortinas de seda brancas. A paisagem dava para um grande campo, com vários animais e camponeses. Mas logo um cheiro metálico fez cócegas no meu nariz, me virei para trás e percebi que tinha um homem dependurado no lustre de cabeça para baixo, preso por ganchos em seus pés. Seu peito estava com cortes profundos que escorriam sangue diretamente para uma banheira de mármore que vazava no carpete marfim.

Elisabeth estava dentro dela, nua e coberta com o líquido escarlate, enquanto dava gargalhadas escandalosas que ecoavam pelo quarto. Ela olhou para o lado, na direção onde eu estava.

– Você sabe, é preciso se divertir de vez em quando – falou com um sorriso felino, e eu me perguntei se ela estava dizendo aquilo para mim, mas era impossível. Caminhei para o outro lado do cômodo, passando longe do sangue. A garota continuou encarando a mesma direção, e era como se estivesse falando com alguém invisível. Talvez Elisabeth realmente fosse uma mulher louca.

A porta se abriu e uma figura entrou no quarto, era uma garota incrivelmente parecida com a Condessa. Ela usava um vestido simples, e os cabelos presos num rabo de cavalo.

– Senhora, nós estamos com problemas – falou com a voz baixa e acetinada, enquanto se aproximava da banheira – Há caçadores nas redondezas. Eles acham que tem vampiros por aqui, devido aos ataques e corpos sem sangue.

– Mais essa agora... – Elisabeth revirou os olhos, jogando as mãos para cima e deixando-as cair no sangue, que respingou para fora – Não tenho tempo pra lidar com caçadores, se livre deles, Darvúlia. Estamos tão perto, não posso perder o foco agora.

Encarei a garota, e logo percebi que se tratava de Anna Darvúlia, a cúmplice da Condessa que especulações diziam ser uma feiticeira.

– Sim senhora – assentiu a criada prontamente e então saiu do quarto tão ligeiro quanto entrou. Deixei meus olhos fitarem melhor o lugar, parando na cena bizarra do cadáver frio do homem que tinha o rosto retorcido de dor. Provavelmente fora dependurado ainda vivo e torturado até morrer. Notei também que faltava algo em Elisabeth, algo que nenhuma de nós se separava. Seu colo estava vazio, o octeto de rubi não estava lá.

– Eu sei que está aí, posso sentir sua presença – pronunciou a garota com um sorriso surpreso, e então Castiel se materializou no canto oposto do cômodo, indiretamente ao meu lado.

– Faz anos, não é Cass? – disse ela, quebrando o silêncio.

– Você não pode terminar o que está fazendo.

– Suponho que esteja aqui pra me dar outro sermão, e adivinha só? – ela trincou os dentes – Não estou nem aí.

– Se persistir nesse caminho, não há volta – Castiel puxou a manga da camisa para cima, revelando a marca do guardião, e com a mão ele segurava a lâmina dos anjos. Elisabeth encarou o objeto por alguns segundos, apertando os olhos, e então se apoiou na banheira, levantando completamente nua e caminhando em direção ao anjo. Sangue escorria por sua pele branca como a neve. Ela ficou na frente dele e segurou sua mão, colocando a lâmina em seu peito.

Faça – ordenou seriamente, e vendo que ele estava hesitante e desconfortável, a garota impulsionou o objeto mais forte contra si, rosnando – Faça!

Eles se encararam por instantes, um único olhar profundo que dizia tudo aquilo que eram incapazes de dizer. Mas eu não estava dividida sobre o que pensar, se eu pudesse entrar naquela cena nesse exato momento eu mesma enfiaria aquela lâmina em Elisabeth, ou no caso, em mim mesma.

– Eu não quero matar você – murmurou Castiel, deixando o objeto cair no chão – Por favor, pare.

– Eu não posso – sussurrou a garota – Você sabe que eu não posso.

– Por quê?

– Não importa, Cass. – ela deu de ombros, olhando para o lado e fitando a janela sem realmente ver – Não há volta, você sabe disso.

– Me desculpe, eu sabia que era um erro condená-la a isso. – o anjo disse baixinho, fitando-a com olhos baixos.

– E mesmo assim você não enfiou a lâmina no meu coração quando eu nasci? – Elisabeth de uma risada sem graça, o tom de voz totalmente mórbido – Por quê?

– Por que está predestinado a ser, e só vai ter fim quando eu matar você. – explicou ele, balançando a cabeça negativamente. A garota inspirou devagar pela boca e então o encarou seriamente.

– Eu não estou fugindo – proferiu comprimindo os lábios.

– Eu sei, eu que estou, desde sempre. – Castiel pegou as mãos dela e as juntou em frente ao corpo, segurando-as delicadamente enquanto falava – Eu não quero fazer isso, Elisabeth.

– Me desculpe – sussurrou a Condessa, com a expressão melancólica, desviando o olhar. O anjo então liberou uma mão para puxar seu queixo para cima, fazendo com que a garota o fitasse diretamente.

– Eu amo você – disse com ternura, se inclinando em direção a ela e então a beijou, exterminando o espaço que havia entre os dois. Elisabeth o puxou pela gravata e começou a retirar a roupa que ele vestia com demasiada fúria. Castiel segurou a garota pela cintura e levou até a parede, onde a puxou para cima. Num movimento rápido ela virou a cabeça, fitando a direção onde antes eu estava com uma careta e eu não entendi o que ela havia visto e também não queria entender. Aquela cena estava me embrulhando o estômago, havia um corpo ali, havia sangue inocente ali, mas acho que só eu estava achando aquela cena de amor mórbida demais. E antes que eu pudesse presenciar mais barbaridades, eu simplesmente caminhei apressada em direção à porta, passando reto por ela de encontro a um corredor largo.

Observei por um momento e reconheci a silhueta de Darvúlia correr apressada no final do mesmo, e rapidamente a segui, passando por diversos cômodos e descendo uma escada até uma espécie de porão. Estava escuro, e eu me guiava apenas pela luz da vela que a criada levava nas mãos, o cheiro de mofo e fezes era insuportável. Dobrei alguns corredores, e me impressionei com o tamanho daquele lugar em formato de labirinto, qualquer um podia se perder aqui facilmente. Logo captei um burburinho de vozes que se aproximava cada vez mais conforme íamos andando.

Parei rispidamente quando ouvi uma garota começar a chorar e gemer, outras vozes seguiam a dela, porém mais baixas e sem nexo algum. Darvúlia continuou caminhando, e logo a luz da vela iluminou melhor o lugar, era um tipo de jaula fechada. E dentro dela havia cerca de oito ou nove garotas sujas, feridas e nuas que começavam a recuar o máximo possível contra as barras de ferro conforme a criada se aproximava.

O local era imundo e cheio de objetos perigosos, como arames farpados, estacas pontudas, pregos e correntes que estavam espalhados pelo chão. Ao lado da jaula havia uma grande superfície plana, com pontas de metal afiadas e amarras, uma espécie de cama de tortura. Olhei abismada para tudo aquilo, e toda a minha incredulidade não devia chegar nem aos pés do sadismo de Elisabeth. Instintivamente cheguei mais perto, parando logo atrás de Darvúlia que se mantinha imóvel ao observar as pobres garotas.

– Eu não sei quem é você, mas sei que não é dessa época – falou a criada solenemente, olhei ao redor constatando que não havia mais ninguém ali. Ninguém fora da jaula, pelo menos – Posso sentir sua presença.

– Está falando comigo? – arrisquei. Não era possível que ela pudesse me ver ou ouvir, aquilo era apenas uma memória. Mas pelo que eu sabia, essa mulher era uma bruxa, talvez seus dons paranormais estivessem em alerta, afinal.

– Vá embora! – exclamou a criada, virando-se abruptamente para mim, o rosto contorcido de irritação. A chama da vela se expandiu ao mesmo tempo em que eu ouvi o barulho de um raio em contraste com um grito ensurdecedor, e então se apagou. Tudo escureceu e de repente eu estava caindo. Imagens passavam em frente aos meus olhos rapidamente.

– Tu, Elisabeth, és como um animal – sentenciava uma voz grave e autoritária – estás nos últimos meses da tua vida. Não mereces respirar o ar nesta terra, nem ver a luz do Senhor. Irás desaparecer deste mundo e nunca mais irás aparecer. As sombras irão encobrir-te e terás tempo para se arrependeres da tua vida brutal. Condeno-te, Senhora de Csejthe, a seres imprisionada perpetuamente no teu próprio castelo!

A voz foi seguida de um baque de martelo e aplausos, era um tribunal. Homens de preto entraram pela porta e seguraram Elisabeth pelos braços, levando-a pela mesma, a Condessa tinha a expressão fria e inexpressiva. Me virei para trás, e o lugar havia mudado. Dessa vez a garota estava presa em uma cadeira por amarradas de ferro com símbolos estranhos. O cômodo era pequeno e fechado, com apenas uma janela minúscula que mal entrava um raio de sol. Dois homens passaram por mim, ambos trajando vestes de padre, um deles trazia um balde em mãos e o outro pressionava o rosto da Condessa contra a água.

– Fale para qual demônio você trabalha! – urrou o mais velho, com cabelos brancos, enquanto puxava ela pelos cabelos. Elisabeth tossiu, recuperando o fôlego e então começou a rir escandalosamente.

– Eu não obedeço a caçadores! – gritou, e em seguida levou um tapa no rosto do outro padre, que marchou pelo cômodo enquanto colocava um ferro na brasa.

– Mas pode ter certeza que vai – prometeu o mesmo com um sorriso cruel.

Tudo tremeu, e quando eu pude respirar novamente, estava em outra cena. Agora Elisabeth estava dentro de seu castelo, enquanto vários homens cerravam as portas e janelas de um pequeno cubículo.

– Hoje será imprisionada no teu castelo, de onde jamais sairás – dizia um deles, lendo um pedaço de papel em forma de pergaminho. O homem deu uma última olhada para a Condessa que usava um elegante vestido vermelho com uma capa preta por cima e então se virou para sair pelo pequeno buraco que ainda não fora fechado, mas parou no primeiro passo, permanecendo imóvel como uma estátua. E foi aí que eu percebi que todos estavam petrificados.

– Senhora! – chamou Darvúlia se revelando perante uma parede e entrando apressada no cubículo. Elisabeth olhou para todos os homens, arqueando uma sobrancelha.

– O que você fez? – indagou surpresa.

– Segurei-os com um pequeno feitiço que aprendi com minha mãe – revelou a criada com uma careta – Vai embora daqui, não posso segurá-los por muito tempo!

– Por que faria isso por mim, Darvúlia? – questionou Elisabeth, atônita.

– Me salvaste de ser queimada na fogueira, devo-te minha vida, Senhora Elisabeth. Não serás condenada a isso! – disse a criada com um sorriso, enquanto puxava a capa negra da Condessa e colocava sobre si.

– Certo – assentiu a garota, puxando a outra pela mão – Vamos!

– Não, eu tenho que ficar. Assim pensarão que está presa, e nem mesmo caçadores irão persegui-la – ela retirou a mão, empurrando a Condessa pela minúscula abertura do cômodo.

– Darvúlia...

– Vais! – gritou a criada com uma expressão de dor no rosto, como se tentasse segurar algo muito forte, provavelmente o feitiço. Elisabeth saiu correndo pelo corredor apressada, enquanto a criada se encolhia num canto envolta pela capa negra, assim tomando seu lugar e sua sentença.

Corri atrás da Condessa até a parte de fora do castelo. Eu a acompanhava de perto quando num gesto rápido, a mesma se virou dando de cara comigo. Ela encarava o lugar as minhas costas, com uma expressão de alivio e tristeza. Seu rosto e feições totalmente iguais aos meus, era como a sensação de ter um espelho vivo na minha frente. Então houve uma explosão e gritos vinham do castelo, enquanto labaredas altas de fogo começavam a surgir entre os muros.

Assustada, ela foi em direção às árvores, e eu a segui, desviando dos arbustos espinhosos e galhos que vinham de encontro ao meu rosto. Depois de alguns minutos em meio à floresta fechada, nós finalmente saímos em direção à beirada de um precipício. E então a visão que eu tive há algumas semanas veio à tona. Era a mesma, porém agora era totalmente nítida.

Olhei em volta, o céu estava tempestuoso, relâmpagos o iluminavam de cinco em cinco segundos. A mesma cena que eu havia visto. Andei pelo lugar, fitando o mar logo abaixo do despenhadeiro, onde as ondas violentas batiam contra as pedras raivosamente. O ar frio da noite causava uma sensação absurdamente congelante na minha pele, meu coração se apertava cada vez que um trovão rugia no céu, pois eu sabia o final dessa lembrança. Elisabeth olhou para trás de repente, quando um farfalhar de asas se tornou presente.

– Você veio – murmurou com um sorriso – Onde você estava esse tempo todo, Cass?

– No céu – respondeu o anjo brevemente, sem demonstrar emoção.

– Eu desisti, consegui parar tudo isso. – disse rapidamente – Mas acabei sendo presa, você precisa me tirar daqui!

Castiel se aproximou dela vagarosamente, segurando suas mãos e fitando as marcas de ferro quente em seus braços.

– Caçadores? – perguntou com os olhos baixos.

– Dos bem insistentes – murmurou ela, também olhando instintivamente para as marcas escuras na pele pálida.

– Os aldeões colocaram fogo no castelo e em algumas partes da própria aldeia, incentivados por alguns caçadores. Eles não vão parar até que esteja morta, e muitas vidas vão se sacrificar nesse processo – continuou o anjo.

– Darvúlia deu um jeito para que eu pudesse enganá-los, ela se passou por mim, o que não é nada difícil sendo que somos praticamente idênticas – a Condessa sorriu com tristeza.

– Você precisa partir – disse Castiel, ignorando o que ela falava.

– Venha comigo, partiremos agora mesmo.

– Não – ele balançou a cabeça negativamente – O lugar pra onde você vai, eu não posso ir.

– Do que você está falando? – ela franziu a testa, liberando as mãos para segurar seu rosto – O que houve com você?

– Elisabeth... – murmurou e então deixou a lâmina dos anjos deslizar de dentro da manga, a mesma adquirindo um tom de dourado instantaneamente assim que ele a segurou firme – Eu sinto muito.

Num único movimento Castiel apontou o objeto para o peito da garota e a puxou contra si, fazendo-o perfurá-la. O sangue escorria pelo tecido vermelho do vestido, causando uma grande mancha que se espalhava rapidamente. Curvei-me para frente, com as mãos sob o ferimento que não existia em mim, mas doía ácido e profundo. Elisabeth cambaleou para o lado, sendo apoiada pelo anjo, que segurava seu braço, ela tentava falar, mas não conseguia proferir nenhuma palavra enquanto engasgava no próprio sangue.

O vento quente que vinha da cidade em chamas balançava o cabelo desprendido dela contra seu rosto, e Castiel encarava o penhasco abaixo de si inexpressivo. Então em apenas um gesto ele apertou a mão com violência e a arrastou até a beirada, os olhos ardendo com um brilho desconhecido e fugaz, e jogou-a de lá, precipício abaixo.

Senti meu próprio corpo cair contra o vento rapidamente, e a sensação era aterrorizante. A voz de Elisabeth ecoava na minha cabeça tão alto que era impossível de ouvir meus próprios pensamentos. Porque não me salva? Porque fez isso? Por favor, não... Eu amo você. Com um baque sólido, eu atingi as pedras, mas ao invés de dor, eu sentia um torpor tomar conta de mim. A água do mar estava congelante e raivosa, jogando meu corpo para todos os lados e tomando conta do meu pulmão. Pingos mornos e grossos de chuva caiam no meu rosto enquanto fechava os olhos lentamente, e a última coisa que vi foi um anjo na beira do precipício, olhando para baixo com os olhos marejados e melancólicos. Os relâmpagos iluminavam-no, e segundos antes de apagar eu pude vislumbrar a sombra de um par de asas negras.

Com um grito preso na garganta, eu me joguei para trás, caindo sentada no chão. Minhas emoções estavam totalmente abaladas e confusas, a dor no meu peito ainda ardia juntamente com meus olhos tomados pelas lágrimas. Sam e Dean estavam perplexos, juntamente com todos no local. Mas a única pessoa que eu fitava no momento era Castiel, que ainda estava no mesmo lugar, petrificado e me encarando com uma expressão indecifrável.


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Notas finais do capítulo

Uma história de amor bem conturbada, não acham? Talvez ele não seja o amor da vida dela, e sim seu carrasco. No próximo capítulo tudo será explicado, inclusive o que a Esther (e Elisabeth) realmente são.
PS: Como essa história aconteceu no passado, Castiel não usava a casca do Jimmy (pois ele nem havia nascido ainda) e eu imaginei ele nessa época como o Damon, de The vampire diaries. Por isso a capa. Próximo capítulo entre três ou cinco dias, babies. Um beijo em cada uma!



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