Separate Ways - Requiem escrita por WofWinchester


Capítulo 13
Promessa


Notas iniciais do capítulo

Olá bbs da tia Mills! -q. Nesse capítulo teremos a entrada (triunfal) de um personagem que eu particularmente adoro... Agora, sem mais delongas, espero que gostem!



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Ficamos na estrada por algumas horas, enquanto a chuva começava e voltava a desaparecer novamente. Através de Sam, eu acabei descobrindo que estávamos na cidade de Jacksonville, à cerca de 913.75km e quase nove horas de Sioux Falls. Logo, seria uma longa viagem.

Dean recobrou sua mentalidade nesse meio tempo e quase surtou quando percebeu que tinha jogado o Impala de cima do morro, e muito mais quando descobriu que ele havia sido pilotado pela gangue do mal. Digo, ele quase chorou enquanto acariciava o painel do veículo e fazia juras de amor ao "bebê".

Já eram quase dez horas da noite, eu estava exausta e morrendo de fome. Tudo que eu queria agora era um cheesburguer, um banho e uma cama. Todos nós queríamos. O Winchester mais velho então sugeriu que passássemos a noite num hotel que havia perto do Kansas, o único em mais de 100km de árvores e mato. E ao chegarmos, eu fiz minha primeira constatação: Não diria que era bem um "hotel" e sim uma estalagem de beira de estrada caindo aos pedaços. O prédio de dois andares não era muito grande, de tijolos a vista e uma pintura descascada nas cores laranja e amarelo. Uma placa escrita com tinta preta em letras de forma dizia "Hotel azul", embora não houvesse nada azul ali.

Dean estacionou o Impala logo ao lado do prédio, enquanto Sam e eu tiramos algumas bolsas do porta malas.

– Acho que hoje não é o meu dia de sorte e algum de vocês estocou peças de roupas femininas em alguma dessas malas, não é? - perguntei, já que havia revirado o carro e não encontrei minhas roupas casuais que eu havia trocado. Apenas a calça jeans estava socada no assoalho, perto do banco traseiro.

– Minhas roupas te esperam - prometeu Dean com um sorriso.

– É, suas roupas me amam - sorri sarcástica.

– E agora com licença, quem vai se trocar sou eu. Não vou entrar lá dentro assim. - ele apontou para o próprio peito, insinuando as roupas de cowboy - Podem ir na frente - disse catando algumas peças e indo para dentro do Impala.

Entramos no lugar, e a música era alta. O cheiro de cigarro e cerveja pairava no ar, juntamente com a fumaça acinzentada. As paredes eram de alvenaria, com reboco em algumas partes. Haviam várias mesas e cadeiras rústicas, com homens mal encarados sentados nelas, alguns com belas mulheres sorridentes de lingerie. As janelas eram grandes e sujas de poeira, a escada de cimento ficava no fundo do cômodo de frente para um corredor pouco iluminado. Sam e eu nos entreolhamos desconfortáveis e seguimos até o balcão. Uma prateleira lotada de bebidas enfeitava a parede atrás dele.

– Olá - disse uma mulher morena, de pele bronzeada e sorriso malicioso. Apenas para Sam, eu fui ignorada igual cachorro pobre. Ela aparentava uns quarenta anos de idade ou mais, e tinha sardas no rosto. Apertei os olhos, jogando a mala pesada em cima na superfície onde ela estava apoiada. A mulher me encarou e então eu sorri, cínica.

– Dois quartos, por favor - pedi. Ela já estava começando a formar uma carranca, mas quando ouviu "dois quartos", tratou de colocar um sorriso no rosto.

– Olá, Wanda - anunciou Dean, passando pela porta e se escorando no balcão - Um pra nós e o outro pra nossa - ele se virou para mim - prima. De preferência um ao lado do outro.

– Todos os quartos estão meio ocupados agora. Se é que você me entende – ela piscou - Mas a meia noite é o nosso toque de recolher, aí vocês poderão descansar.

– Esse barulho é a noite toda? - se intrometeu Sam, se referindo a música.

– Não, querido, ela acaba às onze horas. - a mulher colocou a palma sob a mão do moreno, dando um sorriso e em seguida lambendo o lábio inferior. Ele se afastou, sem graça e então fuzilou Dean com o olhar - Podem se sentar, bebidas por conta da casa!

– Obrigada - agradeceu o loiro, se afastando do balcão.

Nos acomodamos numa mesa no canto, ao lado da escada e na frente do corredor mal iluminado que tinha duas portas, provavelmente banheiros. Sam largou as malas no chão e então Wanda se aproximou trazendo três cervejas.

– Apreciem - ela colocou a mão no ombro do caçula, enquanto lançava olhares insinuosos - sem moderação.

– Me sinto um filé com pernas no meio do canil - murmurou ele, assim que a mulher se afastou.

– Relaxa, Sammy - tranquilizou Dean, enquanto estendia a mão para pegar uma das garrafas - o máximo que pode acontecer é ela entrar no seu quarto de madrugada.

– Isso é assustador - o moreno arregalou os olhos, provavelmente imaginando a cena.

– Ela não é tão ruim quanto parece - assegurou o loiro. Franzi a testa e então olhei pro caçula, ele tinha a mesma expressão que eu naquele momento.

– Eca, Dean - dissemos com uma surpresa quase tangível, abafando algumas risadas. O mais velho deu de ombros, tomando um gole da cerveja.

O cheiro da fumaça fazia cócegas no meu nariz, tentei respirar pela boca, mas era pior, dava pra sentir o gosto. Grunhi de insatisfação enquanto olhava pela janela. Alguns carros e caminhões passavam pela estrada que estava quase encoberta pelas árvores na frente do hotel, as nuvens cinzentas haviam perdido um pouco a densidade, mas o céu permanecia tempestuoso. Provavelmente choveria por mais alguns dias, já que o outono se aproximava. Eu sentia que minha mente não estava ali, não totalmente. Ela pairava em algum lugar distante, confusa e perdida.

– Você não bebe? - perguntou Dean com os lábios levemente curvados para cima, me tirando das minhas constatações climáticas e pessoais.

– Não - respondi vagamente. O máximo que eu havia tomado uma vez foi um gole de vinho na sexta-feira santa, escondido dos meus tios.

– Não tem curiosidade de experimentar? - ele sorriu, insinuando a garrafa que estava no centro da mesa na minha direção.

– Na verdade, não - balancei a cabeça negativamente, torcendo o nariz.

– Qual é, todo mundo precisa pelo menos tomar uma cerveja nessa vida - argumentou, dando um gole pra enfatizar.

– Dean, não desvirtue a garota - repreendeu Sam, ao mesmo tempo em que o irmão deu de ombros e murmurou algo que eu não entendi. Ao olhar pelo seu ombro, notei que o cara sentado na mesa de trás estava no maior dos amassos com uma garota loira de lingerie roxa. Ela estava sentada no colo dele, de pernas abertas, enquanto beijava seu pescoço. Eles estavam praticamente transando. Desviei os olhos quando ela percebeu minha expressão desconfortável. Eu não tinha como reclamar, nós estávamos num bordel afinal, eu era a intrusa aqui.

– Como se você fosse santinho, né Sammy - debochou Dean.

– Cala a boca, jerk– rebateu o moreno.

– Cala você, bitch– devolveu o loiro.

– Calem-se os dois - exclamei com expressão de tédio, espalmando as mãos na mesa. A garota da lingerie mantinha os olhos fixos em mim, de um jeito malicioso malicioso, e então passou a língua pelos lábios. Mas que droga...

– Vamos lá, Esther - Dean se inclinou pra mim, empurrando a garrafa sugestivamente na minha direção - Um gole e eu não encho mais o saco.

– Você sempre enche o saco – enfatizei, e cedendo, tomei um gole da cerveja. Senti o líquido descer amargo pela garganta, o que me fez fazer uma careta de quem chupou limão. Os irmãos começaram a rir da minha cara – Eca! Feliz?

– Mais ou menos – concordou o loiro. Revirei os olhos.

– Você parece uma criança, sabia?

– Quem fede a leite aqui é você, não se esqueça - repreendeu ele, divertido. Abri a boca indignada.

– Cara, ela trocou suas fraldas, não se esqueça - comentou Sam, arqueando as sobrancelhas com ar triunfante. Dean apertou os olhos, ficando sem resposta.

– Tuchê, Winchester - sorri e apontei o indicador na direção dele, fazendo uma arma imaginária com as mãos, imitando um tiro e soprando o polegar em seguida.

Eles começaram a discutir coisas sem sentido, então eu dei uma observada pelo lugar. Foi aí que uma cena em particular chamou minha atenção. Perto do balcão onde Wanda servia bebidas, três homens conversavam entre si. Eles estavam bem arrumados para os parâmetros do hotel e suas expressões eram sérias, e não descontraídas como todos os outros no recinto. Logo um deles percebeu meu olhar e alertou os amigos que então começaram a fazer sinais maliciosos. Desviei a atenção, e fitei o visor do meu celular, não faltava muito para desocuparem os quartos, mas eu não queria continuar ali com aquele bando de gente se comendo. Sam e Dean eram meio que acostumados com isso, eu não.

– Que cara feia, quer um docinho? – brincou o loiro, notando meu desconforto.

– Vai se catar - xinguei-o por cima do ombro. Sam me deu uma olhada e arqueou as sobrancelhas como se dissesse "eu também estou".

– Preciso ir no banheiro - anunciou o moreno em seguida, levantando-se da cadeira.

– Cuidado com a Wanda, ela morde– avisou Dean dando uma risada sonora. O irmão fez uma careta sarcástica e seguiu em direção ao corredor mal iluminado.

Uma garota de cabelos castanhos e lingerie vermelha passou pela nossa mesa, lançando olhares maliciosos para o Winchester e subiu a escada.

– Eu já volto, não saia daqui - avisou ele, enquanto seguia atrás do rabo de saia. Girei na cadeira para acompanhá-lo pelas costas, incrédula com a cena que presenciei. Cara, se você quiser um favor do Dean, qualquer coisa, fique nua e vai conseguir.

– Homens - murmurei por fim, recostando a cabeça na parede ao lado da janela.

Minha mente estava um turbilhão, e eu nem sabia por onde começar a dissecar as coisas. Tudo o que eu realmente sabia era que se eu pudesse voltar no tempo, não teria saído do quarto naquela noite, não teria achado aquele cemitério maldito, e talvez se pudesse mudar apenas isso, eu ainda teria minha vida normal e pacata. Teria meus tios, Daniel e quem sabe, um futuro. Mas essa era a verdade ou a verdade que eu queria acreditar?

Por mais que eu dissesse pra mim mesma que eu não queria essa vida, parte de mim começava a acreditar que isso fazia parte de mim agora, mas de um modo diferente. Digamos que eu finalmente estava tendo alguma noção sobre família. De uma estranha forma, parte de mim estava começando a se apegar demais no jeito idiota do Dean, no jeito compreensivo do Sam, no jeito rabugento e sarcástico do Bobby, e mais ainda no jeito protetor de Castiel. E isso me dava medo. Pois eu sabia que algum dia toda essa merda sobrenatural que invadiu a minha vida ia acabar, seja morrendo ou conseguindo me livrar. E cada uma ia seguir por um caminho diferente, e isso ia doer pra caramba, pelo menos pra mim.

Senti meus olhos marejarem um pouco e não pude deixar de sorrir e pensar como eu era idiota, sensível, idiota e idiota. A única coisa que eu queria agora era encontrar o maldito sádico filho da mãe que anda por aí escrevendo o destino das pessoas. Primeiramente eu o abraçaria, e depois eu daria um soco bem no meio da cara dele.

– Voltei – disse a voz de Dean, me despertando dos devaneios existenciais. Esfreguei os olhos, me livrando de qualquer crise de choro que pudesse estar evidente por ali. Ele se sentou novamente na mesa.

– Essa foi rápida – constatei, virando a cabeça de lado para encará-lo.

– Ela pediu o cartão e eu vazei - explicou ele, tomando o último gole da cerveja. Comecei a rir imaginando a cena no mínimo, hilária - Olhando as estrelas?

– Não tem estrelas - disse vagamente.

– Só porque você não pode ver, não significa que não estejam lá – o loiro inclinou a cabeça também, imitando a minha posição. Ficamos alguns segundos em silêncio, então ele suspirou – Precisamos conversar.

– Sobre?

– Sobre o que aconteceu hoje. Você exterminando bruxas– seu tom era repreensor, porém tinha um "quê" de culpa. Suspirei também, a última coisa que eu precisava agora era de um sermão, mesmo que fosse bem intencionado.

– Eu não me ofereci pra vir, se é o que você está pensando. - gesticulei com as mãos em frente ao corpo - Mas no momento em que percebi que era a única chance de manter vocês dois cabeças ocas vivos, eu fiz. - admiti baixo o suficiente para duvidar que ele tenha entendido. O som da música dentro do hotel ressoava nos meus ouvidos.

– Não é sua obrigação cuidar da gente, mas é a nossa cuidar de você - falou como se fosse uma lei mundial e tivesse sido escrita em alguma pedra sagrada.

– Por quê? Ao menos somos parentes, Dean - constatei, notando suas feições endurecerem, quase como se eu o ofendesse.

– Família é mais do que laços de sangue. - murmurou ele depois de alguns segundos.

– Certo - concordei, sorrindo de lado - Então é minha obrigação cuidar de vocês também.

– Não é...

– Não vá se contradizer agora, senhor Winchester – interrompi, tentando acabar com aquela conversa e colocá-la de um jeito mais divertido, mas ele continuava sério. Dean me fitou por vários segundos antes de continuar.

– Você não sabe o quão desesperado eu fiquei quando “acordei” naquele carro e o Sam me disse que você estava dentro daquela escola com a bruxa. - ele sacudiu a cabeça, apertando os lábios. O tom adquirindo uma morbidez quase tangível, o mesmo que Castiel havia usado quando tentara me convencer a não entrar no prédio - Pensei que estivesse morta.

– Mas eu não estou. - murmurei abrindo os braços e gesticulando para mim mesma - Eu sei que você se culpa a maioria do tempo por tudo que acontece a sua volta, as pessoas que acabam morrendo, os amigos que você perdeu, mas não é bem assim, Dean. As pessoas fazem suas próprias escolhas, e às vezes elas escolhem lutar por vocês.

– Eu não quero que você faça as escolhas erradas, principalmente as que vão te matar - disse forçando um sorriso sarcástico. Abri a boca pra formular um argumento, mas então percebi que não era bem esse ponto que ele se preocupava de verdade. Apertei os olhos.

– Eu não pretendo ser caçadora, acredite em mim, seria uma péssima ideia e um desastre eminente. - comecei sendo totalmente realista e sincera - Eu só quero que isso tudo acabe e eu possa ter uma vida normal, se é que isso seja possível. Não vou entrar de cabeça nesse lance de sobrenatural, mas no momento em que eu ganhei isso – levantei o braço, mostrando a tatuagem antipossessão na mão esquerda – é óbvio que foi por uma razão. Eu preciso me defender.

– Nós vamos proteger você. Eu, o Sammy, o Cass, o Bobby - garantiu o loiro, gesticulando com as mãos em frente ao corpo.

– Eu sei, mas preciso aprender a me proteger sozinha, e a lutar sozinha se for preciso. - afirmei, vendo-o fechar os olhos a contragosto - E eu quero que saiba que eu não me arrependo de ter entrado naquela escola, eu faria de novo e de novo. - ele me observou com os olhos baixos, e então abriu a boca pra falar alguma coisa que não saiu.

– Você é teimosa, e cabeça dura. - disse por fim.

– Você também é - rebati, cruzando os braços. Dean olhou para a janela e então me lançou um olhar curioso.

– Então o mínimo que posso fazer é te ensinar o melhor que eu sei – ele sorriu, e eu sabia que essa não era uma escolha dele e sim das circunstâncias. Por mais que quisesse me proteger, ele tinha pleno conhecimento que eu precisava aprender pelo menos a me defender sozinha. O Winchester se inclinou sobre a mesa e agarrou minhas mãos, apertando-as gentilmente – Eu não quero perder você também.

– Não vai, eu prometo – garanti encarando-o. Levantei o braço, fechando os dedos e deixando apenas o mindinho. O loiro fez uma cara de surpresa.

– Sério? Isso é tão quarta série – ele rolou os olhos, mas imitou o meu gesto. Aproximamos as mãos e enlaçamos os dedos como as crianças fazem, e logo caímos na gargalhada por vários segundos.

– Eu vou no banheiro por minutos e quando volto vejo todo esse sentimentalismo barato, qual é - debochou Sam, enquanto puxava a cadeira pra se sentar.

– Demorou hein, achei que tivesse se afogado no vaso - comentei.

– Ou que a Wanda tivesse te amarrado e estivesse brincando de S&M - disse Dean, sarcástico.

– Vão a merda - o moreno rolou com olhos, contendo um sorriso.

– Certo, voltando ao assunto - começou o loiro - Como você matou matou a bruxa afinal? O Sammy disse que ela era da linhagem pura de Salém, e ninguém jamais matou uma dessas.

– Bom, foi um lance estranho - mordi o lábio, me lembrando rapidamente dos acontecimentos - eu não matei - admiti em seguida. Dean arregalou os olhos.

Como é? – disseram os irmãos em uníssono, se sobressaltando na cadeira. Abanei as mãos em frente ao corpo, pedindo calma.

– Lembra quando entramos no covil do Crowley? - perguntei rapidamente.

– E como eu poderia esquecer... - o loiro fez um grunhido de desgosto.

– Eu tive um surto, vi coisas, e o Castiel disse que isso fazia parte do meu poder – fiz aspas com os dedos. Observei seus olhares apreensivos e continuei - Então... Eu acho que esse poder traga coisas, mas apenas coisas ruins. Como sentimentos de dor, culpa, ódio. O que aconteceu lá foi que Agatha estava dominada por eles, e eu absorvi tudo.

– Você absorveu? - perguntou Sam, incrédulo.

– De alguma forma eu limpei ela das coisas negativas. - fiz uma careta - Eu não sei explicar bem.

– Mas isso é...

– Estranho demais até pra gente - concordou Dean, meio boquiaberto.

– A parte ruim é que eu quase enlouqueço quando isso acontece... - continuei, sentindo meu tom de voz decrescer conforme eu me lembrava das imagens aterrorizantes que eu revivi através das memórias da bruxa - Se não fosse o Castiel, talvez eu tivesse pirado de vez.

– Ele te puxou de volta, como da última vez - constatou Sam - Mas e o octeto, ele meio que bloqueia essas visões, então por quê?

– Sim, ele bloqueia - admiti encarando o objeto - Mas Agatha, de alguma forma, percebeu isso e o tirou de mim.

– Certo, espera um pouco! - exclamou Dean, aturdido - Mas por que só agora? Digo, dezessete anos depois você começa a surtar.

– Eu não sei. - falei com um suspiro - As vezes eu tenho a impressão de que eu acordei alguma coisa naquele cemitério aquela noite, e isso desencadeou uma série de acontecimentos.

– Mas nós investigamos tudo sobre aquela Catherine Lisenbroder, e não há nenhum registro de sobrenatural na vida dela ou da árvore genealógica. - revelou Sam.

– Talvez fosse apenas um álibi pra esconder algo - considerou o irmão.

– O amuleto? - indagou o moreno.

– Ou... - senti minha garganta secar. Pela primeira vez eu estava considerando isso, e o fato era aterrorizante - o corpo de Elisabeth Bathory.

Nos encaramos em silêncio por um momento.

– Qual é, isso é misticismo - desdenhou Dean.

– A gente lida com misticismo, Dean. - constatou Sam.

– É que esse lance de reencarnação é tão... surreal.

– O fato é que as coisas estão interligadas. - continuou o caçula - Esther, o amuleto e Elisabeth. Talvez esteja na hora de considerarmos a possibilidade de você realmente ser a reencarnação da Condessa de sangue...

– Eu não quero considerar isso! - interrompi com certa rispidez, apenas considerar uma coisa dessas me assustava. - As coisas que ela fez, as pessoas que ela matou, o jeito cruel... Só o nome dela me dá arrepios! Você deve ter pesquisado a vida dessa mulher, Sam, você sabe do que eu estou falando.

– Eu sei - admitiu ele baixinho - Mas nós precisamos descobrir o que ela tem a ver com tudo isso. E está mais do que na hora de nos aprofundarmos mais nessa história.

– O que você sugere? - indaguei.

– Procurar um médium.

– Boa sorte em encontrar um que não seja charlatão - comentou o Winchester mais velho.

– Dean, não tá ajudando - repreendeu Sam, estreitando os olhos.

– Eu só acho que nós devíamos nos preocupar mais com os demônios e anjos no pé da Esther e menos com uma mulher morta sabe-se-lá-de-onde– exclamou o loiro, estendendo as mãos sobre a mesa.

– E o que você sugere? - questionou o caçula, olhando pra cima, como se buscasse paciência - Cair em cima do Raphael? Você sabe que a gente não tem nada, não é? Nadinha mesmo sobre o que a Esther é, ou sobre esse poder, o lance do guardião, nada.

– Ok, Sammy, você venceu - anunciou Dean com uma expressão divertida e forçada, enquanto se levantava com a garrafa vazia de cerveja na mão - Saindo daqui vamos direto achar um médium e cutucar a morta - dizendo isso, ele virou as costas e foi até o balcão.

Sam e eu nos entreolhamos, ele colocou a mão sobre a minha, apertando de leve.

– Vamos dar um jeito - murmurou, e então arregalou os olhos no momento em que Wanda apareceu atrás dele, colocando as mãos em seus ombros, simulando uma massagem.

– Você parece tão desanimado, Sammy– disse a mulher num tom sexy. Me controlei para não rir, enquanto o Winchester tinha uma expressão de pânico no rosto. Pelo seu ombro eu encarei Dean, que piscou em direção a cena, enquanto bebericava uma cerveja.

– Bom, eu vou tomar um banho - avisei, levantando da mesa - Divirtam-se, sem moderação– enfatizei, enquanto me afastava.

Catei uma camiseta preta na mala do Dean e me dirigi ao banheiro do lugar, um cômodo pequeno, mas limpo. O chuveiro era suspenso por uma barra de ferro que não me passava muita segurança, mas pelo menos ele estava funcionando. Esfreguei bem as manchas de sangue sob as feridas que não existiam mais e sentei no chão, deixando a água escorrer pela nuca e pelas costas.

Fechei o chuveiro e me sequei com a toalha felpuda, colocando a calça jeans que eu estava antes de vestir o uniforme de "agente do FBI". Analisei a camiseta preta de mangas compridas que Dean me emprestara, pensando num jeito de deixá-la mais feminina.

– Olá - disse uma voz feminina. Me virei assustada, deixando a camiseta cair no chão úmido. A garota da lingerie roxa estava dentro do banheiro com um sorriso cínico na cara.

– O que você está fazendo? - indaguei, enquanto me abaixava para pegar a roupa rapidamente e vesti-la.

– Usando o banheiro - falou displicente, se aproximando. Recuei contornando a parede, ela girou o corpo pra me acompanhar, ficando em frente a pia.

– Então eu vou sair - apontei pra porta - e deixar você a vontade - tentei alcançar a maçaneta, porém a loira me empurrou contra a parede com força.

– Eu gostei de você, eu quero você - falou num tom sensual demais pro meu gosto.

– Olha, você é bonitinha e tudo mais, só que não é bem a minha praia, entende? - disse tentando afastá-la. A garota então me encarou inexpressiva, dando um sorriso felino, em seguida seus olhos ficaram negros. Fiquei boquiaberta, ela era um demônio.

– Tá me dispensando, bebê? - indagou retórica enquanto enfiava a mão no meu cabelo e me jogava de costas contra a pia. A louça quebrou, fazendo um ruído que ninguém deve ter ouvido por causa da música alta. Me arrastei até o box, vendo a loira puxar uma faca da bota e caminhar na minha direção.

– As ordens são para não machucar você, mas acho que dá pra consertar depois - comentou, investindo pra cima. Puxei a barra de ferro que segurava o chuveiro e acertei-a diretamente na cabeça. A garota caiu para o lado atordoada. Fiquei de pé e corri em direção a porta, mas ela me deu uma rasteira e então montou em cima de mim, com as mãos no meu pescoço. - Eu vou te cortar todinha! - prometeu.

Senti minha traqueia ser forçada pra dentro enquanto o ar começava a faltar. Então os olhos da demônia se iluminaram num tom alaranjado, e pegaram fogo em seguida. Seu corpo caiu em cima de mim e eu me afastei, tossindo e puxando o oxigênio novamente para os pulmões. Castiel estava logo a minha frente.

– Sempre na hora certa, você merece flores! - agradeci com as mãos na garganta.

– Precisamos sair daqui, está infestado de demônios - disse gravemente, me ajudando a levantar e se virou para porta, colocando a mão na maçaneta, mas a mesma foi escancarada com um chute. Uma mulher ruiva de calça jeans e olhos negros nos observava com um sorriso sarcástico. Mas o que virou isso aqui? A assembleia das demônias vadias revoltadas?

– Achei a garota! - gritou. E então houve uma sequência de ruídos que vinham diretamente do bar. Janelas se espatifando, pessoas gritando, coisas sendo arremessadas, tiros. A ruiva avançou na minha direção, mas foi interceptada por Castiel, que colocou a mão em sua cabeça. Seus olhos se iluminaram e então a garota teve as órbitas queimadas, caindo no chão sem vida. O anjo me puxou pelo cotovelo, me mantendo estrategicamente atrás dele enquanto andávamos pelo corredor. Outro demônio veio em nossa direção, eu me encolhi e Castiel fez o mesmo que fizera com a ruiva. Passamos por cima do corpo e eu avistei Sam atirando a queima roupa em um homem de cabelos grisalhos e Dean em cima da escada, tentando soltar o pé que um demônio não queria largar.

– Me solta, desgraça! - gritou sacudindo a perna, enquanto atirava na cabeça. Eles revezavam a faca para poder matá-los e os mantinham longe com as armas. Uma corja de olhos negros invadia o lugar, enquanto algumas poucas pessoas se atropelavam pra sair pela porta. Fiquei contra a parede, Castiel ficou na minha frente de costas para mim, quatro demônios avançaram de diversas direções. O anjo puxou a lâmina prateada, atingindo o primeiro diretamente no estômago enquanto segurava o segundo e queimava suas órbitas. O terceiro veio e eu me esquivei por baixo de seu braço, correndo escada acima onde Dean disparava vários tiros e cobria Sam.

– Como isso aconteceu? - indaguei horrorizada.

– Do nada a maioria das pessoas foram possuídas, ou já estavam. Caímos numa armadilha! - gritou o loiro.

Mais demônios apareceram, Castiel subiu alguns degraus enquanto vários pares de olhos pretos nos encurralavam. Por cima eu contava mais de trinta.

– Alguém tem últimas palavras?

– Se eu sair dessa não assisto pornô por um ano! - exclamou Dean. E então algo aconteceu, todos os demônios do lugar expeliram uma fumaça negra e seus corpos caíram no chão, desacordados. Eu segurei a respiração por um momento antes de expirar aliviada.

– Mas que... - começou Sam, mas sua voz foi cortada por um som de palmas que veio da porta. Uma mulher negra estava parada, enquanto cinco homens de terno entravam e enfileiravam-se próximos a ela.

Raphael.

Senti minhas mãos e as extremidades do meu corpo congelarem, meu coração disparou entrando em desespero.

– Vejo que adoraram o presentinho que eu mandei. - ele deu uma pausa, avaliando nossos olhares de pânico - Sim, fui eu que mandei espalhar para os demônios onde vocês estavam. E lógico que eles queriam matar as saudades. - falou com a voz feminina, puxando os cantos da boca num quase sorriso de satisfação.

– Raphael... - murmurou Sam.

– Não fiquem surpresos. Acharam mesmo que eu não ia encontrá-los? Vocês podem ter o cunho enoquiano, mas eu tenho minhas fontes. - ele caminhou em direção a escada e então passou os olhos por cada um de nós, parando por último em Castiel - Irmão. É um desprazer revê-lo. - o anjo caiu de joelhos em frente a Raphael, tossindo gotas grossas de sangue que pingavam no chão. Dei um passo em direção à ele, mas Dean estendeu o braço a minha frente, impedindo a passagem.

– Esther, há quanto tempo. - cumprimentou ele - Você fugiu de mim na nossa última "confraternização", não tivemos tempo de conversar como deveríamos. - disse, enquanto três anjos marchavam em direção a Castiel, segurando-o pelos braços e pela nuca, ele não parava de tossir e engasgar.

– Por favor, o que quer que esteja fazendo, pare! - pedi com a voz elevada.

– Oh, você se preocupa com seu guardião. Que meigo– sibilou o arcanjo em tom sarcástico. - Mas sinto em dizer que Castiel é uma peça inconveniente no meu tabuleiro.

– Se fizer alguma coisa com ele eu mesma vou cortar sua cabeça, seu travesti de merda! - exclamei trincando os dentes. Raphael apertou os olhos, me fitando por vários segundos, e em seguida se virou para seus capangas.

– Matem-no - ordenou.

– Não! - gritamos eu, Dean e Sam ao mesmo tempo, enquanto um dos anjos puxava a lâmina prateada. Tanto eu quanto os Winchester nos mobilizamos, no intuito de qualquer coisa que impedisse Raphael de matar Castiel.

Eu já estava no pé da escada quando uma luz forte me cegou, a última coisa que vi foi quando o anjo girou a cabeça de lado para me olhar, a lâmina estava a centímetros do pescoço dele, e então o mesmo fechou os olhos com força. Nessa hora eu temi pelo pior.

Quando pude adaptar minha visão novamente, todos os anjos no local haviam sumido. Pulei o olhar de Sam para Dean, encontrando expressões de confusão e desespero. Minha surpresa foi instantânea ao fitar a porta e ver uma figura desconhecida. Um homem de blazer, cabelos loiros bagunçados, olhos azuis cinzentos e uma expressão divertida. Ele afastava a mão de um símbolo feito com sangue na parede.

– Balthazar - sussurrou Dean, incrédulo.

– Olá rapazes - falou o homem com um sorriso.


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Notas finais do capítulo

O que será que o Balthazar quer? O que aconteceu com o Cass? Será que ele tá bem?



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