Depois da chuva. escrita por Bolengo


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Essa fic é um presente à leitora Gabriela Kastell a qual eu vivo traumatizando com minhas estórias sem finais felizes. Capa feita pela Lovely



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O horizonte alaranjado escureceu repentinamente, raios luminosos se alastravam pelas nuvens acinzentadas culminando em estrondos ensurdecedores, precisava apressar-se, uma bela tempestade estava a caminho.

Ele arfava pesadamente enquanto saltava em outro galho, suas sandálias vez ou outra deslizava no limbo escorregadio das arvores ,sentiu os primeiros pingos gelados baterem contra seu rosto.

Maldita chuva.

Sasuke não gostava de coisas adocicadas, nunca gostou de nada que lhe arremetesse a doçura, delicadeza. Fragilidade era sinônimo de fraqueza e um Uchiha orgulhoso não poderia ter empatia por algo sem força.

Suas mãos ásperas, seu raciocínio lógico não foram talhados para perderem tempo com amenidades, estava destinado à grandeza.

Não gostava da cor rosa também.

De todos os matizes existentes a cor rosa era a que menos gostava, preferia o vermelho vivo, cor de sangue, da paixão, cor de seu Kekkei genkai, o rosa era um vermelho tímido, desbotado, descolorido, sem cor, sem força.

Sakura tinha os cabelos de um rosa exótico, não que ele tivesse algo contra certas excentricidades, mas rosa era feminino demais, meloso demais e Sasuke odiava coisas adocicadas e frágeis.

Não, ele não odiava Sakura Haruno, na verdade ele quase nem a notava lembrava-se dela apenas nas vezes em que ela vinha aporrinha-lo com suas futilidades amorosas.

Aos olhos dele ela sempre foi fraca, fútil, praticamente um peso morto que ele e os outros eram obrigados a carregar, desde os tempos da academia, nunca seria digna que carregar um sobrenome tão imponente.

Não, ela nunca seria uma Uchiha.

O que mudou?

Tudo diria.

Agora ele corria desesperadamente de baixo de uma chuva torrencial para ver a pessoa que sempre o via pelas costas, a pessoa que ele fazia questão de deixar para trás.

Queria fazer um jiujutsu, queria que o tempo parasse, deixasse de existir, que a areia cessasse de cair na ampulheta, que tudo ficasse congelado no tempo no espaço, maldito sharingan o cegava para as coisas simples da vida.

Não, ela não se tornou a mais forte, apesar de ter sido treinada arduamente pela Tsunade, nem a mais inteligente, certamente foi a mais persistente, teimosa.

O que mudou?

Tudo diria.

Ela o salvou.

Graças às ironias do destino o poderoso Uchiha foi salvo por uma criatura que ele sempre considerou fraca, sei que deve estar imaginando que ela usou suas habilidades de kunoichi para sanar as feridas dele após uma batalha sangrenta, não, não foi assim que aconteceu.

Como aconteceu?

Parece que foi ontem, talvez tenha sido ontem, ou semana passada, quem sabe.

A algazarra das crianças brincando no parque chegava até Sasuke como ondas, diminuíam e aumentavam os decibéis gradativamente, ele bufou irritado como sempre fazia todas as vezes que Naruto tentava arquitetar um encontro romântico entre ele e a Haruno, ainda mais depois do pequeno deslize, culpa dos saques extras que Kakashi o obrigou a tomar algumas semanas atrás.

Iria desculpar-se com Sakura, faria isso em nome da amizade que tinha com o Uzumaki, àquele baka era um romântico incurável, não achava necessário se desculpar com a Haruno, afinal ela era adulta e ambos estavam levemente alcoolizados, e sexo casual é algo normal entre adultos.

Ela estava atrasada, e Sasuke odiava esperar, e odiava coisas adocicadas e adiava o rosa, Sakura caminhava calmamente entre as crianças, vinha em sua direção sem pressa alguma, estava sem seu uniforme ninja, vê-la em roupas civis era no mínimo estranho, ela sorria calidamente, não havia nada de especial nela, o mesmo corpo franzino sem curvas, os cabelos exóticos assimétricos, os mesmos olhos verdes, tudo igual, a não ser...

Seu sharingan foi ativado.

Um pequeno ponto de chakra no baixo ventre de Sakura, um não, na verdade eram dois.

Seu sharingan estava com defeito, impossível.

Sasuke percebeu que estava segurando o ar, e que não havia respondido ao cumprimento de Sakura, seus olhos voltaram à cor natural, o ônix, suas mãos foram em direção ao abdome dela.

–Você?

Ele ficou imóvel, na mesma posição por segundos, minutos. Quem sabe?

As palavras fugiram, todo seu vasto dicionário evaporou a inteligência Uchiha sempre tão aclamada, dessa vez não fez jus a sua fama, Sasuke não conseguia raciocinar com clareza.

– Sinto muito. "Respondeu" ela se afastando.

Ele sempre quis restaurar seu clã, impor o orgulho Uchiha novamente em Konoha, mas, Sakura, nunca foi uma de suas possíveis esposas, ele buscava alguém forte o suficiente para suportar o peso do brasão Uchiha, destemida, corajosa, uma guerreira habilidosa, qualidades que a Haruno não possuía, Sakura era adocicada demais, frágil demais e rosa demais.

E Sasuke não gosta de coisas adocicadas e nem de rosa.

– Sente? "Inquiriu" surpreso.

Foi assim, ou mais ou menos assim. Quem sabe? Não importa como aconteceu, nem por que, aconteceu e ponto, é um fato.

Sakura certamente teria outra versão dos fatos, diria que seu amor por Sasuke foi consumado em uma noite fria de outono, enquanto as estrelas cintilavam no céu sob a luz do luar, que esse amor todo deu frutos, sim frutos, no plural.

A kunoichi já não sentia-se mais solitária, sentia-se plena, realizada, correr atrás das migalhas de amor que Sasuke vez ou outra lhe oferecia não era mais prioridade em sua vida, nunca mais imploraria pela atenção dele, não mais.

Mas o que mudou?

Tudo diria.

Sakura ainda o amava, o amaria eternamente, mas agora esse sentimento estava contido, guardado em algum lugar de sua alma, não eclodia nem explodia o tempo todo, ela apenas o amava, sem expectativas, sem dores.

– Droga Sakura. Como assim você não quer se casar?

– Não quero.

– Que loucura é essa você sempre quis.

– Eu quero me casar com alguém que me ame, não por uma obrigação.

– Amor e casamento são coisas completamente diferentes, meus filhos precisam de uma família, de pai e mãe.

– Eles terão um pai e uma mãe, mas cada um na sua casa, com suas vidas.

Sasuke começou a desconfiar que Sakura talvez tenha enlouquecido, atravessado a fronteira da sanidade. Não, Sakura não estava enlouquecendo, na verdade nunca esteve tão lucida.

Uchiha odiava ser contrariado, a ultima palavra tinha que ser sempre a dele, mulheres são imprevisíveis mesmo, Sakura passou a vida toda declarando o amor que sentia, se humilhando, agora quando ele decide a pedir em casamento, a criatura recusa.

Mas há males que vem para o bem, Sauke finalmente teria o que tanto almejava, aumentaria seu clã, a ainda se livraria da rosada irritante.

Mas, não foi bem assim.

Como foi?

Sasuke tem conhecimento da presença da rosada em sua vida desde sempre, até mesmos nas mais remotas lembranças ela estava lá, sempre esteve por perto, sorrindo, cuidando, preocupando-se, ela lhe oferecia companhia mesmo quando ele a repelia com suas rabugices, (e nós sabemos como ele é rabugento), nunca desistiu de resgata-lo de seu inferno pessoal, nunca desistiu dele.

Agora sua presença já não era mais constante, vez ou outra se encontravam casualmente, ela apenas o cumprimentava.

Aos poucos, sem perceber a escuridão voltou a fazer-lhe companhia, segundo a ciência a escuridão não existe, na realidade a escuridão é a falta de luz, o frio também não existe, a sensação de frio na realidade é a falta de calor, o abismo escuro no qual Sasuke se precipitava na realidade era a total falta de Sakura em sua vida.

Sasuke percebeu que havia se afeiçoado a garota de cabelos rosa, de voz estridente, que ela iluminava sua existência, inesperadamente Sakura havia se tornado seu norte, ela o salvou da sua própria escuridão, do seu vazio, ela o salvou dele mesmo todos os dias.

Ele finalmente enxergou a força camuflada atrás da fraqueza, Convenhamos amar Sasuke Uchiha por todos esses anos não é para os fracos.

Enxergou a enorme coragem que a rosada possuía em demonstra seus sentimentos, mesmo sabendo que não era correspondido, que era motivo de deboche, o amor dela por ele permaneceu inabalável, imutável apesar dele.

Percebeu a determinação dela em redimi-lo, todas as vezes que a afastou, Sakura aproximou- se mais obstinada em permanecer ao seu lado.

Sakura Haruno não era mais fraca, nem adocicada.

O que mudou?

Nada diria.

Sasuke percebeu o óbvio, o fraco sempre foi ele que se deixou manipular pelo seu ódio, que manteve-se aprisionado ao sentimento pequeno da vingança.

Que ele sentia medo, que escondia sua insegurança atrás da agressividade, no fundo era apenas o medo dele refletindo em suas ações.

Ele afastava as pessoas não porque as achava insignificante como sempre demonstrava, ele temia que eles percebessem que o último Uchiha na verdade era um fraco solitário.

Não....

Sakura Haruno nunca foi fraca, e ele já não odiava com tanta veemência coisas adocicadas, nem o rosa, Sasuke percebeu que o rosa era um vermelho adocicado, diluído.

Maldita chuva.

As gotas de agua martelavam o chão, o cheiro de terra molhada invadia suas narinas, até mesmo os fenômenos naturais resolveram conspirar contra ele, uma chuva torrencial desabou em sua cabeça, cada salto que dava em outro galho sentia sua roupa empapada grudando em seu corpo, do que adianta ser um Uchiha se ele não pode controlar o tempo, nem a natureza.

Não acreditava que Sakura deve a audácia de sair mudar da Vila da Folha sem sua permissão, ela aproveitou que ele ficou fora por uma semana em uma missão nível S e o apunhalou pelas costas com a ajuda da Tsunade que a mandou indefinidamente a um acampamento nos confins do mundo.

Agora era oficial, Sakura estava realmente louca.

Ele a traria arrastada, amarrada, amordaçada se fosse preciso, mas não voltaria sem ela.

Depois de dias saltando arvores sem dormir, finalmente avistou o acampamento no alto da colina, que diabos Sakura veio fazer aqui? Perguntava-se.

Entrou sorrateiramente na casa pela janela, tudo estava quieto silencioso, encontrou a rosada estendida na cama, dormindo, o corpo agora ganhava formas mais arredondadas os seios estavam maiores, a barriga saliente, os cabelos rosa esparramados pelo travesseiro, alguns fios caindo sobre seu rosto, seu rosto sereno transmitia tanta paz, a paz que ele perdeu há muito tempo.

Um suspiro de alivio escapou de sua garganta, ficou parado a olhando, admirando aquela mulher que havia dado um sentido a sua vida, que sempre foi seu ponto de equilíbrio, Sasuke encontrou sua paz no meio do caos, não, ele não odiava mais o rosa, talvez ele nunca tenha odiado, talvez ele sempre tenha amado o rosa em silêncio, mas era orgulhoso demais para admitir isso.

Sakura abriu seus olhos, sonolenta, bocejou sorrindo, não se surpreendeu com a presença dele ali, parecia que já o esperava.

– O que há de errado com você? Nem percebeu minha aproximação?

– Estou grávida, sinto sono o tempo todo.

– E que ideia maluca é essa de vir aqui sozinha no meio do nada?

– Vim buscar algumas ervas.

– E eu vim te buscar.

– Sasuke você está agindo estranho ultimamente.

– Você recusa meu pedido de casamento, vem para esse fim de mundo sozinha, fazer sabe-se lá Deus o que, e eu é que sou o estranho?

Sakura apenas sorriu um sorriso gentil e doce, ignorava o fato de que o Uchiha era uma bomba relógio prestes a explodir.

Sasuke estava encharcado, a roupa pesava sobre os ombros, o excesso de água escorria pelo seu uniforme, uma poça se formava ao redor de seus pés manchando o piso de madeira.

– Deveria tirar essas roupas molhadas, vai se resfriar.

– Depois da chuva voltaremos para Konoha.

Ele veio no caminho todo arquitetando formas nada sutis em leva-la de volta, amarrada, arrastada, amordaçada, mas isso já não fazia sentido, nada fazia sentido em sua vida desde Sakura resolveu se afastar.

Talvez, apenas talvez.

Insano seja ele.

Talvez.

– Vou ficar.

– Não vai.

– Preciso cultivar algumas ervas que crescem apenas aqui.

– E eu preciso de você.

Sakura sentou-se na cama, ajeitou seu corpo de grávida em uma posição confortável.

– Sei que está preocupado porque estou assim.

Ela apontou para a própria barriga.

Sasuke deixou seu corpo cair pesadamente sobre os joelhos, a imagem dele prostrado no chão não combinava em nada com o guerreiro orgulhoso que ele era.

– Não se afaste não me prive da sua companhia.

– Sasuke...

– Eu preciso de você, preciso de você para me salvar de mim mesmo.


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