Abro os olhos suavemente e encontro um rosto no meio da multidão. Ele me encara. Gale.

Resolvo ir falar com ele. Não sei porquê. Somente desfaço o abraço carinhosamente e falo para me esperarem lá que já voltava. Ele continua me encarando e eu corro em direção dele. Não sei o que esperar desse encontro.

Eu me aproximei mais e ele me abraçou forte. Era tão bom sentir o cheiro dele de novo. Me lembrava da floresta e do silencio. Da paz das caças. Era disso que eu realmente sentia falta. Não dele. Da paz. Do cheiro de natureza e de liberdade. Percebo que estamos abraçados por muito tempo e me afasto.

– Catnip. Você está de volta – Ele diz com um sorriso no rosto

– Sim.. eu acho que estou – Forço um sorriso.

– Senti tanto a sua falta.

– Eu também. Eu tenho que ir agora. Mas a gente se vê depois ok?

– Ok. Tchau Catnip.

–Tchau Gale.

Eu volto pra minha família. Isso foi estranho. Não sei. Me senti desconfortável. Voltei pra minha mãe e minha irmã e nós fomos pra nossa nova casa. No caminho discutidos como eu fui sortuda por ter sobrevivido, mas não falamos das pessoas que morreram em vão. Um pacificador nos entrega a chave e eu abro a porta da casa. É gigante. Eu só me sinto mal e culpada quando entro. É linda. Linda demais para a condição que nosso distrito estava. É um absurdo. Ouço minha mãe falar algo como “Uau” e minha irmã também. Naquele momento não penso em mais nada. Corro e subo as escadas. Procuro e acho o primeiro quarto que vi pela frente. Tem uma cama de casal. Eu tranco a porta, ainda correndo, e me jogo na cama. Começo a chorar desesperadamente sem motivo nenhum. Eu simplesmente tenho vontade de morrer.

Peeta:

Eu saio do trem e encontro minha família na multidão. Eu só corro e abraço meu pai, depois contra a minha vontade mental, minha mãe e meus irmãos.

Eles me dão parabéns e etc. Realmente não presto atenção. Um pacificador me chama e eu vou conversar com ele meio afastado de minha família.

– Senhor Mellark, aqui está a chave de sua nova casa – Ele me entrega a chave na mão – Você prefere morar sozinho ou com a sua família?

Não é nem uma pergunta direito. Não penso duas vezes – Sozinho. Obrigado – Pego a chave da mão dele e me despeço de minha família. Vou caminhando sozinho pra aldeia dos vitoriosos. Será que minha família ficou magoada que eu não quero morar com eles? Bom, a minha mãe me batia e meus irmãos eram uns demônios. Eles mereciam. Eu chego na minha casa e abro a porta. Nossa. Que exagero. Tanta pobreza nesse distrito e essas casas aqui? Nem sei o que dizer. Subo e escolho um quarto. Pego o que tem uma visão da casa da Katniss e fico a observando por um tempo. Vejo Primrose e a mãe de Katniss saindo pela porta com uma maleta de remédios. Provavelmente indo pro novo hospital que construíram depois que ganhamos, penso.

Quando chego a conclusão que Katniss está sozinha em casa e eu quero conversar com ela, sem pensar muito, eu só saio da minha casa, corro até a dela e bato na porta. Espero um pouco, ela não atende, então só entro pela porta que está aberta. Escuto gritos que eram familiares e subo a escada correndo. Chego no quarto que está vindo o som e abro a porta rapidamente. Me deparo com ela em cima da cama com a cabeça em um travesseiro completamente molhado de lágrimas, gritando contra o travesseiro. Ela percebe minha presença, para de gritar e levanta a cabeça. Dá pra ver seu rosto vermelho e encharcado. Eu fecho a porta, me aproximo dela sentando na cama e eu a abraço.

– Ei... Katniss... está tudo bem... eu vou cuidar de você – Digo acariciando seus cabelos – Sua mãe e sua irmã não perceberam que você estava chorando?

– Perceberam – Ela fala baixinho – Mas eu mandei elas irem embora.

Eu a deito na cama, tiro seus sapatos que iam sujar o lençol, a cubro com um cobertor e a beijo na testa – Eu vou fazer uma sopa pra você, ok?

– Ok.

Eu desço pelas escadas e faço uma sopa correndo, mas com todo o capricho. Coloco ela em um prato, e a posiciono em uma bandeja com uma colher e um guardanapo. A levo pro seu quarto e abro a porta. Vejo seu rosto mais calmo e ela me encarando.

– Aqui está – Posiciono a bandeja em seu colo. E ela se ajeita na cama.

– Obrigada Peeta.

Eu a observo tomar a sopa calmamente. Ficamos em silencio. Ela estava tão linda vulnerável e não a Katniss fria de sempre. Seu rosto estava pálido e suas bochechas avermelhadas. Ela acaba de tomar a sopa e eu tiro a bandeja de seu colo com todo o cuidado do mundo.

– Você está melhor? – Pergunto preocupado.

– Sim, acho que sim. Peeta?

– Sim

–Você poderia dormir comigo hoje? Não quero ficar sozinha.

– Claro.

– Ok. Obrigada.

– Eu vou me trocar e tomar um banho e já volto ok? Você vai ficar bem?

– Vou sim. Pode ir. Mas volta.

– Obvio – Respondo com um sorriso no rosto.

Vou para a minha casa, tomo banho, me troco com algumas roupas que tinham lá, boto um pijama e vou pra casa de Katniss. Entro, subo as escadas e abro a porta. Ela estava de pijama com o cabelo meio molhado de banho em cima da cama. Ela faz um gesto para eu me juntar a ela e assim eu faço, depois de apagar a luz e tirar os sapatos. Deito na cama e ela deita com a cabeça em meu peito ouvindo minha respiração que deve estar calma. Acaricio seus cabelos suavemente.

– Katniss? – Eu quebro o silencio meio sem jeito.

– O que?

– Eu te amo.

Quando eu penso que ela ia hesitar e me bater, ou algo do tipo, ela só me abraça com mais força ainda. Eu podia congelar aquele momento pra sempre.