– Katniss, eu preciso falar com você – Ele fala já entrando e ficando de pé na sala – Eu preciso saber, Katniss. Em algum lugar, tem alguma chance de você gostar de mim? Eu preciso saber Katniss. Faz uma semana que você vem me bloqueando e eu não aguento mais ficar assim. Você um dia ao menos se importou comigo?

Eu o encaro e ele parece desesperado. Eu fico em transe. Não consigo me mover, não consigo falar, só consigo olhar para seu rosto vermelho e seus olhos com algumas lágrimas, que não caem.

– Entendo – Ele diz batendo a porta e me deixando lá paralisada. Agora eu o perdi pra sempre. Eu caio no chão e choro desesperadamente.

O que eu fiz? Eu acabei de perder quem provavelmente será a única pessoa que pode me acalmar de meus pesadelos. Eu o perdi. Eu não posso só ficar parada aqui e não fazer nada. Eu tenho que falar com ele. Só não sei o que falar, porque eu sou a pior pessoa imaginável com palavras. Eu posso só piorar ainda mais a situação... Eu vou esperar. Não muito, pois não aguento, mas eu vou esperar. Eu preciso dele ao meu lado. Isso parece egoísta e tal, mas eu não realmente ligo. Eu preciso dele. Antes de eu resolver fazer alguma coisa, alguém toca a campainha. Era ali. Eu precisava falar pra ele tudo o que eu sentia. Abro a porta esperançosa e me deparo com o que eu menos esperava.

– Haymitch – Digo com uma voz quase de nojo.

– Eu achava que você estaria mais feliz em me ver, Sweetheart – Ele diz entrando.

– O que você quer? – Pergunto.

– Eu vim te avisar que mais tarde você vai ter que fazer uma tomada pra capital. Parece que eles querem ver como os “amantes desafortunados do distrito doze” estão indo.

– Você falou isso pro Peeta? – Pergunto.

– Não, vou pra casa dele agora...

– Ele não vai gostar disso – Digo preocupada.

– Por que? Vai me dizer que vocês brigaram de novo?

– Sim. Mas dessa vez não foi bonito.

– Bom, eu não ligo, estejam daqui a uma hora no banco que fica perto da minha casa. Sabe aquele banco com aquelas flores?

– Sei sim – Digo.

– Então, lá. Eu vou indo.

– Tá.

Ele fecha a porta e eu morro por dentro. Eu subo as escadas e vou até o banheiro. Lavo só o rosto, pois já tinha tomado banho mais cedo, coloco uma roupa casual, mas estilosa que Cinna tinha me enviado uns dias atrás. Faço uma trança de um lado só em meu cabelo e calço uma bota. Eu estou bonita. Mas não importa. Peeta me odeia. Essa entrevista vai ser sinistra. Eu olho no relógio e vejo que falta quinze minutos pro horário que Haymitch falou. Acho estranho, pois não demoro tanto tempo assim para me trocar, mas deve ser porque eu vivo filosofando do nada, então só caminho até o banco e só encontro Effie e Haymitch lá. Fazia tempo que não via ela.

– Querida – Diz Effie vindo em minha direção – Você está linda.

– Obrigada. Cadê o Peeta?

– Ele já está vindo – Diz ela com um sorriso. Esse pensamento me dá uma sensação estranha no estomago. O pensamento de que em alguns minutos, seremos não mais o Peeta e a Katniss brigados, e sim os amantes desafortunados do distrito doze. Isso me dá calafrios. Esse fingimento, tudo.

Não se passa muito tempo e Peeta chega. Percebo que ele evita olhar nos meus olhos. Eu preciso falar com ele, mas agora não é o momento. Eu e ele sentamos em um banco na frente da câmera onde aparece o vídeo de Caesar grande, ao vivo, e nós no outro cantinho.

– Cinco, quatro, três, dois, um – Caesar fala e depois abre um sorriso no rosto olhando pra plateia. Tento forçar um sorriso ao máximo. Vejo que Peeta consegue – Então, hoje estamos aqui com não mais e nem menos que os nossos amados amantes do distrito 12.

Eu aceno com a mão ainda forçando o sorriso.

– Eu acho que a nós que estamos com você, Caesar – Peeta diz em um tom brincalhão, que francamente, me assusta. Ceasar e o público ri, mas eu não entendi a graça da piada. Me esforço pra rir junto.

– Então, Peeta, como anda as coisas ai no doze?

– Nunca estiveram melhores, Caesar – Ele diz e eu só sorrio.

– Isso é ótimo. E vocês, problemas no paraíso? – Para a minha desgraça, Caesar pergunta.

Eu sei que Peeta está pensando a mesma coisa que eu. Sim. Mas é obvio que ele não vai falar isso pra câmera. O fato dele ter usado a palavra paraíso, é até meio engraçado. Vejo que Peeta provavelmente não deixa transparecer o seu pensamento. Ele só sorri e diz:

– Não, Caesar, graças a generosidade da Capital, nunca estivemos melhores – Ele diz sem quebrar o sorriso.

Quando só o que penso é que eu preciso beija-lo. Eu colo nossas bocas e elas começam a se movimentar juntas, em um ritmo gostoso. É um beijo calmo e maravilhoso. Só é rompido quando escuto a voz de Caesar chamando.

– Ahn... ainda estamos aqui – Ele diz e toda a plateia ri. Eu e Peeta sorrimos – Bom, gente, foi isso. Boa noite e até amanhã.

A câmera se desliga e eu vejo Peeta ainda na minha frente, me encarando.

– Boa atuação, quase achei que aquele beijo foi real – Ele diz e eu sinto uma pontada de dor no estomago.

Ele se vira, já correndo para sua casa, mas eu o alcanço, um pouco antes de ele entrar pela porta. O seguro pelo braço e ele vira pra mim. Posso ver seus olhos vermelhos.

– É porque foi, Peeta. É porque foi real – Digo honestamente o encarando nos olhos. Aqueles grandes olhos azuis lindos.

Eu me aproximo dele e o beijo novamente. Ele retribui o beijo. Eu fecho meus olhos e tento congelar aquele momento para sempre. Ele bota a mão na minha cintura para me puxar mais pra perto. Nossos corpos estão colados e eu sinto aquela sensação estranha de novo. Eu o amo.