Identidade Homicida escrita por ninoka


Capítulo 49
A loucura interna


Notas iniciais do capítulo

A loucura não se limita apenas aos assassinos. Parece que todos nessa escola estão prestes a surtar.


(LEMBRETE PRA NGM FICAR BOIANDO:
Jun == asiático que tava andando com a íris no final do capitulo 42!!!!)



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[Jun]

Ser parte da comissão de esportes da escola é um saco. Sempre existe algum babaca fissurado em vôlei ou handball querendo montar campeonatos internos que também são um saco de organizar. Esses babacas que não tem o que fazer são do tipo que usam todo o tempo livre das aulas pra acessarem a academia do colégio, gastam a mesada dos pais em anabolizante e se orgulham de mostrar um bolo de Whey protein com lascas de chocolate. Sim, esse é um dos tipos de babacas que me enchem o saco.

Também tem outro tipo que me irrita, um tipinho excêntrico mas que vez ou outra dá as caras pela escola. É o tipinho que fala mais que a própria boca, devora açúcar como um desesperado e insiste em me apelidar de “coreano”. Ele também vem me aporrinhar na sala do Grêmio, que nem os babacas esportistas, mas consegue, de alguma forma, ser até pior que eles. Por quê? Acho que porque ele sempre fala com a maior calma do mundo na voz, geralmente mascando um chiclete ou se lambuzando num pirulito. Sim, ele adora vir até a comissão pedir pra que arrumem a porra da sala de Xadrez. Que está muito abandonada, que faltam peões em algumas caixas e um cavalo na outra. Que sujeitinho babaca esse Burniel. Um saco.

— A escola acabou de sofrer um dano lascado com a estufa, não tá vendo? — falei com a prancheta de gastos debaixo do braço, estalando o topo da caneta ritmicamente, abrindo e fechando a ponta.

— Tá. Mas é que… Tipo… a bola furou… — dizia o primeiro tipinho babaca que mencionei.

— Desembolsem do bolso de vocês. Essas porcarias são caras pra caralho.    

Não tinha muito o que discutir. A prova de que a escola (e consequentemente o Grêmio) iriam passar por uma crise estava lá no pátio, toda queimada, em carcaça. Felizmente o babaca não insistiu e saiu.

A sala do Grêmio finalmente estava vazia. Como eu disse: Ser parte da comissão de esportes da escola era um saco.

Mas havia um lado bom nisso tudo; um bônus, eu diria.

Se o lado ruim de ser parte do Grêmio era conhecer os tipinhos, o lado bom era justamente conhecer os tipinhos.

Foi nessas que botei foco em Tissou, Burniel Tissou. Inicialmente fiquei curioso em saber sobre qual seria a realidade de uma pessoa tão enigmática como o esquisito, mas durante essas pesquisas, me deparei com resultados interessantes.

“H.A.S” foi uma dupla de criminosos que causaram certo rebuliço pela cidade fazia alguns anos. Os homens entravam nas casas na intenção de furtar objetos de valor e crianças. O mais surpreendente disso? Burniel era uma das crianças desaparecidas, raptadas pela dupla. Ele e o falecido Jade.

Ora, se o crianção estava envolvido numa situação medonha dessas, provavelmente esse seria o “ato passado” dele que a diretora adorava mencionar nas primeiras conferências. Sendo assim, tínhamos um killer na mira.

Saí da sala do grêmio; tranquei (com o keypass, claro. Nada de chaves convencionais por aqui). Íris estava no corredor, colorida como sempre, conversando com a alguma menina que não reparei; não conseguia reparar.

Só conseguia reparar na Íris.

Ela me viu. Sorriu.

Se despediu da conversa e veio até mim, sorrindo. Amo o sorriso dessa garota.

— Vamos? — perguntou.

Sabe, eu não sabia de toda essa história de killers, inicialmente.     

— Aonde? — perguntei, sorrindo também.

Mas Íris confiou em mim. Ela confiou em me deixar ajudá-la em não suportar esse fardo sozinha.

— Comemorar, é claro. — senti um tom de malícia. Ouricei.

Matar gente? Você vai me chamar de doente. Mas Íris precisava de ajuda, e ela confiou em mim, acima de qualquer um.

— Aonde? — ri, olhando para os lados.

Tem maior prova de amor do que dividir os Cartões de Homicídio com outra pessoa? Gerar um cadáver em conjunto? É quase como ter um filho, dar uma vida; só que ao contrário. Pensar dessa forma me deixava realmente excitado; não posso negar.

Íris escalou meu ombro, simulando duas perninhas com o indicador e o médio, subindo em direção ao pescoço:

— Você quem diga, representante da comissão de esportes… Bem que você podia abrir o vestiário pra gente.

Por você, tudo.



[Elsie]

 

As coisas tinham ficado bastante tensas desde que descobrimos que Jack não era um mero inspetor e que Jade, na verdade, não estava morto.

O impacto da notícia foi grande; assim que contei, no entanto, Armin e Kentin riram um bom tempo pensando que era só brincadeira de mal gosto. Isso até olharem pra minha cara -- quando entenderam que o papo era sério e podíamos estar fodidos de verdade.

Mas daí começamos a nos questionar acerca de algumas coisas que pareciam fora do lugar: Como e por que Jade estaria perambulando por Sweet Amoris? Por que Jade não foi atrás de nós, Armin e eu? Por que Jay? Shermansky tinha conhecimento disso? Claro que tinha; ela sabia de tudo. Então, por quê? Por que permitir a presença dele?

Jackelino também não escapou de nossas indagações. Ele tava observando a gente durante todo esse tempo? Será que suspeitou de algo? Será que eu tava sendo usada? Poderia continuar confiando nele? "Um caso de vinte anos atrás", ele disse. Ele tava falando sobre a época que os alunos de Sweet Amoris começaram a desaparecer um por um; tia Agatha estava inclusa. As teorias que vibravam na minha cabeça sempre que lembrava desse assunto me davam um arrepio na espinha -- que pecado! Não podia relacionar uma ideia tão mórbida com tia Agatha; não antes de realmente entender o que tava acontecendo. Seria quase como desafiar as minhas crenças. Seria rebaixar tia Agatha a um patamar muito obscuro.

Embora ainda maluca com as descobertas e insegura dos pontapés que a vida podia me dar dali pra frente, sabia que deveria começar a me mexer. Só assim eu conseguiria descobrir, descobrir quem fez aquilo, seis anos atrás. Descobrir quem matou tia Agatha.

Depois de conversar com Jack pela primeira vez, após finalmente receber informações úteis sobre minha tia, sabia exatamente pra onde deveria traçar meu rumo a partir de agora.

O alvo da vez era Faraize. Jackelino tinha mencionado que os três foram grandes amigos na época de escola (Era bizarro. Isso chapou minha cabeça a princípio). Ele era, nesse caso, alguém que conhecia tia Agatha também; e isso significava que eu poderia extrair algo de bom com alguma conversa, se ele cooperasse.

Hora de se mexer.

Durante o intervalo das aulas fui até a sala dos professores à procura do dito-cujo.

Bati na porta e entrei polidamente. Quase todos os professores do turno estavam lá. Ficavam ao redor de uma longa mesa retangular, uns almoçando, conversando entre si, corrigindo provas, alguns de pé ao lado da máquina de café e bebericando na xícara, tinham olheiras roxas, mas riam, a cafeína agia -- professores eram uma raça insana.

Num canto bastante isolado da mesa estava Faraize, pragmaticamente concentrado num montinho de folhas e papéis, não interagia e tão pouco ria (provavelmente não tinha tomado café). Havia uma aura um bocado deprimente envolta dele.

Cumprimentei num geral (e fui bem recepcionada, até) e timidamente me pronunciei:

— Professor Faraize.

Faraize, quem sequer tinha largado os papéis pra me cumprimentar, me encarou surpreso, parecendo aproveitar aquele momento de protagonismo tão raro pra dedicar toda a sua atenção em mim.  

— Posso falar com o senhor um momentinho?

Saímos pro corredor, Faraize nervosamente ajeitando a armação do óculos a todo momento.

— Aconteceu algo de errado, senhorita Elsie? — era gozado ter que ouvir um professor te chamando daquela forma.

— Não, não se preocupa. — ri pra quebrar o gelo. — Vim por causa de uma coisa que Jackelino me contou.

— J-Jackelino? — agora ele tinha tirado o óculos da cara pra desembaçar a lente no suéter. — Faz tempo que não ouço alguém chamar ele assim. — não retirava os olhos da sua tarefa meticulosa. Havia um tom suspeito em sua voz. Um visível remorso, uma aparente saudade. Algo como uma nostalgia agridoce.

— Ele me contou sobre vocês. Disse que eram grandes amigos.

— E-ele disse, é?

— Sim. Vocês eram amigos da minha tia na época de escola, não? Aqui em Sweet Amoris mesmo.

Ele finalmente encerrou sua tarefa com os óculos, botando-os de volta no rosto. Pra minha surpresa, me encarou; pleno, sem nervosismo:

— Sempre achei que parecia muito com Agatha. Quando vi seu sobrenome não tive mais dúvidas. Tem certeza de que não são mãe e filha?

Soltei um riso descontraído:

— Me diziam que ela e minha mãe eram bastante parecidas mesmo.

— V-você não conheceu sua tia?

— Não. — balancei com a cabeça. — Não conheci minha mãe. Agatha quem cuidou de mim.

— Oh, desculpe por tocar nesse assunto.

— Tá tudo bem. Tia Agatha foi tudo que eu precisava e mais um pouco.  

— Eu soube do que aconteceu…

— Você soube?

— Sim. Meus pêsames, senhorita. Foi difícil até pra mim, lidar com a notícia na época.

— Eu... encontrei uma identificação na cena.

— Identificação? Cena?

— A cena de morte dela. Tinha um cartão antigo daqui de Sweet Amoris. Pensei que o culpado tivesse alguma relação com aqui e tivesse deixado cair.

— Hm...

— E era sobre isso que gostaria de falar com o senhor. Como um professor e ex-aluno daqui- Melhor! Como um grande amigo da minha tia, queria sua ajuda.

— Ajuda?

— Sim. Gostaria de saber... Não tem ninguém, nenhum aluno que tenha alguma ligação com antigas inimizades da minha tia? Ou, simplesmente, você sabe de alguma inimizade que minha tia podia ter tido aqui dentro?

— Sua tia era bastante pacífica. Vivíamos numa época pacífica, de certa forma. Não me lembro nada do tipo.

— E o namorado dela? — abruptamente lembrei. E a expressão de Faraize se torceu como se tivesse levado uma facada. — Christopher...

Ele ficou algum tempo em silêncio. Algo me dizia que tanto Faraize quanto Jack mantinham um rancor demoníaco desse cara.

— Você sabe... sobre os desaparecimentos, certo?

— Sim.

— Há uma história estranha por trás disso. E-eu não saberia explicar. Não sei se foi verdade.

Franzi a testa:

— Como assim?

— Posso te passar o antigo endereço de Christopher. A mãe dele ainda mora lá. Acho que ela seria uma pessoa mais adequada para sanar suas dúvidas. Agatha vivia andando por lá quando se relacionava com ele.

Ótimo. As coisas estavam caminhando bem.



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