[Jennifer]

Depois de recorrer à suíte dos músicos, mesmo com as respostas ásperas do bad boy, foi possível extrair algumas informações. Vazei do corredor masculino e fui relatar Nathaniel. A próxima notícia chegou rápido: Jackelino, que tem se encarregado justamente desse papel, verificou uma nova atualização nas fichas escolares do colégio — Lysandre dava como “transferido”.

E se há uma coisa que tenho suposto, é de que todos esses alunos que constam como transferidos, na realidade, partiram dessa pra melhor. O que — sejamos sinceros — trás uma baita imagem mofada pra coordenação desse colégio.

Puff. Que a diretoria tem algo de envolvido nisso, suspeitamos já faz um bom tempo, mas, de que forma isso explicaria casos como Jade? Esse rapazinho tem uma lista atolada em antecedentes criminais, mas foi, ironicamente, encontrado quase morto. Aonde quero chegar? Olha, a partir do momento em que um cara desses consegue se tornar vítima dentro de uma escola, é preocupante. Além do que, como Peggy Tetzer já sabia sobre seu estado? Ela rompeu sua própria máscara a partir do momento em que decidiu cooperar com Jade.  

Também há a falecida Melody, uma antiga companheira de Nathaniel, que foi pega com a boca na botija. Pior: pega prestes a nocautear Kim Perón, outra aluna, que tem sido mantida sob os cuidados da Central.

De fato, muitas informações espalhadas. Hum. É informação pra lá, informação pra cá. Parece até que desmontaram um enorme quebra-cabeças, daqueles de cinco mil peças, e jogaram as peças pro alto sem dó.

Puff.

Falando em quebra-cabeças, acho que posso dizer que chegamos ao ponto. Sim, é disso que eu tô falando. Não entendeu? Estou falando de Elsie Cotton!

Sim. Ela pode até parecer só mais uma bolsista comum, mas Nathaniel começou a ter uma pulga atrás da orelha com ela depois de algumas ocasiões. E, como uma boa ajudante que se preze, vendo a rapariga sendo deixada para trás após as aulas, corri para tentar pescá-la pra mim e arrancar algumas informações.

E lá estávamos nós…  

— Não sabia que Nathaniel era assim. — Elsie gargalhava com um lado da boca recheado de sanduíche.

— Pois é! Ele tem umas manias estranhas. — tentava controlar o riso desequilibrado que mais parecia uma foca. Dei uma bebericada na latinha gelada.

A lanchonete não tava tão cheia. Apenas três mesas ocupadas e um garçom atolando o dedo mindinho no ouvido pra tirar cera. Elsie também parecia bastante descontraída já. Perfeito.

— E esse colar? É um relicário, né? Acho bonito. — comentei.

Elsie fitou o próprio colo:

— Ahh! Isso. — sorriu meiga para o acessório. — Era da minha tia.

— Tem alguma foto dentro? — dã.

— Sim… — abriu o pingente, inclinando a facetas para que eu pudesse visualizá-las.

Quando vi aquela foto…  

— Caraca! — surtei. Os clientes me censuraram com o olhar; o garçom parou de limpar a orelha. Nivelei o tom de voz. — Essa foto… Jackelino tem uma igualzinha!

— Jackelino? — Elsie estranhou.

— Isso! Jackelino, o inspetor Jack!

Elsie pareceu tão surpresa quanto. Mas logo veio a questionar, com um riso meio sarcástico:

— Quem chama o inspector de Jackelino?      

De fato, a empolgação acabou expondo minha relação pai-chefe com o inspetor.

— A-a-ah! Jack é um tio próximo! Irmão da minha mãe. — blefei, quase falhando com o teatro.

— Claro. — sorriu, inclinando levemente a cabeça. — Q-que coincidência...! Nossos tios eram quase um casal. Eu acho. Isso nos torna primas distantes?  

O plot-twist tirou toda a investigação das engrenagens. Jack me devia explicações!